quarta-feira, 30 de junho de 2010

Mobilidade Urbana e ecológica

Mobilidade Urbana: Em Paris, carros elétricos podem se juntar a bicicletas de aluguel.
Carro elétrico do Programa Autolib, em Paris
Jogadas no rio Sena, penduradas em postes de luz, queimadas e descartadas, milhares de bicicletas de cor cinza do programa Paris Velib – que oferece uma frota de bicicletas para alugar na cidade toda, bastando passar um cartão para isso – caíram vítimas do vandalismo. Nos dois anos desde a sua implantação em 2007, o programa contabilizou que 7.800 de suas 20 mil bicicletas originais foram roubadas e 11.800 vandalizadas de diversas formas.
Agora a prefeitura está tentando novamente: desta vez com carros elétricos. Bertrand Delanoe, prefeito socialista de Paris e criador do Velib, planeja implementar o novo programa de aluguel, Autolib, já em setembro do ano que vem.
A concorrência para operar o programa, que será estruturado como uma parceria público-privada, foi aberta este mês. Autoridades da cidade dizem que o vencedor será escolhido em dezembro por um grupo que representa 31 autoridades dentro e fora de Paris e que participam do projeto.
Quatro companhias estão competindo pelo contrato: a ADA, uma empresa de aluguel de carros e caminhões; a Bollore, empresa de logística e transporte com interesse no desenvolvimento do carro elétrico; a Veolia Transport Urbain, uma operadora de transporte público; e um consórcio composto pela locadora de veículos Avis, a autoridade de trânsito de Paris RATP, a companhia ferroviária nacional da França SNCF e a operadora de estacionamentos Vinci.
Proposto pela primeira vez em 2008, o Autolib será o maior programa de compartilhamento de carro elétrico nesses moldes, “um primeiro do mundo”, diz Annick Lepetit, chefe do grupo do Autolib e vice-secretária de transportes. O plano é ter 3 mil veículos de emissão zero localizados em mil estacionamentos em Paris e região metropolitana. As taxas de aluguel ainda não foram estabelecidas, mas autoridades municipais estimam que cada meia hora custará aproximadamente €$ 5, ou R$ 11, com uma mensalidade adicional de €$ 15 (R$ 33).
O Autolib funcionará de uma foma muito parecida à do Velib. Os inscritos no programa poderão pegar um carro em qualquer posto de aluguel, sem uma reserva, e deixá-lo em qualquer outro posto no final da jornada. Ambos os programas fazem parte da cruzada de Delanoe contra o que ele chama de “hegemonia” do automóvel, oferecendo soluções mais sustentáveis aos problemas do tráfego no centro da cidade.
Se o Velib propõe bicicletas, o Autolib, por sua vez, aumentará as apostas, oferecendo aos usuários carros elétricos caros, novos em folha.
Isso leva o problema do vandalismo a um outro nível, diz Bill Moore, editor-chefe do EVWorld, uma revista online sobre carros elétricos.
O vandalismo pelas peças dos automóveis, sobretudo, poderia ameaçar a viabilidade econômica do projeto: “o tráfico de baterias de lítio de fato pode ser um risco”, alertou Moore. A tecnologia dos veículos elétricos continua cara, e o preço da bateria de íon de lítio é estimado em €$ 14.600 (R$ 32 mil), comparados aos cerca de €$ 600 (R$ 1.300) necessários para substituir uma bicicleta danificada.
Entretanto, Moore acredita que a tecnologia está pronta para a produção em larga escala. “Grandes fábricas como a Renault definitivamente têm a capacidade industrial para fornecer uma frota de 3 mil”, disse ele. A Renault, da França, que planeja começar a produção comercial de carros elétricos no ano que vem, é uma das várias fabricantes de automóveis que expressaram interesse em fornecer os veículos para o projeto.
O design e a produção dos veículos elétricos é apenas um dos muitos desafios operacionais e técnicos que o Autolib enfrenta. Outras questões importantes que ainda precisam ser resilvidas incluem a instalação da infraestrutura para carregamento das baterias, o desenvolvimento de baterias suficientemente confiáveis, e a disponibilidade de vagas para estacionar nas ruas congestionadas da cidade.
Embora Lepetit reconheça que a Cidade de Paris não tem as respostas ainda, ela confirmou que os detalhes técnicos do programa foram considerados nas propostas das companhias que disputam a concessão, apresentadas este mês.
Não há dúvida de que o plano do Autolib precisa acertar vários detalhes: ainda assim, ele continua sendo um empreendimento útil que deverá fornecer várias indicações para o desenvolvimento futuro da tecnologia dos veículos elétricos, disse Moore. “Acho que lições serão aprendidas e adaptações serão feitas”, disse ele. “Mas será de fato um passo positivo para Paris, e acho que muitas cidades irão olhar Paris e segui-la como um exemplo.”
John Loughhead, diretor-executivo do Centro de Pesquisa de Energia do Reino Unido em Londres também diz que acredita que o programa “pode ser um protótipo muito útil”.
“Este projeto pode ser muito útil para incentivar a aceitação pública dos carros elétricos”, disse Loghhead numa entrevista. “Ele também ajudará as fabricantes a colocarem os veículos elétricos no mercado”.
Embora os carros compartilhados tenham entrado em voga na América do Norte e na Europa nos últimos anos, os veículos elétricos continuam sendo um tema secundário nessa história.
Impulsionadas pela recessão econômica e por regulações cada vez mais rígidas de emissões de gases de efeito estufa, as inscrições em programas de compartilhamento de carros cresceram 117% na América do Norte entre 2007 e 2009, de acordo com um relatório feito pela companhia de pequisa de mercado Frost e Sullivan, publicado em janeiro deste ano.
A Frost e Sullivan disse que esperava que esta tendência continuasse durante os próximos 5 a 10 anos, com uma estimativa de aumento das inscrições para 4,4 milhões na América do Norte e 5,5 milhões na Europa em 2016.
A Car2go, uma frota de carros compartilhados em Daimler, na Alemanha, é líder no setor. Este ano, a Car2go comemorou o primeiro aniversário de seu programa piloto em Ulm, uma cidade de 120 mil habitantes no sul da Alemanha. Juliane Mehling, gerente de comunicações corporativas da Car2go, disse que o projeto-piloto foi “um grande sucesso”, atraindo a participação de cerca de 40% dos motoristas de Ulm entre 18 e 35 anos.
A Car2go entrou no mercado norte-americano em novembro, introduzindo uma frota de 200 carros Smart para o uso de 13 mil funcionários da cidade de Austin, Texas. Embora ainda seja cedo, diz Robert Henrich, diretor-executivo da Car2go, “há um entusiasmo muito grande e uma alta demanda pelos carros.”
Henrich disse que, “desde o começo, a Car2go teve um contato próximo com os organizadores do Autolib. Os dois programas são muito semelhantes ao oferecer o aluguel espontâneo e viagens só de ida. Mas diferem num ponto crucial – o uso dos carros elétricos.
O programa de Austin usa o Smart Fortwo a gasolina, um carro de dois lugares da unidade Smart da Daimler, que o Car2go diz ser o veículo não-híbrido mais eficiente em combustível no mercado norte-americano. Usar apenas veículos elétricos num futuro próximo está fora de questão, diz Heinrich, porque “ainda é muito cedo para mudar dos veículos a combustão para os elétricos, do ponto de vista comercial.”
Uma razão, diz ele, é que o custo da tecnologia dos veículos elétricos, em particular das baterias de íon de lítio, continua alto. Um grande problema, entretanto, é que a infraestrutura necessária para carregar a bateria, que requer um alto nível de investimento inicial, não está disponível na maioria das cidades.
“Acho que veremos o desenvolvimento dessa infraestrutura dentro de três a cinco anos”, disse Henrich. Só então, na opinião dele, as frotas exclusivas de carros elétricos começarão a ser viáveis.
Sem querer esperar tanto tempo, Paris está seguindo adiante com seu plano, que segundo o gabinete de Delanoe pedirá a instalação de 4 mil estações de carregamento de bateria nos próximos 15 meses.
“Obviamente, o Autolib é um projeto desafiador, que exige uma preparação enorme”, diz Henrich. Mesmo assim, apesar de todas suas dúvidas, ele acrescenta: “Acho que é tecnicamente viável e estou totalmente convencido de que os veículos elétricos serão o futuro.” (EcoDebate)

Agrale desenvolve ônibus híbrido no Brasil

Veículo movido a energia gerada pelo diesel é 30% menos poluente e mais econômico que um modelo convencional.
Enquanto o governo ainda está dividido em relação a um programa de incentivo aos veículos elétricos ou híbridos, a Agrale, empresa 100% brasileira que produz veículos comerciais, chassi para caminhões, ônibus e tratores, apresentou ontem um ônibus com tecnologia híbrida desenvolvida no País. Se houver demanda, a empresa pode iniciar as vendas em 2011.
Chamado de Hybridus, o veículo é elétrico e a diesel, mas, ao contrário de algumas soluções já existentes no mercado internacional, o diesel não move o motor, apenas gera a energia para o motor elétrico. Em automóveis em circulação na Europa e nos Estados Unidos, o combustível fóssil passa a movimentar o veículo assim que a carga da bateria elétrica vence.
O Hybridus não tem bateria, equipamento pesado e com autonomia limitada, informa Ubirajara Choairi, gerente nacional de vendas de veículos da Agrale. O veículo utiliza sistema importado da Siemens alemã, com um ultracapacitor, equipamento que substitui a bateria, é mais leve, tem vida útil mais longa e é mais barato.
"A redução em consumo é de 30% em relação a um veículo totalmente a diesel e as emissões diminuem na mesma proporção", afirma Choairi.
O custo do ônibus, hoje, seria de cerca de R$ 600 mil, o dobro do preço de um convencional. "Sem incentivos governamentais não é viável", admite Silvan Antônio Poloni, gerente regional de vendas da Agrale, que também defende legislação específica para esse tipo de veículo.
Produção local
Só o sistema importado da Alemanha, chamado de Elfa, representa cerca de 35% do custo do Hybridus. Antonio Claudino, gerente de marketing da Siemens no Brasil, diz que a fábrica do grupo em Jundiaí (SP) tem condições de produzir o sistema. "Uma demanda de aproximadamente mil ônibus por ano permitirá a produção local, seguramente", afirma.
O ônibus híbrido brasileiro já foi testado no Chile, país que está mais adiantado que o Brasil na adoção dos chamados veículos verdes, assim como a Argentina. O início de testes em São Paulo depende de homologação por parte da SPtrans, que já demonstrou interesse em agilizar o processo, segundo Poloni.
Há outras experiências de ônibus híbridos no Brasil, uma delas da Eletra, de São Bernardo do Campo (SP). Desde 2005, uma pequena frota circula no município e em São Paulo. Segundo a empresa, o veículo pode ser comparado a um trólebus, mas em vez de usar energia da rede elétrica gera a própria energia a bordo.
O Eletra pode ser abastecido com diesel, álcool, gasolina ou gás para produzir energia por meio de um motor gerador. O motor elétrico é responsável pela tração nas rodas.
A Scania, de São Bernardo do Campo, testa ônibus movidos a etanol e a Mercedes-Benz, com fábrica no mesmo município, iniciou testes com ônibus movido a etanol feito de cana.
Vendas
De janeiro a maio, o mercado brasileiro consumiu 10.920 ônibus, a maioria movida a diesel. O número é 31,2% maior do que o registrado em igual período do ano passado. O crescimento, na opinião de Choairi, é resultado da disponibilidade de crédito para frotistas, do crescimento da economia, que favorece a renovação das frotas e, em parte, das eleições, período em que muitos governantes investem no transporte público. (conteudoclippingmp)

