domingo, 6 de junho de 2010

Montadora nacional volta ao debate

Carro elétrico ressuscita no governo a ideia de que o Brasil deve aproveitar as mudanças por que passará a indústria automobilística.
Divididos, BNDES quer incentivar o carro elétrico, mas Lula tem dúvidas sobre sua viabilidade.
Dividido sobre a conveniência de dar incentivos aos carros elétricos, o governo avalia a possibilidade de as novidades tecnológicas viabilizarem o nascimento de uma montadora nacional, nos moldes de uma Embraer, a Empresa Brasileira de Aeronáutica.
O ministro de Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, está engajado na oferta de dinheiro público para a pesquisa da tecnologia dos carros elétricos e vê nas mudanças por que passa a indústria automobilística no mundo uma "oportunidade" para empresas nacionais entrarem no negócio. Hoje, o mercado brasileiro, um dos maiores do mundo, é dominado por multinacionais.
A ideia de uma indústria automobilística nacional começou a ser discutida no ano passado, a partir de uma esperada revolução tecnológica provocada pelos carros elétricos. Desde então, a defesa dos carros elétricos ganhou adeptos no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Em artigo recentemente publicado em livro, o presidente do banco, Luciano Coutinho, escreve que o BNDES deverá ter "papel de destaque" na introdução de veículos elétricos no país, não apenas com crédito, mas com participação acionária em empresas. "A proliferação de veículos elétricos parece ser uma interessante oportunidade para a entrada de outros players na indústria automotiva mundial", diz o artigo, que aposta em "profundas" mudanças na indústria automotiva e em oportunidades para a produção local.
Na semana passada, o anúncio de benefícios aos carros elétricos que seria feito pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi suspenso em cima da hora por pressão do ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, segundo fontes. O ministro, porém, nega que tenha pedido a suspensão do anúncio. Também houve discreto lobby das montadoras.
Diante da falta de acordo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva adiou o anúncio. Nova reunião para discutir o tema deverá ocorrer neste mês.
Acirram as dúvidas do presidente o temor de perda de mercado dos carros flex, objeto da grande campanha que protagonizou mundo afora em defesa do etanol. Na semana passada, em evento no Rio de Janeiro, Lula colocou em dúvida a viabilidade do carro elétrico. "É carro elétrico para cá, carro elétrico para lá, mas não se sabe ainda se alguém vai produzir em grande escala", disse, "Hoje, quase 100% dos carros vendidos no Brasil são flex. E 60% dos donos desses carros têm preferência pelo etanol que, definitivamente, virou uma parte importante da matriz energética brasileira", acrescentou Lula.
Subsídio. No debate do carro elétrico, a necessidade de subsídio do Estado é ponto pacífico. O motivo é o preço elevado desses veículos. Eles custam atualmente o dobro de um veículo tradicional, em média.
Em países como Estados Unidos, Japão, China e Alemanha, a compra dos elétricos conta com elevados incentivos. Aqui, o modelo pagaria 25% de alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), por ser de uma categoria sem produção local.
Independentemente do surgimento de uma montadora nacional, defensores do carro elétrico no governo estão de acordo sobre a necessidade de reduzir o tributo para a compra de veículos e componentes e, sobretudo, incentivar o desenvolvimento da tecnologia no País.
O presidente da Associação Brasileira de Veículos Elétricos, Pietro Erber, vê mais chances de uma indústria nacional prosperar na produção de ônibus ou de frotas de táxis ou de veículos de coleta de lixo e entrega de correios, por exemplo, além do filão das motocicletas elétricas.
"Viabilizar a indústria nacional é uma ideia bem-vinda, mas seria mais interessante o governo incentivar uma linha de veículos social e economicamente justificável; se vai subsidiar, não será carro de passeio", avalia.
PARA LEMBRAR
O Brasil abriga 12 fabricantes de automóveis e comerciais leves e seis de caminhões e ônibus que mantêm 22 fábricas em vários Estados. Juntas, produziram no ano passado 3,18 milhões de veículos, volume que fez do País o sexto maior fabricante mundial.
Todas as montadoras instaladas no País são multinacionais. A exceção são os grupos brasileiros Caoa - que bancou o investimento de uma pequena fábrica em Anápolis (GO) para a produção de modelos da coreana Hyundai - e MMCB, que tem licença para produzir veículos da japonesa Mitsubishi também em Goiás.
As demais empresas são subsidiárias de grandes conglomerados internacionais dos EUA, Japão, Alemanha, França, Suécia e Itália. A maioria das matrizes dessas empresas trabalha no desenvolvimento de carros elétricos e híbridos. As empresas afirmam que poderão transferir a tecnologia para o Brasil quando houver demanda local, sem necessidade de duplicar investimentos.
De 2010-2012, a indústria local vai investir US$ 11,2 bilhões, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Só em automóveis e comercias leves há mais de 400 modelos disponíveis no País, incluindo os importados.
Segundo o consultor Roland Berger, da consultoria de mesmo nome, o desenvolvimento completo de um automóvel custa cerca de US$ 650 milhões. (OESP)

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