sexta-feira, 30 de abril de 2010

Hidrelétrica de Manso

Hidrelétrica de Manso: "50.000 hectares de terra debaixo d'água para uma pequena geração de energia".
Instalada há nove anos, no município de Chapada dos Guimarães, Mato Grosso, a Hidrelétrica de Manso trouxe consigo diversos problemas para a população que habita a região. Desde sua construção, a hidrelétrica atingiu mais de mil famílias ribeirinhas. Na última semana, cansados de esperar o cumprimento de um Termo de Acordo Global, feito em 2005, e que ainda não foi cumprido pela empresa estatal Furnas, cerca 800 agricultores atingidos por barragens ocuparam a área da hidrelétrica. É sobre esta ação que conversamos com o coordenador do MAB-MT, Paulo Fernandes. Em entrevista, por telefone, para a IHU On-Line, Fernandes explica que, desde o abandono do termo, a empresa de Furnas comprou somente 40% das terras do assentamento, deixando mais de 700 famílias praticamente na miséria. “As famílias que foram reassentadas estão largadas há mais de três anos em barracos de lona. As demais terras ainda não foram compradas, e só existem promessas. É aquela história, ‘devo, não nego e pago quando puder’. Estamos levando dessa maneira”, lamenta Fernandes.
A expectativa dos atingidos, segundo Fernandes, é que o resto das terras sejam compradas imediatamente para a sobrevivência das famílias. “Na última reunião, eles disseram que uma ONG, chamada Cândido Rondon, irá criar um projeto de assentamento. O prazo é de oito meses para fazer o projeto, dar entrada no Ministério do Meio Ambiente e ver se será aprovado ou não. E se não aprovam isso, como ficará a situação das famílias?”, questiona.
IHU On-Line – Você pode nos contar um pouco da história da hidrelétrica de Manso, no Mato Grosso?
Paulo Fernandes – Não sabemos o motivo de sua construção. Certamente é para gerar lucro. Acho que todas as empresas, ao construírem uma barragem, têm a intenção de tirar proveito. A hidrelétrica de Manso está localizada no município de Chapada dos Guimarães, na divisa com Rosário Oeste, pegando também o município de Nova Brasilândia. Esta hidrelétrica atingiu mais de mil famílias, mas a empresa até agora não reconheceu cerca de 912 destas. Algumas dessas famílias já morreram, e outras venderam as propriedades e foram embora. Hoje existem 780 famílias na luta para receberem seus direitos. Na época da construção, 341 foram reassentadas em uma terra de areia improdutiva. Nesta área, o pessoal não consegue sobreviver, e a maioria quer uma nova área para poder plantar. As demais ainda se encontram sem receber nenhuma reparação. Não foram reassentados, não receberam indenização e estão na espera. E já faz quase dez anos. A hidrelétrica de Manso fechou as comportas para a geração em 30 de novembro de 1999.
IHU On-Line – O que dizia o Termo de Acordo Global, realizado em 2005, e que também diz respeito à hidrelétrica de Manso?
Paulo Fernandes – Criamos alguns critérios, juntamente com a empresa, para reconhecer o direito dos atingidos. Vimos quais eram os direitos e o que cada um deveria receber. Diante disso, geramos um documento dizendo que os filhos de atingidos, ou a pessoa que foi atingida diretamente, tinham tantos hectares para receber, o que esta pessoa irá receber de bem feitoria dentro dessa propriedade, quais são os direitos das pessoas idosas e etc. Eles não queriam reconhecer os garimpeiros, nós batemos em cima e fizemos eles reconhecerem.
Esse foi um termo de acordo global, criado junto com o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), com o Ministério de Minas e Energia e Furnas. O ministro de Minas e Energia e o presidente de Furnas assinaram esse acordo. Nós da coordenação do MAB também assinamos e reconhecemos em cartório. Só que a empresa alegou que, para ela cumprir esse tipo de acordo, teria de ter uma autorização da justiça. Procuramos a justiça federal, e o juiz, a promotoria e a advocacia geral da união assinaram esse termo de acordo. Isso foi reconhecido e geramos um documento público.
Porém, isso foi fechado em 2005 e, depois disso, a empresa comprou 40% das áreas para assentamento das famílias. Lá foram colocadas 53 famílias que estão largadas há mais de três anos em barracos de lona. As demais terras ainda não foram compradas e só existem promessas. É aquela história, “devo, não nego e pago quando puder”. Estamos levando dessa maneira.
IHU On-Line – Para onde vai a energia gerada pela hidrelétrica de Manso?
Paulo Fernandes – Essa energia é interligada, liga-se em outras redes e se vai. Aqui na região não fica nada. A energia que temos é de uma outra hidrelétrica muito antiga, uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH), que fornece energia para a região. Nada da energia produzida pela da Usina de Manso fica no estado.
IHU On-Line – Qual a situação atual das famílias que ainda não foram reassentadas?
Paulo Fernandes – A situação é muito precária, as famílias estão em situação difícil. Lutamos com a empresa para que ela pudesse dar uma ajuda. Cestas básicas já poderiam resolver um pouco dos problemas dessas famílias. Na época, negociamos 800 salários mínimos, mas já faz cinco anos que a empresa não reajustou esse dinheiro. Hoje, as pessoas recebem apenas 300 reais por mês. É claro que o banco “come” alguma coisa disso, pois fica com a conta bancária. No final das contas, chegam apenas 240 reais para as famílias. Isso é o que elas têm para sobreviver. Aqueles que foram reassentados pelo menos têm a casa, e aqueles que não foram estão vivendo de favor ou acampados em barracas de lona.
São 780 famílias, 484 ainda não foram reassentadas e ainda se encontram sem endereço. Aquelas que foram reassentadas também não estão numa situação boa, pois estão vivendo em uma terra improdutiva. A empresa dá uma “esmolinha” para eles. O termo de acordo diz que a empresa dará essa ajuda até que as famílias tenham condições de sobrevivência. A empresa deveria reassentar as famílias que ainda não foram e melhorar as condições dessas que já foram, removê-las para novos assentamentos ou criar um projeto de desenvolvimento para que elas possam sobreviver da terra.
IHU On-Line – E qual era a situação antes da hidrelétrica de Manso?
Paulo Fernandes – Antes, as famílias viviam em uma situação razoável. Todo mundo vivia tranquilo. A margem do rio tinha uma terra que era agricultável, então eles plantavam e colhiam. Tinha o peixe e vários outros meios de sobrevivência, como o garimpo. Não posso dizer que a vida dessas pessoas era 100% boa, mas elas tinham meios de sobrevivência. Hoje, elas não têm.
IHU On-Line – Depois que os atingidos invadiram a área da hidrelétrica, Furnas se manifestou?
Paulo Fernandes – Furnas marcou uma reunião na última semana, e um grupo foi negociar no Rio de Janeiro já que eles não quiseram vir até nós. A negociação não teve avanço, pois a única coisa que eles propuseram, razoavelmente, foi a resolução do problema dos idosos, comprando uma casa para cada um deles etc. Isso não foi muito bom porque eles determinaram um certo valor para a compra da casa, e se a casa for comprada por menos, eles não devolvem o resto do dinheiro. É só a casa e pronto. Os demais aguardam a próxima reunião, que acontece nos dias 29 e 30 de março, em Cuiabá.
IHU On-Line – As famílias viviam da agricultura e da pesca na região. Como está a situação da fauna aquática?
Paulo Fernandes – Os peixes acabaram. Na parte de cima, no lago, não existem mais peixes e, na parte de baixo, também, porque o peixe depende da água das enchentes para subir etc. Os ribeirinhos da região mais baixa do rio, que viviam da pesca, estão sem condições de vida, pois não tem mais o peixe, e, quem vive mais para cima do rio também passa por essa situação.
IHU On-Line – O que esperam os atingidos pela hidrelétrica agora?
Paulo Fernandes – A expectativa é que Furnas compre o resto das terras e reassente as famílias para que elas sobrevivam. Pedimos que isso seja imediato. Nesta última reunião, eles disseram que vão investir em uma ONG chamada Cândido Rondon, no Mato Grosso do Sul, e essa ONG irá criar um projeto de assentamento. Para isso, claro, deve ser comprado o resto das terras. Segundo eles, essa ONG quer um prazo de oito meses. Isso é o que demora para fazer o projeto, dar entrada no Ministério do Meio Ambiente e ver se será aprovado ou não. Nós achamos que é impossível. Quem não tem um lugar para morar terá que esperar oito meses. E se não aprovam isso, como ficará a situação das famílias?
Ainda estamos acampados e, se não houver avanço, vamos permanecer. Acho que essa hidrelétrica foi criada mais para prejudicar as famílias, pois sua geração de energia é muito pouca. Era para gerar 210 megawatts, mas hoje não gera nem 100. A usina trabalha com uma ou duas turbinas, e as famílias são prejudicadas por uma coisa que não está gerando quase nada. Não está havendo retorno pelo tanto de área que foi alagada. São quase 50 mil hectares de terra debaixo d’água para uma pequena geração de energia.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Biocombustíveis pode gerar mais poluição

Biocombustíveis pode gerar quatro vezes mais emissões de poluentes.
Estudos da UE diz que alguns tipos de biocombustíveis podem gerar quatro vezes mais emissões de poluentes que o diesel normal.
Biodiesel pode gerar quatro vezes mais emissões que diesel normal.
Estudo controverso da União Europeia revela impacto inesperado de energias renováveis; metodologia é questionada
Alguns tipos de biocombustíveis, como o biodiesel feito do grão da soja, podem gerar quatro vezes mais emissões de gases de efeito estufa do que o diesel convencional ou a gasolina, de acordo com um documento realizado pela União Europeia.
O bloco europeu estabeleceu uma meta de obter 10% do seu combustível para veículos de fontes renováveis, principalmente biocombustíveis, até o final desta década. Mas agora a Europa começa a se preocupar com os impactos ambientais inesperados.
Quatro grandes estudos estão em andamento. E o maior temor é de que a produção de biocombustível absorva grãos dos mercados globais de commodity, forçando o preço dos alimentos a subir e encorajando agricultores a desmatar áreas de floresta tropical em busca de novas terras de plantio.
A queimada de florestas emite grandes quantidades de dióxido de carbono e geralmente cancela os benefícios dos biocombustíveis para o clima.
O biodiesel produzido da soja na América do Norte tem uma pegada de carbono indireta de 339,9 quilos de CO2 liberado para cerca de 280 quilowatts/hora produzido quatro vezes mais do que o diesel convencional, segundo o documento da União Europeia, um anexo que foi controversamente retirado de um relatório publicado em dezembro.
A edição do relatório, à época, levou uma das consultorias que participaram da sua realização, o Insituto Fraunhofer, da Alemanha, a negar a sua publicação do anexo. Mas agora foi finalmente liberado publicamente, depois que a agência internacional de notícias Reuters usou a lei de liberdade de informação para conseguir uma cópia.
Um executivo da Comissão Europeia da UE disse que o documento não foi adulterado para ocultar evidências, mas somente para permitir uma análise mais profunda antes da publicação. “Dada a divergência de pontos de vista e o nível de complexidade do assunto, foi considerado melhor deixar a análise controversa de fora do relatório”, disse o executivo. “A análise preparada neste estudo aplicou uma metodologia que muitos não consideram apropriada.”
Neutralidade científica
O anexo adiciona peso ao dossiê que sugere que os biocombustíveis não são tão ‘verdes’ quando se pensava – até mesmo a segunda geração de biocombustíveis, feita de casca de madeira, mais avançada que a primeira.
“Pela terceira vez em seis semanas a Comissão Europeia teve que divulgar às forças estudos sobre os efeitos para o clima dos biocombustíveis”, disse Nusa Urbancic, do grupo T&E para o transporte sustentável. “E pela terceira vez esses estudos mostram que as mudanças no uso da terra são o fator mais importante na hora de decidir se faz sentido produzir biocombustíveis ou não.”
O biodiesel europeu, feito de um tipo específico de couve, tem uma pegada de carbono indireta de 150,3 quilos de CO2 por 280 quilowatts/hora produzidos, enquanto o cálculo do bioetanol europeu feito de beterraba é de 100,3 quilos – ambos bem mais altos do que o gasto do diesel convencional ou da gasolina, que soma 85 quilos de CO2.
Em contraste, a importação de bioetanol de cana de açúcar vindo da América Latina, inclusive do Brasil, e de bioetanol de óleo de palma do Sudeste Asiático parecem relativamente mais ‘limpos’, com 82,3 quilos e 73,6 quilos respectivamente.
Porém um dos cientistas responsáveis pelo estudo alertou que ainda há muito trabalho para ser feito para que o assunto possa ser completamente entendido e que não é possível ainda tirar nenhuma conclusão sólida sobre valores relativos das diferentes fontes dos biocombustíveis.
“O ponto principal é que precisamos trabalhar mais, desenvolver novos critérios de sustentabilidade e precisamos ter muito cuidado com a origem do biocombustível”, disse Wolfgang Eichhammer, do Instituto Frauhofer. “E também precisamos encontrar uma forma de excluir os biocombustíveis ineficientes.”