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Wi-fi Solar

Wi-fi Solar: Sistema de comunicação sem fio é alimentado por energia solar.
Baterias recarregáveis garantem operação do sistema em períodos sem irradiação solar.
Pesquisa do Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI) da Escola Politécnica (Poli) da USP criou o protótipo de um sistema de comunicação sem fio em malha alimentado por energia solar. Conhecido como Wi-fi Solar, ele permite o acesso a internet sem fio para dispositivos móveis em áreas ao ar livre. O sistema, em fase de testes, apresenta menores custos de instalação e o emprego da energia solar reduz despesas com eletricidade.
O Wi-fi Solar possui quatro módulos: comunicação (roteador), fotovoltaico (painel solar), armazenamento (baterias) e controle de energia. “O roteador cria uma malha de comunicação sem fio, com várias rotas, entre outros módulos de comunicação da rede e fornece cobertura Wi-Fi para dispositivos móveis e portáteis no raio de alcance do sinal transmitido por cada módulo de comunicação”, conta o engenheiro Rafael Herrero Alonso, responsável pelo projeto. “O módulo fotovoltaico gera eletricidade em corrente contínua ao sistema a partir da transformação direta da luz em energia elétrica.”
Baterias recarregáveis garantem a operação do sistema em períodos sem irradiação solar. “Em sistemas autônomos é necessário acumular energia, para compensar as diferenças existentes entre produção e utilização ao longo do tempo”,explica o engenheiro. “O armazenamento obriga a utilização de um módulo de controle de energia adequado, que faça a gestão do processo de carga, a proteger e garantir uma elevada confiabilidade e um maior tempo de vida útil para as baterias.”
Atualmente, dois Sistemas Wi-Fi Solar estão instalados em postes de iluminação na Cidade Universitária (Zona Oeste de São Paulo), ao lado do prédio da Associação dos Engenheiros Politécnicos (AEP). “Ambos operam no mínimo 8 horas por dia. Sendo caracterizado por um sistema autônomo, não precisa de manutenção e interação humana”, conta o engenheiro. “Além disso, mais de 50 pessoas se conectam a rede implementada com os sistemas Wi-Fi Solar diariamente e transferem em torno de 1Gigabyte (GB) de informação.”
RapidezEntre as principais vantagens do sistema, Alonso aponta a eliminação da infra-estrutura de cabos elétricos para a instalação, e a redução de custos com o projeto da rede sem fio, mão-de-obra para instalação elétrica e do próprio custo da eletricidade, devido à utilização de energia solar renovável. “Também é possível diminuir os custos com cabeamento estruturado para acesso a internet, fazer a instalação e o início do funcionamento do sistema em menos tempo”, acrescenta, “além de reduzir gastos com manutenção e mão-de-obra operacional com técnicos no local.”
O engenheiro ressalta que o Wi-fi Solar é independente de infraestrutura cabeada. “Desta forma, as economias de custos podem chegar a 40% em relação à instalação de um infraestrutura de redes sem fio tradicional para ambientes externo”, aponta. “Em resumo, o sistema permite cobrir grandes áreas ao ar livre com rapidez, facilidade e menor custo, representando assim, um sistema confiável e economicamente viável.”A pesquisa, realizada no Núcleo de Engenharia de Mídias (NEM) do LSI, teve a colaboração dos professores Marcelo Knorich Zuffo e Roseli de Deus Lopes, da Poli, e do engenheiro Hilel Becher, gerente do NEM. “Nosso objetivo é transferir a tecnologia para ser transformada em produto por uma empresa parceira, que dará continuidade na industrialização e comercialização”, planeja Alonso. A empresa Heliodinâmica disponibilizou os módulos de armazenamento e fotovoltaicos usados no desenvolvimento do estudo. (EcoDebate)

Cooperação em energia e inovação

Brasil e Portugal assinaram em 19 de maio de 2010, declaração conjunta definindo prioridades estratégicas para o estabelecimento de cooperação nas áreas de energia, ciência, tecnologia e inovação, além da promoção e divulgação da língua portuguesa. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o primeiro ministro José Sócrates também reafirmaram o interesse em ampliar e diversificar as relações econômicas e comerciais.
Durante a 10º Cimeira Brasil e Portugal, os dois países anunciaram a criação de um grupo de trabalho sobre energia com o objetivo de desenvolver o relacionamento entre os dois países nas áreas de petróleo e biodiesel, além de promover a cooperação trilateral com a África.
Novo modo de produzir eletricidade
Um grupo de pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, descobriu um fenômeno que faz com que ondas de energia sejam lançadas por nanotubos.
Veículos elétricos: país começa a acelerar pesquisas
Ainda que em marcha lenta, os investimentos em pesquisas para o desenvolvimento de veículos elétricos começam a sair do lugar no Brasil.
Tecnologia verde
O Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais (Indi) assinou em 23/04/2010 com a Unimicro Tecnologia e Sistemas um protocolo que prevê o lançamento de uma linha de produtos de tecnologia verde.
Uso energético de resíduos em foco
Aconteceu em 06/05/2010 o seminário "Uso energético de resíduos", promovido pelo Departamento de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Câmara Brasil-Alemanha, em parceria com a Iniciativa MDL - GTZ. (ambienteenergia.com.br)

sábado, 26 de junho de 2010

Brasil busca liderança em biocombustível

Em 2006, o Brasil tornou-se auto-suficiente em sua matriz energética, ou seja, conquistou a independência na produção de energia consumida pela nação. Isso só foi possível devido à fabricação cada vez mais substancial do biocombustível, a partir da cana-de-açúcar.
Segundo dados de 2007 do Ministério de Minas e Energia, 30, 9% da energia utilizada no país provém da biomassa (que inclui o carvão vegetal e a lenha) e 37,4% do petróleo e derivados.
A cana de açúcar é um vegetal que necessita de boas condições para se desenvolver, o que explica seu alto desempenho em solo tropical, com água, luz e solo fértil e sua baixa presença em países mais frios. Com sua vasta dimensão territorial, o país teria espaço para absorver essa demanda de plantio da cana.
Além disso, segundo Marcos Buckeridge, pesquisador de institutos como Lafieco, INCT (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia), CTBE (Lab. Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol) e BIOEN(programa da Fapesp em bioenergia), o Brasil tem posição de liderança na pesquisa mundial do biocombustível. “O Brasil é um país que detém tecnologia agrícola.”
Nos últimos anos, o governo tem investido, através de seus órgãos de financiamento como a Fapesp, Cnpq, Capes, entre outras, em pesquisas na área de bioenergia. O resultado é visível e a nação torna-se referência mundial na produção do etanol. O estado focou-se na questão e tem usado esse trunfo como moeda de troca internacional. Em 2007, Lula e George Bush, então presidente dos Estados Unidos, reuniram-se para discutir a política que adotariam na produção e venda do álcool. Os dois países são os principais fabricantes e pesquisadores da área.
Em 2005, a Lei 11.097/2005 introduz o biodiesel no mercado, ao instituir um percentual de 5% no diesel derivado do petróleo. A partir daí, incentivos tornaram-se cada vez mais freqüentes. O Mato Grosso do Sul, por exemplo, instaurou isenção fiscal de 70% aos produtores de biocombustível do estado.
O país produz a cada safra 27,5 bilhões de litros de álcool que, se vendidos ao preço médio calculado, movimentaria aproximadamente 30,2 bilhões de reais (Cepea-Esalq). Esses dados fornecem uma dimensão das possibilidades desse mercado. A produção do biocombustível rentável, no entanto, ainda encontra impedimentos, desde as etapas do plantio de cana ao rendimento do vegetal no processo da sua transformação em etanol.
“A cana tem 18% de sacarose, em média. Quando se produz o álcool apenas da sacarose, usa-se somente um terço da energia existente na cana. O bagaço e a palha corresponde a um terço cada. Usando-se essas duas outras fases, triplica-se o potencial energético brasileiro.” O etanol celulósico, explica Buckeridge, possibilitaria um rendimento muito maior da cana de açúcar brasileira. Para isso, são necessárias pesquisas para apurar um meio eficiente de extrair energia dessas fases do vegetal.
As cifras milionárias investidas nesse processo científico (algo em torno de 300 milhões, segundo Buckeridge) têm estabelecido condições para que o Brasil tenha papel de liderança nessa área de pesquisa. Laboratórios como CTBE tem agido em conjunto com centros de pesquisa internacionais. O grande desafio dessa fase é a síntese de enzimas para o processo de quebra da celulose. Ao que tudo indica, laboratórios como European Bioinformatics Institute e empresas como Novozymes Latin America estão na dianteira nesse processo. A Novozymes, multinacional dinamarquesa, já fornece enzimas sintetizadas artificialmente que são eficientes na obtenção do etanol celulósico. O próximo passo é alcançar a escala industrial. (EcoDebate)

Aproveitamento da palha e do bagaço da cana

O aproveitamento da palha e do bagaço da cana-de-açúcar é o desafio dos pesquisadores brasileiros.
Na busca de diminuir a dependência mundial do petróleo, cientistas procuram formas alternativas a escassez desse insumo para que o impacto negativo político e econômico, nos quatro continentes, alcancem menores proporções. Entre as possibilidades, a cana-de-açúcar é uma perspectiva real que se destaca há anos e, hoje, com o conceito sustentabilidade em expansão ganha mais espaço devido aos avanços tecnológicos na área bioenergética.
A cada dia as pesquisas em cana-de-açúcar crescem de forma constante a possibilitar um melhor desenvolvimento desde o seu plantio até sua manipulação. As experiências passadas e o forte investimento feito nos últimos anos no setor de Ciências & Tecnologia pelo governo colocaram nossas pesquisas, no setor sucroalcooleiro, na vanguarda tecnológica mundial. Mas, o que os cientistas buscam desenvolver?
Em conferência realizada no último sábado no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA), o pesquisador Marcos Buckeridge explicou em que nível o Brasil se encontra nos avanços tecnológicos agrários e da biomassa originada da cana-de-açúcar. “Você pode pegar qualquer outra área de ciência do Brasil, mas dificilmente encontrará uma na qual tenhamos tecnologia de ponta como na bioenergia”, completou Marcos.
Segundos dados da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEARP), o setor sucroalcooleiro do país movimenta aproximadamente US$ 87 milhões. Essa cifra equivale 4,6 do Produto Interno Bruto brasileiro (PIB) e desenvolver sua capacidade tecnológica pode triplicar seus valores financeiros aumentando a produtividade sem a necessidade de usufruir de novas terras.
Devido ao menor impacto ambiental gerado pelo etanol ao meio ambiente, as oscilações do preço do petróleo e a diversificação na matriz energética, os investimentos no setor bioenergético crescem de forma constante. O Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia (CTBE) desenvolvido pelo Ministério da Ciência & Tecnologia recebeu subsídios de R$ 69 milhões para sua criação e a Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) que fomenta aproximadamente R$ 600 milhões por ano em pesquisas básicas e desenvolvimento tecnológico no Estado, são exemplos do empenho do governo em melhorar a produção sustentável do álcool etílico.
Esse grande investimento no setor possibilita que os cientistas cada vez mais possam melhorar o aproveitamento da cana como bem final, levedura, aditivo e crédito de carbono. Por exemplo, as novas tecnologias no manejo do álcool como a hidrólise do bagaço e o uso da palha para a produção de energia são alguns dos principais trabalhos desenvolvidos pelos pesquisadores do setor. “O Brasil está focado em melhorar produtividade dessa planta e fazer o chamado etanol de celulose com sua biomassa”, retrata Buckeridge.
Cana-de-açúcar frente ao Milho
Diferente dos estadunidenses, que também manipulam o milho na busca de eficiências enérgicas, o insumo brasileiro possui várias vantagens em relação ao produto norte-americano. Segundo estudos do CTBE, enquanto os EUA gastam uma unidade de energia equivalente de combustível fóssil para gerar 1,3 litros de etanol, no Brasil, a mesma quantidade produz entre oito e nove unidades.
Hoje aproveitar toda biomassa da cana é o principal desafio dos cientistas brasileiros. Buckeridge afirma que, atualmente, mais de 40 laboratórios distribuídos em seis Estados trabalham nessa otimização. E, garantiu que ao aproveitar todo potencial desse produto, significativamente, sua fabricação aumentará. “A cana tem 18% de sacarose em média e isso corresponde a 1/3 de sua energia. Sobram o bagaço e palha e cada um corresponde aos outros 2/3. Ao conseguirmos pegar a celulose existente em ambos teremos a possibilidade de teoricamente triplicarmos nossa produção energética”, afirma. (EcoDebate)

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Empresas, governos e negócios da China

