Solar e eólica desbancam nuclear e mudam setor alemão de energia
O esforço de US$ 710
bilhões da Alemanha para produzir energia limpa está reduzindo a geração dos reatores
nucleares, as unidades em grande escala mais lucrativas do país, uma vez que os
preços atingiram o menor patamar em seis anos.
A proporção das horas
em que a energia elétrica foi negociada a menos de € 30 (US$ 39) o
megawatt-hora, nível no qual, segundo o UBS, os reatores começam a perder
dinheiro, subiu para 50% no ano mês passado, o maior índice desde 2007 e 92%
maior que há um ano, segundo mostram dados da bolsa Epex Spot. A RWE reduziu a
produção de sua usina de Gundremmingen, perto de Munique, 31 vezes no primeiro
semestre, período em que houve um grande aumento na geração de energia solar e
eólica, em comparação a 18 vezes em 2012, segundo dados compilados pela
Bloomberg.
As reduções, que
geralmente ocorrem por períodos de algumas horas a cada vez, mostram como o
plano da premiê Angela Merkel de substituir a energia atômica por energias
renováveis no prazo de uma década está ganhando força à custa dos lucros de
empresas geradoras como a RWE e a EON. O boom da energia limpa, juntamente com
a menor demanda em dez anos, derrubou a margem operacional de 15 companhias
europeias tradicionais de energia, segundo dados da Bloomberg.
“Veremos mais
situações parecidas, quando a produção renovável estiver muito alta, a ponto de
os preços no mercado à vista entrarem em colapso, ficando abaixo do nível de
custo para as usinas nucleares”, disse Patrick Hummel, analista do UBS em
Zurique. “Isto realmente é um golpe duplo para as geradoras de energia. Menos
horas em operação significa que menos energia é vendida, e isso acontece quando
o preço está baixo.”
A energia vendida com
um dia de antecedência ficou em média em € 37,40 no primeiro semestre na Epex
de Paris, o menor nível desde 2007. Na sexta-feira, energia com um dia de
antecedência foi vendida a € 26,24 em um leilão.
Em 16/06/13, as usinas geradoras de energia solar e eólica forneceram 60% da
demanda da Alemanha, um recorde segundo o instituto de pesquisas International
Forum for Renewable Energies, de Münster, forçando as operadoras de usinas
nucleares RWE, EON e EnBW (Energie Baden-Wuerttemberg) a reduzir a geração
depois que os preços caíram abaixo de zero. Este é o nível em que as usinas
precisam pagar aos consumidores para distribuir energia.
“Os atuais preços
baixos nas bolsas têm consequências dramáticas para as operadoras de usinas
convencionais”, afirmou Hildegard Mueller, presidente do conselho
administrativo do entidade lobista BDEW de Berlim. “Elas ficam imaginando como
vão ganhar dinheiro com suas usinas. As companhias agora enfrentam a questão de
como vão desenvolver seu modelo de negócios no futuro.”
Em 16 de junho, a
RWE, com sede em Essen, reduziu a produção na usina Gundremmingen-C em 58%,
para cerca de 550 megawatts, e a produção em Gundremmingen-B em 54%, para 600
megawatts por cerca de duas horas, segundo dados compilados pela Bloomberg.
No mesmo dia, a EON
reduziu a produção em seu reator nuclear de Grohnde, com capacidade de 1.360
megawatts, para menos de 1.200 megawatts durante 15 horas, e também a geração
no reator Isar-2, com capacidade de 1.400 megawatts, por três horas, segundo a
Genscape, de Louisville, Kentucky, nos Estados Unidos, que monitora a produção
de energia em 13 países da Europa. O maior reator da EON – Brokdorf, com
capacidade de 1.410 megawatts – operou por quatro horas abaixo dos 1.200
megawatts.
A capacidade da
unidade Neckarwestheim-2 da EnBW, de 1.395 megawatts, caiu para abaixo dos
1.200 megawatts por 18 horas naquele mesmo dia, segundo a Genscape.
Friederike Eggstein,
porta-voz da EnBW, de Karlsruhe, Alemanha, e Petra Uhlmann, uma porta-voz da
EON, de Dusseldorf, não responderam a dois telefonemas e dois e-mails da
Bloomberg para comentar o assunto.
Segundo a Genscape, a
utilização total de capacidade em 16 de junho caiu para 60% em nove reatores
alemães, em comparação a 64% em 15 de junho. Um dia depois, ela subiu para 65%.
