Análise
do Instituto Ar mostra que a eletrificação de caminhões no Brasil pode reduzir
em 46% as emissões de gases-estufa e economizar R$ 5 bilhões em custos
ambientais e de saúde nos próximos 25 anos.
Se
o Brasil fornecer biodiesel a toda a frota de caminhões de carga pesada até
2050 será preciso ocupar 25% do território brasileiro para produção de soja - 8
vezes mais do que se utiliza com produção de comida. Uma opção a ser
considerada no mix de transporte de cargas é a eletrificação, que pode gerar
redução de 46% nas emissões de gases-estufa e economizar R$ 5 bilhões em custos
ambientais e de saúde nos próximos 25 anos.
No
caso de modelos de caminhões híbridos a diesel, a queda é de 8% nas emissões
até 2050 e de R$ 298 milhões em custos evitados. Caminhões a gás natural e
biodiesel, por sua vez, aumentam as emissões líquidas e os custos econômicos ao
longo do tempo. Em 2020, caminhões pesados responderam por 60% do consumo total
de energia para o transporte de cargas e representaram quase 50% das emissões
de CO2 do setor.
Essas
são as mensagens centrais de um estudo do Instituto Ar, entidade que mobiliza a
comunidade médica no Brasil ao conectar saúde pública e o debate climático
buscando inspirar políticas públicas.
O
estudo - “Powering Brazil’s Transition to Zero-Emission Trucking” -modelou
diferentes cenários de substituição de toda a frota de caminhões a diesel por
tecnologias mais limpas em São Paulo, estimando reduções de poluentes até 2030
e 2050 - os prazos definidos pelo Brasil em acordos internacionais de redução
de emissões. Os cenários comparam a transição de frotas a diesel para caminhões
elétricos a bateria ou movidos por células de hidrogênio, híbridos a diesel,
gás natural liquefeito, gás natural comprimido e com motores a biodiesel puro
(B100).

“Há
gases-estufa que causam a mudança do clima e a poluição do ar, com danos à
saúde”, diz a médica patologista Evangelina Araújo, fundadora e
diretora-executiva do Instituto Ar. Ela explica que o setor de transporte emite
CO2, o principal gás-estufa; e por usar diesel, caminhões e ônibus
emitem poluentes tóxicos que também são gases-estufa, (como o NOx, óxido de
nitrogênio). Emitem, além disso, o carbono negro, que é uma parte importante do
material particulado, um dos poluentes mais tóxicos para a saúde. “Quando
tratamos de reduzir a emissão de poluentes para reduzir a poluição do ar e os
danos à saúde, há um co-benefício climático”, diz a pesquisadora Patrícia
Ferrini, que lidera o estudo. “A ação tem duplo efeito”, resume.
O
estudo indica que a opção pelo biodiesel para 100% da frota pode causar baixo
impacto sobre emissões e custos evitados, e pode, também, se tornar um vetor de
desmatamento. Em um cenário futuro em que o Brasil faça toda a transição da
frota de caminhões para biodiesel, seriam necessários 215 milhões de hectares
para atender à demanda, diz o estudo.
“Temos
uma frota de 2 milhões de caminhões velhos, submetidos a condições de desgaste
nas estradas e que carregam cargas mais pesadas do que as autorizadas em outros
países”, diz Patricia. “Estamos muito atrasados neste debate. O estudo mostra
que não se pode apostar 100% das nossas cartas no biodiesel”.

PepsiCo
dá seus primeiros passos rumo a uma frota elétrica
Ela
diz que a aposta na eletrificação tem múltiplos ganhos. Entre 2013 e 2023, mais
de RS$ 24 bilhões foram gastos em hospitalizações causadas por poluentes
atmosféricos, só no sistema público de saúde. A carga de poluição causada por
caminhões pesados no Brasil afeta mais as comunidades localizadas perto de
rodovias, que são populações de baixa renda. “As grandes montadoras têm metas
de que a venda de caminhões elétricos seja 50% da frota em 2030”, lembra
Patricia. “Se o Brasil não for incluído neste debate corremos o risco de virar
depósito de caminhões velhos”. (biodieselbr)
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