Energias renováveis: empresas, governos e negócios da China
1- Carvão, Petróleo, Chuva Ácida e Lixo Atômico
A Revolução Industrial se baseou em fontes energéticas que não eram renováveis: no século XVIII até meados do XIX a principal fonte de energia foi o carvão. A partir daí e principalmente no século XX, o petróleo sustentou o desenvolvimento industrial e dos mercados de consumo, inclusive nos países do “socialismo real” do leste europeu e da ex URSS, que eram (e continuam) tão dependentes do petróleo e das fontes não renováveis como os países capitalistas ocidentais.
Durante a Revolução Industrial e a internacionalização dos capitais, as experiências relacionadas com as fontes alternativas e a conservação energética foram localizadas, experimentais, sem projetos integrados e viáveis. As energias renováveis e auto sustentáveis não passavam de boas idéias, experimentos interessantes que pertenciam a um futuro exótico e de difícil visualização, utopias do mundo da física, passatempos de curiosos geniais. A natureza, assim como a disponibilidade de energia pareciam inesgotáveis, estando o desenvolvimento e o progresso contínuos garantidos, bem como o crescimento econômico dos agentes capitalistas ocidentais de livre mercados e seus rivais de economias planificadas do leste.
As alternativas para a geração de energia elétrica, indispensável ao desenvolvimento industrial e tecnológico, tinham (e tem) como principais fontes as hidrelétricas, que requerem grandes áreas inundadas, a destruição de riquezas naturais e de culturas locais; usinas nucleares, em que os riscos de acidentes graves são constantes e o lixo atômico um efeito colateral de difícil solução; e as termoelétricas, que utilizam carvão vegetal e são poluidoras do ar, causando chuvas ácidas em amplos territórios.
Nos anos 60 do século XX iniciou-se um processo de revisão dos valores, métodos, padrões, leis e costumes que geriam a sociedade, inclusive as relações de produção e consumo. Eram atitudes e movimentos mais idealistas que pragmáticos, contestatórios, populares, que se identificavam com o consumo alternativo, defesa do meio ambiente, combate aos preconceitos, solidariedade internacional, multiculturalismo, liberdades pessoais e direitos humanos. “Um movimento de massas surgiu demandando que políticas destrutivas de todos os tipos fossem modificadas” (SILVERSTEIN, 1993, p. 18). Um dos principais alvos das críticas e do ativismo destes movimentos eram as corporações industriais e financeiras e seus métodos de produção, armazenamento, transporte, comercialização e financiamento, que estimulavam o desperdício, inclusive de energia, mascarando o valor dos produtos e tornando-os altamente poluentes.
2 – Sol, Ventos, Ondas e Petróleo
Com o novo contexto, começa a tornar-se viável um mercado alternativo para produtos e empresas que evitam o desperdício, estando o valor agregado na possibilidade de se produzir mais com as mesmas matérias primas e o aumento da eficiência energética, adequando a produção para mercados mais exigentes quanto às origens e destinos finais dos produtos. Nos anos 70 e 80 do século XX muitos empreendedores, principalmente no Japão e na Alemanha, foram bastante eficientes em aumentar a produção de bens e serviços sem desperdiçar recursos energéticos e insumos. Investimentos em pesquisas, tecnologias e programas educativos de conservação permitiram melhorar a eficiência na utilização da energia, desenvolver fontes energéticas alternativas e racionalizar o consumo. Isto contribuiu para tornar estes países competitivos no mercado global, enquanto seus trabalhadores possuíam boa qualidade de vida, com salários altos e direitos sociais assegurados.
As sucessivas crises causadas pela oscilação dos preços do petróleo, a instabilidade de muitos países produtores e a possibilidade concreta de esgotamento deste recurso natural não renovável, obrigou empresas e governos a investir em pesquisas de fontes alternativas, principalmente renováveis como eólica, solar, biomassa, maremotriz, conversão de energia térmica oceânica (OTEC) e células combustíveis. O metano de aterros sanitários também pode ser utilizado para produção de energia elétrica, gerando inclusive recursos para os empreendedores através dos Mecanismos de Desenvolvimento Limpos (MDL).
O fortalecimento de mercados que valorizam a eficiência pode consolidar muitos investimentos voltados para a conservação e geração alternativa de energias, estimulando a ampliação da demanda de tecnologias, produtos e serviços que utilizam estas fontes. É quase unânime que as energias renováveis são uma alternativa segura para a racionalização da produção, armazenamento e distribuição de mercadorias e serviços, sendo suas possibilidades extensíveis para muitas atividades, inclusive o transporte público, iluminação e geração complementar da demanda tradicional.
O desenvolvimento das energias renováveis estará cada vez mais na pauta de governos e empresas, desde pequenos investimentos locais, até grandes projetos que serão essenciais para a competitividade e o bom funcionamento de atividades indispensáveis como iluminação, transporte, aquecimento e conservação. No entanto, neste início de século XXI o modelo energético ainda está dependente das fontes não renováveis (petróleo, carvão, gás natural).
3 – Empresas, Governos & Negócios da China
Mas grandes investimentos estão programados por empresas e governos para nos próximos anos ampliar consideravelmente o consumo de energias renováveis. Nos EUA, a proposta de governo de Barack Obama prevê investir 150 bilhões de dólares em projetos de desenvolvimento econômico que respeitem o meio ambiente, sendo grande parte destes investimentos em geração e pesquisa de energias renováveis. Grandes investimentos em geração de energia termossolar nos EUA estão principalmente na Califórnia e Arizona. O custo para adotar até 2030 uma matriz energética renovável nos EUA é de aproximadamente 3,86 trilhões de dólares e para o planeta inteiro, 20 trilhões de dólares (ALVES, 2010. Disponível em: http://www.ecodebate.com.br/2010/05/2010/05/14/a-corrida-do-ouro-da-energia-renovavel-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/). Grandes investimentos na geração de energia termossolar na Espanha, principalmente na Andaluzia, onde está a PS20, maior torre solar em funcionamento, com capacidade para abastecer 10 mil residências, e em Sevilha onde está a usina Solúcar do grupo espanhol Abengoa, a mais atualizada estrutura da indústria solar, servem de protótipos para projetos e sistemas ousados de geração e distribuição de energia neste século XXI.
O mais ousado destes projetos é o Desertec, que propõe fornecer para a Europa energia termossolar a partir de usinas instaladas no norte da África. O Desertec não é exatamente um projeto ou empresa, é mais um mecanismo articulador das possibilidades. Como expressou seu presidente executivo Paul Van Son: “Não somos investidores e não somos desenvolvedores de projetos. Somos uma ideia, um movimento”. (Disponível em: http://www.ecodebate.com.br/2010/06/2010/06/04/energia-termossolar-projeto-desertec-de-extrair-energia-solar-do-deserto-ganha-forma/). Quem movimenta esta ideia, investe e desenvolve projetos é um consórcio de 12 empresas que em 2009 inauguraram a Iniciativa Industrial Desertec. Os principais participantes desta iniciativa são a Munich Re, Siemens, E.on, RWE, Deutsche Bank, e outras especializadas em equipamentos, serviços e projetos como Erlangen, Flagsol, Solar Millenniun e Schott Solar. A iniciativa do projeto Desertec é principalmente das empresas alemãs, que controlam um terço do mercado mundial de energia termossolar, com apoio da Agencia Alemã para a Cooperação Técnica (GTZ), que está tratando de amenizar as questões entre os cristãos ocidentais e o islã norte africano. Como complementou Paul Van Son: “Então nós entregaremos tudo ao mercado”. Outros projetos inovadores que utilizam o diferencial das temperaturas da superfície e do fundo do oceano para gerar energia elétrica (Ocean Thermal Energy Conversion – OTEC) estão sendo implantados em ilhas do Pacífico (Nova Caledônia, Vanuatu, Polinésia Francesa). Também existem estudos para o aproveitamento da energia mecânica das marés, sendo o Parque de Ondas de Aguçadouro em Povoa do Varzim, Portugal, o empreendimento mais avançado.
O governo da China é atualmente o maior investidor em energias renováveis e suas tecnologias com um investimento provável de 34 bilhões de dólares em 2009. Uma das metas chinesas é ter 100 mil megawatts de capacidade instalada de energia eólica até 2020. Os investimentos e pesquisas dos chineses também são direcionados para a criação de uma indústria de equipamentos e serviços em energias renováveis e alternativas, possibilitando avançar na substituição de sua matriz energética (uma das mais poluentes, movida principalmente a carvão) e tornar-se uma liderança internacional neste setor.
O Brasil é um dos principais participantes deste clube de investidores em alternativas energéticas sustentáveis e investiu 13,2 bilhões de reais em 2009, ficando em quinto lugar entre os países do G-20. Estes investimentos foram principalmente em biocombustíveis, setor em que o país é liderança mundial: metade da demanda de combustíveis em veículos leves do país é de etanol e os veículos flex-fuel, que utilizam combinação de gasolina e etanol são 34% da frota. Está prevista a instalação de 43 novas usinas de biodiesel e 78 usinas de etanol nos próximos anos. A expansão da energia eólica deve ter um investimento de 9,4 bilhões em 71 empreendimentos, possibilitando acrescentar ao Sistema Interligado Nacional 1.805,7 megawatts, porém, existem poucos empreendimentos, pesquisas, tecnologias e projetos em energia solar. Novas usinas hidrelétricas também estão para serem construídas, apesar dos inconvenientes ambientais e sociais que causam. O Brasil está bem situado na utilização de energias sustentáveis, com 47% de sua matriz energética originada em fontes renováveis. “Os produtos da cana de açúcar, o etanol e o bagaço da cana, passaram a ocupar o primeiro lugar na matriz brasileira em 2007 e deslocaram a energia hidráulica para a segunda posição” (Brasil 2009, publicação informativa da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, p. 28).
Mas fontes renováveis não significam que sejam ecologicamente equilibradas e/ou economicamente justas, podendo originar passivos ambientais e sociais que em algumas situações podem comprometer a sustentabilidade geral de regiões e municípios. Apesar do zoneamento agroecológico da cana de açúcar que impede investimentos e cultivos em biomas como a Amazônia, Pantanal, e Mata Atlântica, da redução das queimadas nas áreas de cultivo, dos progressos trabalhistas através do Compromisso Nacional para Aperfeiçoar as Condições de Trabalho na Cana de Açúcar, da Política Nacional sobre Mudança Climática que prevê redução entre 36% e 39% dos gases de efeito estufa até 2020, o Brasil enfrenta diversos problemas ambientais e agrários relacionados com o seu programa de biocombustíveis. A construção de algumas hidrelétricas também está sob contestação da sociedade e do Ministério Público, que consideram os benefícios de longo prazo menores que os prejuízos ambientais e sociais imediatos (de longo prazo também).
4 – Usuários, Clientes, Consumidores e Cidadãos
Com a diminuição das reservas de petróleo, carvão e gás, certamente a utilização de energias de fontes renováveis será o caminho para garantir o abastecimento necessário ao desenvolvimento tecnológico, produção, armazenagem, transporte, comercialização e serviços indispensáveis às sociedades do século XXI. As grandes empresas e governos estão com seus negócios, investimentos e sonhos apontados na direção do sol, do mar, dos ventos e dos trópicos, onde tudo que se planta dá. Grandes investimentos que certamente visam lucratividade para os investidores, mas que podem possibilitar um futuro mais limpo e saudável para os consumidores e usuários dos serviços de geração e distribuição de energia.
Os cidadãos podem pressionar os poderes públicos para que ações concretas de apoio ao uso de energias sustentáveis sejam implementadas: Legislação adequada ao aproveitamento de energias alternativas nas novas construções, incentivos fiscais para empresas e cidadãos que realizarem investimentos em suas instalações e residências, financiamentos à adequação de instalações consumidoras, programas de racionalização e conservação de recursos energéticos, incentivos a pesquisadores e indústrias de equipamentos, capacitação profissional para os setores de geração, armazenamento e distribuição de energias renováveis, formação de conselhos de usuários e consumidores de energia, e vontade política para enfrentar desafios essenciais ao século XXI (e aos próximos) é um caminho que necessariamente terá de ser construído por processos democráticos e participativos, ou seja, por mim e por você(s).
Indispensável destacar que experiências autônomas e autosuficientes em residências, empresas e pequenas comunidades também são essenciais para a racionalização do consumo, custos e produção, contribuindo para novas tecnologias, o desenvolvimento sustentável e o bem estar coletivo. (EcoDebate)

