A grande esperança do mundo estará nos biocombustíveis ou eles se tornarão uma de suas maldições? É a pergunta que fazem a Europa e a Comissão de Bruxelas e também deixa angustiado o setor do biodiesel no continente, principal produtor dos biocombustíveis a base de óleo de colza ou de girassol, particularmente ativo na França e na Alemanha.
A questão é da maior importância. Os biocombustíveis foram recebidos inicialmente com entusiasmo pelos ecologistas, que viam neles o milagre capaz de proteger o planeta dos malefícios do CO2. Hoje, a cabeça dos ecologistas virou como um catavento. Muitos deles veem agora no milagre de ontem a desgraça de amanhã. Todo o projeto europeu será, então, prejudicado pela resposta que Bruxelas dará a uma simples pergunta: os biocombustíveis serão a salvação do meio ambiente ou uma doença perniciosa?
Os "sábios" de Bruxelas estão preocupados. Não precisavam de mais um problema. A UE apostou tudo nos biocombustíveis; encorajou sua produção. Desde 2008, os biocombustíveis abriram 300 mil empregos na Europa. A meta da UE se expandiu: até 2020, os biocombustíveis deverão proporcionar 10% das energias renováveis nos transportes. Por que hoje, de repente, surgem essas angústias?
O relatório do Instituto para a Política Ambiental Europeia é sombrio. Segundo o documento, o objetivo da Comissão Europeia (10% das energias renováveis nos transportes) implicaria na exploração de 70 mil quilômetros quadrados de terras suplementares na superfície do globo.
Ora, essa extensão acarretaria uma emissão de 27 milhões a 56 milhões de toneladas de CO2 suplementares sobre o planeta. Em suma, de hoje a 2020, os biocombustíveis consumidos na Europa gerariam de 81% a 167% a mais de gás de efeito estufa que os combustíveis fósseis tradicionais.
Alocação do solo. À primeira vista, essas projeções parecem fantásticas. Ocorre que os sábios do instituto utilizam um parâmetro até agora ignorado: a mudança indireta de alocação do solo. Explico: como as culturas que têm como finalidade a produção de combustíveis ocupam terras agrícolas, as culturas alimentares seriam obrigadas a migrar para outras regiões do planeta, em primeiro lugar, para as terras tropicais. Para o cultivo das superfícies destinadas ao plantio de produtos comestíveis relocados, seria preciso derrubar florestas tropicais - e esse desflorestamento maciço emitiria volumes enormes de CO2 na atmosfera.
Essas advertências estão também em outro estudo, a ser divulgado em setembro e feito pela International Food Policy Research (IFPRI), em Washington. É tão pessimista que um defensor do diesel na França, Philippe Tillous-Borde, afirmou: "Se Bruxelas der ouvidos ao IFPRI, seremos obrigados a sair do ramo."
A Comissão Europeia de Bruxelas fez estudos próprios, mais detalhados que os dos dois institutos citados. Bruxelas reconhece que o biocombustível importado extraído do girassol, da colza, do óleo de soja e de palma é mais prejudicial ao ambiente do que os combustíveis de origem fóssil. Por outro lado, o bioetanol de segunda geração, produzido a partir do trigo, do milho, da beterraba e da cana-de-açúcar, apresentaria resultados mais favoráveis que os dos combustíveis fósseis.
Finalmente, alguns já depositam suas esperanças nas novas gerações de biocombustível, o que será extraído da madeira, da palha e dos detritos vegetais, sem esquecer das microalgas. Mas esse novo setor ainda está engatinhando. (OESP)
Nenhum comentário:
Postar um comentário