Biodiesel de soja é menos poluente que diesel

EUA dizem que biodiesel de soja é 57% menos poluente que diesel.
Depois de reconhecer o etanol de cana-de-açúcar como combustível eficiente, a Environmental Protection Agency (EPA - entidade governamental responsável pela formulação de critérios para incentivo ao uso de biocombustíveis nos Estados Unidos divulgou os resultados finais da sua análise e recalculou as emissões do biodiesel de soja, conferindo ao biocombustível uma redução de 57% nas emissões em relação ao diesel mineral.
Essa análise servirá como base legal para a implementação do Renewable Fuel Standard 2 (RFS 2), programa que tem como meta para 2022 o consumo de 36 bilhões de galões de combustíveis renováveis nos EUA. Com essa revisão, a EPA enquadrou o biodiesel de soja como biocombustível adequado a atender as metas do programa norte-americano.
Durante o processo de elaboração, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) participou da consulta pública aberta pela EPA, tendo o Brasil espaço privilegiado de discussão proporcionado pelo Memorando de Entendimento sobre Biocombustíveis.

Demanda mundial por biocombustíveis

Demanda mundial de biocombustíveis gera risco de despejo para agricultores africanos
Os agricultores africanos estão sob risco de serem forçados a deixar suas terras por pressão de investidores ou projetos do governamentais que ‘estimulam’ mudanças na cultura do cultivo, visando o atendimento da demanda global por biocombustíveis
Pesquisa [Biofuels, food security and Africa] da Universidade de Edimburgo identificou que os meios de subsistência podem ser colocados em risco se as terras ferteis africanas, atualmente destinadas à agricultura de subsistência ou de atendimento à demanda local por alimentos, for convertida para o cultivo de biocombustíveis.
Com uma crescente pressão para encontrar alternativas de substituição aos combustíveis fósseis a produção mundial de biocombustíveis triplicou entre 2003 e 2007 e a previsão é dobrar novamente em 2011. Na África, Malawi, Mali, Mauritânia, Nigéria, Senegal, África do Sul, Zâmbia e Zimbabwe adotaram estratégias pró-biocombustível nacional.
Os pesquisadores estimam que a alocação de terras para a produção de biocombustíveis, pelos projetos do governo ou investidores internacionais poderia significar que a população rural pobre seria forçada a abandonar suas terras ancestrais.
Acrescentam que os projetos de biocombustíveis também fazem parte de um comportamento “neocolonial”, com os países ricos adquirindo vastas extensões de terras em países pobres (deslocalização agrícola) . Em Madagascar, a empresa sul-coreana Daewoo Logistics tentou comprar uma área equivalente a do tamanho da Bélgica para instalação uma megafazenda para produção de milho e óleo de palma para biocombustíveis.
Organizações como o Banco Mundial afirmam que desviar terras para produzir biocombustíveis tem contribuído para a subida dos preços dos alimentos, que forçaram milhões na pobreza.
Segundo os pesquisadores, a ameaça que o aumento da produção de biocombustíveis representa para a segurança alimentar é particularmente séria na África, onde o alimento já é escasso e a segurança alimentar é insuficiente.
O relatório “Biofuels, food security and Africa” (Os biocombustíveis, segurança alimentar e África, em tradução livre), será publicado na edição de julho da revista African Affairs.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Resíduos das fontes de energias renováveis

O que fazer com os resíduos das fontes de energias renováveis e seu aproveitamento?
A Fundação Zeri Internacional existe há 5 anos, cujo diretor é o Professor Janis Gravitis. No Brasil, a Rede Zeri foi lançada no ano de 1996 e no Paraná em março de 1999. Zeri é uma sigla em inglês para iniciativa de pesquisa em emissão zero. O objetivo é desenvolver modelos produtivos que impliquem em emissão zero de resíduos não aproveitáveis, com a utilização de fontes de energias renováveis.
O IBQP, com TECPAR e outras entidades brasileiras, além dos estudos e apoio feitos pelo Professor Janes Gravitis, querem desenvolver e divulgar para que as empresas, prioritariamente as do Paraná, consigam visualizar as vantagens (em lucro, em produtividade e utilizando tecnologias limpas) da utilização de resíduos (florestais) para a produção de combustíveis e outros produtos.
Dentre alguns projetos e atividades que o Instituto participa, estão:
- Núcleo de Desenvolvimento Sustentável, cujos objetivos são:
Emissão Zero - produtividade total, total aproveitamento dos resíduos.
Capitalismo Natural
Produtividade Sistêmica (regulamentação dos benefícios gerados pelos resíduos)
- Programa Ciclo Brasil – Programa Integrado de Aproveitamento de Resíduos – que tem por objetivo reduzir o desperdício, reduzir os impactos ambientais, aumentar o crescimento econômico e propiciar novos postos de trabalho.
Uma das propostas é criar conglomerados, que são grupos (vilas, moradores) ao redor de empresas que possam ser incentivados e treinados para o aproveitamento rentável dos resíduos, propiciando novas alternativas e novas fontes de renda.
O conceito de resíduo para estas entidades é tudo o que se pode agregar valor, gerando uma nova cadeia produtiva, ao contrário de lixo que é todo o resíduo que não possui valor agregado.
A intenção é criar uma agenda comum (acordo em comum para o desenvolvimento de tecnologias limpas), além de mostrar que o lucro pode ser maximizado (para as indústrias) e que os danos podem ser minimizados (sociedade e meio ambiente).
Produção Total + inovação = Resíduo zero + Competitividade
Dentro deste contexto existem, hoje, no meio ambiente 3 abordagens:
Abordagem mitigadora (a empresa sabe que existem problemas)
Ex: aterros sanitários
Reduzir; Reutilizar; Reciclar; Reprojetar; Remediar
Abordagem sistemática (empresas que sistematizam o problema sabem que poluem e fazem algo par a melhorar)
Normas ambientais
Sistemas de Gestão Ambiental
Selos Verdes
Uso de tecnologias limpas
Abordagem sistêmica
Formas mais avançadas na busca de novas soluções, novos modelos de produção com o objetivo da emissão zero (busca da produtividade total da matéria prima)
Exemplos de Aproveitamento a partir de Resíduos
Cogumelos medicinais
A produção de cogumelos (Agaricus blazei) a partir de resíduos da Agroindústria – usado para o tratamento de viroses. O Mercado de cogumelo é um mercado emergente (tem crescido por ano 20%).
Em 1965, foi descoberto no Brasil, nas matas da região de Piedade - SP, um cogumelo que foi denominado e "Cogumelo de Piedade". No Brasil as pesquisas são recentes e pouco divulgadas, mas a procura do Agaricus blazei já se torna grande, devido aos seus potentes efeitos.
O Cogumelo Agaricus blazei é um excelente suplemento alimentar. Em vários países do mundo é usado no tratamento de:
1. Câncer
Efeitos no controle e prevenção de diversos tipos de câncer.
2. Doenças do aparelho respiratório:
Bronquite crônica e asma;
3. Doenças do aparelho circulatório:
Efeito hipotensivo.
4. Doenças do aparelho digestivo:
Úlcera duodenal, úlcera gástrica, gastrite crônica, estomatites, pólipos, lesões cutâneas.
5. Aparelho urinário:
Cistite, nefrite, insuficiência renal, problemas de próstata;
6. Outras doenças:
Alergia, colesterol alto, diabete, inflamação mamária, menopausa, sinusite, renite, eczema, bursite.
- Qualquer pessoa pode consumir principalmente para prevenir doenças.
Contra- indicações: Até hoje não foi constatada nenhuma contra-indicação, porém no início do tratamento, algumas pessoas podem apresentar diarréia temporária, o que deve ser encarado como um fato perfeitamente normal.
O Cogumelo Agaricus blazei é um produto rico em vários tipos de nutrientes, tais como Aminoácidos, Vitaminas B1 e B2, Niacina, Fósforo, Ferro, Ergosterol e, sobretudo, Polissacarídeos como o Beta glucano.
Reciclagem total das embalagens longa vida
O papelão acaba tornando-se uma commodity, um produto que passa a ter valor no mercado.
Estercos de suínos
O esterco de suíno, hoje, é um grande problema devido a sua descarga nos rios. Com este conceito, passam a ser reaproveitados (produção de um biossistema integrado) e utilizados para a produção de peixes e plantas.