terça-feira, 22 de junho de 2010

Veículo elétrico busca bateria nacional

Itaipu Binacional: projeto de veículo elétrico busca bateria nacional.O projeto Veículo Elétrico, da Itaipu Binacional em parceria com a empresa suíça KWO e a Fiat, receberá R$ 30 milhões da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos, ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia). O recurso será utilizado para nacionalizar a tecnologia aplicada na bateria dos veículos. A bateria, empregada nos protótipos montados no Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Montagem do Veículo Elétrico da Itaipu, é importada e seu custo é uma das principais barreiras à popularização desse tipo de veículo.
Segundo o coordenador brasileiro do projeto, Celso Novais, a ideia é desenvolver uma bateria nacional similar à bateria suíça Zebra. Os detalhes da pesquisa ainda estão sendo definidos, mas se pretende trabalhar com duas equipes (uma no Brasil e outra na Suíça) por um prazo de dois anos. A gestão do financiamento da Finep caberá à Fundação Parque Tecnológico Itaipu (FPTI), signatária do projeto. “O domínio dessa tecnologia tornará a fabricação desse veículo ainda mais viável no Brasil”, ressaltou Novais.
As baterias Zebra, utilizadas nos veículos montados na Itaipu, são à base de sódio, níquel e cádmio. Totalmente recicláveis, elas permitem uma autonomia de aproximadamente 100 quilômetros com uma carga completa, suprindo as necessidades de transporte urbano (de, em média, 60 quilômetros diários).
Mário Lúcio Ozelame, assistente da Diretoria Técnica da Itaipu, frisou que não se trata de um projeto para a produção do equipamento, mas sim para pesquisar a tecnologia. “O interesse da Itaipu é meramente ser uma indutora do desenvolvimento de veículos elétricos”, afirmou.
Outra novidade no projeto VE da Itaipu é que os protótipos (carro Palio Weekend, caminhão Iveco e ônibus Mascarello) agora têm ar condicionado. Os modelos anteriores não contavam com esse conforto porque esse equipamento reduzia em 10% a 15% a performance. “Colocamos uma bateria com maior capacidade, o que compensou esse acréscimo”, acrescentou Novais. Para o fornecimento do ar condicionado, um novo parceiro aderiu ao projeto: a Euroar, de Caxias do Sul (RS).
Comitiva suíça – Uma comitiva de parlamentares suíços (dois senadores e três deputados) visitou Itaipu no dia 14 maio. Conforme o primeiro secretário da Embaixada da Suiça no Brasil, Siamak Rouhani, Itaipu foi a última etapa de um roteiro que passou por São Paulo, Campinas (SP), Lins (SP) e Brasília (DF), conhecendo de perto a cadeia produtiva de empresas como Syngenta e o frigorífico JBS, além de visitas ao Congresso Nacional, Banco Central e Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
“Uma vez ao ano, o Parlamento Suíço promove uma viagem de estudos a um país, sobre o qual tem interesse e busca se aproximar. Nos últimos anos, o destino tem sido os países do Bric. Os parlamentares já estiveram na China e na Índia. No ano que vem, será a vez da Rússia”, explica Rouhani.
Na Itaipu, a comitiva teve a oportunidade de conhecer os projetos socioambientais e tecnológicos da empresa, especialmente o Veículo Elétrico. O deputado Pirmin Bischof afirmou ter ficado bastante impressionado com o desenvolvimento que o país experimentou nos últimos anos e também com a preocupação ambiental e social que encontrou.
“Na China, não encontrei esse tipo de consciência. Parece que eles (os chineses) estão preocupados apenas com o desenvolvimento em si”, comentou. “Outra coisa é que, do ponto de vista de um suíço, me parece que os brasileiros estão muito mais próximos da nossa maneira de pensar. Então, acho que existe um potencial muito grande para acordos bilaterais e para a criação de parcerias”.
Empresas suíças têm aproximadamente US$ 31 bilhões investidos no Brasil, o que coloca a Suíça na décima posição no ranking de países investidores no mercado nacional. O senador Urs Schwaller informou que, ao todo, 105 mil brasileiros estão empregados em companhias suíças. Para ele, a relação entre os países, apesar de importante, pode ser expandida.
“Temos muitas semelhanças, como o sistema político democrático com um congresso bicameral, e somos exceção no contexto energético mundial, dado o largo emprego de energia renovável a partir de hidrelétricas”, disse Schwaller. (ambienteenergia)

Carro elétrico: biogás e álcool como alternativas

O carro elétrico brasileiro busca alternativas para virar realidade.
O uso de biocombustíveis como o etanol e o biogás surgem como solução capazes de empurrar um futuro motor elétrico, segundo o presidente da Comissão de Assuntos de Energia e Meio Ambiente da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Henry Joseph. Para ele, o desafio é fazer com que o motor elétrico gere a própria energia que irá consumir.
O executivo avalia que o álcool combustível e o biogás são possíveis fontes por terem grande quantidade de hidrogênio, capaz de gerar energia elétrica.
“O ideal é gerar energia elétrica junto com à movimentação do veículo, ou seja, o carro vai andando e produzindo energia. Tanto o etanol quanto o biogás são produtos com grande quantidade de hidrogênio, que é o que se procura quando se quer gerar energia elétrica através de células de combustível”, explicou, ao participar da 4º Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, em Brasília.
Como saída para tornar a tecnologia possível, ele defendeu a criação de um centro reúna as frentes de trabalho sobre o motor elétrico e as pesquisas desenvolvidas nas universidades e na indústria – uma forma, segundo ele, de concentrar financiamento e conhecimento.
No dia 25/05/2010, depois de convocar empresários, o governo adiou o lançamento de uma política de incentivo ao carro elétrico. (ambienteenergia)

Veículo Elétrico: uma prova de fogo

Com a novidade de adotar um sistema de ar condicionado, uma versão aprimorada do veículo elétrico obteve prêmios em testes de autonomia, emissão de poluentes e ruídos na “Challenge Bibendum 2010″, promovida pela Michellin, no Rio de Janeiro, de 30 de maio a 3 de junho de 2010.
No evento, dois protótipos de Palio Weekend Elétrico passaram pelas provas, ganhando quatro medalhas.
“A experiência foi muito boa porque pudemos mostrar a inovação que estamos fazendo nestes carros e a novidade foi o ar condicionado”, avaliou o engenheiro eletromecânico de Itaipu, Enzo Constantino Torres Arguello, um dos quatro integrantes da equipe VE presentes no evento.
Também participaram do “Challlenge Bibendum” os técnicos do projeto VE, Rodrigo Estevan Baez (Itaipu) e Marques Vicente Oliveira e Charles Willian Botini (da Fiat/Isvor).
Cada um dos veículos foi programado para um tipo de desempenho, estabelecido por softwares diferentes.
Um deles recebeu os comandos para maior autonomia, necessária para a conclusão do rali urbano.
O outro Palio Weekend foi direcionado para provar a eficiência energética do modelo, desenvolvido em Foz do Iguaçu. (ambienteenergia)

domingo, 20 de junho de 2010

Chuveiro elétrico é mais econômico que aquecedores

Tomar banho com chuveiro elétrico é mais econômico do que em aparelhos dotados de aquecedores solares e a gás, revela pesquisa da Escola Politécnica (Poli) da USP. O estudo do Centro Internacional de Referência em Reuso de Água (Cirra) também aponta que o chuveiro elétrico apresenta consumo médio anual de água menor que os demais sistemas de aquecimento.
O chuveiro elétrico está presente no aparelho tradicional e no chuveiro híbrido solar, que é um aquecedor solar com um chuveiro elétrico na ponta. A pesquisa concluiu que um banho de oito minutos custa, em média, R$ 0,27 (entre consumo de água e energia elétrica) no chuveiro híbrido solar e R$ 0,30 no chuveiro elétrico. O mesmo banho sai por R$ 0,46 (53,3% a mais do que o chuveiro elétrico) com aquecedores solares tradicionais, R$ 0,59 (96,6% mais caro) com os aquecedores a gás e R$ 1,08 (246,6% a mais) com o boiler elétrico.
O chuveiro elétrico está presente em mais de 73% das residências brasileiras, segundo dados do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel), entidade do Governo Federal. Segundo o professor Ivanildo Hespanhol, da Poli, que coordena a pesquisa, os resultados resgatam o valor do chuveiro elétrico, uma invenção brasileira com mais de 80 anos de vida, considerada a forma mais barata e acessível para população brasileira tomar banho quente, resguardando o direito do povo à saúde, dignidade e higiene.
“Mesmo antes da divulgação da pesquisa, mais da metade das pessoas que têm chuveiro elétrico em suas casas conheciam outras formas de aquecimento e não trocam o chuveiro elétrico”, acrescenta o professor.
Água - Outro dado importante da pesquisa é o consumo de água dos diversos sistemas de aquecimento de água. O estudo mostra que média anual do consumo de água no chuveiro elétrico foi de 4,2 litros por minuto (l/min). O chuveiro híbrido solar obteve uma média anual de 4,1 l/min, ou seja, 2,3% menor que o consumo do chuveiro elétrico.
O aquecedor á gás obteve uma média de 8,7 l/min, ou seja, 207% maior que o consumo do chuveiro elétrico, o aquecedor solar obteve uma média de 8,4 l/min, ou seja, 200% maior que o consumo do chuveiro elétrico e o boiler elétrico obteve uma média de 8,5 l/min, 202% maior que o consumo do chuveiro elétrico.
Esse dado é muito relevante se levarmos em consideração que água tratada é o bem mais escasso do mundo atualmente e, que segundo dados divulgados pela ONU, 1,8 bilhão de pessoas enfrentarão níveis críticos de falta de água já em 2025 e 2/3 da população mundial seriam afetados.
Os resultados fazem parte do estudo Avaliação do consumo de insumos (água, energia elétrica e gás) em chuveiro elétrico, aquecedor a gás, chuveiro híbrido solar, aquecedor solar e aquecedor de acumulação elétrico, elaborado pelo Cirra. A pesquisa teve apoio do Grupo de Chuveiros Elétricos da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). (ambienteenergia.com.br)

sexta-feira, 18 de junho de 2010

BEN 2010: avanço da energia limpa

As fontes renováveis de energia responderam por 47,3% de toda a energia da matriz energética do país em 2009, segundo mostram os dados preliminares do Balanço Energético Nacional (BEN), divulgado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) no final de abril.
De acordo com a EPE, este é o maior percentual desde 1992, quando o uso da lenha e do carvão vegetal ainda era mais intenso.
Entre os fatores para o aumento das renováveis estão a redução da geração termelétrica e a retração da atividade industrial em setores como siderurgia e pelotização.
Isso contribuiu para o menor uso de insumos energético como o gás natural e o carvão metalúrgico.
Segundo o balanço preliminar, a demanda nacional de energia totalizou 249,9 milhões de toneladas equivalentes de petróleo (tep) em 2009, com queda de 3,4% em relação a 2008.
A oferta de energia não renovável caiu quase 6%, enquanto as renováveis, no período de comparação, tiveram retração de 0,6%.
Veja a íntegra dos resultados preliminares do BEN 2010 (ambienteenergia.com.br)

São Paulo projetará matriz para 2035

São Paulo inicia estudos para projetar matriz energética para 2035.
Até meados de 2011, o governo de São Paulo planeja concluir a Matriz Energética para o Estado em 2035. O objetivo do projeto é saber qual é o consumo de energia por fonte energética e setor econômico, já levando em conta a Política de Mudanças Climáticas aprovada pelo governo local. Um consórcio formado por quatro empresas, LCA, Consultores; Andrade & Canellas, Consultoria e Engenharia; I.X. Consultoria e Representações; e Repensa Consultoria, é o responsável pela elaboração dos estudos.
O trabalho envolverá ações como levantamento de dados, projeções, planos e políticas públicas existentes no âmbito nacional; levantamento de informações energéticas, tecnológicas, econômicas e de eficiência; consolidação dos dados e das séries históricas (1980-2005); consolidação das principais tendências mundiais na elaboração dos planos estatais/governamentais na área energética; e desenvolvimento e implantação do sistema.
“O objetivo é elaborar a matriz estrutural de São Paulo. Com o projeto, será possível traçar um planejamento para a expansão energética do estado, vinculada ao desenvolvimento da Política de Mudanças Climáticas”, comenta Jean Cesare Negri, coordenador de Energia da Secretaria de Estado de Saneamento e Energia do governo do Estado de São Paulo. “A tendência é manter ou até ampliar a renovabilidade da matriz”, acrescenta.
Apesar do atraso no início do trabalho do consórcio, São Paulo não pára e coloca em marcha uma série de iniciativas para fazer um retrato fiel de sua matriz energética. E a fotografia já vem sendo feita para levantar os potenciais eólicos, de microgeração, de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e dos aterros sanitários, além da bioenergia para oferta dos produtos provenientes da cana-de-açúcar.
Depois de um ano de trabalho, em abril foi concluída a instalação de sete torres de medição eólica, localizadas em sete regiões do estado, como Campinas, Buritizal e Echaporã. Segundo Negri, o projeto vai colher dados ao longo de um período de um ano para apontar o potencial eólico de São Paulo. “Com isso, o estado vai ganhar seu atlas eólico”, diz. Junto com o mapeamento da velocidade e características do vento, as torres também serão usadas para mapear o potencial solar do estado.
O potencial para microgeração de energia também faz parte do escopo. Negri conta que o governo está fechando convênio com a CAF (Corporação Andina de Fomento) para fazer a identificação do potencial energético das microbacias do estado. O projeto vai utilizar imagens de satélites em 3 D, que serão produzidas com a tecnologia da U.S. Geological Survey. A tecnologia garantirá a precisão dos estudos. “Com isso, será possível levantar o potencial das microbacias, usando uma escala menor”, observa Negri.
O estado também está evoluindo no levantamento do potencial remanescente para geração via pequenas centrais hidrelétricas. Após uma catalogação dos projetos já inventariados pelas empresas do estado, conta Negri, já foi possível identificar a existência de 1.750 MW. Desse total, 1,2 mil encontram-se com registro ou em fase de implantação em São Paulo.
São Paulo: matriz mais renovável
A Matriz Energética 2020, relatório sobre projeção do consumo de energéticos no estado de São Paulo para daqui a 10 anos a partir dos dados de consumo de energéticos entre 1980 e 2007, mostrou que o estado segue na estrada da renovabilidade. Segundo Jean Cesare Negri,coordenador de Energia da Secretaria de Estado de Saneamento e Energia do governo do Estado de São Paulo, o percentual de 53% foi possível graças à exploração do potencial hidráulico e dos produtos oriundos da cana-de-açucar. A expectativa é que, no cenário da Matriz 2035, este percentual de renováveis salte para 57%. (ambienteenergia.com.br)

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Dos alimentos à energia: a revolução que queremos

