Etanol e biodiesel: Brasil exporta contradições
Que razões levariam o Brasil – maior produtor
mundial de cana-de-açúcar, matéria prima do etanol, e segundo maior produtor da
soja, utilizada na composição do biodiesel – a investir em plantações em outros
países?
Para Sérgio
Schlesinger, que realizou o estudo Cooperação e Investimentos Internacionais do
Brasil: a internacionalização do etanol e do biodiesel, para o
Núcleo Justiça Ambiental e Direitos da FASE, o estímulo do governo brasileiro à
produção de etanol e biodiesel em outros países e regiões tem por objetivo
“assegurar aos países importadores alternativas aos produtos brasileiros,
desfazendo a hipótese de que possa vir a se formar um novo cartel de países
produtores de combustíveis e, assim, viabilizando o reconhecimento do etanol e
do biodiesel como commodities internacionais”.
Os dados surpreendem,
por exemplo, ao mostrar que é pequeno o número de empresas brasileiras
potencialmente beneficiárias na produção de etanol na África. As maiores
interessadas escreve Schlesinger, seriam transnacionais que operam também no
Brasil e cuja participação não se dá, necessariamente, a partir de suas filiais
aqui instaladas. Conclusão: o Brasil seria correia de transmissão aos
interesses destas empresas em outros países do sul.
O livro apresenta um
mapeamento de ações do Governo Federal e da Petrobras Biocombustíveis que
mostra interesses, intenções e estratégias brasileiras no crescente papel de
cooperação e investimentos internacionais no que diz respeito à produção desses
combustíveis em áreas da América Latina e da África.
A preferência pelos
estados africanos está relacionada à disponibilidade de terras gratuitas ou arrendadas
a preços simbólicos, assim como à baixa organização social, refletida em
ausência de legislação adequada para enfrentar a ocupação das terras pela
monocultura. Para o autor, os investimentos em Moçambique são emblemáticos. O
Brasil exporta para aquela nação políticas públicas de combate à fome e apoio à
agricultura familiar assim como o modelo de agricultura que ocupa mais de dois
terços do cerrado. Assim, o estudo prevê “consequências sociais e ambientais
bastante conhecidas no Brasil” referindo-se a replicação dos danos causados
pelo monocultivo ao cerrado brasileiro nas savanas africanas. (EcoDebate)
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