Tem sido notável o aumento do interesse de fabricantes, autoridades governamentais e possíveis usuários, pelos veículos elétricos. Entretanto, até mesmo pessoas favoráveis à sua utilização eventualmente apresentam preocupações equivocadas que tendem a restringir a aplicação e prejudicar a difusão dessa tecnologia.
Diferenciar o carregamento das baterias em relação ao atendimento de outras cargas, utilizando somente energia proveniente de fontes renováveis, ou admitir hipóteses absurdas sobre o impacto dos veículos elétricos sobre os sistemas de suprimento elétrico tem sido frequente.
O interesse pelo acionamento elétrico dos veículos decorre da prioridade conferida por muitos países à redução de dependência de importações de combustíveis fósseis e à necessidade de reduzir o impacto ambiental de seus sistemas de transportes. Decorre também da evolução tecnológica das baterias e de seus sistemas de controle, que proporcionam maior autonomia e melhor desempenho do que os que eram alcançados pelos carros elétricos há apenas dez anos. Nos veículos elétricos, a elevada eficiência energética e redução de emissões são proporcionadas pelas seguintes características:
# O motor elétrico apresenta eficiências próximas a 85% e a bateria, em seus ciclos de carga e descarga, de cerca de 80%, enquanto a dos motores de combustão interna se situa próxima de 30% e a transmissão mecânica absorve cerca de 10% da energia do motor. Dada essa relação entre as eficiências dos veículos a bateria e aqueles acionados por motores de combustão interna, mesmo que a energia elétrica que alimenta a bateria seja gerada numa usina termelétrica, a energia primária utilizada será menor do que a da fonte do combustível utilizado, a menos que a usina seja particularmente ineficiente.
# Embora as emissões do veículo elétrico a bateria sejam nulas, a geração elétrica necessária para alimentar suas baterias pode implicar em emissões, caso sua fonte primária seja algum combustível. Mesmo assim, as emissões na usina termelétrica tendem a ser menores do que aquelas decorrentes da queima de combustível no veículo convencional, particularmente se este consumir derivados de petróleo, a menos que a usina seja bastante ineficiente e, sobretudo, se seu combustível for carvão.
# Todo veículo acionado por motor elétrico pode ter frenagem regenerativa, que recupera parte da energia inercial do veículo, armazenando-a na bateria, enquanto nos convencionais a frenagem apenas dissipa a energia inercial sob forma de calor. O reaproveitamento de parte da energia fornecida ao veículo é outro fator de aumento da sua eficiência.
# A energia elétrica destinada ao carregamento das baterias pode ser obtida a partir de qualquer fonte de energia primária, enquanto os motores de combustão interna exigem combustíveis líquidos ou gasosos, geralmente de natureza específica para que alcancem seu melhor desempenho.
# Carros a bateria só consomem energia para acelerar e para vencer rampas e resistências inerentes ao movimento, como a deformação dos pneus e a resistência do ar. Nada consomem quando param em trânsito congestionado enquanto carros convencionais, cujo motor permanece ligado, desperdiçam assim de 10% a 15% do combustível total consumido.
Os comentários seguintes indicam que diversas questões que têm sido colocadas refletem enfoques radicais na busca da sustentabilidade energética.
A questão mais relevante é associar, ou mesmo limitar o interesse no emprego de veículos elétricos à utilização de fontes primárias renováveis para gerar a energia elétrica que alimentará suas baterias. Trata-se aí de dois temas distintos que podem e devem ser tratados independentemente. Interessa reduzir a dependência de combustíveis fósseis e o impacto ambiental dos sistemas de transportes; também interessa manter elevada a participação das fontes primárias renováveis, tanto na matriz energética global quanto naquela do setor elétrico. Mas esse interesse é o mesmo, tanto para atender à demanda de geladeiras ou elevadores quanto para carregar baterias de carros elétricos.
Mesmo que não houvesse carros elétricos, haveria interesse em aumentar a utilização de fontes primárias renováveis e economicamente competitivas. E o emprego da tração elétrica, ou de qualquer equipamento mais eficiente do que o usual, reduz a demanda de fontes primárias e os impactos ambientais. Assim, mesmo que haja grande parcela de geração termelétrica, o aumento de consumo de energia elétrica para abastecer os carros elétricos normalmente causará aumento de uso de energia de combustíveis, nas usinas, inferior ao consumo dos carros convencionais que venham a ser substituídos.
Se a geração elétrica a partir de fontes renováveis fosse fundamental (embora seja desejável) para viabilizar os veículos elétricos, não haveria interesse nesses veículos, nem nos Estados Unidos nem na Europa ou na Ásia.
Restringir o emprego de carros elétricos à utilização de fontes renováveis para seu abastecimento prejudicará sua difusão, com efeito global contrário ao desejado.
Outro aspecto a considerar é que embora a avaliação do aumento da demanda de energia elétrica decorrente da difusão dos carros elétricos seja relevante, não faz sentido considerar a hipótese de todos os carros utilizados no país serem imediatamente substituídos por carros elétricos.
Tais análises, possivelmente destinadas a mostrar que os sistemas elétricos atuais não seriam capazes de atender à nova demanda, constituem hipótese tão ou mais absurda do que admitir que todos os rios dos quais dependem as usinas hidrelétricas brasileiras viessem a secar, de repente. É claro que nenhum sistema elétrico economicamente ajustado ao seu mercado poderia atender a um aumento súbito de demanda da ordem de 40%. Mas tampouco haveria a oferta de veículos que viessem a constituir tal demanda. Ao contrário, prevê-se que a penetração dos carros elétricos no mercado será relativamente lenta, ao longo da presente década. Além disso, a maioria dos carros em uso não seria descartada antes do fim de sua vida útil.
Uma preocupação de outra natureza daquelas comentadas acima, é a da substituição da dependência dos combustíveis fósseis pela do lítio, cujas jazidas economicamente exploráveis estão concentradas em poucos paises. Entretanto, diferentemente dos combustíveis, que são consumidos, o lítio das baterias deverá poder ser recuperado na reciclagem das baterias, o que remete ao problema tecnológico dessa operação; segundo, o lítio não é um elemento raro e novas técnicas de sua separação poderão ser desenvolvidas e, por fim, outras tecnologias de acumulação elétrica, inclusive de baterias e de supercapacitores, estão sendo desenvolvidas e poderão suplantar aquela baseada no lítio. (ambienteenergia)
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