Dos alimentos à energia: a revolução que queremos. Diálogo entre Carlo Petrini e Jeremy Rifkin.
Eis como a exploração das fontes renováveis e uma radical re-educação alimentar, com um menor consumo de carne e uma redução dos desperdícios, podem dar uma chance ao mundo. Face a face, o economista norte-americano Jeremy Rifkin e o fundador do Slow Food, Carlo Petrini, compartilham a rejeição aos sistemas centralizados. E pensam juntos sobre uma profunda transformação dos comportamentos. Com a ajuda da Internet.
O diálogo foi publicado no jornal La Repubblica, 09-06-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Carlo Petrini – Caro Jeremy, vejo que há extraordinárias semelhanças e paralelismos entre a nova política energética que você promove e a nova política alimentar que buscamos levar adiante com o Slow Food. A política alimentar, de fato, deve se basear no conceito de que a energia primária da vida é o alimento. Se o alimento é energia, então devemos nos dar conta de que o atual sistema de produção alimentar é falimentar. As duas primeiras ideias que, a meu ver, compartilhamos são a rejeição a sistemas muito centralizados e o retorno a uma concepção holística da nossa existência neste planeta.
O verdadeiro problema é que, de um lado, há uma visão centralizada da agricultura, feita de monoculturas e criações intensivas altamente insustentáveis, e, de outro, foi completamente rejeitada a lógica holística, que deveria ser inata à agricultura, para se unir a lógicas mecanicistas e reducionistas. Uma visão mecanicista acaba reduzindo o valor dos alimentos a uma mera commodity, uma simples mercadoria. É por isso que, no que se refere aos alimentos, já quase perdemos a percepção da diferença entre valor e preço: todos prestamos muita atenção a quanto ele custa, mas não mais ao seu significado profundo. Além disso, com esse sistema, reduzimos os agricultores em todos os cantos do mundo ao desespero. Não se pode seguir em frente desse modo. É preciso mudar de paradigma.
Jeremy Rifkin – É interessante o que você diz, Carlo, porque nos cursos que eu dou aos superadministradores de grandes empresas globais na mais antiga Escola de Economia do mundo [Warthon, na Pensilvânia], procuro justamente reorientar o pensamento. A primeira coisa que eu sempre digo é que, na base da economia do planeta, está a fotossíntese. Com a energia do sol, criamos a vida. Existimos há apenas 175 mil anos e representamos só 0,5% de toda a biomassa viva do planeta, mas estamos usando 24% de toda a energia gerada pela fotossíntese na terra. Somos monstros. Estamos devorando o nosso planeta. Continuando nesse ritmo, nos próximos 20 ou 30 anos, chegaremos a usar a metade da fotossíntese do planeta. Não é possível.
A agricultura, nesse processo, é central, porque está na base da civilização. Só se você tiver uma forte sociedade agrícola você poderá continuar criando uma sociedade industrial em cima dessa estrutura. E, assim, uma sociedade de serviços. Se a base desmorona, isto é, a agricultura baseada na fotossíntese, toda a pirâmide entra em colapso. Nós produzimos o nosso alimento em um sistema energético muito centralizado, com uma grandíssima dissipação de energias fósseis. Essas energias são concentradas e distribuídas do centro para a periferia. A sua exploração pressupõe uma alta intensidade de capitais, que determina uma organização verticalista. Vivemos em um regime energético dentre os mais patriarcalistas e centralizadores da história.
Você tem razão, a agricultura, por sua natureza, não é centralizada. Ao invés disso, buscou-se transformá-la para torná-la compatível com esse regime energético: criou-se a “agroindústria”, e a divorciamos completamente da natureza, quase como se o meio ambiente fosse o inimigo. Não é por acaso que desenvolvemos os atuais pesticidas depois da II Guerra Mundial. Antes, os utilizamos para fazer a guerra e depois para a agricultura. A nossa agricultura é baseada em um modelo de guerra. Pelo contrário, o que mais me impressiona no movimento Slow Food é justamente a abordagem holística com relação aos alimentos.
Carlo Petrini – Pense que, por causa disso, muitas vezes nos acusam de passadismo. Mas eu acredito que o passado não deve ser esquecido. Por exemplo, seria necessário voltar à atitude dos agricultores que projetavam as atividades a serem implantadas na sua propriedade. Era uma visão que partia de uma abordagem complexa, de atenção às interconexões, que obtinha a maior eficiência do meio ambiente ao seu redor sem comprometê-lo. O homem colaborava com a natureza. Quando eu ouço as suas teorias sobre a energia, parece-me que novamente é este o conceito: nós não podemos nos mover de maneira monoprodutiva. Devemos seguir o exemplo dos agricultores que decidiam o que fazer nas suas propriedades, e essa poderia ser uma boa prática cultural a ser experimentada em todos os âmbitos humanos. Significa re-encontrar aquilo que o meu amigo Wendell Berry define como “espírito de adaptação local”.
Jeremy Rifkin – Temos uma geração que está crescendo com a Internet. Uma revolução com relação à comunicação centralizada em que eu e você crescemos: rádio, cinema, TV. Tudo, de cima a baixo. Hoje, pelo contrário, os jovens, com um Blackberry ou um iPhone na mão, podem criar a sua informação, os seus vídeos, áudios e textos, armazená-los em formato digital e compartilhá-los. Essa revolução é distribuída, é “open source”, é colaborativa e ocorre em territórios virtuais que são bens comuns compartilhados, “commons”. Uma vez, também na agricultura e em todas as outras atividades econômicas, as pessoas compartilhavam os “commons” e recolhiam seus frutos coletivamente.
Depois, a agricultura também se tornou egoísta, materialista. A verdadeira natureza humana, ao contrário, se dá pelo fato de que nascemos biologicamente interconectados, somos as criaturas mais empáticas do mundo. O que o Slow Food faz, e é a primeira vez que eu o vejo na minha vida, é tomar essa guia base da empatia e estendê-la às nossas escolhas alimentares, à nossa Terra Mãe, a todas as formas de vida sobre este planeta.
Carlo Petrini – Quando me perguntam como foi possível, sem grandes recursos, realizar uma rede como a da “Terra Madre” [rede de comunidades do alimento do movimento Slow Food], que hoje conta com mais de seis mil comunidades em 153 países do mundo, eu respondo que as duas colunas de sustentação são a inteligência afetiva e uma anarquia austera. A inteligência afetiva nada mais é do que a empatia da qual você fala, a força de uma fraternidade que, não esqueçamos, foi o terceiro valor da Revolução Francesa. Mas foi também o mais esquecido.
Hoje, estamos cheios de inteligência racional, e falta a inteligência afetiva. Por anarquia austera, entendo a liberdade por parte das comunidades de serem o que são até o fundo. Isso significa, principalmente, defender, evidenciar a soberania alimentar e a do conhecimento: cada povo, cada comunidade tem o direito de escolher o que comer, o que semear e como comunicar. Tem o direito à sua própria identidade. Neste momento histórico, além disso, parece-me que a soberania do conhecimento é fundamental.
Acredito que os novos instrumentos, como a Internet e o acesso mais imediato aos audiovisuais, podem nos fazer sair da monocultura da escrita, que não havia nas sociedades agrícolas, habituadas à comunicação oral. Com a monocultura da escrita, foram excluídas do conhecimento pessoas como os indígenas, os agricultores, as mulheres, os idosos e agora também aqueles jovens protagonistas da nova revolução da comunicação, que compartilham na Internet, mas ainda são excluídos da cultura “oficial”. É preciso construir velozmente os celeiros da memória, porque as sabedorias e os saberes dessas pessoas ainda podem ser reunidas com os novos instrumentos e colocadas à disposição de todos.
Jeremy Rifkin – Na história da humanidade, ao mesmo tempo que com todas as revolução da comunicação e da energia, mudou também a agricultura, junto com o nosso conhecimento do tempo e do espaço. Isso ocorreu quando passamos da sociedade de caçadores-coletores para uma sociedade de pequena agricultura, depois na passagem para a grande agricultura que se servia da irrigação e, por fim, com o salto para a agricultura centralizada. Em todos os lugares em que isso ocorreu, isso correspondeu a uma revolução das comunicações.
No México, no Egito, na China, na Mesopotâmia, com a agricultura permanente, a escrita teve que se desenvolver. No início do século XIX, quando tivemos que lidar com a primeira revolução industrial e tivemos que converter comunicação e energia, mudou a agricultura: tivemos a convergência entre a imprensa e o uso do vapor e do carvão. Depois, as tecnologias mecânicas na metade do século XIX coincidiram com uma ulterior centralização devido à introdução da química na agricultura, até uma terceira geração, com os transgênicos. Como rompemos essa escalada? Estamos no início da terceira revolução industrial, de um novo modelo de comunicação que está convergindo rumo a um novo regime energético, distribuído.
Quando a comunicação distribuída gerir a energia distribuída, então essa terceira revolução desdobrará todo o seu potencial de crescimento econômico. As energias renováveis se encontram em cada metro quadrado da terra, todos os dias, em todos os lugares: o vento, o sol, a água, os oceanos. Milhões de pessoas poderão produzir a sua energia nos seus edifícios e poderão distribuí-la de maneira racional. O que fizermos com a energia poderá ser replicado na agricultura. A terceira revolução industrial converge com a da agricultura distribuída, um novo modelo para servir às comunidades urbanas e conectá-las com as agrícolas, para movermo-nos rumo a uma agricultura ecológica.
Carlo Petrini – Em 2008, quando encerrei a terceira edição do Terra Madre, defendi, diante de oito mil agricultores do mundo, que a terceira revolução industrial começaria a partir deles, por meio dos saberes e da experiência de quem trabalha com o alimento e pelo alimento. Dizia isso também porque precisamos de uma atitude diferente com relação ao nosso sistema alimentar. A crise que estamos vivendo é uma crise entrópica histórica. O desperdício de energias ocorre sobretudo por causa do sistema alimentar, em uma quantidade de desperdício que não tem igual na história da humanidade. Nós produzimos alimentos para 12 bilhões de seres vivos, enquanto somos sete bilhões. Um bilhão sofre de fome, e mais de um bilhão, ao invés, tem problemas ligados a sobrealimentação, diabetes e obesidade.
As quantidades do desperdício cotidiano são impressionantes: quatro mil toneladas de alimentos comestíveis por dia na Itália, 22 mil nos EUA. Também é preciso, portanto, uma profunda mudança de paradigma individual. Confundir o preço dos alimentos com o seu valor destruiu a nossa alma. Se o alimento é uma mercadoria, não importa se o desperdiçamos. Em uma sociedade consumista, tudo se joga fora e pode ser substituído. Mas o alimento não funciona assim. Do ponto de vista educativo, o trabalho é, por isso, enorme. Não sairemos da crise entrópica se não mudarmos profundamente os paradigmas a partir das nossas vidas individuais.
Jeremy Rifkin – Dizem-nos que há muitas pessoas no mundo e que não há terra suficiente para todos, mas não entendem que um terço de todo o alimento produzido no planeta é ração para bovinos que depois nós teremos que comer. A FAO também disse que a indústria da carne é a segunda causa principal das mudanças climáticas, mas, ao mesmo tempo, defende que a produção de alimentos deve duplicar nos próximos 30 anos para poder alimentar o planeta. Desse modo, teremos 67% da terra cultivada para produzir rações animais!
Então, o que podemos fazer é começar a mudar a nossa dieta. Devemos nos lembrar de que somos onívoros. Somos “projetados” para comer vegetais e integrar essa dieta com pequenas quantidades de carne. Durante 97% da nossa história, fomos coletores-caçadores, não caçadores-coletores. Qual dieta podemos praticar hoje? A mediterrânica por exemplo, mas existem também a dieta asiática e a africana, que se baseiam nas mesmas proporções entre vegetais e animais. O que você disse sobre o valor do alimento é crucial. O alimento expressa a identidade das pessoas. No meu país, com o “fast food”, perdemos o nosso sentido de identidade, e o nosso alimento deixou de ser uma extensão do nosso ser. Esse alimento não é humano em nenhum sentido da palavra.
Carlo Petrini – Chegamos a patentear a vida. É preciso ser inflexível: não se pode patentear a vida. Estou convencido de que é necessário implementar um diálogo entre os dois reinos do conhecimento: a ciência oficial, que se tornou muito reconhecida, e os saberes tradicionais, que de maneira empírica implementaram economias da subsistência, vistas com uma atitude de superioridade. Lembremo-nos, porém, que elas deram de comer a milhões de pessoas durante séculos. Então, penso que chegou o momento para uma dialética. Mas a ciência não pode se colocar em um nível superior.
Jeremy Rifkin – Inicialmente, no meu país, as universidades e as escolas de agricultura se estruturaram sobre a sabedoria dos agricultores, tomaram o seu conhecimento e se tornaram capazes de disseminá-lo. Tudo isso agora mudou. Agora, essas escolas são controladas pelas grandes companhias que manejam a ciência da vida. Se acreditamos na agricultura ecológica, devemos dizer “não” a qualquer forma de patente sobre a vida e sobre os genes. A vida não pertence a uma tribo local, não pertence a uma nação ou a uma empresa como a Monsanto. Pertence à evolução deste planeta. Esse é o verdadeiro desafio para as gerações futuras: vetar as patentes e tornar livre e compartilhada a informação sobre os fundos genéticos, para compartilhar a nossa responsabilidade, porque nós somos os administradores da vida sobre a terra.
Carlo Petrini – Nos Estados Unidos, vejo um grande renascimento dessas temáticas, justamente na pátria do “fast food”. A atenção ao alimento e à nova agricultura, aos mercados agrícolas, deu vida a um movimento muito forte, que está surgindo de maneira explosiva. Vejo isso também porque, lá, o Slow Food está tendo um sucesso surpreendente em termos de adesões. Como você lê essas novas tendências? Você confirma isso?
Jeremy Rifkin – Há muitos valores que estão se agregando, por meio do trabalho dos diversos movimentos. Temos uma geração de jovens consumidores que quer só alimentos biológicos. O que os move é o desejo de saúde. Foi publicado um estudo no mês passado que relaciona os pesticidas com os distúrbios do comportamento e os déficits de atenção. Os pais não querem que os filhos tenham esses distúrbios, portanto evitam os alimentos da agricultura industrial. Além isso, existe o movimento pelo bem-estar animal, que diz: o que é ruim para as plantas e para os animais também é ruim para o homem; o que fazemos para as plantas e para os animais nos processos de agricultura industrial é cruel e voltará para nós.
O terceiro movimento é o ambientalista, que começou a ver as terríveis consequências da agricultura sobre a água e sobre os solos: as contaminações por pesticidas e fertilizantes que destroem ecossistemas inteiros. Esses três movimentos estão surgindo juntos, são muito poderosos e são todos baseados na consciência da biosfera. É o que me dá esperança. Em todas as escolas do mundo, seria preciso ensinar que tudo o que fazemos impacta dramaticamente na vida de qualquer outra criatura. Não somos isolados, autônomos, centrados no nosso interesse, predadores e individualistas, mas somos criaturas sociais, conectadas com as outras criaturas e com toda a biosfera que sustenta a nossa vida.
Carlo Petrini – O que você pensa sobre o desastre provocado pela plataforma da BP no Golfo do México? Acho-o terrificante.
Jeremy Rifkin – Catastrófico. Deveria ser um sinal de alarme para todos, nos Estados Unidos, mas também aqui na Europa e nos países em desenvolvimento. É como com a guerra no Vietnã, que despertou as consciências e fez nascer o movimento pacifista. Tenho confiança nos jovens: penso que está iniciando uma grande mudança no mundo. A velha política sempre foi dividida entre conservadores e não conservadores, entre direita e esquerda, mas essa é a nova geração que não se preocupa com ideologias e inclinações, é uma geração que cresce com a Internet e colabora nos seus espaços sociais como o Youtube e o Facebook. Estão levando adiante uma visão diferente, colaborativa, que compartilha as tecnologias e as coloca à disposição.
Carlo Petrini – Gosto muito da referência que você fez ao Vietnã, porque acredito que este é o novo pacifismo, que deve frear a nossa guerra contra a natureza.
Jeremy Rifkin – Stop war on nature! [Parem a guerra contra a natureza]. Você tem razão. Lutamos contra a natureza por muito tempo. É hora de acabar com isso e de nos comportarmos como verdadeiros seres humanos. Mandamos mensagens, ondas de rádios e várias outras coisas para o espaço em busca de outras formas de vida, esperando que alguém nos respondesse, mas ninguém nos respondeu. Procuramos por vida inteligente no universo, enquanto não nos damos conta de que ela está diante dos nossos olhos. É a vida das plantas com a sua beleza, a vida dos animais, dos mamíferos que têm sentimentos: estamos rodeados pela vida em todos os lugares, pelo mistério da vida. (EcoDebate)

