Mobilidade Urbana: Em Paris, carros elétricos podem se juntar a bicicletas de aluguel.
Carro elétrico do Programa Autolib, em Paris
Jogadas no rio Sena, penduradas em postes de luz, queimadas e descartadas, milhares de bicicletas de cor cinza do programa Paris Velib – que oferece uma frota de bicicletas para alugar na cidade toda, bastando passar um cartão para isso – caíram vítimas do vandalismo. Nos dois anos desde a sua implantação em 2007, o programa contabilizou que 7.800 de suas 20 mil bicicletas originais foram roubadas e 11.800 vandalizadas de diversas formas.
Agora a prefeitura está tentando novamente: desta vez com carros elétricos. Bertrand Delanoe, prefeito socialista de Paris e criador do Velib, planeja implementar o novo programa de aluguel, Autolib, já em setembro do ano que vem.
A concorrência para operar o programa, que será estruturado como uma parceria público-privada, foi aberta este mês. Autoridades da cidade dizem que o vencedor será escolhido em dezembro por um grupo que representa 31 autoridades dentro e fora de Paris e que participam do projeto.
Quatro companhias estão competindo pelo contrato: a ADA, uma empresa de aluguel de carros e caminhões; a Bollore, empresa de logística e transporte com interesse no desenvolvimento do carro elétrico; a Veolia Transport Urbain, uma operadora de transporte público; e um consórcio composto pela locadora de veículos Avis, a autoridade de trânsito de Paris RATP, a companhia ferroviária nacional da França SNCF e a operadora de estacionamentos Vinci.
Proposto pela primeira vez em 2008, o Autolib será o maior programa de compartilhamento de carro elétrico nesses moldes, “um primeiro do mundo”, diz Annick Lepetit, chefe do grupo do Autolib e vice-secretária de transportes. O plano é ter 3 mil veículos de emissão zero localizados em mil estacionamentos em Paris e região metropolitana. As taxas de aluguel ainda não foram estabelecidas, mas autoridades municipais estimam que cada meia hora custará aproximadamente €$ 5, ou R$ 11, com uma mensalidade adicional de €$ 15 (R$ 33).
O Autolib funcionará de uma foma muito parecida à do Velib. Os inscritos no programa poderão pegar um carro em qualquer posto de aluguel, sem uma reserva, e deixá-lo em qualquer outro posto no final da jornada. Ambos os programas fazem parte da cruzada de Delanoe contra o que ele chama de “hegemonia” do automóvel, oferecendo soluções mais sustentáveis aos problemas do tráfego no centro da cidade.
Se o Velib propõe bicicletas, o Autolib, por sua vez, aumentará as apostas, oferecendo aos usuários carros elétricos caros, novos em folha.
Isso leva o problema do vandalismo a um outro nível, diz Bill Moore, editor-chefe do EVWorld, uma revista online sobre carros elétricos.
O vandalismo pelas peças dos automóveis, sobretudo, poderia ameaçar a viabilidade econômica do projeto: “o tráfico de baterias de lítio de fato pode ser um risco”, alertou Moore. A tecnologia dos veículos elétricos continua cara, e o preço da bateria de íon de lítio é estimado em €$ 14.600 (R$ 32 mil), comparados aos cerca de €$ 600 (R$ 1.300) necessários para substituir uma bicicleta danificada.
Entretanto, Moore acredita que a tecnologia está pronta para a produção em larga escala. “Grandes fábricas como a Renault definitivamente têm a capacidade industrial para fornecer uma frota de 3 mil”, disse ele. A Renault, da França, que planeja começar a produção comercial de carros elétricos no ano que vem, é uma das várias fabricantes de automóveis que expressaram interesse em fornecer os veículos para o projeto.
O design e a produção dos veículos elétricos é apenas um dos muitos desafios operacionais e técnicos que o Autolib enfrenta. Outras questões importantes que ainda precisam ser resilvidas incluem a instalação da infraestrutura para carregamento das baterias, o desenvolvimento de baterias suficientemente confiáveis, e a disponibilidade de vagas para estacionar nas ruas congestionadas da cidade.