Energia piezoelétrica

Pesquisadores desenvolvem sistema de geração de energia piezoelétrica que funciona com a passagem de carros e pedestres.
Passagem iluminada
Ao passar sobre uma placa cerâmica embutida no asfalto veículos estimulam o material e produzem energia. Essa, por sua vez, alimenta a iluminação de placas e dos semáforos da própria rua ou estrada.
Essa é apenas uma das possíveis aplicações de uma pesquisa feita na Universidade Estadual Paulista (Unesp) que visa ao desenvolvimento de um sistema de aproveitamento da energia piezoelétrica, isto é, gerada por pressão.
O trabalho, que tem apoio da FAPESP por meio da modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular, começou com o professor Walter Katsumi Sakamoto, do Departamento de Física e Química da Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira, que utilizou sua experiência na construção de sensores de radiação e de umidade de solo para elaborar dispositivos piezoelétricos.
Essas tecnologias têm em comum a utilização de compósitos cerâmicos nanométricos em formato de filmes. O pesquisador costumava importar alguns desses materiais, como o polifluoreto de vinilideno (PVDF), o poliéter-éter-cetona (PEEK) e o titanato zirconato de chumbo (PZT).
No entanto, para desenvolver o sensor piezoelétrico, decidiu encontrar similares nacionais. Foi quando convidou a professora Maria Aparecida Zaghete Bertochi, do Departamento de Química Tecnológica da Unesp, em Araraquara, a participar do trabalho.
“O desafio foi desenvolver um material que apresentasse boa dispersão no polímero e, para isso, precisávamos encontrar o tamanho e a dispersão ideal das partículas”, disse Maria Aparecida à Agência FAPESP. Bons resultados foram obtidos pela produção de nanopartículas de PZT preparadas por processo químico.
A fim de obter o material, o grupo de Araraquara desenvolveu um novo método de síntese para a cerâmica. O convencional, chamado de mistura de óxidos, exige altas temperaturas, além da submissão do material a um processo de moagem. Os pesquisadores conseguiram dispensar o tratamento térmico e a dispersão em meio aquoso e obtiveram o PZT a temperaturas de 180ºC. “Nosso método também promove menor contaminação ambiental por chumbo”, disse.
Já o compósito desenvolvido com a matriz PEEK suportou temperaturas de até 360º C e a nanocerâmica ficou bem dispersa, formando um filme compósito bastante homogêneo. O filme não precisa ficar na superfície do solo, o que torna o material apto a ser aplicado em condições severas. Os pesquisadores estimam que o dispositivo se manteria operante mesmo sob temperaturas inferiores a 0º C e sob água, como no caso de uma enchente, por exemplo.
Para gerar energia, o equipamento necessita de pressão intermitente, que seria exercida pela passagem dos pneus dos veículos. Essa força provoca uma deformação mecânica no material, que produz energia elétrica.
Sakamoto colocou o novo compósito entre duas placas de acrílico. O material gerou energia toda vez que uma das placas foi apertada manualmente, o que foi comprovado com o acendimento de um LED (diodo emissor de luz) conectado ao dispositivo.
Passos que iluminam
“Essa tecnologia poderá gerar energia em áreas movimentadas e não somente a partir da passagem de carros, mas também de pessoas a pé”, explicou Sakamoto.
Segundo ele, shopping centers poderiam utilizar pisos especiais que transformassem os passos dos frequentadores em energia para iluminar os corredores. Algumas estações de metrô no Japão já utilizam pisos desse tipo.
O advento recente das lâmpadas LED, que consomem bem menos energia do que as fluorescentes e incandescentes, deverá, segundo Sakamoto, ajudar a impulsionar o uso da tecnologia piezoelétrica. “Sem contar o ganho ambiental por se produzir uma energia limpa”, salientou.
“Dentro do próprio automóvel, poderíamos instalar geradores piezoelétricos que se alimentariam dos movimentos dos amortecedores, do giro dos pneus e de outras peças móveis”, estima. A fonte alternativa pouparia o motor do carro, atualmente o responsável pela alimentação de seu sistema elétrico.
As aplicações são inúmeras. Um exemplo seria o uso de compósitos em solas de sapatos, capazes de gerar energia suficiente para alimentar aparelhos celulares e outros eletrônicos portáteis enquanto seus usuários caminham.
Outro emprego da tecnologia piezoelétrica estaria na inspeção estrutural de materiais como, por exemplo, os usados na fuselagem de aeronaves. Sakamoto averiguou que o compósito foi bem-sucedido na detecção de microtrincas em placas de fibra de carbono presente nos aviões. Ao colar o filme compósito na superfície da placa, a presença de trincas é detectada. Isso ocorre porque as fissuras emitem sinais conhecidos como ondas de Lamb. Nesse caso, o PZT percebe a interferência e gera um sinal que pode ser lido em um osciloscópio.
Entre outras possíveis aplicações desses sensores também estão a detecção de vazamentos de raios X em clínicas e hospitais e a produção de implantes capazes de estimular o crescimento ósseo guiado, o que seria muito útil em tratamentos ortopédicos e implantes dentários.
O grupo de pesquisa tenta agora o desenvolvimento de matrizes poliméricas mais moles, semelhantes à borracha. “Em teoria, quanto maior a deformação do compósito, maior é o sinal gerado”, explicou o professor da Unesp.
Os pesquisadores procuram parceiros que se interessem em investigar novos capacitores que consigam armazenar uma quantidade maior de energia do que os modelos atuais. A nova geração desses dispositivos, apelidados de supercapacitores, é alvo das pesquisas desse tipo de energia.
Sakamoto aponta que a resposta para esse obstáculo estará mais uma vez na nanotecnologia. “O desafio será desenvolver outro nanomaterial com a propriedade primordial de acumular grande quantidade de energia em um tamanho reduzido”, disse.

sábado, 24 de abril de 2010

Até 2020, etanol pode crescer 150%

O setor sucroalcooleiro espera avanço contínuo na produção e consumo de etanol no Brasil. Dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) apontam até 2020 um avanço de 150% no processamento do combustível. Para a safra 2010/2011, de acordo com estimativa da alemã F.O Licht, o País deve registrar aumento de 14,17% na produção e 12% no consumo se comparado ao ano anterior. O Plano Nacional de Energia, do Ministério de Minas e Energia prevê para 2030 uma participação de 6% do etanol na demanda final de energia. Em 2004 o etanol respondia por 4%.
Segundo Christoph Berg, diretor-geral da F.O Licht, a oferta do produto para a próxima safra deve chegar a 27,4 bilhões de litros, ante os 24 bilhões da safra 2009/2010. Já a demanda pode passar de 22,5 bilhões de litros para 25,2 na safra 2010/2011.
Marcos Sawaya Jank, presidente e Chief Executive Officer (CEO) da Unica, explicou que uma das principais causas das perdas na safra 2009/2010 se deu em função do excesso de chuva. "A cana no centro-sul está pior que a do nordeste", diz.
O presidente disse ainda que foram perdidos quatro bilhões de litros de etanol, três milhões de toneladas de açúcar e 43 milhões de toneladas de cana-de-açúcar.
Jank considerou ainda que o aumento do consumo de etanol no País será puxado pela expansão da frota de carros flex.
De acordo com o presidente da Unica, no início da safra, os preços do etanol estavam extremamente baixos, o que resultou em aumento no consumo - primeiro semestre de do ano passado em relação ao mesmo período em 2008 -, em janeiro e fevereiro, com a crise climática, que resultou em queda de produção, o consumo despencou.
Para Jank, o ajuste feito pelo consumidor ao optar pela gasolina quando os preços do etanol não estavam atrativos mostrou que o sistema funciona. "É para isso que ele o sistema existe. Para que não sejam necessárias grandes intervenções governamentais. O flex é o regulador do mercado", afirma.
Atualmente o bicombustível representa 40% da frota nacional de veículos, de acordo com dados da Unica.
A F.O Licht considera também, além do regulador flex, que as consolidações, responsáveis pelo aumento de capital, devem aumentar a capacidade das indústrias de manterem seus estoques para evitar queda de preços, como ocorreu na safra anterior.
Jank destacou a joint venture entre a Cosan e a Shell como fator positivo para proporcionar mais visibilidade para o Brasil no mercado internacional, principalmente nos Estados Unidos e Europa. "A Europa é mais hesitante que os Estados Unidos, sem contar a grande frota de veículos a diesel que possuem", afirmou
Nos últimos três anos ocorreram, no País, 60 acordos abrangendo 100 usinas no setor sucroalcooleiro nacional.
A F.O Licht projetou para 2010/2011 embarques estáveis do produto brasileiro, em 3,1 bilhões de litros, ante os 3,15 bilhões exportados na safra anterior. O que representa queda de 34% se comparada a temporada 2008/2009, quando o Brasil comercializou internacionalmente 4,7 bilhões de litros. De acordo com a consultoria, este ano, as importações americanas devem se manter estáveis, na casa de 1 bilhão de litros, metade do volume adquirido pelo país em 2008.
A movimentação inalterada dos Estados Unidos em 2010, segundo a F.O Licht, ocorre ao mesmo tempo em que avança em quatro bilhões de litros a produção interna, passando para 45 bilhões de litros.
A F.O Licht que considera lento o crescimento de produção das indústrias, espera uma produção mundial de etanol de 83,4 bilhões de litros para este ano, avanço de 14,25% se comparado aos números de 2009. Para a consultoria o processo moroso deve manter equilibrado o mercado.
Estoques
A produção maior do álcool combustível estimada para a safra 2010/2011 aponta um estoque final, para o mês de março do próximo ano, de 1,82 bilhões de litros. Em 2009/2010, quando os preços ao consumidor final dispararam, devido ao período de entressafra, foi registrado um volume de 1,57 bilhões de litros, de acordo com números da F.O Licht.

Cada vez mais perto do etanol celulósico

Empresa traz para o Brasil enzimas capazes de auxiliar na produção de álcool a partir do bagaço de cana.
A produção do etanol celulósico, o etanol extraído a partir da biomassa, como o bagaço de cana, por exemplo - pode finalmente ganhar escala industrial. Esse processo, que já é estudado há pelo menos uma década no mundo, pode aumentar em pelo menos um terço a produção de etanol no País, atualmente em 24 bilhões de litros, e tornar mais próxima a consolidação do mercado externo de biocombustíveis.
A Novozymes Latin America, multinacional de biotecnologia de origem dinamarquesa, que há dez anos estuda o desenvolvimento de enzimas capazes de aproveitar os resíduos agrícolas para produzir o etanol celulósico ou de segunda geração, como também é chamado, apresentou em abril de 2010, durante o F. O. Licht’s Sugar & Ethanol 2010, em São Paulo (SP), sua nova tecnologia.
São duas enzimas que devem baratear o processo de hidrólise das biomassas. É esse processo que vai permitir às usinas obter glicose a partir dos resíduos da cana e ampliar, assim, a produção do biocombustível. "Já testamos a eficiência das enzimas em plantas de demonstração nos Estados Unidos, usando palha de milho. Agora, vamos comprovar a sua eficiência no Brasil, com o bagaço de cana", diz o presidente da empresa na América Latina, Pedro Luis Fernandes.
Parcerias. A empresa diz que irá buscar parcerias com centros de referência, como o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC ), de Piracicaba (SP), e o Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), de Campinas (SP), para montar plantas de demonstração, para simular o processo de produção do álcool celulósico em escala industrial.
O CTBE, por exemplo, irá concluir até o meio deste ano a primeira planta para experimentos com o etanol celulósico do País. "O prédio está quase pronto e as máquinas já chegaram. Até 2011 pretendemos realizar um grande experimento, com participação da comunidade científica", diz o diretor do CTBE, Marcos Buckeridge.
Segundo ele, diferentemente de uma planta de demonstração, onde é possível apenas simular o ambiente industrial, a usina piloto em questão permitirá também o desenvolvimento de cada etapa do processo.
Buckeridge, que também é coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) do Bioetanol, diz que as descobertas nessa área têm avançado muito. "Em todo o mundo há o desenvolvimento de novas enzimas, o que pode baratear a produção do etanol de segunda geração. No ano passado, só o INCT investiu US$ 1 milhão e temos várias enzimas em ponto de descoberta científica", revela.
Desafios. O esforço coordenado de pesquisa é outro fator que faz Buckeridge acreditar que o álcool celulósico tenha potencial para deslanchar. Segundo ele, apesar de o desenvolvimento das enzimas ser um ponto fundamental, há outros desafios, como a melhoria genética das leveduras que vão fazer a fermentação da glicose obtida da biomassa. "As leveduras que fermentam a glicose do caldo da cana não digerem a glicose vinda da biomassa da mesma forma. Por isso, temos trabalhado também na pesquisa de novas leveduras", diz o pesquisador Buckeridge.
O programa de cana do Instituto Agronômico (IAC-Apta) também tem se voltado para o tema. Segundo o especialista em melhoria genética e diretor do Centro de Cana do IAC-Apta, Marcos Landell, já estão sendo identificadas variedades de cana que possuem alta produção de celulose e poderiam se encaixar bem na nova indústria. Entre elas, duas variedades lançadas recentemente merecem destaque, para o pesquisador: a IAC 91-1099 e IACSP 95-5000. "Elas têm o perfil biológico de alta produção de biomassa", diz Landell.
O fato de o Brasil ter uma agroindústria de açúcar e álcool bem desenvolvida, além de matéria-prima abundante, põe o País em vantagem também em relação ao etanol celulósico. É o que pensa o gerente de Desenvolvimento Estratégico e Industrial do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), Jaime Finguerut.
Mais perto. "Nós não temos os milhões de dólares dos americanos, que pesquisam as enzimas na palha de milho. Mas estamos mais perto da linha de chegada", diz. "Só o que precisamos fazer é acoplar o processo de hidrólise nas nossas usinas, que já são eficientes. O bagaço atualmente já está dentro da dinâmica das usinas. Moído, picado e pronto pra virar álcool", diz Finguerut, citando o fato de que em outros países é preciso montar todo o processo logístico das biomassas.

