sábado, 4 de dezembro de 2010

Empresas de açúcar e álcool investem em energia

Empresas de açúcar e álcool elevam investimentos na geração de energia
Estratégia
Grupos como Cosan, ETH e Açúcar Guarani usam cada vez mais o bagaço de cana para produzir eletricidade, uma forma de reduzir custos e aumentar a competitividade das usinas; pedidos de financiamentos para cogeração vêm aumentando no BNDES.
Grandes empresas do setor sucroalcooleiro estão elevando seus investimentos em cogeração de energia com a queima do bagaço da cana-de-açúcar, de olho na maior competitividade que a inclusão da produção de bioeletricidade traz para toda a usina.
"Estamos priorizando a cogeração de energia em nossas usinas porque, ao utilizar o bagaço de cana como matéria-prima, reduzimos os custos e nos tornamos mais competitivos. Agregamos receita ao nosso negócio a partir da mesma cana que já produziu açúcar ou etanol", diz o presidente da Açúcar Guarani, Jacyr Costa Filho.
Para o diretor de pessoas e sustentabilidade da ETH, Luiz Pereira de Araújo Filho, a receita extra que a cogeração cria é de até 15% do faturamento da unidade, mas o impacto geral está acima de 25%. "Além de reduzir o custo, estamos diminuindo o passivo ambiental da unidade ao nos livrarmos do bagaço", disse.
Essa preocupação já fez aumentar a busca de linhas de financiamento para cogeração no BNDES. Diante da falta de capital suficiente para construir novas usinas, muitas empresas optaram por ampliar a capacidade de cogeração e de açúcar. A fabricante de equipamentos Dedini também registrou um aumento nas encomendas de equipamentos para cogeração.
O gerente de Departamento de Biocombustíveis do BNDES, Artur Yabe, informa que a maior demanda do setor tem sido feito por usinas já em operação que querem fazer o "retrofit", ou seja, buscam recursos para trocar as caldeiras existentes por outras, de maior potência, e mais eficientes na produção de energia. "A cogeração é a principal demanda existente hoje do setor no BNDES", disse.
Para Yabe, esta busca maior por cogeração é um reflexo do atual estado das usinas brasileiras. "Apenas 20% das usinas têm caldeiras de alta eficiência. Então, para ser competitivo neste mercado, as empresas têm de se modernizar", disse.
A crise financeira mundial interrompeu o crescimento da participação do setor sucroalcooleiro nos desembolsos do BNDES. Em 2004, a participação das usinas era de apenas 1,53% do total desembolsado. Essa fatia chegou a 6,85% em 2008. Com a crise, recuou para 4,61% e, em 2010, até o final de outubro, a participação mostrava recuperação para 5,2% do total.
Cogeração. Nos próximos dois anos, a Guarani vai elevar sua produção de 300 mil megawatt/hora (MWh) para 700 mil MWh. A expectativa é de que a receita da Guarani com a venda de energia atinja R$ 105 milhões por ano em 2013. Das sete usinas do grupo, quatro possuem investimentos em cogeração. "No último leilão realizado em agosto, vendemos energia de duas usinas, a São José e a Mandú, que representam uma oferta de 430 mil MWh por ano", disse Costa. Segundo ele, o preço médio de venda foi de R$ 150 por MWh.
A ETH Bioenergia também está investindo em cogeração tanto em projetos novos como na ampliação da produção já existente. "Três de nossas usinas estão ampliando sua capacidade com a colocação de uma nova caldeira de alta pressão", informa Araújo. Com a expansão, as unidades de Conquista do Pontal, Santa Luzia e Rio Claro vão praticamente dobrar sua produção. Em 2010, as usinas Eldorado e Alcídia comercializaram mais de 2,3 milhões de MWh e iniciam a entrega a partir de 2011.
Além disso, das quatro usinas da Brenco que foram absorvidas pela ETH, três subestações de energia já estão prontas. No geral, Araújo informa que 70% da energia produzida pelas usinas do grupo já foram comercializadas. Segundo ele, parte da energia é deixada para ser comercializada no mercado livre. "A receita esperada com a venda desta energia durante toda duração do contrato, de 15 anos, é de R$ 4 bilhões", explica. Por ano, a receita deverá ser de R$ 266 milhões.
O executivo explica também que algumas usinas do grupo, localizados em Mato Grosso do Sul e Goiás, já estão com seus equipamentos prontos para operar, mas não conseguem colocar o excedente no sistema porque a conexão elétrica ainda não chegou às regiões.
Preço baixo
O presidente da Cosan Açúcar e Álcool, Pedro Mizutani, ressalta, contudo, que o otimismo em relação à cogeração de energia a partir de biomassa pode ter vida curta se os preços pagos em leilões do governo não forem reajustados. "No último leilão, o preço ficou em R$ 135 por MW, o que torna a produção inviável. Por isso não vendemos energia neste leilão", disse. Segundo ele, o preço de R$ 165 seria suficiente para cobrir os custos do setor.
Mizutani afirma que, embora a cogeração de energia seja importante na estratégia da Cosan, a empresa não deverá realizar novos investimentos nesta área se os preços continuarem baixos. "Vamos completar o ciclo de investimentos nas usinas que já venderam energia nos leilões. Desta forma, hoje temos 10 usinas com cogeração, em 2011 teremos 11 e em 2012 serão 12", disse.
A partir de 2012, a empresa espera obter uma receita de R$ 450 milhões por ano com a energia que será colocada no mercado. Além da venda em leilões, a Cosan também comercializa energia diretamente com algumas empresas, como CPFL, AES e Grupo Rede. (OESP)

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