Embora Lepetit reconheça que a Cidade de Paris não tem as respostas ainda, ela confirmou que os detalhes técnicos do programa foram considerados nas propostas das companhias que disputam a concessão, apresentadas este mês.
Não há dúvida de que o plano do Autolib precisa acertar vários detalhes: ainda assim, ele continua sendo um empreendimento útil que deverá fornecer várias indicações para o desenvolvimento futuro da tecnologia dos veículos elétricos, disse Moore. “Acho que lições serão aprendidas e adaptações serão feitas”, disse ele. “Mas será de fato um passo positivo para Paris, e acho que muitas cidades irão olhar Paris e segui-la como um exemplo.”
John Loughhead, diretor-executivo do Centro de Pesquisa de Energia do Reino Unido em Londres também diz que acredita que o programa “pode ser um protótipo muito útil”.
“Este projeto pode ser muito útil para incentivar a aceitação pública dos carros elétricos”, disse Loghhead numa entrevista. “Ele também ajudará as fabricantes a colocarem os veículos elétricos no mercado”.
Embora os carros compartilhados tenham entrado em voga na América do Norte e na Europa nos últimos anos, os veículos elétricos continuam sendo um tema secundário nessa história.
Impulsionadas pela recessão econômica e por regulações cada vez mais rígidas de emissões de gases de efeito estufa, as inscrições em programas de compartilhamento de carros cresceram 117% na América do Norte entre 2007 e 2009, de acordo com um relatório feito pela companhia de pequisa de mercado Frost e Sullivan, publicado em janeiro deste ano.
A Frost e Sullivan disse que esperava que esta tendência continuasse durante os próximos 5 a 10 anos, com uma estimativa de aumento das inscrições para 4,4 milhões na América do Norte e 5,5 milhões na Europa em 2016.
A Car2go, uma frota de carros compartilhados em Daimler, na Alemanha, é líder no setor. Este ano, a Car2go comemorou o primeiro aniversário de seu programa piloto em Ulm, uma cidade de 120 mil habitantes no sul da Alemanha. Juliane Mehling, gerente de comunicações corporativas da Car2go, disse que o projeto-piloto foi “um grande sucesso”, atraindo a participação de cerca de 40% dos motoristas de Ulm entre 18 e 35 anos.
A Car2go entrou no mercado norte-americano em novembro, introduzindo uma frota de 200 carros Smart para o uso de 13 mil funcionários da cidade de Austin, Texas. Embora ainda seja cedo, diz Robert Henrich, diretor-executivo da Car2go, “há um entusiasmo muito grande e uma alta demanda pelos carros.”
Henrich disse que, “desde o começo, a Car2go teve um contato próximo com os organizadores do Autolib. Os dois programas são muito semelhantes ao oferecer o aluguel espontâneo e viagens só de ida. Mas diferem num ponto crucial – o uso dos carros elétricos.
O programa de Austin usa o Smart Fortwo a gasolina, um carro de dois lugares da unidade Smart da Daimler, que o Car2go diz ser o veículo não-híbrido mais eficiente em combustível no mercado norte-americano. Usar apenas veículos elétricos num futuro próximo está fora de questão, diz Heinrich, porque “ainda é muito cedo para mudar dos veículos a combustão para os elétricos, do ponto de vista comercial.”
Uma razão, diz ele, é que o custo da tecnologia dos veículos elétricos, em particular das baterias de íon de lítio, continua alto. Um grande problema, entretanto, é que a infraestrutura necessária para carregar a bateria, que requer um alto nível de investimento inicial, não está disponível na maioria das cidades.
“Acho que veremos o desenvolvimento dessa infraestrutura dentro de três a cinco anos”, disse Henrich. Só então, na opinião dele, as frotas exclusivas de carros elétricos começarão a ser viáveis.
Sem querer esperar tanto tempo, Paris está seguindo adiante com seu plano, que segundo o gabinete de Delanoe pedirá a instalação de 4 mil estações de carregamento de bateria nos próximos 15 meses.