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Um poste que gera sua própria energia

Um avião colocado sobre alguns postes nas proximidades do Palácio De Iracema, do governo do Ceará, chama a atenção de quem passa por perto. Se atrai olhares pelo inusitado, a ideia esconde outras credenciais para quem busca o uso racional da energia, com menos impacto ambiental e aproveitando o potencial que o local tem. Desenvolvido pelo empresário Fernando Ximenes, da Gram Eollic, o poste híbrido com avião funciona gerando energia eólica e solar.
A solução, cuja ideia surgiu na época do “apagão em 2001, alimenta, no mínimo, mais dois postes, com autonomia de 70 horas. “Os benefícios são muitos, para o meio ambiente é imenso, imagine não poluir, não emitir resíduos sólidos, líquidos, gasosos, nem radioativos ou térmicos e nem sonoros”, comenta Ximenes, que bancou o desenvolvimento do produto do próprio bolso.
O poste híbrido, com nome técnico de Produtor Independente de Energia (PIE), tem modelos com 12 e 18 metros de altura.
O avião colocado sobre o equipamento é feito de fibra de carbono e alumínio especial, tendo nas asas células solares que captam os raios ultravioletas por meio do silício, armazenando a energia produzida em uma bateria localizada na parte inferior.
“O uso do avião é por conta de ele ter uma aerodinâmica favorável”, observa o empresário. Neste caso o nível de geração de energia é de até 400 watts. As hélices do avião, a assim como uma pá de eólica, podem gerar até 1 mil watts.
“Um quilômetro de poste hibrido com avião independente de energia é menor que o convencional, e se computar o custo indireto da transmissão de energia e das subestações, ele fica ainda menor em comparação com o convencional”, explica Ximenes.
Nesta entrevista à Agência Ambiente Energia, ele fala dos benefícios do poste híbrido, do trabalho da empresa para colocá-lo no mercado e de suas vantagens ambientais. Sem impactos ambientais e capaz de gerar uma economia de até R$ 21 mil, a solução tem um grande espaço no Brasil, que tem um grande potencial eólico e solar. E o Ceará, sem dúvida, larga bem na frente por sua tradição com eólicas e sua incidência solar.
Agência Ambiente Energia – Como funciona o poste híbrido?
Fernando Ximenses - O poste hibrido (eólico e solar) com o avião, funciona produzindo ambas energias e alimentando no mínimo mais dois postes, com autonomia para 70 horas.
Agência Ambiente Energia – O que esta solução traz em termos de economia de energia e eficiência para este tipo de iluminação?
Fernando Ximenes – Este equipamento trás uma economia de tarifa de até R$ 21 mil, por quilômetro; dependendo das cargas instaladas e das tarifas cobradas pelas distribuidoras, trás também a independência do Sistema Interligado Nacional, podendo ser instalado em qualquer região do Brasil e do mundo.
A economia para o sistema interligado é de 4%, podendo triplicar este potencial, pois muitos trechos de rodovias, estradas, ruas e praças públicas não são iluminadas devido ao custo elevado de transmissão e subestações, inviabilizando vários acessos e projetos de iluminação.
Agência Ambiente Energia – Como está sendo a sua colocação no mercado?
Fernando Ximenes - A colocação do poste híbrido no mercado está sendo por meio de desenvolvimento de projetos em várias regiões do Brasil e da America Latina. Também estamos abrindo concessionárias independente de energia Gram-Eollic, em capitais.
Agência Ambiente Energia – O que a solução traz em termos de custos?
Fernando Ximenes - Os custos são acessíveis e variados, de acordo com cada projeto e suas necessidades. Um quilômetro de poste hibrido com avião independente de energia é menor que o convencional, e se computar o custo indireto da transmissão de energia e das subestações, ele fica menor ainda em comparação com o convencional.
Agência Ambiente Energia – Quais são os benefícios, além dos financeiros?
Fernando Ximenes - Os benefícios são muitos. Para o meio ambiente é imenso, imagine não poluir, não emitir resíduos sólidos, líquidos, gasosos, nem radioativos ou térmicos e nem sonoros. Não temos impacto ambiental nenhum, muito pelo contrário, o poste híbrido com o avião é decorativo. Podemos desenvolver várias nomenclaturas e design para os postes, de acordo com a cultura de cada região.
Podemos com o poste híbrido/avião economizar 4% em barragens hidroelétricas ou em termoelétricas e nuclear. Com isso, reduziremos o impacto ambiental das hidroelétricas que é incalculável, para a fauna, a flora, o ecossistema e economia de subsistência de uma região. Já nas termoelétricas reduzimos a poluição de emissão de gases, e nas nucleares reduzimos o problema do lixo nuclear. (ambienteenergia)

sábado, 12 de junho de 2010

Índia desenvolve biocombustível

Índia desenvolve biocombustível a partir de algas marinhas e do pinhão-manso.
Biodiesel do mar e do deserto
A Índia está investindo em pesquisas com algas marinhas e pinhão-manso (Jatropha curcas) a fim de transformá-los em matérias-primas viáveis para obtenção de biodiesel, segundo destacou Pushpito Ghosh, pesquisador da Central Salt & Marine Chemicals Research Institute.
“Temos 1,1 bilhão de habitantes e não conseguimos suprir a demanda interna de açúcar. Ou seja, diferentemente do Brasil não há como produzir, na Índia, etanol a partir de cana-de-açúcar”, disse Ghosh durante o Workshop: Scientific Issues on Biofuels, realizado pela FAPESP em maio.
Outro obstáculo é a escassez de terras cultiváveis, a despeito do tamanho do país. Por conta disso, uma das principais apostas dos pesquisadores indianos para a produção de combustíveis alternativos está na água.
Ao apresentar taxa de crescimento de 5% a 9% ao dia, as algas marinhas permitem colheitas a cada 45 dias. “Tal produção não pode ser comparada a nenhuma outra cultura convencional”, disse.
Segundo Ghosh, a energia a partir das algas reduziria a pressão por terras, eliminaria o uso de pesticidas e não causaria demanda por água para irrigação como as plantações.
Em contrapartida, o especialista admite que ainda são necessários estudos para precisar os impactos ambientais que a cultura no mar pode causar ao meio ambiente. Entre as críticas recebidas pelo projeto indiano está a de que o cultivo de algas poderia impactar os sistemas de corais.
Além de ser fonte de biocombustível, as algas podem aumentar a produtividade de outras plantações, especialmente a da cana-de-açúcar, segundo uma experiência feita no país com grânulos de algas aplicados como biofertilizantes.
“Esses grânulos são considerados um fertilizante valioso, de grande impacto na produção”, afirmou Ghosh, comentando que o produto costumava ser utilizado apenas como espessante de alimentos.
Aproveitamento total
Outra fonte promissora de energia para a Índia é o pinhão-manso, também presente no Brasil. Para produzi-lo, os indianos utilizam regiões áridas e que não sejam utilizadas pela agricultura.
Um dos objetivos da pesquisa foi o aproveitamento integral do fruto. A casca do pinhão, que antes era descartada, passou a ser transformada em briquetes que são distribuídos à população em substituição à lenha.
Também as sementes que sobravam foram transformadas em torta fertilizante. Por fim, um subproduto da produção do bioetanol, a glicerina crua, recebeu um destino mais complexo: foi transformada em um polímero biodegradável.
A avaliação do biodiesel feito a partir do pinhão-manso apontou alto rendimento do combustível, aproximando-se do desempenho do diesel de origem fóssil, segundo Ghosh.
O pesquisador conta que, mesmo com um valor calórico 9% inferior ao seu similar oriundo do petróleo, o diesel do pinhão-manso apresentou eficiência e potência muito parecidas. Ghosh explica que isso se deve ao fato de o biodiesel desenvolvido apresentar uma conversão de energia mais eficiente.
O diesel de pinhão-manso foi testado em veículos diesel convencionais, sem que fosse preciso nenhuma adaptação nos motores. Um dos maiores desafios na pesquisa do uso do pinhão-manso como biocombustível é aumentar a produtividade do vegetal. Segundo Ghosh, o caminho encontrado pela Índia para crescer na área de energia renovável é eliminar desperdícios tanto de terras como em biomassa produzida. (EcoDebate)

