segunda-feira, 10 de outubro de 2011

A primeira ilha autossuficiente

Com central hidroeólica, El Hierro será exemplo de abastecimento com energia elétrica de fontes renováveis.
El Hierro, que faz parte do arquipélago das Canárias, quer ser a primeira ilha capaz de se abastecer com energia elétrica proveniente de fontes totalmente renováveis. Para isso, está em construção uma central hidroeólica, que começa a funcionar em 2012.
O projeto formulado para a área reconhecida pela Unesco como Reserva da Biosfera custará 64,7 milhões (R$ 163,7 milhões). A central inclui um parque eólico, depósitos superior e inferior para água, tubulações e duas estações, uma de bombeamento e outra hidrelétrica.
Quando o vento for suficiente, a central produzirá eletricidade com base no parque eólico. Se não houver vento, a energia virá da água. O parque terá uma potência de 11,5 MW, enquanto a demanda dos 10,7 mil habitantes é de cerca de 7 MW.
"O excedente de energia eólica será usado para bombear água entre o tanque inferior e o superior. Em tempos de escassez de vento, a água acumulada a 700 metros de altura descerá pelas tubulações até o reservatório inferior, e a eletricidade será produzida com energia da água", diz Cristina Morales Clavijo, da empresa Gorona del Viento El Hierro, responsável pelo projeto.
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"Os sistemas insulares têm muita geração eólica e geralmente há excesso. Nesse caso, eles usarão o excedente para puxar água. É uma forma de não desperdiçar energia", diz o professor Roberto Zilles, do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP.
Cristina ressalta que o sistema hidrelétrico funciona como um estabilizador de potência da energia eólica. "As variações de vento serão compensadas com o sistema hidrelétrico, gerando um fornecimento constante e estabilidade garantida para o sistema de energia da ilha", afirma.
"Quando você depende de fontes intermitentes, como a eólica e a solar, para conseguir usar o máximo, tem de ter alguma forma de controle sobre o sistema, para não deixá-lo vulnerável. A hidrelétrica acoplada ao sistema eólico funciona como forma de armazenamento de energia potencial", explica Zilles.
Nas outras ilhas do arquipélago, onde não há essa sintonia entre os sistemas eólico e hidrelétrico, será possível ter 30% da energia gerada com base no vento. "O circuito elétrico das ilhas é fechado, circular. Você não pode exportar ou importar energia. Assim, a potência injetada na rede tem de ser estável, sem depender de variações de uma fonte intermitente, como o vento."
Em El Hierro, porém, 100% da energia poderá vir de fontes renováveis, com o início do funcionamento da central hidroeólica.
No caso da energia eólica, a falta de vento é um problema, assim como o excesso. Se ocorrerem rajadas torrenciais, os aerogeradores serão paralisados por precaução. "Teremos de produzir com a hidrelétrica e nossa capacidade de resposta dependerá da quantidade de água acumulada e da demanda", diz Cristina.
Em casos emergenciais, a ilha apelará a motores a diesel para garantir a energia. "A demanda tem um papel muito importante na hora de saber se teremos de colocar os motores a diesel para funcionar ou não. Hoje, 50% da eletricidade da ilha é consumida por dessalinizadores de água, pois El Hierro consome água dessalinizada do mar."
Vulcão e encostas. O depósito superior de água da central hidroelétrica foi construído em uma cratera vulcânica. Já a represa do reservatório inferior é uma construção nova e tem capacidade menor. Por isso, para a expansão do parque eólico no futuro, está planejada a construção de mais depósitos que serão interligados ao inferior.
A formação geológica da ilha facilita a presença de encostas muito íngremes. "El Hierro tem 278 km², porém alcança os 1,5 mil metros de altitude, o que resulta em declives que podem ser aproveitados para a hidrelétrica", comenta Cristina. Em sua opinião, o modelo pode ser copiado em outros locais com características similares, onde haja a possibilidade de acumular água como forma de armazenar energia.
Para a empresa Gorona del Viento, El Hierro poderá ser referência de futuro energético para os 17 milhões de europeus e 600 milhões de pessoas em todo o mundo que vivem em ilhas.
Medida evitará emissões de gases-estufa
Quando a Central Hidroeólica passar a funcionar, a expectativa é evitar o consumo anual de 6 mil toneladas de diesel - o que equivale a 40 mil barris de petróleo que teriam de chegar até a ilha em navios. Assim, seria possível economizar por ano a emissão de 18,7 mil toneladas de dióxido de carbono (CO2), principal gás de efeito estufa. A quantidade de CO2 é a mesma que poderia ser fixada por uma floresta de 10 mil a 12 mil hectares (área de Aparecida, em São Paulo). Também se evitará a emissão anual para a atmosfera de 100 toneladas de dióxido de enxofre e 400 toneladas de óxidos de nitrogênio - emissão equivalente a de um ônibus de linha que percorre 600 milhões de quilômetros. (OESP)

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