“Obviamente, o Autolib é um projeto desafiador, que exige uma preparação enorme”, diz Henrich. Mesmo assim, apesar de todas suas dúvidas, ele acrescenta: “Acho que é tecnicamente viável e estou totalmente convencido de que os veículos elétricos serão o futuro.” (EcoDebate)
Jogadas no rio Sena, penduradas em postes de luz, queimadas e descartadas, milhares de bicicletas de cor cinza do programa Paris Velib – que oferece uma frota de bicicletas para alugar na cidade toda, bastando passar um cartão para isso – caíram vítimas do vandalismo. Nos dois anos desde a sua implantação em 2007, o programa contabilizou que 7.800 de suas 20 mil bicicletas originais foram roubadas e 11.800 vandalizadas de diversas formas.
Agora a prefeitura está tentando novamente: desta vez com carros elétricos. Bertrand Delanoe, prefeito socialista de Paris e criador do Velib, planeja implementar o novo programa de aluguel, Autolib, já em setembro do ano que vem.
A concorrência para operar o programa, que será estruturado como uma parceria público-privada, foi aberta este mês. Autoridades da cidade dizem que o vencedor será escolhido em dezembro por um grupo que representa 31 autoridades dentro e fora de Paris e que participam do projeto.
Quatro companhias estão competindo pelo contrato: a ADA, uma empresa de aluguel de carros e caminhões; a Bollore, empresa de logística e transporte com interesse no desenvolvimento do carro elétrico; a Veolia Transport Urbain, uma operadora de transporte público; e um consórcio composto pela locadora de veículos Avis, a autoridade de trânsito de Paris RATP, a companhia ferroviária nacional da França SNCF e a operadora de estacionamentos Vinci.
Proposto pela primeira vez em 2008, o Autolib será o maior programa de compartilhamento de carro elétrico nesses moldes, “um primeiro do mundo”, diz Annick Lepetit, chefe do grupo do Autolib e vice-secretária de transportes. O plano é ter 3 mil veículos de emissão zero localizados em mil estacionamentos em Paris e região metropolitana. As taxas de aluguel ainda não foram estabelecidas, mas autoridades municipais estimam que cada meia hora custará aproximadamente €$ 5, ou R$ 11, com uma mensalidade adicional de €$ 15 (R$ 33).
O Autolib funcionará de uma foma muito parecida à do Velib. Os inscritos no programa poderão pegar um carro em qualquer posto de aluguel, sem uma reserva, e deixá-lo em qualquer outro posto no final da jornada. Ambos os programas fazem parte da cruzada de Delanoe contra o que ele chama de “hegemonia” do automóvel, oferecendo soluções mais sustentáveis aos problemas do tráfego no centro da cidade.
Se o Velib propõe bicicletas, o Autolib, por sua vez, aumentará as apostas, oferecendo aos usuários carros elétricos caros, novos em folha.
Isso leva o problema do vandalismo a um outro nível, diz Bill Moore, editor-chefe do EVWorld, uma revista online sobre carros elétricos.
O vandalismo pelas peças dos automóveis, sobretudo, poderia ameaçar a viabilidade econômica do projeto: “o tráfico de baterias de lítio de fato pode ser um risco”, alertou Moore. A tecnologia dos veículos elétricos continua cara, e o preço da bateria de íon de lítio é estimado em €$ 14.600 (R$ 32 mil), comparados aos cerca de €$ 600 (R$ 1.300) necessários para substituir uma bicicleta danificada.
Entretanto, Moore acredita que a tecnologia está pronta para a produção em larga escala. “Grandes fábricas como a Renault definitivamente têm a capacidade industrial para fornecer uma frota de 3 mil”, disse ele. A Renault, da França, que planeja começar a produção comercial de carros elétricos no ano que vem, é uma das várias fabricantes de automóveis que expressaram interesse em fornecer os veículos para o projeto.
O design e a produção dos veículos elétricos é apenas um dos muitos desafios operacionais e técnicos que o Autolib enfrenta. Outras questões importantes que ainda precisam ser resilvidas incluem a instalação da infraestrutura para carregamento das baterias, o desenvolvimento de baterias suficientemente confiáveis, e a disponibilidade de vagas para estacionar nas ruas congestionadas da cidade.
Embora Lepetit reconheça que a Cidade de Paris não tem as respostas ainda, ela confirmou que os detalhes técnicos do programa foram considerados nas propostas das companhias que disputam a concessão, apresentadas este mês.
