Usinas podem abastecer 100 mil pessoas, mas especialistas temem impactos ambientais.
A construção de cinco pequenas centrais hidrelétricas no Sistema Cantareira está assustando o interior paulista. Com medo de impactos ambientais, prefeitos, ambientalistas e agricultores começam a se mobilizar contra o projeto da Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp). O receio é que usinas na Região Metropolitana de São Paulo comprometam a vazão de rios que abastecem 3 milhões de pessoas em 62 municípios da Bacia do Piracicaba, incluindo Atibaia, Bragança Paulista e Campinas.
O plano é construir uma das usinas perto do Horto Florestal, na zona norte da capital, ao lado da Estação de Tratamento de Água (ETA) Guaraú. A outra deve ficar no vertedouro da Cascata, no Rio Juqueri Mirim, em Mairiporã, ao lado da ETA Atibainha.
O principal receio dos moradores do interior é de que a usina que será instalada na capital comprometa o nível dos rios e represas que estão do outro lado da Serra da Cantareira, a 700 metros de altitude. A água desses mananciais é bombeada para São Paulo por meio da Estação Elevatória Santa Inês, cujas tubulações foram construídas dentro das rochas da serra.
Ambientalistas dizem que o volume de recursos hídricos retirado hoje das represas do interior para a capital - 33 metros cúbicos por segundo, dos quais 31 m³/s originados dos formadores do Piracicaba (Jaguari e Atibaia) - vai aumentar com a construção da hidrelétrica na zona norte de São Paulo. Duas das cinco usinas já receberam licença da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Faltam agora as licenças de instalação e os relatórios de impacto ambiental. As outras três ainda estão em fase de planejamento pela Sabesp.
Dos reservatórios da Cantareira sai a água para o abastecimento de 8,5 milhões de moradores da capital e de dez municípios vizinhos. No interior e na Grande São Paulo, 11,5 milhões de habitantes dependem hoje da água que brota nas encostas dos cinco rios - Jaguari, Jacareí, Cachoeira, Atibainha e Juqueri - que integram o sistema atualmente, formado por seis represas. No início dos anos de 1970, com a falta de recursos hídricos na capital, a Sabesp resolveu buscar água na região de Atibaia.
"No momento em que a empresa deveria pensar em buscar outras fontes de captação para São Paulo, ela quer produzir energia com a água que já é rara para o abastecimento humano", reclama Rodrigo Fercundini, presidente da organização não-governamental (ONG) Juqueri Vivo e morador de um condomínio ao lado da Represa Atibainha, em Nazaré Paulista. "Sabemos que mesmo as pequenas hidrelétricas podem secar cachoeiras nas montanhas da serra e causar impacto para peixes, lontras e capivaras. Tivemos um caso em Joinville, onde secou a Cachoeira do Piraí. O impacto nunca ocorre perto da usina, mas sim nos rios que estão acima dela, a mais de cem quilômetros de distância", alerta.
Desconhecimento
Responsável pela gestão conjunta do Sistema Cantareira com a Sabesp desde 2004, conforme outorga concedida pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), o Consórcio das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí informou não ter sido comunicado sobre o projeto.
"Nada chegou para nós até agora. A outorga do sistema é só para o abastecimento de água, não existe uma concessão para a produção de energia. Teria de ser revisto o modelo de outorga. De qualquer forma, não conheço o projeto", afirmou o secretário executivo do Consórcio, Dalto Favero Brochi.
A Sabesp argumenta que não haverá desvio no curso dos mananciais que compõem o Cantareira. No caso da usina de Mairiporã, por exemplo, a empresa diz que será aproveitada a queda d"água do vertedouro que faz a transferência de água entre as Represas Atibainha e Paiva Castro. Mas a Prefeitura de Atibaia considera que a presença das usinas aumentará a umidade do ar na região, o que poderia comprometer a produção local de frutas.
30 anos
A previsão é de que as duas usinas entrem em operação em janeiro de 2012. Com capacidade de gerar energia elétrica para 100 mil pessoas (7,1 megawatts), as duas miniusinas poderão render R$ 8 milhões por ano para a Paulista Energia Ltda., concessionária formada pelas empresas Tecniplan e Servtec, que ganhou as concessões de produção e venda pelo período de 30 anos.
Efeito
Uma das instalações será entre as Represas Atibainha e Paiva Castro. Sabesp garante que não haverá desvio dos mananciais, mas, para ambientalistas, consequências são evitáveis.
Sistema Cantareira
Das cinco pequenas centrais hidrelétricas (PCH) previstas, duas já tem local definido, a Guaraú e a Cascata.
PCH Guaraú
Queda d’água: 14 metros
Potencial instalado: 4,2MW
Tratamento de água atual: 33 mil litros/segundo
PCH Cascata
Queda d’água: 10 metros
Potencial instalado: 2,9 MW
Tratamento de água atual: 2 mil litros/segundo
PARA ENTENDER
O Sistema Cantareira começou a ser constituído em meados de 1970 pelo governo de São Paulo para abastecer as torneiras dos moradores da Região Metropolitana. Permitia a reversão de água da Bacia do Piracicaba para a Bacia do Alto Tietê. Seis represas formam o complexo com os Rios Jaguari, Jacareí, Cachoeira, Atibainha e Juqueri (Paiva Castro). Inaugurado em 30 de dezembro de 1973, iniciou operação no ano seguinte. O sistema ocupa área de 2.279,5 km² em 12 municípios. Quatro cidades ficam em Minas - Camanducaia, Extrema, Itapeva e Sapucaí Mirim - e oito em terras paulistas: Bragança Paulista, Franco da Rocha, Caieiras, Joanópolis, Nazaré Paulista, Mairiporã, Piracaia e Vargem. (OESP)
A construção de cinco pequenas centrais hidrelétricas no Sistema Cantareira está assustando o interior paulista. Com medo de impactos ambientais, prefeitos, ambientalistas e agricultores começam a se mobilizar contra o projeto da Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp). O receio é que usinas na Região Metropolitana de São Paulo comprometam a vazão de rios que abastecem 3 milhões de pessoas em 62 municípios da Bacia do Piracicaba, incluindo Atibaia, Bragança Paulista e Campinas.