Em termos mercadológicos, há um longo caminho

Ainda que empresas de biotecnologia e institutos de pesquisa estejam avançando no domínio das tecnologias para a produção do etanol de segunda geração, isso não deve mudar, de imediato, a cara do mercado de etanol. É o que pensa o consultor em Emissões e Tecnologia da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), Alfred Szwark. "Mesmo sendo comprovada a viabilidade comercial do etanol celulósico, nem todas as empresas investirão na tecnologia de imediato", diz.
Haverá, é claro, as empresas inovadoras que vão apostar logo de cara. E as mais austeras, que preferem esperar para ver se a tecnologia dá retorno. "Então, essa visão de que a produção nacional de etanol pode até dobrar é mais baseada no potencial da tecnologia do que nas regras do mercado."
Além disso, para Szwark, a distância entre a fabricação do etanol de segunda geração em plantas de demonstração e a sua aplicação na indústria pode ser maior do que se espera. "Produzir em laboratório é diferente da produção na indústria. No laboratório, todas as variáveis são controladas. Por isso, na etapa pré comercial os cientistas vão enfrentar muitos desafios", diz.
Mercado interno. "E, mesmo que o Brasil dobre a sua capacidade de produção, hoje próxima dos 24 bilhões de litros por ano, quem é que vai comprar todo esse etanol? Temos que considerar que o etanol brasileiro é quase todo consumido pelo mercado interno", diz o diretor da Archer Consulting, Arnaldo Luiz Correa, especialista em derivativos agrícolas.
Para ele, ainda que o aumento da produção seja significativo, não vai impactar o mercado externo. Só os EUA consomem 400 bilhões de litros de gasolina/ano. Nem que eles quisessem poderiam passar a rodar com carros movidos a álcool", diz. "Isso sem contar as barreiras impostas ao etanol brasileiro", completa Szwark.
Na visão de Corrêa, para que o etanol possa virar uma commodity, é preciso mais do que o investimento em tecnologia, e sim que outros países invistam no etanol. "E enquanto o preço do produto não for livre, controlado pela oferta e demanda, ele não pode ser considerado commodity."

O que é o álcool celulósico?

É o álcool produzido a partir de material vegetal (biomassa), como bagaço de cana e palha de milho.
1. O bagaço passa por um pré tratamento, sendo exposto a alta pressão, para quebrar parcialmente as moléculas de celulose e permitir que elas absorvam água.
2. Essa “absorção de água” permite a hidrólise, que é a quebra efetiva da ligação glicosídica, na presença de água.
3. Esta glicose será fermentada por leveduras, que a transformam em etanol.
A. Ácido – Deposita-se a celulose num reator e adiciona-se ácidos, que fazem a quebra das ligações glicosídicas, liberando a glicose.
B. Enzimático - Deposita-se a celulose num biorreator e adicionam-se enzimas que fazem a quebra das ligações glicosídicas, liberando a glicose.
Para entender melhor:
Como é feito o etanol de cana?
Hoje, o chamado bioetanol é obtido pela fermentação da sacarose (um tipo de açúcar) presente no caldo de cana. Leveduras comem (fermentam) a sacarose e secretam etanol.
O que é o etanol celulósico?
A celulose que compõe os tecidos vegetais da cana também é feita de açúcares (nesse caso a glicose) que poderiam ser fermentados para produzir mais etanol. A tecnologia para fazer isso já existe, mas ainda é muito cara e pouco eficiente.
O etanol de celulose e a cana-energia substituiriam o etanol do caldo e a cana- de- açúcar?
Não. O etanol celulósico seria uma fonte adicional de biocombustível, que poderia ser então obtido do bagaço e das folhas da cana. A cana- energia seria uma opção para produtores que quisessem investir especificamente nessa tecnologia.

Ciência tenta reinventar a cana

Na busca por mais etanol, ciência tenta reinventar a cana.
Pesquisadores querem voltar às raízes genéticas da planta para gerar um tipo com mais fibra e menos sacarose, que vem sendo chamado de 'cana-energia'.
Que tal uma cana-de-açúcar com pouco açúcar?
Pode soar contraditório, algo na linha de um cheeseburger sem queijo, mas é justamente nisso que pesquisadores brasileiros estão trabalhando para a próxima geração de biocombustíveis no País.
Depois de séculos selecionando e cruzando variedades de gramíneas ricas em sacarose, para chegar ao que hoje chamamos de cana-de-açúcar, os cientistas agora se veem diante de um novo desafio biotecnológico: voltar às raízes genéticas da planta e gerar um novo tipo de cana, com mais fibra e menos sacarose, voltada para a produção de etanol celulósico.
Essa nova espécie ainda não existe no campo, mas seu nome já pode ser ouvido em todas as reuniões científicas que falam de biocombustíveis: "cana-energia". O objetivo é fazer uma planta geneticamente otimizada para a produção de biomassa (matéria orgânica vegetal), em vez de sacarose (açúcar). Para isso, será preciso reprogramar a maneira como a cana distribui os carboidratos que produz via fotossíntese. Ou, como dizem os cientistas, alterar a "partição de carbono" da planta.
Depois de ser sugado da atmosfera e fixado quimicamente na forma de carboidratos, esse carbono (proveniente do CO2) pode seguir dois caminhos: síntese de sacarose ou síntese de celulose. Nas suas raízes, a cana foi uma planta desenvolvida para produção de sacarose. "Por acaso, agora, a gente usa a sacarose também para fazer etanol, mas a planta foi feita para produzir açúcar, e não energia", explica a pesquisadora Glaucia Souza, do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP).
Historicamente, portanto, as variedades selecionadas para cultivo foram aquelas que direcionavam a maior parte do carbono para a síntese de sacarose. Agora, com o etanol celulósico despontando no horizonte, a prioridade é outra. "Antes, quando aparecia uma cana parruda, com muita fibra e pouco açúcar, a gente jogava fora. Hoje são justamente essas variedades que procuramos", completa Glaucia, que coordena o Programa de Bioenergia da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Bioen-Fapesp).
O projeto é um dos pilares do esforço brasileiro para dominar a tecnologia do etanol celulósico, que permitiria até triplicar a produtividade de biocombustível dos canaviais. Hoje, o bioetanol é produzido por meio da fermentação do açúcar do caldo de cana, que representa apenas um terço do carbono - ou seja, da energia - presente na planta. Os outros dois terços estão embutidos na biomassa, divididos entre as folhas e o bagaço do colmo.
Uma opção seria desenvolver uma cana com mais açúcar e mais biomassa ao mesmo tempo. Mas há um limite para isso, pois a quantidade de carboidratos que a planta produz pela fotossíntese é finito. Ou ela vai fazer mais sacarose ou ela vai fazer mais celulose. As duas coisas ao mesmo tempo, para sempre, não dá.
Aí surge a segunda opção, da cana-energia, voltada especificamente para o etanol celulósico. Que é possível, os cientistas não têm dúvida. O desafio é chegar lá numa fração do tempo que levou para fazer a cana-de-açúcar.
Entra em cena a genética. No laboratório de Glaucia, pesquisadores trabalham com um portfólio de 40 genes da cana, ligados a características como aumento de biomassa, aumento de açúcar, tolerância a seca e estrutura da parede celular. Dez já estão no "pipeline", sendo testados em plantas transgênicas, que crescem dentro de uma salinha climatizada no canto do laboratório. As expectativas são boas, mas é sempre arriscado fazer prognósticos com uma planta que tem oito a dez cópias de cada cromossomo.
Três vezes maior que o genoma humano, com 10 bilhões de letras químicas, organizadas em 120 cromossomos, o genoma da cana é um pesadelo biotecnológico. Vários pesquisadores no mundo já tentaram produzir canas transgênicas, sem sucesso. No laboratório, até que a coisa funciona. As plantas crescem melhor, resistem ao ataque de insetos, produzem mais açúcar ou seja lá o que for o objetivo da transgenia. Mas basta colocar as plantas no campo, para produção em larga escala, que o efeito da transformação genética desaparece misteriosamente.
Como a cana tem muitos cromossomos, há muita recombinação de material genético à medida que a planta cresce e suas células se multiplicam. A suspeita é que, em meio a todos esses rearranjos genômicos, o efeito da modificação genética acaba se diluindo, até desaparecer. Na linguagem dos cientistas, o transgene é "silenciado". "Tudo que já é difícil nas outras plantas é muito mais difícil na cana", resume a pesquisadora Helaine Carrer, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP de Piracicaba, no interior paulista.
Produção. Financiado pelo Bioen e associado ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol, o laboratório de Helaine está empenhado na produção de plantas transgênicas. Duas salas climatizadas guardam centenas de vidrinhos com mudas de cana geneticamente modificadas para aumento de biomassa. Em alguns casos, os cientistas querem aumentar a expressão de um determinado gene, inserindo mais cópias dele no genoma. Em outros, querem silenciá-lo. Depois veem o que acontece com a planta.
"Para saber o que um gene faz, temos de modificá-lo", explica Helaine, ressaltando que os genes usados na pesquisa são da própria cana-de-açúcar. O objetivo é acelerar o processo de melhoramento, identificando características genéticas específicas que possam ser de interesse para a cana-energia. Nesse momento, a equipe trabalha com 12 genes ligados a aumento de fotossíntese, aumento de biomassa e transporte de água para as células.
"A cana é uma planta incrível. Sabemos que ela é muito produtiva, mas pouco sabemos sobre como ela faz isso. Precisamos de muita ciência básica ainda", ressalta Helaine. Sem entender como uma fábrica funciona, diz ela, não há como aprimorar seus processos. E a cana é, essencialmente, uma fábrica de açúcar que, agora, se quer transformar numa fábrica de celulose.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Na refinaria de biomassa, tudo se transforma

Parece coisa de alquimista: transformar resíduos indesejáveis como lixo urbano, bagaço de cana, casca de arroz, pneus e até lodo de esgoto em combustíveis, plástico e inúmeras matérias-primas de uso industrial. A transformação não só é possível como o Brasil já tem tecnologia disponível para isso.
O conceito de biorrefinaria ou refinaria de biomassa ainda pode soar novo aos ouvidos brasileiros. A lógica de funcionamento é semelhante à de uma refinaria de petróleo, de onde saem vários produtos, como nafta, combustíveis e gás natural.
Em uma biorrefinaria é possível ter biocombustíveis, biopolímeros e biogás, além de geração de energia elétrica, tendo resíduos variados como matéria-prima.
Os estudos sobre seu funcionamento vêm sendo conduzidos no País há pelo menos duas décadas. Mas agora estão saindo da esfera acadêmica. Há pelo menos dois empreendimentos com esse perfil, um no Polo de Camaçari, na Bahia, e outro em Lorena, no interior de São Paulo.
Há ainda um projeto semelhante, em fase de estudos, no Paraná.
Em Lorena, a 180 quilômetros da capital paulista, um dos expoentes da tendência é a RM Materiais Refratários. Há 21 anos a empresa vem trabalhando na tecnologia que chamou de Probem - sigla para Programa de Biomassa, Energia e Materiais -, capaz de transformar, por meio de processos termoquímicos, a biomassa, tanto vegetal quanto oleaginosa, em uma gama extensa de produtos químicos de grande uso na indústria.
Os resíduos sólidos são, na primeira etapa do processo, inseridos em um reator, que faz a "quebra" das moléculas da biomassa. Desse processo resulta um componente sólido, a celulignina, um pó que dá origem a um tipo de gás, que pode ser queimado em uma caldeira para cogeração de energia elétrica. O gás pode também ser usado como matéria-prima para a transformação em produtos químicos, como amônia, ureia, metanol e cinza fertilizante, por meio de uma tecnologia conhecida como GTL (Gas to Liquid), largamente empregada nas refinarias de petróleo. Nesse caso, o produto varia conforme o catalisador utilizado no processo.
"Para cada tipo de biomassa, há uma rota tecnológica. Mas todas têm como ponto de partida a pré-hidrólise, que é feita em um reator que emprega finas chapas de material refratário em seu interior", explica João Carlos Ferreira, engenheiro químico que trabalha no aperfeiçoamento da tecnologia Probem. O intrincado sistema (mais informações nesta página) também é objeto de estudo de sua tese de doutorado.
Até mesmo resíduos de natureza oleaginosa, como pneus, lodos de estações de tratamento de esgoto e dejetos de animais, podem ser transformados em matérias-primas nobres.
A alquimia começa pela hidrólise dos materiais, em um processo de conversão a uma temperatura de aproximadamente 400°C, que dá origem a um componente sólido (espécie de carvão) e um óleo. Ambos dão origem a novos produtos: fertilizante para uso agrícola, negro-de-fumo (insumo para corantes) e óleos aromáticos. "Não há resíduo que não possa ser transformado", diz Ferreira.
Solução para o lixo. A tecnologia chamou a atenção de um investidor, a Senergen Energia Renovável, que adquiriu 50% de participação na empresa. "O desenvolvimento e a expansão da tecnologia podem resolver definitivamente o problema do lixo urbano e reduzir a dependência do petróleo", diz Roberto Paschoali, sócio da Senergen.
Atualmente, um reator funciona em Alegrete (RS), onde processa 90 toneladas por dia de casca de arroz, resíduo abundante na região. Como resultado do processo, há geração de energia elétrica e produção de pó de sílica, vendido para a indústria de cosméticos. Paschoali já negocia a venda da tecnologia para cerca de 30 indústrias - 10 estão em estágio avançado. "O momento é de transição para uma nova ordem econômica e ecológica. Em alguns anos, as biorrefinarias serão mais comuns do que pensamos", diz.
GLOSSÁRIO
Celulignina
Material sólido (pó) que resulta da quebra de moléculas da biomassa vegetal realizada no reator. Esse pó tem alto poder combustível e, acionado por uma chama de maçarico, permite a geração de energia elétrica.
GTL (Gas to Liquid)
Tecnologia, amplamente usada nas refinarias de petróleo, que permite a conversão química de gases em líquidos. Na refinaria de biomassa, o processo permite produzir produtos químicos como amônia, ureia e metanol.