Não há dúvida de que o plano do Autolib precisa acertar vários detalhes: ainda assim, ele continua sendo um empreendimento útil que deverá fornecer várias indicações para o desenvolvimento futuro da tecnologia dos veículos elétricos, disse Moore. “Acho que lições serão aprendidas e adaptações serão feitas”, disse ele. “Mas será de fato um passo positivo para Paris, e acho que muitas cidades irão olhar Paris e segui-la como um exemplo.”
John Loughhead, diretor-executivo do Centro de Pesquisa de Energia do Reino Unido em Londres também diz que acredita que o programa “pode ser um protótipo muito útil”.
“Este projeto pode ser muito útil para incentivar a aceitação pública dos carros elétricos”, disse Loghhead numa entrevista. “Ele também ajudará as fabricantes a colocarem os veículos elétricos no mercado”.
Embora os carros compartilhados tenham entrado em voga na América do Norte e na Europa nos últimos anos, os veículos elétricos continuam sendo um tema secundário nessa história.
Impulsionadas pela recessão econômica e por regulações cada vez mais rígidas de emissões de gases de efeito estufa, as inscrições em programas de compartilhamento de carros cresceram 117% na América do Norte entre 2007 e 2009, de acordo com um relatório feito pela companhia de pequisa de mercado Frost e Sullivan, publicado em janeiro deste ano.
A Frost e Sullivan disse que esperava que esta tendência continuasse durante os próximos 5 a 10 anos, com uma estimativa de aumento das inscrições para 4,4 milhões na América do Norte e 5,5 milhões na Europa em 2016.
A Car2go, uma frota de carros compartilhados em Daimler, na Alemanha, é líder no setor. Este ano, a Car2go comemorou o primeiro aniversário de seu programa piloto em Ulm, uma cidade de 120 mil habitantes no sul da Alemanha. Juliane Mehling, gerente de comunicações corporativas da Car2go, disse que o projeto-piloto foi “um grande sucesso”, atraindo a participação de cerca de 40% dos motoristas de Ulm entre 18 e 35 anos.
A Car2go entrou no mercado norte-americano em novembro, introduzindo uma frota de 200 carros Smart para o uso de 13 mil funcionários da cidade de Austin, Texas. Embora ainda seja cedo, diz Robert Henrich, diretor-executivo da Car2go, “há um entusiasmo muito grande e uma alta demanda pelos carros.”
Henrich disse que, “desde o começo, a Car2go teve um contato próximo com os organizadores do Autolib. Os dois programas são muito semelhantes ao oferecer o aluguel espontâneo e viagens só de ida. Mas diferem num ponto crucial – o uso dos carros elétricos.
O programa de Austin usa o Smart Fortwo a gasolina, um carro de dois lugares da unidade Smart da Daimler, que o Car2go diz ser o veículo não-híbrido mais eficiente em combustível no mercado norte-americano. Usar apenas veículos elétricos num futuro próximo está fora de questão, diz Heinrich, porque “ainda é muito cedo para mudar dos veículos a combustão para os elétricos, do ponto de vista comercial.”
Uma razão, diz ele, é que o custo da tecnologia dos veículos elétricos, em particular das baterias de íon de lítio, continua alto. Um grande problema, entretanto, é que a infraestrutura necessária para carregar a bateria, que requer um alto nível de investimento inicial, não está disponível na maioria das cidades.
“Acho que veremos o desenvolvimento dessa infraestrutura dentro de três a cinco anos”, disse Henrich. Só então, na opinião dele, as frotas exclusivas de carros elétricos começarão a ser viáveis.
Sem querer esperar tanto tempo, Paris está seguindo adiante com seu plano, que segundo o gabinete de Delanoe pedirá a instalação de 4 mil estações de carregamento de bateria nos próximos 15 meses.
“Obviamente, o Autolib é um projeto desafiador, que exige uma preparação enorme”, diz Henrich. Mesmo assim, apesar de todas suas dúvidas, ele acrescenta: “Acho que é tecnicamente viável e estou totalmente convencido de que os veículos elétricos serão o futuro.” (EcoDebate)
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