Regras para certificação de biocombustíveis

Europa divulga regras para certificação de biocombustíveis
"Corte da cana-de-açúcar"
A Comissão Europeia (órgão Executivo da União Europeia) divulgou em 10/06/2010 uma série de regras que produtores e distribuidores de biocombustíveis deverão seguir para que seu produto receba a certificação de sustentabilidade do bloco.
As exigências serão válidas tanto para os combustíveis biológicos produzidos nos países europeus como para os importados e entram em vigor em dezembro, juntamente com a chamada Diretiva de Energias Renováveis, que determina que esse tipo de energia deverá responder por 20% da matriz energética da União Europeia (UE) em 2020 e por 10% do consumo de seu setor de transportes.
Os biocombustíveis não certificados poderão continuar sendo vendidos e consumidos no bloco a partir de esta data, mas não poderão ser incluídos na contabilidade da meta estabelecida pela diretiva.
Para o comissário europeu de Indústria, Günther Oettinger, isso funcionará como una espécie de sanção indireta, já que reduzirá o interesse dos países da UE por esses produtos.
Ao mesmo tempo, produtores e distribuidores europeus não certificados não poderão receber subvenções ou incentivos públicos.
Critérios
Para ser reconhecido pela UE, o biocombustível em questão deverá emitir ao menos 35% a menos de gases, com efeito, estufa em comparação aos combustíveis fósseis, uma porcentagem que aumentará para 50% em 2017 e 60% em 2018, no caso dos produzidos em novas instalações.
O valor deve levar em conta todo o processo produtivo, da plantação e transporte da matéria-prima até a entrega do produto final na bomba.
Não serão aceitos combustíveis fabricados com matérias-primas provenientes de florestas tropicais, áreas recentemente desmatadas, zonas úmidas ou com grande biodiversidade.
Todos esses critérios deverão ser controlados por auditores independentes e verificados anualmente, mesmo depois de concedido o certificado europeu, válido por cinco anos.
O reconhecimento dos produtos será feito pela CE e um grupo formado por um especialista de cada país europeu e poderá ser revogado em qualquer momento no caso de infração a alguma das determinações.
Ainda assim, organizações ambientalistas criticam o fato de que as auditorias serão organizadas e pagas pelos próprios produtores, exportadores ou distribuidores de biocombustíveis, o que pode colocar em dúvida a confiabilidade de suas conclusões.
Brasil
Os critérios europeus não deverão prejudicar as exportações brasileiras de etanol para a UE, que em 2009 ultrapassaram 800 milhões de litros, afirmou à BBC Brasil Emmanuel Desplechin, representante da União Nacional da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) para a UE.
"O etanol brasileiro não só cumpre como supera esses critérios. Ele gera mais de 90% a menos de emissões, quer dizer, muito acima do limite de 35% estabelecido pela UE e do valor padrão de 71% que a UE considera para o etanol de cana-de-açúcar em geral", disse.
No entanto, Desplechin admite que o país poderá ter dificuldades em comprovar que respeita as regras europeias, principalmente pela imprecisão de algumas exigências.
"Falta definir, por exemplo, o que se considera área com grande biodiversidade. Vamos ter que cumprir com esse requisito sem saber exatamente qual é sua definição", criticou. (EcoDebate)