Biodigestor produz 40% mais gás combustível

Com o aperfeiçoamento de biodigestores, há uma produção de 40% a mais em gás combustível.
Pesquisadores da USP e da Universidade de Gênova – Unigena (Itália) aperfeiçoaram um biodigestor para que ele produza, em média, 40% mais biogás a partir do esgoto que os aparelhos comuns. O equipamento também purifica o gás, fazendo-o gerar cerca de 50% mais energia e tornando-o mais parecido com o gás natural veicular (GNV).
Biodigestores são recipientes onde dejetos fermentam sob a ação de bactérias. Eles têm encanamentos para recolher os resultados do processo: adubo e o biogás, uma mistura principalmente dos gases carbônico e metano, principal componente do GNV. Na zona rural são alimentados periodicamente por dejetos de animais; mas podem ser usados em indústrias e receber esgoto processado por estações de tratamento. O tamanho do aparelho varia de acordo com a necessidade de combustível.
Os pesquisadores italianos testaram quais características aumentavam a produção de biogás para aperfeiçoar o aparelho e chegar a maior eficiência. A fermentação acontece em compartimentos de vidro imersos em água a 40° Celsius (°C) contendo o esgoto processado. Uma hélice agita os resíduos cinco vezes ao dia. E, no tubo de saída, um medidor quantifica a produção de biogás diariamente.
“Monitorando essa quantidade podemos identificar se as bactérias estão trabalhando bem, se a cinética de fermentação está sendo otimizada”, diz Ricardo Pinheiro, engenheiro agrônomo que ajudou a desenvolver o biodigestor em seu doutorado duplo na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP e na Unigena, supervisionado respectivamente pelos professores Maricê Oliveira e Attilio Converti .
Algas purificadoras
Os pesquisadores também acoplaram ao biodigestor microalgas que, para crescer, retiram do biogás o gás carbônico, aumentando a concentração de metano da mistura e com isso, o poder calorífico. O biogás comum apresenta geralmente um poder calorífico de 5.500 quilocalorias por metro cúbico (kcal/m³), enquanto o biogás purificado têm poder calorífico de 8.400 kcal/ m³ – um aumento de 52%.
As algas podem ser utilizadas para produzir ração para animais ou alimentar as bactérias do próprio biodigestor, já que são ricas em carboidratos.
“Há poucos trabalhos científicos sobre como otimizar o metabolismo das bactérias que fermentam os dejetos”, explica Pinheiro.
O biodigestor poderá ser instalado em estações de tratamento de esgoto, criadouros de suínos e fazendas. Os pesquisadores vêm desenvolvendo o aparelho há mais seis anos e ainda estão aperfeiçoando o sistema. A meta é que o produto seja patenteado até abril do ano que vem. Ainda não há previsão de quando o aparelho chega ao Brasil, nem quanto deve custar, mas Pinheiro pretende instalar o primeiro na USP.

Agrocombustíveis ganham o mundo

Agrocombustíveis ganham ‘passaporte para o mundo’.
Outra frente de produção energética vai ganhando fôlego. O ano de 2010 começou bem, na verdade otimamente bem, para o setor dos agrocombustíveis brasileiros, apesar de amargar um começo de ano com quebra de safra da cana-de-açúcar, quatro bilhões de litros de etanol a menos.
A notícia veio no começo de fevereiro e dos Estados Unidos. Lá, a Agência Americana de Proteção Ambiental (EPA) classificou o etanol feito de cana-de-açúcar como um combustível avançado, que reduz a emissão de dióxido de carbono (CO2) em 61% comparado à gasolina.
A aprovação foi recebida com foguetes – e enormes expectativas de expansão e lucros – pelo setor no Brasil, pois a decisão abre um fantástico mercado para o biocombustível brasileiro nos Estados Unidos. Mercado maior que o brasileiro pode suprir no momento.
A nova legislação americana estabelece um consumo mínimo de biocombustíveis superior a 45 bilhões de litros este ano. A previsão é elevar esse volume para até 136 bilhões de litros em 2022. Uma fatia de 80 bilhões de litros será reservada para os biocombustíveis avançados, que são celulósico, diesel de biomassa e outros. O etanol brasileiro tem agora uma fatia garantida de 15 bilhões de litros – um volume três vezes maior que todo o etanol exportado pelo Brasil em 2008. Ou seja, esse fato representa uma conquista importante para assegurar fatia do mercado de combustíveis nos Estados Unidos, grande demandante mundial de energia.
A medida representa, nas palavras de Marcos Jank, presidente da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (a Unica), a “consolidação do etanol como commodity global. Ganhamos o passaporte para isso. Daqui para frente o nosso futuro não é só substituir petróleo ou abastecer os carros flex brasileiros. Temos a terceira oportunidade que é o reconhecimento do etanol como elemento fundamental de mitigação de gases de efeito estufa no mundo”.
Não é segredo para ninguém que essa conquista é fruto de um poderoso, bem articulado e eficiente lobby que envolve a indústria, cientistas, professores e especialistas de lobby e o governo brasileiro. A indústria montou uma estrutura, nos Estados Unidos e no Brasil, dedicada inteiramente ao combate do protecionismo norte-americano. “Essas pessoas estão fazendo um trabalho cotidiano. Entre Estados Unidos e Europa, são seis pessoas trabalhando full time nesses assuntos”, disse Marcos Jank. “Boa parte da decisão dos EUA foi resultado do estudo técnico que enviamos à EPA”, avalia, por sua vez, o diretor executivo do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), André Nassar.
O governo participou mediante a assinatura do Memorando de Entendimento sobre Biocombustíveis, assinado em março de 2007, por ocasião da visita de ex-presidente George W. Bush ao Brasil. Na época, o memorando foi duramente criticado como ineficiente e inócuo, pois o que se esperava era a eliminação ou a redução da tarifa de importação do etanol nos Estados Unidos, coisa que não aconteceu.
Na época, a opinião de Lula sobre o memorando beirou o ufanismo – mas se revelou acertada no médio prazo: “Estou convencido de que nós demos um passo extraordinário para que o álcool se transforme numa commodity, e que a gente possa ocupar um espaço importante no mercado internacional”.
Gigantes do etanol
O setor do etanol é relativamente novo, mas não menos atraente que outros setores industriais mais tradicionais. As fantásticas potencialidades já existentes, mas multiplicadas pela recente medida da EPA dos Estados Unidos, aumentam ainda mais os desejos de investimentos tanto nacionais como estrangeiros.
Em outro momento, já apontávamos para o fato de que o agronegócio é um dos filões de maior apoio do BNDES, no contexto de formação de um novo capitalismo brasileiro. Particularmente no financiamento de usinas para a produção do etanol, o banco vem investindo pesadamente. Apenas em 2005 e 2006, o Banco desembolsou R$ 3,3 bilhões para financiar a construção de usinas, plantio de cana e projetos de co-geração de energia elétrica. Na ocasião, dados revelavam que estavam em construção no Brasil 100 novas usinas de álcool, com investimentos de R$ 10 bilhões, muitas delas interrompidas com a crise econômica. Para 2010, o BNDES identificou 89 projetos de novas unidades, das quais 51 já estão em andamento.
Há hoje no Brasil 438 usinas nas mãos de 200 grupos econômicos. Mas, a mesma tendência sentida em outros setores da economia brasileira também se faz sentir aqui: a concentração em torno de menor número de empresas, mas com tamanhos e poder econômico maiores.
Quase simultaneamente ao anúncio da medida norte-americana são anunciadas várias mega-fusões no setor sucroalcooleiro. Primeiramente, a joint venture entre a Shell e a Cosan, a maior produtora brasileira de etanol. Passado meio mês, a ETH Bioenergia, empresa do grupo Odebrecht, anunciou a compra da Companhia Brasileira de Energia Renovável (Brenco). Com a operação, nasceu uma das maiores produtoras de etanol do mundo, com capacidade inicial de três bilhões de litros/ano e geração de 2.500 gigawatts-hora (GWh) de energia a partir da queima do bagaço de cana. E tudo indica que a onda de aquisições e fusões deve continuar. A nova ETH tornou-se uma empresa de 7 bilhões de reais e passou a estar na mira de outra petroleira, a Petrobras, interessada em ter uma fatia da nova empresa do ramo sucroalcooleiro.
Há, portanto, uma confluência de interesses em jogo. O governo investe pesadamente dinheiro público, via BNDES, forja – dessa e de outras maneiras – um capitalismo composto por grandes empresas nacionais aliadas a investidores estrangeiros, em condições de competir globalmente, com investimentos tanto no Brasil como no exterior.
“Assistimos uma concentração sem precedentes das cadeias com maior poder corporativo no mundo: energia e agronegócio, com empresas petroleiras como a Shell, a BP (antiga British Petroleum), Chevron, Petrobrás, aliadas com a Cargill, ADM, Louis Dreyfus, Bunge, passando pela empresas de biotecnologia e agrotóxicos como a Novozymes, gigantes como a Monsanto, a Syngenta e novas como a Amyris. Apesar disso, a imagem que querem ter é de ‘renováveis e alternativos’”, analisa Camila Moreno, da ONG Terra de Direitos, em entrevista especial à IHU On-line.
Próximo desafio: criar mercado para o etanol
Mas, o sucesso do setor nem por isso está garantido e solidificado. Um dos próximos passos, certamente, é derrubar as barreiras americanas à importação do etanol brasileiro, para o que a mega-fusão da Cosan com a americana Shell pode ajudar. A Shell, imagina-se, fará lobby junto ao governo norte-americano para reduzir suas tarifas sobre as importações de agrocombustíveis. E é para isso que o lobby do etanol brasileiro está trabalhando.
Mas, não basta convencer o mundo de que o etanol é menos poluente e renovável que a matriz fóssil. A batalha mais profícua no médio e longo prazo se dará em outro território: criar um mercado mundial para o etanol. É insuficiente o Brasil criar uma expectativa mundial e não conseguir atender a demanda. Cairia em descrédito e poderia representar um retrocesso.
Assim, paralelamente, os empresários e o governo brasileiro devem convencer outros países – na América Latina e na África – a serem produtores de etanol. O produto precisa criar escala.
As viagens do presidente Lula à América Central – Honduras, Panamá, Jamaica e Nicarágua – e quatro países escandinavos (Finlândia, Suécia, Dinamarca, Noruega) e à Espanha –, ao longo de 2007, encaixaram-se neste horizonte: convencer o mundo que o etanol brasileiro é uma alternativa energética mais limpa e de futuro. Entretanto, uma diferença no tema é percebida entre as duas viagens. Na viagem aos países nórdicos, o acento estava no convencimento para que se tornassem consumidores da commodity nacional, ao passo que na América Central o foco recaiu sobre a colaboração na criação de uma logística que facilitasse a exportação do etanol brasileiro aos Estados Unidos e também convencê-los a se tornarem, também eles, produtores deste insumo.
Novamente, é uma iniciativa que conta com o apoio e incentivo público. “Para formar um mercado internacional, é preciso ter mais países ofertantes. Só assim vamos desenvolver um mercado futuro, com negociações em bolsa”, diz Alexandre Strapasson, coordenador do Departamento de Cana-de-Açúcar e Agroenergia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). É por sua vontade de defender as empresas brasileiras e vender os produtos nacionais no mercado internacional que o presidente Lula já foi chamado de “caixeiro-viajante”.
Questões sociais, econômicas e ambientais não calam
No afã de vender um produto ecologicamente correto, as questões sociais, econômicas e ambientais produzidas pelo agronegócio são minoradas. As denúncias de trabalho escravo ou do trabalho realizado em condições extremamente precárias e subumanas ou de maus tratos, assim como o desrespeito ao meio ambiente e aos povos indígenas estão ligadas à expansão agropecuária em nosso país. Além disso, estão presentes nos setores mais modernos do capitalismo agrário brasileiro e envolvem, por isso mesmo, o setor sucroalcooleiro.
Além do mais, a indústria dos agrocombustíveis é tributária da segunda revolução industrial caracterizada pela concentração, centralização e gigantismo que acompanha tanto os processos de produção como de distribuição, e por sua visão de mundo redutora ao econômico, no qual as questões ambientais e sociais propriamente não entram. De forma mais “suave”, os agrocombustíveis seguem trilhando no caminho aberto pela revolução industrial sem conseguir superá-lo. No dizer de Jeremy Rifkin, ainda “somos prisioneiros da tradição iluminista, do pensamento de Locke e de Adam Smith: aquele que nos representa o homem como um ser racional, materialista, individualista, utilitarista. Se continuarmos usando esses instrumentos intelectuais do século XVIII, estamos verdadeiramente condenados. Dentro desse quadro cultural é impossível que seis bilhões de pessoas enfrentem a escassez de recursos naturais”, alerta.
Rifkin propõe que a revolução da internet – descentralizada, cooperativa – pode servir de parâmetro para o modelo energético do futuro: “As novas tecnologias da comunicação convergem com as energias renováveis. É o que eu chamo de energia distribuída ou difusa. Porque as fontes renováveis – sol, vento, energia biotérmica, biomassa de rejeitos – encontram-se em nosso meio, igualmente repartidas em cada metro quadrado da superfície terrestre”. A “energia difusa” significa “converter toda casa individual, toda mansão, em uma pequena central energética que usa o sol, o vento, os rejeitos, estocando-os e redistribuindo-os. Significa que a energia não consumida para as próprias necessidades será repartida segundo uma lógica de cooperação e de solidariedade”.
Assim, na linha da superação da visão estritamente economicista de energia é preciso sempre de novo se perguntar: para quê e para quem servem as energias produzidas tanto pelas gigantescas hidrelétricas que rasgam e banham a Amazônia, como a gigantesca indústria de produção e distribuição de etanol? Ao mesmo tempo, o desafio é de buscar alternativas energéticas assentadas sobre outra base econômica e social: a ecoeconomia.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Apontamentos sobre fontes de energia

