Ex-desmatador hoje promove a proteção
Produtor Romeu Bruxel teve terras inundadas há 30 anos, mas seguiu na
região e garante projeto de agricultura familiar.
No último feriado
da Proclamação da República, Romeu Bruxel, de 67 anos, acordou cedo para regar
as videiras, seringueiras e outras 18 variedades de culturas do Centro Avançado
de Pesquisas (CAP) de Santa Helena, a 120 quilômetros de Foz do Iguaçu. "A
planta não aguenta quatro dias sem água", explica. A dedicação do
agricultor, que há 30 anos teve suas terras inundadas por Itaipu, é o que
mantém o local em funcionamento há 11 anos - as outras duas unidades
financiadas pela usina, em cidades vizinhas, já fecharam as portas.
A seringueira faz parte das culturas que são testadas no CAP.
Os CAPs surgiram
como centrais para experimentação de alternativas de plantio para a agricultura
familiar da região, que tentava em vão competir com grandes produtores pela
soja. De quebra, fornecem orientação sobre as melhores práticas de recomposição
de áreas desmatadas e regularização de faixas de proteção, o que garante a
qualidade da água do reservatório.
"Mais da
metade dos 20 mil moradores de Santa Helena vive no campo. Era preciso achar
outras culturas que se adaptassem ao nosso clima", diz Bruxel, responsável
pelo cultivo nos 7,5 hectares de terreno cedidos pela prefeitura, em área
próxima às margens do lago. O projeto ganhou projeção e já foi visitado por 100
mil pessoas, de 69 países.
"Nos primeiros
anos, a usina simplesmente pagava os royalties para as cidades. Mas não
adiantava dar a terra e não dar condições", afirma. Segundo ele, as ações
do CAP provaram que é possível respeitar as áreas protegidas sem diminuir os
rendimentos. "Em pequena escala, pode-se ganhar até dez vezes mais com
palmito de pupunha que com soja", garante Bruxel.
As culturas
escolhidas para serem implantadas no terreno obedecem a dois critérios: têm de
ser facilmente adaptadas pelos produtores e garantir rentabilidade. A análise
técnica é feita por pesquisadores do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar).
Experiências com uvas bordô, por exemplo, não deram certo, enquanto testes com
seringueiras para a produção de látex tiveram resultados promissores. A
liberação para plantio, porém, depende de um processo de avaliação que pode levar
até dez anos.
Mas novas culturas
em breve deverão ser integradas às locais, como o abacaxi, que rende 15
toneladas em 3 quilômetros quadrados. Outro cítrico bem-sucedido é uma
tangerina que registrou produtividade de 8 mil frutos em apenas três pés de muda.
Indenizado. A
história de Bruxel acompanha o desenvolvimento de Santa Helena. Na década de
1960, ele saiu do Rio Grande do Sul para se juntar aos milhares de agricultores
que colonizaram o oeste paranaense à custa da derrubada de árvores em uma área
extensa. "Naquela época, dizia-se: 'Plante, que o governo garante'",
lembra o descendente de alemães. O financiamento do governo, afirma, só saía
para quem tivesse preparado os terrenos para o plantio. "Pequenos
produtores conseguiam comprar ceifadeiras, que hoje custam até R$ 600
mil."
No início dos anos
1980, ele foi um dos 40 mil agricultores
indenizados por Itaipu para a construção do lago, cuja margem brasileira ficou
exposta pelo desmate - no lado paraguaio, o problema não ocorreu.
Diferentemente dos muitos que usaram o dinheiro para comprar terras maiores em
Mato Grosso do Sul, Bruxel ficou em Santa Helena. / BRUNO DEIRO
Classificadas como
fontes de energia limpa, as hidrelétricas não estão livres da emissão de gás
carbônico e metano, que se dá pela decomposição da matéria orgânica acumulada
no fundo do lago. Um levantamento com dados do reservatório de 12 usinas do
País, porém, aponta que Itaipu está entre as que menos liberam gases do efeito
estufa.
O estudo, do
Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia da
UFRJ, mostrou que a hidrelétrica emite, por metro quadrado, 10,7 miligramas
(mg) de metano e 170 mg de gás carbônico a cada dia.
Segundo os
pesquisadores, a explicação é a profundidade do lago e a grande potência
energética. A usina de Tucuruí (TO) é a recordista em gás carbônico (8,4 mil
mg), enquanto Três Marias (MG) lidera a emissão de metano, com 196 mg - o que a
torna mais poluente do que algumas termoelétricas movidas a carvão mineral ou a
gás natural. (OESP)
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