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Energia termossolar

Energia termossolar: O Projeto Desertec de extrair energia solar do deserto ganha forma.
Usina termossolar, no Deserto Mojave, Califórnia, EUA
O deserto do Saara pode realmente atender ao apetite voraz da Europa por energia?
O projeto Desertec de energia solar visa fazer exatamente isso, mas há uma série de obstáculos. Expectativas extremamente otimistas agora estão sendo reduzidas à medida que o projeto começa a ganhar forma.
Quando o sol se ergue e ainda está brumoso sobre a Andaluzia, o futuro é particularmente visível. É quando raios de luz da espessura de troncos de árvores e tão aguçados quanto lasers cortam as brumas. Eles se unem pouco abaixo do topo de duas torres, a mais alta com 162 metros de altura, mais alta do que a Catedral de Colônia. Esses raios de luz não estão sendo emitidos por algum Ovni, mas são a essência da usina de energia solar mais avançada do mundo.
As torres estão cercadas por cerca de 2 mil espelhos voltados para o Sol. Cada espelho tem uma área de superfície de cerca de 120 metros quadrados e, como flores, eles seguem a luz, ao som de um motor que os orientam na direção de receptores no alto das torres. O feixe de energia solar, que atinge a temperatura de 250º C, atinge canos de aço pelos quais água é conduzida. A água evapora e movimenta uma turbina. A instalação, conhecida como PS20, é a maior torre de energia solar do mundo e gera eletricidade suficiente para 10 mil lares.
Não há nenhuma nuvem no céu nesta manhã de primavera, a 20 quilômetros a oeste de Sevilha. “Está fácil hoje”, diz Enrique Sales Rodriguez com satisfação, enquanto a torre opera a plena capacidade. Rodriguez, um engenheiro, monitora a tecnologia a partir de uma sala de controle na base da torre. Ele reage rapidamente sempre que grandes nuvens aparecem no céu, fazendo ajustes para que o sistema extraia o máximo de energia possível dos raios de sol. Tudo é projetado para aumentar a colheita de luz. Caminhões equipados com grandes escovas azuis de limpeza estão circulando constantemente entre as fileiras de espelhos. “Nós limpamos 24 horas por dia”, diz Rodriguez.
Recepção extasiada
As torres solares da usina Solúcar, que é de propriedade do grupo espanhol Abengoa, são o sistema mais futurista que a indústria solar pode oferecer atualmente. Os cientistas amam esta tecnologia, porque é capaz de converter bastante calor solar em eletricidade.
A Solúcar é uma espécie de protótipo para a Desertec, o megaprojeto de produção de energia do século 21. O conceito ousado visa fornecer para Europa energia limpa e renovável na forma de energia solar do Saara. Ela tem a capacidade de evitar a crise de energia e deter a mudança climática, combatendo simultaneamente a pobreza na África. Sem causar surpresa, tanto especialistas quando políticos aplaudiram quando 12 empresas deram início à Iniciativa Industrial Desertec em meados do ano passado. O consórcio inclui corporações multinacionais como Siemens, grandes bancos como o Deutsche Bank e gigantes de energia como E.on e RWE. Todos estão ávidos para estarem envolvidos, se e quando o sonho se tornar realidade.
A chanceler alemã, Angela Merkel, ficou entusiasmada, o presidente da Comissão Europeia ficou extasiado e as pessoas comuns ficaram fascinadas. O plano prevê que a Europa obtenha quase toda sua eletricidade de fontes renováveis em 40 anos, com uma parcela considerável dela vindo do Saara. Para muitas pessoas, o sonho é ainda mais momentoso do que o pouso na Lua. Mas, a um custo estimado quase inconcebível de 400 bilhões de euros, ele também seria mais caro.
Algum dia as usinas no Saara poderiam fornecer 700 terawatts-hora de energia por ano à Europa, mais do que toda a energia combinada gerada por 100 usinas nucleares. Inicialmente, parecia que o projeto poderia ter início imediatamente, com a gigante alemã de resseguros Munich Re fornecendo os fundos, o Deutsche Bank fornecendo empréstimos e a Siemens construindo uma usina imensa de energia solar atrás da outra nas areias do Saara.
Expectativas imensas
Isso, ao menos, foi o que os governos do Norte da África foram levados a acreditar. “A Desertec enfrenta um problema, porque as expectativas públicas são grandes demais”, diz Mike Enskat, que coordena questões de energia no Norte da África para a Agência Alemã para Cooperação Técnica (GTZ). As pessoas ali, diz Enskat, “pensaram: aí vem a Desertec e ela despejará bilhões ao redor”.
Mas não é assim tão fácil. Basta visitar o escritório em Munique da Iniciativa Industrial Desertec para perceber rapidamente que o futuro ainda está longe. “É uma pequena nova empresa, uma sala com oito pessoas presentes”, disse o porta-voz da Desertec, Alexander Mohanty. O escritório está tão lotado que ele precisa sair até o corredor quando deseja dar um telefonema em paz. Cada uma das empresas participantes paga €150 mil por ano para um fundo, o tipo de soma que empresas como Siemens e RWE poderiam pagar a partir de sua caixa de pequenas despesas. O presidente-executivo da Desertec, Paul van Son, um holandês cortês, é o primeiro a diminuir as expectativas. “Nós não somos investidores”, ele diz, “e não somos desenvolvedores de projeto”.
O que então eles são?
“Nós somos uma ideia”, diz Van Son, “um movimento”. Por ora, os discípulos da luz se mantêm ocupados fazendo lobby junto ao governo alemão, à UE e outros governos na Europa e no Norte da África, na esperança de descobrir o que exatamente a Desertec deve pedir, e que condições devem primeiro ser cumpridas para transformar a ideia em realidade. Planos iniciais de construção também foram produzidos.
Dependente dos contribuintes e consumidores
As empresas da Desertec querem investir, mas apenas se houver compromissos de compra e preço, e há garantias e apoio de organizações como o Banco Mundial e fundos climáticos. A Desertec não se materializará sem dinheiro dos contribuintes e dos consumidores de energia. E a Desertec também é dependente dos países da UE substituírem suas políticas nacionais de energia por uma política de energia europeia. O projeto também exigirá encontrar uma forma de lidar com governos norte-africanos como o da Líbia, que não são exatamente conhecidos como modelos de democracia.
O Marrocos, em particular, está sendo cogitado para os projetos-teste nos próximos anos. Qualquer um pode participar do processo de licitação para esses projetos, não apenas as empresas da Desertec. Assim que a experiência obtida a partir dos projetos-piloto melhorarem a tecnologia e reduzirem os custos, a próxima rodada de licitações poderá começar.
Mesmo aí, as imensas usinas de força da Desertec, cujas imagens têm circulado pela mídia nos últimos meses, ainda não se materializarão. Se a abordagem provar ser bem-sucedida e começar a construção em grande escala, ela provavelmente não será na forma de algumas poucas usinas de gigawatts. Em vez disso, é mais provável que milhares de usinas de força de porte médio, financiadas por um grande número de investidores, brotem em muitos locais no deserto. Quanto muito, o logo da Desertec estará afixado nas usinas como uma espécie de selo de aprovação ambiental. As próprias usinas de força serão construídas e pagas por outros. “Nós somos desbravadores”, diz Van Son. “Então nós entregaremos tudo ao mercado.”‘Mais realista’
Isto não é um desenvolvimento tão extenso quanto muitos acreditavam até agora, mas é muito mais realista, diz Fritz Vahrenholt, que comanda a divisão de energia renovável da RWE. Ele diz ter ficado incomodado com o “otimismo exagerado” associado ao projeto Desertec, e que não está convencido de que a Europa obterá uma parcela significativa de suas necessidades de energia com eletricidade vinda do Saara em um prazo de 15 anos. Todavia, diz Vahrenholt, a RWE agora vê o projeto “com uma confiança mais significativa do que no passado”.
Este otimismo é alimentado pelas expectativas de que a tecnologia termossolar em breve se tornará competitiva. Os especialistas reconhecem que os custos, atualmente em cerca de 20 centavos de euro por kilowatt-hora, serão reduzidos pela metade na próxima década. Isso tornaria a eletricidade gerada por tecnologia termossolar quase duas vezes mais cara do que a energia eólica (que atualmente custa cerca de 6 centavos por kilowatts-hora), mas consideravelmente mais barata do que a eletricidade fotovoltaica gerada pelos painéis solares cintilantes instalados em telhados por toda a Alemanha, apontados para os céus frequentemente nublados do país.
Todavia, os fotovoltaicos são um problema para a Desertec, porque eles consomem financiamento potencial para o projeto. Nos próximos 20 anos, os fotovoltaicos custarão aos consumidores de eletricidade alemães cerca de 100 bilhões de euros em consequência da Lei de Energia Renovável de 2000 do país, que garante preços fixos para eletricidade renovável fornecida à rede, apesar dos fotovoltaicos serem responsáveis por pouco mais de 1% da oferta de energia alemã. “Se o dinheiro fosse investido na Desertec, bem mais energia seria gerada a preços substancialmente mais baixos”, diz Vahrenholt.‘Imbatível’
“Eu me considero um pioneiro dos fotovoltaicos e realmente tenho uma queda pela tecnologia, mas o apoio do governo a ela está completamente fora de controle”, diz Jürgen Schmid, diretor do Instituto Fraunhofer para Sistemas de Energia Solar, na cidade alemã de Kassel. “Nós estamos injetando somas intermináveis de dinheiro em uma tecnologia, apesar de haver alternativas que também são livres de emissões, mas são mais baratas.”
Schmid sonha com o dia em que a Europa poderá saciar sua sede por energia com uma mistura verde de energia eólica, energia solar do Norte da África e energia hidrelétrica da Noruega. Isso, ele diz, poderia ser obtido ao preço de quatro a cinco centavos por kilowatt-hora. “Então seremos imbatíveis”, diz Schmid.
O interesse em geração de eletricidade termossolar no deserto tem crescido rapidamente e grandes usinas já estão em construção no sul da Espanha, enquanto outras são planejadas para a Califórnia, Arizona e Nova México. “A curva de crescimento para a tecnologia solar é quase idêntica a da energia eólica, exceto que está acontecendo 10 anos depois”, diz Frank Mastiaux, presidente-executivo da E.on Climate & Renewables. “O investimento nessa tecnologia é uma necessidade estratégica para nós.”
O homem por trás da visão
A visão da Desertec nasceu em um apartamento no bairro de Blankenese de Hamburgo. Gerhard Knies, 72 anos, vestindo uma camisa xadrez vermelha e jeans, é tão ágil quanto um homem 20 anos mais novo. Knies trabalhou como físico no acelerador de partículas DESY em Hamburgo, onde tinha interesse “no que mantém o mundo unido em seu nível mais fundamental”.
Um homem como Knies está acostumado a fazer grandes perguntas e ele adora grandes respostas. A crise do petróleo e o desastre em Chernobyl o levaram a ponderar a respeito da vulnerabilidade das sociedades industriais. Ele calculou que a Terra recebe 10 mil vezes mais energia do Sol do que os seres humanos precisam. Hoje ele aponta para apresentação de slides mostrando um pequeno retângulo vermelho cercado pela vastidão da África, e diz que apenas três milésimos dos 10 milhões de quilômetros quadrados de desertos do mundo seriam suficientes para fornecer energia solar para toda a humanidade, o que representa uma área minúscula de apenas 20 metros quadrados por pessoa.
A mudança climática deu nova urgência às ideias de Knies. “A continuidade do uso de energia fóssil é um crime organizado contra o futuro”, ele alerta. Knies preparou conferências e obteve fundos para estudos junto ao Ministério do Meio Ambiente alemão. Ele conseguiu convencer o Centro Aeroespacial Alemão e o então presidente do Clube de Roma, o príncipe Hassan da Jordânia. “Eu era considerado um excêntrico”, diz Knies. “Quando cheguei ao mundo da energia solar, havia um clima desagradável. As pessoas apenas pensavam em quem obteria recursos de quem.”
Um pacto com o diabo
Mas Knies estava pensando em termos globais, mais amplos. Então ele deu um maior impulso às suas ideias quando concebeu o nome, Desertec, há três anos. Knies chama a iniciativa de “um grupo de autoajuda em sustentabilidade, porque os políticos são incapazes de fazê-lo. Eles são simplesmente lerdos demais”.
É simplesmente impossível salvar o clima com alguns poucos painéis solares nos telhados das escolas, diz Knies. “Atores globais” precisam se envolver, ele diz, mesmo se a cooperação com os grandes fornecedores de energia signifique fazer um “pacto com o diabo”. Este é o motivo para a Fundação Desertec ter sido colocada aos cuidados do Clube de Roma sem fins lucrativos, diz Knies.
A organização não busca somente solucionar o problema mundial de energia. A Desertec fornecerá mais do que eletricidade, diz Max Schön, presidente da Associação Alemã do Clube de Roma e proprietário de um negócio familiar em Lübeck, uma cidade do norte do país. Segundo Schön, a Desertec também mostrará que o “Oriente Médio e o Ocidente, que o Islã e a Cristandade podem trabalhar juntos”. A Desertec, diz Schön, criará empregos e melhorará a economia do Norte da África, reduzindo assim o fluxo de imigrantes econômicos para a Europa. E como as usinas solares também dessalinizam a água do mar, argumenta Schön, a Desertec também colocará um fim às guerras pela água. A meta agora, diz Schön, é convencer a indústria que estes são objetivos que valem a pena.
Van Son, o chefe da iniciativa industrial, já aprendeu essa lição. Ele também diz com entusiasmo que a Desertec tentará “unir os povos, culturas e governos”, mesmo aqueles no sul da África, porque eles também vão querer fazer parte do projeto.
Ambos os lados devem se beneficiar
Klaus Töpfer, um político da União Democrata Cristã (CDU) de centro-direita e ex-diretor executivo do Programa Ambiental das Nações Unidas, fica irritado quando ouve esse tipo de conversa mole. Como “consultor estratégico” da Desertec, ele prefere deixar questões de paz mundial para os outros. Ele está mais interessado em energia limpa, bons negócios e viabilidade. “Se for um projeto apenas para a Europa, não acontecerá. Se for um projeto apenas para a África, não haverá fundos”, ele diz, apontando que ambos os lados terão que se beneficiar com o projeto para que seja viável.
Na visão de Töpfer, as usinas de força na África devem primeiro produzir energia para a África. Não apenas os países africanos precisam eles mesmos de eletricidade, mas os cabos para a Europa ainda nem existem. O Ministério da Economia alemão, que criou uma força-tarefa para lidar com a coordenação entre o projeto Desertec e o governo, concorda. Segundo um porta-voz, a primeira prioridade deve ser “atender rapidamente à demanda crescente por eletricidade na região. A longo prazo, entretanto, a eletricidade do deserto certamente contribuirá para fornecer energia segura e boa para o clima para a União Europeia”.
Isso faz sentido politicamente, mas também torna o financiamento para o projeto mais complicado. No Norte da África, os governos frequentemente subsidiam o preço da eletricidade. No Egito, por exemplo, muitos consumidores residenciais pagam menos de 1 centavo por kilowatt-hora. Isso significa que os investidores teriam que subsidiar o consumo na África para eventualmente lucrarem com as vendas para o norte. Segundo a estratégia da Desertec, a Europa receberia de 15% a 20% de suas necessidades de energia com eletricidade importada, cobrindo o restante com fontes locais de energia eólica, hidrelétrica, de biomassa e fotovoltaica.
Todavia, a energia termossolar da África seria um complemento perfeito para o mix de energia alemã, porque o vento, a principal fonte de energia renovável na Europa, não é confiável, enquanto o sol brilha constantemente na África.
‘Quanto mais próximo de Deus, melhor os raios’
O calor obtido pela energia termossolar pode ser armazenado por até 24 horas com pouca perda, usando um meio como sal líquido quente. Essa energia pode então ser liberada durante a noite ou quando o céu está encoberto. Esse é o motivo para uma usina de energia termossolar, assim como uma usina nuclear, ser capaz de cobrir a chamada carga de base (a quantidade mínima de energia que precisa ser produzida para atender a expectativa de demanda dos consumidores), explica o engenheiro de processo Franz Trieb, do Centro Aeroespacial Alemão. Segundo Trieb, isso a torna mais valiosa do que a energia eólica.
Trieb, que inicialmente estava cético, estava determinado a encontrar argumentos científicos para rebater a visão de Knies. “Mas não tive sucesso”, ele diz hoje.
Inicialmente, os críticos alertaram que o movimento das dunas de areia enterraria os espelhos solares e tempestades de areia arranhariam suas superfícies, os inutilizando. Mas essas preocupações eram infundadas, diz Trieb. Ele aponta que 80% dos desertos são livres de dunas, e que as rotas de migração dos nômades seriam, é claro, evitadas. Os melhores locais para os coletores solares são os platôs distantes das costas, onde o sol fornece 20% mais energia por hectare do que na Espanha. “Quanto mais próximo de Deus, melhor os raios”, diz o diretor operacional chefe da Desertec, Rainer Aringhoff.
Rainer Aringhoff espera que o primeiro projeto-piloto da Desertec possa ser construído perto da cidade marroquina de Ouarzazate, ao sul dos Montes Atlas. Ele seria resfriado por ar em vez de água, o que seria um benefício enorme no Saara, mas aumentaria o custo em 5% a 10%.
Salvaguardando as apostas
Todavia, as empresas de energia solar ainda estão salvaguardando suas apostas e permanecendo por ora na Andaluzia. A radiação solar é intensa lá e os números apenas somam. Os operadores das usinas espanholas recebem 27 centavos por kilowatt-hora de eletricidade solar. A E.on está investindo 550 milhões de euros na construção das primeiras usinas de força termossolares da região, com a previsão de 50 usinas concluídas até 2025.
“Nós estamos falando de projetos reais aqui, não de visões”, diz Rainer Kistner, chefe da divisão de energia solar da Ferrostaal. A empresa, com sede na cidade alemã de Essen, é a contratada para uma terceira unidade atualmente em construção da usina de energia solar Andasol no deserto espanhol, perto de Granada. As usinas operam segundo um princípio que os egípcios começaram a usar há 100 anos: cubas parabólicas feitas de espelhos produzem vapor, que movimenta as bombas de água.
O vapor já sobe das duas unidades da usina. A terceira unidade deverá ser concluída no próximo ano. Os trabalhadores no salão de produção montam os espelhos em estruturas de aço. A cada meia hora, um trator leva uma cuba de 2,7 toneladas para fora do prédio, passando por um terreno acidentado até chegar ao campo solar. Um guindaste então ergue os espelhos de 12 metros até uma base de concreto.
‘Um bom sistema’
Oliver Vorbrugg está monitorando o progresso em Andasol para a empresa solar alemã Flagsol. Ele circula entre as fileiras de espelhos em uma van prateada, tendo como fundo os picos cobertos de neve, a 3 mil metros de altitude, das montanhas Sierra Nevada. Seu celular toca uma vez a cada cinco minutos. Seu ring tone é uma versão do tema do filme “Era uma Vez no Oeste”, um lembrete adequado, diz Vorbrugg, de que partes do faroeste foram filmadas aqui, na base da Sierra Nevada.
Os operários estão no momento preparando as fundações das torres de resfriamento, enquanto técnicos estão soldando os canos. A maior precisão possível é necessária durante a montagem e produção, diz Vorbrugg, mas assim que a usina estiver em funcionamento, ela será “um bom sistema” e eficiente. Bastará apenas cinco meses para a usina produzir energia suficiente para compensar a energia consumida em sua construção. Depois disso, espera Vorbrugg, ela permanecerá funcionando por 25 a 30 anos.
Os dispositivos de armazenamento de sal são particularmente notáveis. Tanques prateados gigantes, com um diâmetro de até 36 metros, contêm potássio líquido e nitrato de sódio, sais minerais baratos que são normalmente utilizados em fertilizantes sintéticos. Os engenheiros na sala de controle da Andasol podem decidir quando conduzir o calor dos coletores solares diretamente para a turbina ou para o tanque de sal. Assim que os tanques de sal forem aquecidos, a usina solar pode operar em plena capacidade por sete horas usando apenas o calor armazenado nos tanques.
O desafio dos cabos
Além desses tanques de armazenamento, o projeto Desertec necessitaria de cabos para levar a eletricidade para os centros populacionais europeus. Os cabos seriam linhas de transmissão de corrente contínua de alta voltagem (HVDC), que podem transmitir eletricidade a uma distância de 1.000 quilômetros com perda de menos de 3%.
A mais longa dessas linhas submarinas de HVDC entrou em operação no final de 2008. Ela transmite energia da Holanda para a Noruega, ou vice-versa, dependendo de onde a eletricidade estiver mais barata em um determinado momento. O cabo Norned já recuperou mais de 10% de seu investimento inicial nos primeiros três meses de operação.
Envolto em plástico e protegido por um revestimento de metal, os cabos consistem de fios de cobre ou alumínio com espessura de 5 centímetros. Eles foram desenrolados por navios especiais e enterrados no fundo do oceano por robôs.Custos enormes
Os custos são enormes. O cabo de 200 quilômetros que conectará a fazenda eólica em alto-mar Bard, no Mar do Norte, à rede alemã custará cerca de 300 milhões de euros. Cerca de 80 a 100 desses cabos seriam necessários para levar toda a eletricidade que a Desertec alega que será gerada no Saara da África para a Europa.
“Instalar esse tipo de coisa pelo Mediterrâneo nem sempre será economicamente lucrativo”, diz Jochen Kreusel, do ABB Group, que forneceu o cabo Norned. “Neste caso, cabe à sociedade estabelecer as condições básicas certas”, para que a instalação dos cabos faça sentido economicamente.
Uma disputa entre a França e a Espanha que se desenrola há anos em torno da construção de um cabo de alta performance nos Pirineus mostra quão difícil isso pode ser. Além disso, iniciativas dos cidadãos estão constantemente bloqueando ou atrasando novos projetos por toda a Europa. “A simples ampliação de uma linha na Alemanha leva 15 anos, incluindo todos os procedimentos de desapropriação”, diz Jürgen Schmid, o cientista do Fraunhofer. “Isso poderia arruinar todo o projeto.”
Empresas alemãs na liderança
Todavia, no Marrocos, que não possui quase nenhum recurso de combustível fóssil, a Desertec atraiu muito interesse. No ano passado, os marroquinos aprovaram seu próprio plano solar, sob o qual o país, com apoio do Banco Mundial, instalará 2 mil megawatts de energia solar até 2020. As empresas da Desertec também esperam que um país como a Itália, que dificilmente cumprirá sua meta climática estabelecida pela União Europeia, poderia reduzir sua pegada ambiental com energia limpa da Tunísia.
Se o boom de fato ocorrer, empresas alemãs, que são líderes mundiais em tecnologia solar, serão as primeiras a se beneficiar. Gigantes como Siemens estão envolvidas no setor, mas também empresas menores, especializadas. A Flagsol de Colônia produz dispositivos de controle solares, a empresa bávara Schott Solar produz receptores de calor para as cubas solares, e a Solar Millennium, com sede em Erlangen, no sul da Alemanha, fornece serviços de desenvolvimento de projeto. As empresas alemãs já controlam um terço do mercado mundial de energia termossolar.
Quando o Instituto Wuppertal para o Clima, Meio Ambiente e Energia calculou as receitas projetadas para as empresas solares alemãs no ano de 2050, segundo o melhor cenário possível, ele chegou a um número astronômico: 2 trilhões de euros. (EcoDebate)