Após a descoberta da máquina de vapor por James Watt, e a solidificação da revolução industrial, o mundo tem exaurido a exploração dos seus recursos energéticos não renováveis, basicamente petróleo e carvão, que causam grandes impactos ambientais quando transformados em energia.
Além dos problemas ambientais, são extremamente bem conhecidos os problemas políticos associados com a extração de petróleo, cujo barril hoje situa-se a níveis estratosféricos de preço.
O carvão é o outro recurso energético não renovável, extremamente poluente tanto na sua extração quanto no seu uso.
A energia nuclear também pode ser considerada uma fonte não renovável, sendo perigosa tanto na sua operação quanto nos resíduos radioativos que produz.
As fontes alternativas ou renováveis de energia tem uma posição cada vez mais destacada na matriz energética que se planeja para nações e organizações. Os exemplos mais comuns são a energia solar (através do painel solar e das células fotovoltaicas), a energia eólica (através de turbinas eólicas e cata-ventos), a energia hídrica (desde rodas de água, até as turbinas de hidrelétricas) e a biomassa (matéria orgânica de origem vegetal).
A energia solar é considerada uma fonte inesgotável, podendo ser utilizada para a produção de eletricidade através de painéis solares e celular fotovoltaicas. É a fonte de energia mais adequada para o planejamento de uma matriz energética alternativa no Mato Grosso. A energia solar pode ser utilizada de forma ativa, quando os raios solares são transformados em outras formas de energia que podem ser térmicas ou elétricas. A forma passiva é utilizada para o aquecimento direto através de concepções construtivas.
A utilização de painéis fotovoltaicos são uma das mais promissoras fontes de energia renovável, sendo a principal vantagem a ausência de poluição. No entanto esbarram em custos elevados por causa dos preços dos semicondutores e o baixo rendimento dos equipamentos.
Energia eólica é gerada pelo vento. São utilizados moinhos de vento para movimentar turbinas eólicas e também são utilizados cataventos. Informações e dados indicam que estas fontes já correspondem a percentuais consideráveis de geração energética em países como a Alemanha e Espanha. Necessitam ventos com velocidade média superior a 6m/seg. A energia cinética resultante do deslocamento das massas de ar pode ser transformada em energia mecânica ou elétrica.
Exigem grandes áreas de instalação e causam impactos ambientais muito reduzidos.
A energia hídrica utiliza a força cinética das águas de um rio e a converte em energia elétrica através das hélices de rotação de uma turbina. Podem ser grandes usinas ou pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), que podem tornar auto suficiente uma propriedade, fato muito comum na Europa.
A biomassa geralmente é divida em sólida, líquida e gasosa. A biomassa sólida utiliza os resíduos de agricultura tanto vegetais como animais, os resíduos de florestas e até mesmo os resíduos sólidos urbanos constituídos por matéria orgânica.
A biomassa líquida constitui o que denominamos de biodiesel, que podem ser gerados de uma grande quantidade de óleos, além do etanos que é produzido com a fermentação de hidratos de carbono (açúcar, amido e celulose), além do metanol, gerado pela síntese de gás natural.
A biomassa gasosa é proveniente de efluentes de criações animais e também dos gases metânicos misturados com gás carbônico produzidos pela degradação biológica anaeróbica da matéria orgânica, sendo submetidos a combustão para geração de energia.
Existem ainda outras fontes renováveis de energia, como o hidrogênio, abundante na natureza e que pode produzir eletricidade em pilhas. Há a energia geotérmica associada a fontes de vulcanismo, de uso extensivo no Japão devido a sua localização geológica, e ainda a utilização da energia das marés.