O plano é construir uma das usinas perto do Horto Florestal, na zona norte da capital, ao lado da Estação de Tratamento de Água (ETA) Guaraú. A outra deve ficar no vertedouro da Cascata, no Rio Juqueri Mirim, em Mairiporã, ao lado da ETA Atibainha.
O principal receio dos moradores do interior é de que a usina que será instalada na capital comprometa o nível dos rios e represas que estão do outro lado da Serra da Cantareira, a 700 metros de altitude. A água desses mananciais é bombeada para São Paulo por meio da Estação Elevatória Santa Inês, cujas tubulações foram construídas dentro das rochas da serra.
Ambientalistas dizem que o volume de recursos hídricos retirado hoje das represas do interior para a capital - 33 metros cúbicos por segundo, dos quais 31 m³/s originados dos formadores do Piracicaba (Jaguari e Atibaia) - vai aumentar com a construção da hidrelétrica na zona norte de São Paulo. Duas das cinco usinas já receberam licença da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Faltam agora as licenças de instalação e os relatórios de impacto ambiental. As outras três ainda estão em fase de planejamento pela Sabesp.
Dos reservatórios da Cantareira sai a água para o abastecimento de 8,5 milhões de moradores da capital e de dez municípios vizinhos. No interior e na Grande São Paulo, 11,5 milhões de habitantes dependem hoje da água que brota nas encostas dos cinco rios - Jaguari, Jacareí, Cachoeira, Atibainha e Juqueri - que integram o sistema atualmente, formado por seis represas. No início dos anos de 1970, com a falta de recursos hídricos na capital, a Sabesp resolveu buscar água na região de Atibaia.
"No momento em que a empresa deveria pensar em buscar outras fontes de captação para São Paulo, ela quer produzir energia com a água que já é rara para o abastecimento humano", reclama Rodrigo Fercundini, presidente da organização não-governamental (ONG) Juqueri Vivo e morador de um condomínio ao lado da Represa Atibainha, em Nazaré Paulista. "Sabemos que mesmo as pequenas hidrelétricas podem secar cachoeiras nas montanhas da serra e causar impacto para peixes, lontras e capivaras. Tivemos um caso em Joinville, onde secou a Cachoeira do Piraí. O impacto nunca ocorre perto da usina, mas sim nos rios que estão acima dela, a mais de cem quilômetros de distância", alerta.
Desconhecimento
Responsável pela gestão conjunta do Sistema Cantareira com a Sabesp desde 2004, conforme outorga concedida pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), o Consórcio das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí informou não ter sido comunicado sobre o projeto.
"Nada chegou para nós até agora. A outorga do sistema é só para o abastecimento de água, não existe uma concessão para a produção de energia. Teria de ser revisto o modelo de outorga. De qualquer forma, não conheço o projeto", afirmou o secretário executivo do Consórcio, Dalto Favero Brochi.
A Sabesp argumenta que não haverá desvio no curso dos mananciais que compõem o Cantareira. No caso da usina de Mairiporã, por exemplo, a empresa diz que será aproveitada a queda d"água do vertedouro que faz a transferência de água entre as Represas Atibainha e Paiva Castro. Mas a Prefeitura de Atibaia considera que a presença das usinas aumentará a umidade do ar na região, o que poderia comprometer a produção local de frutas.
30 anos
A previsão é de que as duas usinas entrem em operação em janeiro de 2012. Com capacidade de gerar energia elétrica para 100 mil pessoas (7,1 megawatts), as duas miniusinas poderão render R$ 8 milhões por ano para a Paulista Energia Ltda., concessionária formada pelas empresas Tecniplan e Servtec, que ganhou as concessões de produção e venda pelo período de 30 anos.
Efeito
Uma das instalações será entre as Represas Atibainha e Paiva Castro. Sabesp garante que não haverá desvio dos mananciais, mas, para ambientalistas, consequências são evitáveis.
Sistema Cantareira
Das cinco pequenas centrais hidrelétricas (PCH) previstas, duas já tem local definido, a Guaraú e a Cascata.
PCH Guaraú
Queda d’água: 14 metros
Potencial instalado: 4,2MW
Tratamento de água atual: 33 mil litros/segundo
PCH Cascata
Queda d’água: 10 metros
Potencial instalado: 2,9 MW
Tratamento de água atual: 2 mil litros/segundo
PARA ENTENDER
O Sistema Cantareira começou a ser constituído em meados de 1970 pelo governo de São Paulo para abastecer as torneiras dos moradores da Região Metropolitana. Permitia a reversão de água da Bacia do Piracicaba para a Bacia do Alto Tietê. Seis represas formam o complexo com os Rios Jaguari, Jacareí, Cachoeira, Atibainha e Juqueri (Paiva Castro). Inaugurado em 30 de dezembro de 1973, iniciou operação no ano seguinte. O sistema ocupa área de 2.279,5 km² em 12 municípios. Quatro cidades ficam em Minas - Camanducaia, Extrema, Itapeva e Sapucaí Mirim - e oito em terras paulistas: Bragança Paulista, Franco da Rocha, Caieiras, Joanópolis, Nazaré Paulista, Mairiporã, Piracaia e Vargem. (OESP)
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