Obrigatório ou não, etanol está nos EUA para ficar
Nos últimos cinco anos, o governo norte-americano pagou às companhias de
combustíveis bilhões de dólares em subsídios para compra de etanol produzido
domesticamente, à base de milho, viabilizando parte da oferta de gasolina do
país.
Agora seria preciso pagar a elas para que não comprem.
A pior seca em mais de meio século reanimou o forte debate sobre
alimentos versus combustíveis. Produtores de alimentos e de animais estão
pedindo que o presidente Barack Obama abandone --pelo menos temporariamente-- a
obrigatoriedade imposta pelo governo, que exige converter mais de um terço da
safra de milho dos EUA para o etanol. O presidente tem três meses para decidir.
Especialistas dizem que mesmo que ele renuncie ao Renewable Fuel
Standard (RFS), isso não vai, necessariamente, liberar muito milho para
alimentos e ração animal. Na verdade, a menos que os preços do milho subam mais
US$ 2 ou os preços do petróleo caiam drasticamente, isso pode não fazer nenhuma
diferença.
Mesmo sem a obrigatoriedade, um terço da oferta de gasolina do país
precisa conter etanol, para atender a regras não relacionadas de ar limpo,
principalmente na Califórnia e na Costa Leste. Nenhuma outra substância
disponível pode oxigenar a gasolina de forma tão eficaz, ajudando na queima de
forma mais limpa.
Mais importante, o etanol é US$ 1 mais barato do que os outros tipos de
aditivos para aumentar octanagem, que refinarias utilizam para elevar a
eficiência do combustível.
"Mesmo com uma redução na renúncia, ainda há um incentivo econômico
para a indústria de combustíveis para utilizarem o etanol como um aditivo
oxigenado", disse Maureen Cannon, especialista em químicos e negócios
agrícolas e vice-presidente do Grupo de Valence, um banco de investimentos
especializado em produtos químicos.
Diferente de cinco anos atrás, quando o etanol era um combustível
marginal e relativamente caro que exigia pesados subsídios do governo
para sobreviver, agora é uma fonte competitiva de energia.
ALIMENTOS VS. COMBUSTÍVEIS
A constatação de que o etanol não vai ser facilmente retirado da oferta
de gasolina dos EUA aparece assim que um renovado debate entre alimento ou
combustível ganha força. Uma severa seca encolheu a safra de milho, levando os
preços a subirem mais de 60% em apenas três meses, para uma alta recorde acima
de US$ 8 por bushel.
Sob pressão de produtores de gado e de aves indignados, que viram os
custos de sua ração subirem, vários governadores estaduais solicitaram à
Agência de Proteção Ambiental (EPA) renúncias à obrigatoriedade de mistura do
etanol. A agência, que negou um recurso semelhante em 2008, deve decidir até
meados de novembro como irá proceder.
No entanto, remover a obrigação RFS não vai mudar o fato de que a Lei do
Ar Limpo de 1990 exige que as empresas de combustível vendam uma mistura mais
limpa, chamada de gasolina reformulada (RFG, na sigla em inglês) ou RBOB, em
regiões mais populosas do país.
"Se a EPA flexibilizar o padrão para o etanol, as refinarias podem
produzir a gasolina convencional, mas elas não seriam capazes de produzir
gasolina RFG", disse Mark Routt, conselheiro sênior para a KBC Advanced
Technologies, baseada em Houston.
Originalmente concebido como um caminho para as nove cidades mais
poluídas dos Estados Unidos limparem o ar, o RFG agora é um combustível
necessário em cerca de 30% dos postos do país. (reuters)
Nenhum comentário:
Postar um comentário