Cresce disputa por profissionais em energia eólica

Cresce a disputa por profissionais para atuarem em parques eólicos e pequenas usinas.
Faltam experts em energia renovável.
Engenheiros e outros especialistas em energias renováveis estão sendo cada vez mais procurados pelos headhunters. A disputa pelos profissionais que unem conhecimento teórico e experiência no setor, perfil ainda raro no mercado brasileiro, acirrou-se com a expectativa sobre a nova edição do Plano Decenal de Expansão de Energia, que estabelecerá as diretrizes a serem seguidas na próxima década.
Acredita-se que o governo dará grande impulso à participação das modalidades alternativas de geração de energia, a exemplo das pequenas usinas hidrelétricas, de biomassa e parques eólicos.
A energia gerada pelo vento é a estrela do momento, depois do bem-sucedido primeiro leilão exclusivo da modalidade, realizado em dezembro. Para suprir os 1.805 megawatts contratados no leilão (o que representa acréscimo de 150% em relação ao que é produzido hoje no país), está prevista a construção de 71 novos parques eólicos até 2012, investimentos privados de R$ 9,4 bilhões que elevarão a participação da energia gerada pelos ventos dos atuais 0,6% para 3% da matriz elétrica brasileira.
O mercado aguarda a realização de outro leilão do mesmo porte ainda no primeiro semestre deste ano – estima-se que o potencial do Brasil, privilegiado por mais de 8 mil km de costa, seja de pelo menos 150 mil megawatts.
A RSA Talentos Executivos, de Porto Alegre, está na reta final do processo de recrutamento de um profissional especializado em energia eólica. Além de experiência comprovada no planejamento e operação, os requisitos incluem domínio pleno de inglês e disponibilidade para viajar constantemente, pois a contratante – a subsidiária no Brasil da francesa Theolia, uma das principais empresas do setor na Europa -, pretende operar no Sul e no Nordeste do país.
“Por enquanto estamos desenvolvendo os projetos, que são o fator decisivo para o sucesso de um parque eólico. A implementação é uma consequência natural”, diz o diretor da Theolia no Brasil, o engenheiro elétrico Ricardo Gaspary.
A empresa já tem 175 megawatts prontos para entrar em leilão e está prospectando mais 1mil megawatts. Para isso pretende dobrar a curto prazo a equipe de seis profissionais. Durante dois meses, a consultora Laís Guterres mergulhou no setor para identificar candidatos em potencial para o cargo. Chegou a 15 nomes, dos quais oito se consideram tão bem empregados que nem sequer aceitaram iniciar conversa.
“Fiquei impressionada com o contraste entre as amplas perspectivas desse mercado e a quantidade limitada de profissionais preparados para atuar nele”, afirma Laís. A escassez de mão de obra contribui para que muitas empresas tentem afastar seus especialistas dos holofotes e mantenham sob sigilo os planos para a área de energias renováveis. Parece ser o caso de grandes corporações como Siemens, Alstom e Queiroz Galvão – todas envolvidas em projetos de energia eólica e que preferiram não se manifestar ao serem procuradas pela reportagem do Valor.
Além da iniciativa privada, há a perspectiva de carreira em estatais. A Cemig, companhia energética de Minas Gerais, adquiriu há dois anos 49% da participação societária em três parques de energia eólica no Ceará.
“Certamente continuaremos investindo nesse segmento, que tem um mercado muito promissor não só no Brasil, mas em todo o mundo. A geração eólica cresceu em média 23% ao ano nas últimas duas décadas e ainda assim pode-se dizer que esse potencial mal começou a ser explorado”, diz o gerente de estruturação de empreendimentos de fontes alternativas de energia da Cemig, José Cléber Teixeira. Um dos empecilhos para a popularização no Brasil eram os custos, mas a modalidade passou a ser considerada economicamente viável.
A maior parte dos especialistas em energias renováveis encontrados atualmente em empresas privadas foi “roubada” do universo acadêmico, onde se concentram as pesquisas sobre o setor. Um desses casos é o da engenheira mecânica Maria Regina Pereira de Araújo, 54 anos, consultora técnico-comercial da Wobben, primeira fabricante de aerogeradores de grande porte no Brasil – a empresa tem duas fábricas e 800 funcionários no país.
Formada pela Universidade de Brasília (UnB), ela começou a se envolver com energias renováveis ao fazer mestrado e doutorado no Coppe da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), de onde nasceu o convite para trabalhar no Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel) da Eletrobrás.
Em 2001, o braço de renováveis da Iberdrola, empresa espanhola que atua na geração e distribuição de energia elétrica, abriu escritório no Brasil e Maria Regina foi contratada para trabalhar inicialmente como engenheira, depois como gerente e, por fim, diretora técnica. Após sete anos de casa, aceitou o convite da Wobben para se tornar superintendente de desenvolvimento de negócios. “Mudar de uma geradora de energia para uma fabricante de equipamentos representou um novo desafio para a minha carreira”, diz.
Já o engenheiro de telecomunicações Eugênio Gorgulho, 42 anos, hoje especialista em energia solar, só começou a lidar com a área de energias renováveis depois de mais de uma década de carreira. A reviravolta se deu há sete anos, por meio de um convite da Siemens.
As empresas de telecom, aliás, estão entre as principais compradoras de energia solar no Brasil, pois, para cumprir as exigências de universalização dos serviços telefônicos, precisam muitas vezes chegar onde não há disponibilidade de outras formas de energia.
Gorgulho se tornou gerente de implantação de serviços e, depois que a Siemens vendeu suas operações de energia solar para a Shell, ele foi para a Unicoba, grupo que atua em diversos segmentos, de pisos e revestimentos a baterias recarregáveis. Como gerente da área de fabricação de equipamentos de energia solar, tem a meta arrojada de dobrar o faturamento em relação ao ano passado.
“O grande problema da energia solar é a oscilação do mercado. Há momentos de grande expansão seguidos pelo vácuo absoluto, gangorra que afasta os investidores e ainda não permite a produção em escala suficiente para fazer os custos caírem”, afirma.
Essa regularidade começa a ser percebida no segmento de energia eólica e a atrair empresas especializadas de todo o mundo, sobretudo as europeias, onde a modalidade está mais desenvolvida. “Antes do leilão, tínhamos apenas duas fábricas de geradores no país. Agora, várias outras estão sendo construídas ou planejadas”, exemplifica Ricardo Gaspary, da Theolia.
O gargalo pode se dar justamente na mão de obra. “Sobra trabalho para quem entende de energia renovável. Não haverá desemprego nessa área por muitos anos”, assegura Rubem Souza, da RSA Talentos Executivos. O professor Roberto Zilles, do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP), confirma que o assédio da iniciativa privada sobre os pesquisadores aumentou recentemente. “Não consigo segurar ninguém por aqui. Sempre tem alguma empresa pedindo indicações”, relata.
Para jovens em início de carreira, há diversas opções de especialização nas novas modalidades de geração de energia. A Universidade Federal do Ceará (UFC) lançou no ano passado um curso de graduação em Engenharia de Energias Renováveis e instituições de ensino superior de todo o Brasil começam a incluir disciplinas relacionadas às energias renováveis no currículo dos cursos de engenharia.
Outras universidades de ponta além da USP, como as federais do Rio Grande do Sul (UFRGS), de Santa Catarina (UFSC) e a Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Minas Gerais, já têm centros de pesquisa bem estruturados sobre esse assunto.
Há também alternativas para quem tem algum tempo de carreira, como os MBAs, cursos de extensão e especializações na área de energia e sustentabilidade oferecidos, por exemplo, pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e pela Fundação Dom Cabral (FDC). “Com a forte demanda, qualquer profissional com expertise em geração de energia tem condições de migrar para a área das renováveis”, afirma Rubem Souza, da RSA.
Os estados do Nordeste e do Sul são os que mais se destacam pelo potencial eólico. Das 71 novas usinas projetadas em decorrência do leilão do final do ano passado, 23 ficarão no Rio Grande do Norte, 21 no Ceará, 18 na Bahia, oito no Rio Grande do Sul e uma no Sergipe. Como resultado direto da perspectiva de expansão das oportunidades nesses estados, começam a surgir empresas especializadas em etapas específicas do desenvolvimento de parques eólicos que vão desde a análise da qualidade do vento, na fase de pré-projeto, até a operação de usinas já instaladas.
Um exemplo dessa especialização é a Dois A, sediada em Natal, que participa dos projetos exclusivamente na fase de execução das fundações e das bases dos aerogeradores, além de construir as vias de acesso.
“Os operários são basicamente os mesmos da construção civil, mas o grande diferencial de uma obra de parque eólico é a parte administrativa. Os gerentes precisam entender da dinâmica, da logística e das peculiaridades desse tipo de projeto”, afirma o engenheiro civil Antônio Medeiros, um dos sócios da empresa. Um dos principais cuidados técnicos está na escolha do sistema de fundação, que deve suportar a carga não apenas do equipamento, mas também da força gerada pela ação do vento.

Preferências impulsionam empresas de turbinas eólicas

Preferências específicas dão impulso a empresas de turbinas eólicas na China.
As políticas de favorecimento de companhias domésticas e de imposição de barreiras a concorrentes estrangeiros transformaram a China em um dos líderes mundiais na fabricação de turbinas para geração de energia eólica. Em 2004, 60% do mercado local era dominado por empresas estrangeiras. No ano passado, o porcentual havia caído para 15%. Nesse período, o governo deu preferência à aquisição de turbinas domésticas e impôs um índice mínimo de conteúdo nacional de 70% para as estrangeiras. O número de fabricantes domésticos saltou de 4 para 78.
Com isso, a China conseguiu desenvolver fabricantes gigantescos, como Goldwind, Sinovel e Dongfang. O país dobrou a capacidade instalada para produção de energia eólica em cada um dos últimos cinco anos e caminha para ter a segunda maior potência mundial em 2010, atrás apenas dos EUA, com geração de 30 gigawatts (GW) – meta que será atingida uma década antes do previsto originalmente.
Agora, Pequim trabalha para gerar 100 GW de energia do vento em 2020, cifra que equivale a toda a capacidade instalada de geração de energia do Brasil – incluindo a usina de Itaipu, que gera 14 GW.
As turbinas chinesas são mais baratas que a de seus concorrentes estrangeiros, o que dificulta ainda mais a concorrência. Mas as multinacionais afirmam que possuem vantagens tecnológicas e de qualidade em relação aos chineses.
A política de preferências também provocou distorções, com um superinvestimento que gerou a capacidade ociosa de 40% no setor. Isso ocorre porque a rede de distribuição da China não tem condições de absorver toda a energia gerada por plantas de energia renovável. Diante desse cenário, as multinacionais temem a exportação de turbinas chinesas, que têm qualidade inferior, mas preço muito mais baixo.

domingo, 18 de abril de 2010

Carro elétrico sai em busca de mercado

Os automóveis puramente movidos a eletricidade, aposta de boa parte das montadoras nos últimos anos para o futuro da indústria, receberam um espaço especial no Salão do Automóvel de Detroit este ano. A Electric Avenue (Avenida Elétrica) exibe modelos de grandes fabricantes e produtos com tecnologia desenvolvida por novos empreendedores, em um espaço exclusivo na área principal do Cobo Center, no centro de Detroit.
Apesar do destaque, a maioria dos modelos elétricos apresentados no evento ainda são conceitos, alguns sem previsão de chegada ao mercado.
O desenvolvimento dos veículos 100% elétricos ainda esbarra em diversas questões, como custo da tecnologia, adesão dos consumidores - especialmente os americanos - e tamanho e duração das baterias. Para Bob Lutz, vice-presidente do conselho de administração da General Motors, apenas 5% dos consumidores nos Estados Unidos levam em consideração questões ambientais na decisão de compra de veículos. O preço do combustível, que tem caído nos EUA, é a principal preocupação ao escolher um novo automóvel. "Ainda vai levar um tempo para essa tendência se consolidar", acredita o executivo.
A montadora informou que deve colocar seu carro elétrico, o Volt, no mercado dos EUA até o fim do ano. O carro custará cerca de US$ 40 mil. A companhia conta com a possibilidade da aprovação de uma lei no Congresso americano que cria um subsídio para os automóveis ecológicos, o que estimularia as vendas dos modelos elétricos. A Nissan, uma das poucas grandes montadoras que trouxe um modelo para "desfilar" na Avenida Elétrica, promete lançar o Leaf até dezembro no mercado americano. A chinesa BYD apresentou um crossover elétrico, o e6,também para o segundo semestre.
Pioneira na fabricação de veículos híbridos, com o Prius, a japonesa Toyota, ainda não lançou um modelo 100% elétrico. Na apresentação de um novo protótipo de carro híbrido, o presidente da montadora nos EUA, Jim Lentz, afirmou que ainda existem muitos desafios para o desenvolvimento dos carros totalmente elétricos. Os principais são o custo das baterias e a criação de infraestrutura para recarga.
A Fiat, que participou pela primeira vez do salão dos EUA depois da associação com a Chrysler, no ano passado, apresentou a versão elétrica de seu modelo 500. Mas, segundo o presidente mundial dos dois grupos, Sergio Marchionne, o preço e a limitação de duração da bateria são dois dos obstáculos para o sucesso da tecnologia, principalmente no mercado americano.
"Tornar esses veículos viáveis comercialmente ainda é um problema importante", afirmou. Estima-se que, nos EUA, 98% dos veículos vendidos no ano passado foram com motores movidos a combustíveis derivados de petróleo.
A novata Tesla, nascida há cinco anos no Vale do Silício, na Califórnia, tenta mostrar que os carros movidos a eletricidade têm fôlego para encarar o mercado. Funcionários da companhia conduziram o modelo Roadster em um trajeto de cerca de 4,8 mil quilômetros, de Los Angeles até Detroit. A ideia é comprovar que o carro tem autonomia para viagens longas, uma necessidade nos EUA. Segundo o presidente da Tesla, Elon Musk, a estratégia é preciso que os elétricos deixem de ser um nicho. Mas vale lembrar que um Tesla Roadster novo custa hoje US$ 129 mil nos EUA.

Tesla Roadster bate recorde de autonomia elétrica

Proprietários do Tesla Roadster, na Austrália: carro elétrico fez 501 quilômetros em uma carga
Para nós brasileiros, carro elétrico é algo longínquo. Quase uma miragem. Vemos fotos, lemos fichas técnicas e, depois de esfregar os olhos, voltamos à realidade dos combustíveis fósseis.
Mas, entre países mais desenvolvidos, já há até competição entre os veículos limpos. Como a mais conhecida, está a GGC, ou Global Green Challenge, em que as montadoras mostram o que podem fazer com suas máquinas para ajudar a salvar o planeta.
Foi na edição deste ano, na Austrália, que a americana Tesla Motors, do Vale do Silício, enviou seu Roadster 2008 para bater um recorde impressionante entre os veículos elétricos de produção.
Dirigido pelos proprietários Simon Hackett e Emilis Prelgauskas, o carro marcou 501 quilômetros em uma única carga, de Darwin a Adelaide.
Curioso é que a autonomia homologada pela certificação EPA é de 390 quilômetros; 111 quilômetros a menos do que o recorde obtido no circuito australiano.
A Tesla diz, em seu site, que a mesma carga nas baterias podem durar mais dependendo do modo de uso e do ambiente.
O antigo recorde do Roadster na competição era de 285 quilômetros, quando correu em Monte Carlo.

