Eletricidade solar térmica: uma questão de investimento
Desafio maior para tornar realidade a capacidade global de
1.00 GW projetada para 2050 é conseguir financiar os projetos.
Central heliotérmica
Gemasolar de 20 MW, na região de Sevilha, Espanha: tecnologia do tipo torre e
produção contínua de eletricidade.
A Agência
Internacional de Energia (IEA, em inglês) prevê que na metade do século mais de
mil gigawatts de eletricidade no mundo poderão ser gerados por conversão
térmica de energia solar.
No sul da Europa, no
entorno do mar Mediterrâneo, a capacidade solar térmica instalada no âmbito do
“Plano Solar Mediterrâneo” deve atingir 20 GW até 2020.
Mundo afora, metas
para este tipo de geração elétrica renovável não faltam e, segundo
especialistas, as tecnologias existentes são suficientemente maduras. O
problema é conectar bons projetos ao investimento necessário à sua realização.
O
que falta à geração termossolar para que este setor alcance o mesmo sucesso de
outros, envolvendo tecnologias limpas para a produção de energia, como a eólica
e a fotovoltaica? Desenvolvimento tecnológico adequado, certamente não.
Apesar de sua relativa baixa popularidade, usinas heliotérmicas "demonstrativas" funcionam exitosamente há pelo menos três décadas. As primeiras surgiram nos anos 1980: no deserto de Mojave, na Califórnia (EUA), na região da Andaluzia (Espanha) e nos Pirineus Orientais (França).
Apesar de sua relativa baixa popularidade, usinas heliotérmicas "demonstrativas" funcionam exitosamente há pelo menos três décadas. As primeiras surgiram nos anos 1980: no deserto de Mojave, na Califórnia (EUA), na região da Andaluzia (Espanha) e nos Pirineus Orientais (França).
Mas passaram vinte
anos em banho-maria – a “longa noite da heliotermodinâmica” – principalmente
devido às diversas baixas nos preços dos combustíveis fósseis.
As centrais solares
demonstrativas utilizam diferentes tecnologias de captação da radiação solar,
para usá-la como fonte de energia térmica, acionando “ciclos termodinâmicos”
que transformam calor em eletricidade.
A partir dos anos
2000, a heliotermodinâmica começou a revigorar-se, abrindo espaço no mercado de
geração renovável para quatro tipos de tecnologia baseada na conversão térmica
de energia solar (figura).
As quatro
tecnologias da heliotermodinâmicas: (a) sistema “torre”, (b) refletores
lineares de Fresnel, (c) coletores cilindro-parabólicos, (D) coletores
parabólicos (tipo disco). Adaptado de Systèmes Solaires le journaul des
énergies renouvelables n° 207/2012.
Uma das principais
vantagens das tecnologias solares termodinâmicas é sua capacidade de armazenar
a energia e, assim, fazer face aos picos de consumo e garantir uma produção
contínua (diuturna).
Na Espanha – país
líder no setor, com 23 centrais somando 952 MW instalados e 1.252 MW em
construção – 62% da capacidade total instalada dispõe de sistemas de estocagem
de energia.
Outra vantagem
importante é a possibilidade de "hibridização", i. é., criar centrais
multiuso, que produzam simultaneamente eletricidade e calor (em alta e baixa
temperatura) para fins diversos, como aplicações de frio ou dessalinização de
água do mar.
De acordo com as
diretrizes estabelecidas pela IEA em 2010, a previsão para 2050 da produção
mundial de eletricidade solar térmica é de 4.050 TWh (terawatt-hora ou 1 bilhão
de KWh), valor próximo ao previsto para a geração fotovoltaica, algo em torno
de 11% de da produção global de energia elétrica.
Em resumo: as
tecnologias são maduras e disponíveis e seu potencial é conhecido, mas falta
ainda resolver a delicada questão dos custos, da rentabilidade e do
financiamento das centrais.
Um estudo feito pela
consultoria A. T. Kearney e a Associação Europeia de Eletricidade Solar Térmica
(Estela, em inglês) indica que a viabilidade comercial das usinas termossolares
está próxima.
O aprimoramento da
tecnologia e a economia de escala resultante da criação de centrais maiores
possibilitaria uma redução de 5 a 30% nos custos de produção da eletricidade
solar térmica em 2015, de 35 a 50% em 2020 e de 45 a 60% em 2025.
Ou seja, daqui a 13
anos, o custo do kWh termossolar chegaria a 32 centavos de real (ao câmbio de 1
euro = R$ 2,65), valor ainda longe do preço do kWh eólico (R$ 0,18), mas
que já seria competitivo com o custo da eletricidade fotovoltaica.
Embora o Brasil
tenha uma matriz elétrica de baixíssimo carbono – cerca de 83% de toda a
eletricidade produzida – temos uma enorme abundância de energia solar, que pode
contribuir para avançarmos ainda mais no uso de fontes renováveis.
Assim, a implantação
em território nacional de usinas heliotermodinâmicas poderia se tornar uma
alternativa economicamente viável para o país nas próximas décadas.
No Brasil, a
primeira pesquisa aplicada começou há cerca de 10 anos, através de uma parceria
entre a Cemig e o IFET-MG: o estudo experimental de refletores
cilindro-parabólicos para uma instalação piloto de 10 kW.
Atualmente, a
Petrobras desenvolve (em parceria com o centro de pesquisa CTGAS-ER, UFRN e
UFSC) um projeto para a construção de uma usina termossolar de 3 MW, no Vale do
Açu, Rio Grande do Norte.
Espera-se com este
empreendimento capacitar o país para o uso comercial dessa tecnologia, através
de estudos experimentais, formação de mão de obra especializada e de uma base
visando à escala de mercado, para viabilizar a exploração economicamente
sustentável da geração solar térmica. (ofrioquevemdosol)
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