Quem quer um carro
elétrico quer um carro verde, um carro ecologicamente correto, que não polui
nem contribui para o aquecimento do Planeta.
Mas estamos longe
disso. Para ser ecologicamente correto, não basta que um automóvel não ejete
gás carbônico (CO2) pelo escapamento. É preciso perguntar primeiro como é
obtida a energia elétrica que o move. Hoje, nada menos que 81% da energia
global provém da queima de derivados de petróleo e carvão. Não adianta grande
coisa substituir o escapamento pela chaminé. A atenuante é a de que, nas
centrais térmicas, o gás carbônico produzido pode ter controle mais eficiente
do que o emitido pelos escapamentos.
No entanto, à medida
que os motores à explosão na frota global de veículos fossem substituídos pelos
elétricos, seria necessário ver de que modo seria gerada tanta energia
elétrica. Ou seja, enquanto não se obtiver uma fonte não poluidora e renovável
de energia, o carro elétrico enfrentará graves limitações.
Essas são objeções
sérias ao "carro do futuro" - como o designa o brasileiro Carlos
Ghosn, presidente do grupo Renault-Nissan. Mas há outras.
Há mais de dez anos,
engenheiros e cientistas tentam desenvolver uma bateria eficiente, mas não
foram muito longe. As mais avançadas pesam cerca de 500 quilos - trambolho que
compromete o desempenho e a autonomia do veículo. Os entusiastas observam que
essas coisas começam assim. Por exemplo, o primeiro computador ocupava o andar
inteiro de um edifício; e os primeiros celulares eram um tijolão.
Em todo o caso, mesmo
depois de progresso tecnológico, as baterias de computadores, celulares e
câmeras fotográficas não conseguem armazenar energia mais do que para algumas
horas de uso. E é preciso, também, resolver o problema do recarregamento.
Os que apostam no
carro elétrico lembram que a recarga pode ser feita à noite. Ainda assim, cada
garagem teria de ter instalações elétricas especiais que, provavelmente,
implicariam aumento da capacidade de todo o sistema. Mas como resolver o
problema de tantos edifícios e de tantas casas, no Brasil e no mundo, que não
dispõem de garagem? E quem tem de deixar o carro na rua fará o quê?
A Renault desenvolveu
projeto que prevê troca da bateria nos postos de combustível. Trata-se de
operação que não leva mais do que alguns minutos. O problema aí é que a bateria
corresponde a cerca de metade do preço do carro elétrico. Quem se sujeitaria a
trocar um equipamento tão caro cujo estado de conservação não conhece? E qual
seria a seguradora que daria cobertura a um veículo que, na primeira parada,
poderia ser vítima de troca de gato por lebre?
Há ainda a questão da
autonomia. Os carros elétricos não aguentam mais do que 140 km ou 150 km sem
recarga. É claro, o avanço da tecnologia sempre poderá baixar esses números.
Cabe perguntar, também, quem, afinal, precisaria de uma autonomia superior a
150 km por dia na cidade? Talvez os taxistas ou os entregadores. Ora, mesmo
quem, na média, não roda mais do que 30 km por dia tem de estar preparado para
viagens de 200 km ou 300 km. E não se pode desprezar os problemas causados pelo
descarte das baterias. Hoje, a reciclagem das baterias dos celulares e dos
computadores continua sem solução.
Finalmente, há o
obstáculo do preço. Até agora não foram fabricados (e vendidos) carros
elétricos por menos de R$ 120 mil por unidade - caros demais em comparação com
os convencionais. Os poucos modelos vendidos na Europa e no Japão contam com
subsídios de até US$ 6 mil cada um. Até quando os governos e instituições
públicas podem pagar esse pedaço da conta para tornar o produto atraente?
Aí é preciso, sim,
levar em conta cálculos de escala. A partir do dia em que uma montadora puder
fazer ao menos metade de seus carros movidos à eletricidade, os preços ficarão
mais baixos. Mas quanto mais baixos? Alguns lembram que a produção em massa de
carros elétricos mudaria toda a indústria. Milhares de fábricas de autopeças
desapareceriam. E uma rede de proporções não desprezíveis de empresas de
manutenção (serviços de mecânica) teriam de se reciclar ou fechar as portas.
Mas, convenhamos, é do jogo. Como tantas vezes é lembrado, a indústria de
lâmpadas também levou à falência milhares de fabricantes de velas.
Enfim, o carro
elétrico continua sendo uma aposta complicada. É por isso que algumas
montadoras, como a Ford e a Toyota, fizeram outra opção: desenvolver carros
híbridos, em que o motor elétrico é alimentado por energia gerada por queima de
um combustível num motor à explosão.
Diante dessas e de
outras eventuais considerações, por que não seguir apostando no carro a álcool,
ao menos no Brasil? (OESP)
Nenhum comentário:
Postar um comentário