“Nossas usinas nucleares não são mais aquelas geradoras contínuas de caixa que
alguns ainda pensam ser”, afirmou Bernhard Guenther, diretor financeiro da RWE,
em uma conferência telefônica com jornalistas em 15 de maio.
As energias
renováveis estão se destacando tanto na rede elétrica da Alemanha que as usinas
movidas a gás natural não registram lucros há 17 meses, segundo um cálculo da
Bloomberg que leva em conta os preços da energia e os custos do combustível e
das emissões. A operação dos reatores é mais barata que a das usinas movidas a
linhito, carvão e gás na base do custo marginal, segundo Chris Rogers, analista
da Bloomberg Industries em Londres.
A produção de energia
solar atingiu o pico de 23.203 megawatts em 16 de junho, quase 13 vezes a média
dos últimos 12 meses, segundo dados da EEX. Os preços para o mesmo dia chegaram
a ficar € 225 negativos entre as 5h e as 8h no horário de Berlim naquele dia, e
os contratos mudaram de mãos a menos € 100 das 14h às 16h, segundo informações
da Epex.
A premiê Angela
Merkel decidiu em 2011 fechar oito usinas nucleares alemãs e desativar as
demais até 2022, depois do desastre na usina japonesa de Fukushima.
O apoio da opinião
pública alemã ao plano de € 550 bilhões de expansão da energia eólica e solar
vem aumentando, mesmo depois de os subsídios do governo para a “Energiewende”,
ou mudança de energia, terem aumentado as contas de luz. Em pesquisa feita pelo
instituto Forsa para a revista “Stern”, em abril, 59% apoiaram o fim da energia
nuclear na Alemanha, em comparação a 54% um ano antes.
A energia nuclear
representou 16% de toda a energia gerada pelo país no ano passado, número que
foi de 18% em 2011, segundo dados da BDEW.
A margem operacional
média em 15 usinas europeias foi de 12% no ano passado, a menor desde 2002,
segundo a Bloomberg. No caso da EON ela caiu para 3,7%, em comparação a 23% há
dez anos. Na RWE, a margem caiu de 14% em 2003 para 7,3%.
O lucro líquido da
RWE ajustado para 2012 caiu 27% em comparação a 2008, enquanto que na EON a
queda foi de 25% no mesmo período, segundo mostram os relatórios anuais das
duas companhias.
À medida que a
Alemanha avança em direção à meta de Merkel, de obter 35% da energia consumida
pelo país de fontes renováveis até 2020, em comparação aos atuais 22%, aumentam
muito as negociações intradiárias nas bolsas. No mês passado, contratos futuros
cobrindo um período de entrega de até 15 minutos subiram 9%, para o total sem
precedentes de 260.668 megawatts-hora em comparação a maio, segundo a Epex.
“Precisamos promover
nossas usinas mais e mais nos mercados intradiário e de um dia de antecedência,
por causa do avanço das energias renováveis”, diz Joerg Stockhecke, que
trabalha na unidade de análise de mercado e otimização de usinas da Stadtwerke
Bielefeld e está no mercado há 19 anos. “Isso basicamente nos transformou em
operadores intraday”, acrescentou.
Ele comercializa
cerca de 330 megawatts de capacidade de produção. Seu portfólio inclui 227
megawatts da usina de Grohnde, com capacidade de 1.360 megawatts e localizada
no norte da Alemanha. Ela é majoritariamente controlada pela EON.
A Alemanha
acrescentou 344 megawatts à sua capacidade de geração de energia solar em maio,
elevando-a para 33.877 megawatts, ou 19% da capacidade instalada, segundo a
autoridade reguladora do setor elétrico do país. Os parques eólicos,
localizados principalmente em terra firme, representam 17%.
A produção total de
energia solar e eólica caiu 6,4% no primeiro semestre deste ano, para 22,4
terawatts-hora, segundo dados do International Economic Forum for Renewable
Energies.
“Quando o verão
finalmente começar na Alemanha e a geração de energia solar render tudo o que
pode, a energia solar apresentará uma reação, depois de um primeiro semestre
fraco”, afirmou Paolo Coghe, analista do Société Générale em Paris. “Se isso
acontecer, então haverá uma boa chance de os preços caírem ainda mais.”
(EcoDebate)
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