Energia Sem Fronteira: lições do Brasil e do Mundo
para Combater a Pobreza Energética
O mundo está repleto de exemplos de sucesso na
transição para uma energia mais acessível, sustentável e inclusiva. Países como
Quênia, Índia e Bangladesh implementaram soluções inovadoras e escaláveis. Este
artigo explora esses casos e como o Brasil pode, com sua riqueza natural e
protagonismo, liderar a agenda global de justiça energética.
O Brasil como líder global: Luz para Todos
Brasil possui um dos maiores e mais emblemáticos programas de inclusão energética do mundo, o Luz para Todos, que desde 2003 transformou a vida de mais de 16 milhões de brasileiros ao garantir acesso à energia elétrica. Este programa é mais do que uma solução técnica: é um marco de inclusão social e desenvolvimento, reconhecido internacionalmente como um exemplo de política pública eficaz. Com sua recente prorrogação até 2026, o Luz para Todos foca agora nos desafios mais complexos, reafirmando o Brasil como protagonista global na agenda de justiça energética.
Combate à pobreza energética com fontes limpas é prioridade do G20, afirma ministro
GT de Transições Energéticas discute a necessidade
de acesso universal à energia e tecnologias limpas. Em reunião bilateral com
representante da ONU, ministro brasileiro das Minas e Energia Alexandre
Silveira, ressalta a importância de políticas públicas e cooperação
internacional no setor.
A última fronteira: Amazônia Legal
Apesar do
sucesso do programa, a Amazônia Legal permanece como a fronteira mais
desafiadora da eletrificação. Com uma geografia intrincada, marcada por rios
extensos, florestas densas e comunidades ribeirinhas isoladas, expandir a rede
de transmissão nessa região exige soluções criativas e recursos significativos.
Os custos logísticos para transportar materiais e
equipamentos, como postes e cabos, são elevados, e as condições climáticas
adversas aumentam a complexidade das operações. Além disso, muitas comunidades
estão situadas em áreas protegidas ou de difícil acesso, onde projetos
off-grid, como microrredes solares e sistemas híbridos, poderiam ser
alternativas mais viáveis.
A falta de energia não é apenas uma barreira
física, mas uma perpetuação de desigualdades históricas. Sem eletricidade, as
comunidades enfrentam limitações severas: escolas que não podem operar
plenamente, unidades de saúde sem refrigeração para medicamentos e famílias
incapazes de conservar alimentos ou acessar tecnologias básicas.
Oportunidade para inovação
A Amazônia representa não apenas um desafio, mas
uma oportunidade para o Brasil inovar. Soluções descentralizadas, como sistemas
solares com armazenamento, e parcerias público-privadas são estratégias que
podem levar energia de forma sustentável a esses territórios, consolidando o país
como um líder na transição energética inclusiva.
1. Quênia: Microrredes solares e inclusão
O Quênia é referência em energia solar
descentralizada, com iniciativas como as microrredes que atendem comunidades
remotas. Empresas como a M-KOPA oferecem sistemas solares domésticos com
financiamento acessível via dispositivos móveis, conectando mais de 1 milhão de
famílias à energia limpa. A integração tecnológica com modelos de pagamento
simples garante viabilidade econômica e impacto social imediato.
2. Índia: escala e acessibilidade
Na Índia, o programa “Saubhagya” destacou-se pela
ambição de eletrificar todas as residências rurais do país. A integração de
cooperativas solares e políticas de subsídios tornou possível levar energia
para mais de 28 milhões de famílias. Esses projetos não apenas reduziram a
exclusão energética, mas também fortaleceram a economia local, mostrando como
políticas públicas robustas podem transformar realidades.
3. Bangladesh: soluções
descentralizadas
O Grameen Shakti, em Bangladesh, é um caso exemplar
de energia renovável descentralizada. Desde sua criação, o programa instalou
mais de 4 milhões de sistemas solares domésticos, utilizando um modelo de
financiamento que permite que até famílias de baixa renda tenham acesso. Além
disso, o treinamento de técnicos locais garantiu a sustentabilidade das
operações e criou empregos.
4. Peru: energia off-Grid na Amazônia
Na Amazônia peruana, o programa “Luz en Casa”
combina energia solar com soluções off-grid para levar eletricidade a
comunidades indígenas isoladas. O projeto é um exemplo de como tecnologias
simples, como baterias solares, podem melhorar a qualidade de vida, permitindo
a iluminação noturna e a operação de pequenos eletrodomésticos.
5. África do Sul: cooperativas energéticas
Na África do Sul, as cooperativas de energia desempenham um papel fundamental na inclusão energética, especialmente em áreas rurais. Modelos comunitários de gestão, alinhados com políticas de incentivo governamental, garantem energia a preços acessíveis, fortalecendo a coesão social e a autonomia local.
Transformando realidades: o papel do Energia Sem Fronteira
O Energia
Sem Fronteira atua como um facilitador entre comunidades, projetos e
iniciativas que promovem a justiça energética. Inspirados por cases globais,
nosso foco é:
- Educação e conscientização: promover o debate
sobre justiça energética e compartilhar conhecimento técnico.
- Conexão de projetos: unir iniciativas locais e
globais que podem ser replicadas em comunidades brasileiras.
- Fomento à Inovação: incentivar soluções
tecnológicas que sejam viáveis, acessíveis e escaláveis.
A pobreza energética é um desafio global, mas com soluções locais inspiradas por cases de sucesso, é possível transformá-la. O Brasil, com o programa Luz para Todos e iniciativas como o Energia Sem Fronteira, pode não apenas superar suas próprias barreiras, mas também inspirar mudanças globais, mostrando que energia é um direito universal.
Marcelo Rodrigues é o cofundador do projeto Energia Sem Fronteira, um grupo de trabalho cujo objetivo é contribuir para que a energia seja realmente sem fronteiras, seja geográfica, tecnológica ou financeira. Criado em 2020, já acompanhou inúmeros projetos no combate à pobreza energética. Mentor de iniciativas que promovem o armazenamento e uso eficiente de energias renováveis, o executivo é vice-presidente de Negócios, Marketing e Inovação na UCB Power, uma das maiores empresas de soluções de energia do Brasil e cofundador da Associação Brasileira de Armazenamento de Energia (Absae). (pv-magazine-brasil)
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