Salão de Detroit: BYD e6

Depois de ter surpreendido lançando o carro híbrido mais barato do planeta, a montadora chinesa BYD chegou em Detroit exibindo o e6, um inédito crossover elétrico. Com suas baterias feitas de fosfato de ferro, a montadora garante que todas as substâncias químicas utilizadas nelas podem ser recicladas. Com um porte médio e desenho agradável, a BYD diz que o e6 se diferencia dos outros veículos elétricos pela autonomia e fácil recarga.
Segundo a montadora, bastam 10 minutos para que o e6 tenha 50% de suas baterias recarregadas. Para uma recarga total são necessários ao menos 60 minutos. Mesmo assim, uma boa marca. Com metade de carga o veículo é capaz de rodar 125 km. A BYD planeja começar a vender tanto o e6 quanto o F3Dm nos mercados norte-americanos e europeus até 2011. Será que até lá as montadoras chinesas terão mais confiança dos consumidores? Dá pra arriscar que o e6 pode estar indo pelo caminho certo.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Novo carro elétrico chega a 255 km/h

O modelo tem autonomia de rodagem de até 330 quilômetros e não polui.
Um pequeno carro chamado Tango T600, lançado pela Commuter Cars, reúne todas as características ideais para um carro urbano. A principal inovação do carro são seus dois motores elétricos, que segundo o fabricante não emitem poluição, o grave problema dos carros nas grandes cidades. Ele tem autonomia para rodar até 330 km sem recarregar.
No carrinho cabem duas pessoas, quantidade ideal já que a maioria dos carros não viaja lotado no dia-a-dia. Suas dimensões reduzidas – 1,52 m de altura, 1 m de largura e 2,15 m de comprimento – permitem que ele seja estacionado nas menores vagas disponíveis. Para se ter uma idéia, um carro considerado “pequeno” como o Ford Ka mede 1,41m de altura, 1,64 m de largura e 3,62 m de comprimento.
Ao contrário do que ocorre na maioria dos carros movidos a eletricidade, o Tango tem ótima performance: acelera de 0 a 100 km/h em apenas 4 segundos e atinge 255 km/h, desempenho largamente superior ao da maioria dos carros, grandes ou pequenos.
A Commuter Cars não se preocupou em economizar nos recursos para tornar o preço do veículo acessível: ele custa 85.000 libras. Mas o fabricante explica que logo que a produção for aumentada (a pretensão é produzir aproximadamente 100 carros ao ano) o preço abaixará.
O carro também prima pela segurança. Sua estrutura de proteção é baseada na dos carros usados em corridas de rally, suportando o impacto de batidas a velocidades de até 320 km/h.

Carro elétrico faz de 0 a 100 km/h em 4 s

Tango T600 / George Clooney
Lançado pela Commuter Cars, o Tango T600 reúne características que facilitam a vida do motorista, preocupado com congestionamentos das grandes cidades, o aumento dos custos de combustíveis, entre outros fatores. Apresentado no Salão de Los Angeles (EUA) de 2004, o carrinho mede 2,15 metros de comprimento, 1,52 m de altura e 1 m de largura. Com essa configuração, seu dono não encontrará grandes dificuldades para estacionar nas pequenas vagas típicas de centros urbanos.
Além disso, o modelo de dois lugares é equipado com motor elétrico, que segundo o fabricante não emite poluentes. A Commuter Cars afirma ainda que o carinho tem autonomia para percorrer 330 quilômetros. Apesar de ter motor elétrico, fato que geralmente deixa os carros lentos, o Tango T600 vai da imobilidade a 100 km/h em 4 segundos e atinge velocidade máxima de 255 km/h.
Ele é produzido na Inglaterra, e o fabricante espera entregar, até o final deste ano, 100 unidades do modelo. No mês passado, o Tango T600 ganhou um ganhou um garoto propaganda de muito apelo: o ator George Clooney se tornou proprietário de um dos carrinhos.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

O automóvel elétrico quer mudar sua vida

Carro elétrico sendo ‘abastecido’.
O veículo se comunicará com o motorista para ajudá-lo a dirigir. Não será mais preciso comprá-lo e ele poderá armazenar e revender energia.
A chegada do carro elétrico obrigará a mudar a forma de dirigir e de circular nas cidades, mas afetará também outros aspectos da vida cotidiana. A princípio, sua autonomia limitada trará inconvenientes, mas ensinará a aproveitar a energia de forma mais eficiente. O automóvel dará todo tipo de informação ao motorista, desde o melhor trajeto até os postos de recarga livres ou a autonomia, e chamará o guincho ou a ambulância de forma automática em caso de acidente.
A gestão inteligente da eletricidade das baterias também trará benefícios econômicos no futuro. E haverá novas alternativas para usar o automóvel sem comprá-lo. O usuário de um carro elétrico deverá fazer mudanças em sua rotina diária. Assim, provavelmente muito antes de 2015, ao levantar pela manhã e ligar o carro, receberá uma mensagem como esta: “As baterias de seu automóvel estão carregadas. Se deseja ligar o ar condicionado, escolha a temperatura”. Enquanto toma um banho, o carro ligará a calefação, usando a eletricidade da casa ou do poste de energia da rua para não gastar bateria ao preparar o interior do veículo.
Utilizar um carro elétrico terá inconvenientes, ainda que transponíveis. Sua autonomia limitada exigirá dirigir com mais suavidade, aproveitar a inércia e evitar acelerações e freadas bruscas. Será necessário também escolher os trajetos mais curtos, e principalmente não abusar de acessórios como o ar condicionado: ele pode reduzir em 10% a autonomia em dias quentes. Para se ter uma ideia, dirigir um carro elétrico será a princípio como se hoje saíssemos de casa todos os dias com a luz da reserva acesa, ou com um quarto do tanque, e isso tivesse que durar o dia todo. Como as recargas serão muito mais lentas do que nos postos de gasolina atuais, será necessário prevê-las, porque elas levarão mais tempo.
A princípio, parece um inconveniente, mas a realidade é que, segundo vários estudos de mobilidade, cerca de 60% dos espanhóis percorrem menos de 36 quilômetros por dia, e 80% a 90% dos motoristas das grandes cidades europeias não chegam a percorrer 25 quilômetros por dia. Se as previsões dos fabricantes forem cumpridas e os primeiros carros elétricos à venda oferecerem de 130 a 180 quilômetros de autonomia, poderão suprir essas necessidades com folga, exceto em situações excepcionais.
A comunicação entre o carro elétrico e o motorista também será algo habitual, e acontecerá através do telefone celular ou do navegador. Por exemplo, se a distância prevista para o dia superar a autonomia disponível, bastará programar um destino intermediário no GPS e ele mostrará os postos de recarga livres mais próximos, reservando o que interesse. Assim, ao estacionar, o posto reconhecerá a reserva e só então iniciará a recarga. O valor poderá ser pago de várias formas: cartão de crédito, pela conta de luz ou por telefone, ou com cartões pré-pagos dos fabricantes e outras companhias. E a concorrência permitirá mais descontos, tarifas especiais de acordo com o horário e programas de fidelização, como nas companhias aéreas.
Os sistemas eletrônicos dos carros elétricos também se comunicarão entre si (Car to Car) e avisarão sobre qualquer incidente, como acidentes ou engarrafamentos, propondo itinerários alternativos. E também chamarão automaticamente o guincho ou a ambulância se houver um acidente: a chamada será ativada assim que o airbag se abrir. Essas funções já estão disponíveis em alguns modelos e países, mas a tecnologia dos elétricos permitirá incorporá-las antes que os demais carros.
A autonomia limitada dos veículos com baterias ajudará a mudar alguns hábitos na hora de comprar o automóvel ou pagar pelo seu uso. Nos primeiros anos, até 2013 a 2015, os fabricantes oferecerão os carros elétricos principalmente através de aluguel ou leasing, com quotas mensais que incluirão a manutenção e a substituição das baterias se for necessário. Mas algumas marcas lançarão novos serviços acessíveis para que o usuário dos elétricos possa dispor de carros mais apropriados para viajar nas férias e fins de semana se precisar. Assim, não será necessário adquirir um carro familiar grande se ele só será usado alguns dias por ano.
Entretanto, a grande mudança chegará por volta de 2020, quando as redes elétricas inteligentes se generalizarem. Então o carro elétrico poderá funcionar também como um armazém de energia: poderá ser carregado nas horas de menor consumo com tarifas mais econômicas (quase sempre à noite) e dar lugar à casa (luz, calefação, eletrodomésticos) na horas de pico, quando não será usado, para reduzir a fatura mensal. Ele poderá até mesmo ser carregado de dia com uma placa solar no teto e revender a energia às companhias elétricas para que cubram seus picos de demanda. Segundo uma palestra apresentada no Colégio de Engenharia Industrial de Madri por Fernando Soto, chefe de Planejamento de Rede Elétrica: “Se a maioria das recargas forem feitas nas horas menos concorridas, o aumento da demanda do carro elétrico não exigiria ampliar a capacidade de geração instalada na Espanha. Poderíamos até aproveitar melhor a atual e integrar melhor as energias renováveis (solar, eólica…)”.
A capacidade e tecnologia das baterias de ion-lítio abre a possibilidade para inúmeros novos negócios, inclusive no final de seu ciclo de vida. Depois de cinco ou sete anos de uso, elas perderão cerca de 20% de sua capacidade de carga e autonomia, mas servirão para armazenar eletricidade em casa ou formando painéis em centrais elétricas ou parques eólicos, para utilizar sua energia nas horas de mais demanda. A Nissan tem um acordo com a Sumitomo para desenvolver um negócio com baterias usadas no Japão. A implantação do carro elétrico será progressiva e conviverá com os carros atuais por pelo menos dez ou 15 anos, na melhor das hipóteses.
Segundo as previsões dos fabricantes, eles responderão por 10% do mercado mundial em 2020, cerca de seis milhões por ano. Mas a rapidez do processo dependerá das baterias. Enquanto não superarem os 300 quilômetros de autonomia ou não existam postos para recarregá-las em cinco minutos sem reduzir sua vida útil, os elétricos serão carros para a cidade. As baterias atuais de ion-lítio dificilmente alcançarão esse número de quilômetros sem aumentar o peso do carro e reduzir o conforto, mas já estão sendo pesquisadas reações químicas mais eficientes.
Segundo Jose Manuel Amarilla, do Centro Superior de Pesquisas Científicas (CSIC): “As próximas baterias de lítio-fosfato de ferro, e lítio-manganês reduzirão os custos, mas a grande esperança são as de lítio-ar, que poderiam quadruplicar o rendimento atual, ainda que ainda existam grandes desafios por resolver.” Com essas melhorias, os elétricos poderiam chegar a 500 quilômetros de autonomia e aproximar sua capacidade à dos carros atuais nas viagens longas. E o processo de substituição seria acelerado enormemente. Entretanto, as marcas lançarão vários tipos de elétricos, uns para a cidade e outros com baterias que poderão ser trocadas em cinco minutos num posto.
Ainda que agora existam modelos semiartesanais, como o Think, o tiro de largada na Espanha acontecerá no final do ano com a chegada dos Mitsubishi Mi-EV, Peugeot Ion e Citroën C-Zero, um mesmo utilitário de 3,4 metros (chassis, baterias e motores iguais) com a imagem de cada marca. Eles têm quatro lugares, 130 quilômetros de autonomia. Sairão por 20 mil euros, mais o aluguel de suas baterias de tirar e por, que será amortizado pelo baixo consumo com um uso intensivo: a recarga para percorrer 100 quilômetros com um carro elétrico custará entre 1 e 1,50 euro, em comparação a 5 euros dos melhores motores diesel.
Em 2012 será lançado o Nissan Leaf, um compacto tipo Golf, com 150 quilômetros de autonomia e preços entre 15 mil e 20 mil euros, mais o valor das baterias. Ao mesmo tempo chegarão novos híbridos – com motor térmico e um ou vários elétricos – com tecnologias muito variadas para ampliar a autonomia no modo elétrico. Em alguns casos o motor de combustão só funcionará como gerador para carregar as baterias em marcha quando elas se esgotarem: Chevrolet Volt e Opel Ampera (2011). Em outros ele será ligado a certa velocidade ou ao esgotar a bateria (Toyota Prius Plug-in). Mas todos gastarão menos de três litros, como os híbridos diesel que a Peugeot e a WV estão construindo.
Entretanto, pelo menos até 2012, a oferta de carros elétricos será absorvida quase totalmente por instituições e empresas, sobretudo de frotas de entregas: o uso intensivo permitirá amortizá-los melhor e fará que seja rentável para os fabricantes montarem postos de recarga em suas bases e sedes.