Depois de quatro anos
fora dos leilões de energia, o carvão volta à cesta de compras das
concessionárias na rodada de leilão A-5, em 29/08/13. Dos 3.535 MWh habilitados
no leilão, 8.840 MWh são de térmicas a carvão.
Em 2009, o próprio
governo federal baniu o carvão dos leilões, por considerá-lo fonte altamente
poluidora, com impactos diretos na qualidade do ar e nas emissões de gases de
efeito estufa. A explicação para a retomada é a segurança energética do país.
Com uma matriz muito
dependente de hidrelétricas — 67% da capacidade instalada em 2011 — e a falta
de uma política integrada para novas renováveis, o governo decidiu diversificar
a matriz energética com energia suja. Entre todas as fontes de energia disponíveis,
não poderia ter escolhido uma mais inapropriada. A queima de carvão está
diretamente associada a problemas como smog (nevoeiro contaminado por fumaças),
chuva ácida e mudanças climáticas.
Segundo dados do
Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês),
o carvão emite 84 vezes mais CO2 que a energia eólica e 22 vezes
mais que a energia solar. Se todas as usinas térmicas fósseis (carvão e gás)
forem contratadas no leilão, mesmo operando a 50% do tempo, elas emitirão 15
milhões de toneladas de CO2 por ano, o equivalente a toda a emissão
da cidade de São Paulo em 2011, segundo cálculos do consultor Tasso Azevedo.
A simples troca de
hidrelétrica por térmicas a carvão é a retroalimentação de um falso dilema, que
se baseia em achar que o Brasil não tem outras fontes alternativas de energia.
De fato, não é desejável que a matriz energética brasileira siga na dependência
de uma única fonte. Mas o governo e o setor elétrico precisam entender que
diversificar a matriz energética nacional significa investir em fontes seguras,
limpas e renováveis, nas quais o Brasil tem potencial de sobra, como solar,
eólica e biomassa.
Para a solar, as
condições são invejáveis, com ótimos índices de radiação e pouca variação entre
as estações do ano. Se aproveitássemos entre 5% e 10% do potencial, seria o
suficiente para atender toda a demanda nacional de energia. A Alemanha, por
exemplo, país muito menos favorecido pelo Sol, já consegue atender cerca de 4%
de sua demanda total de eletricidade somente com a fonte solar. Nos Estados
Unidos, essa é a fonte que mais cresce, a uma taxa de 50% nos últimos anos. O
aumento da produção fez com que seu preço caísse, em média, 9% ao ano em todo o
mundo.
Há 10 anos, a
capacidade de geração de energia solar fotovoltaica no mundo era de apenas 2,8
gigawatts. Hoje, essa capacidade superou a barreira dos 100GW, e a indústria
prevê que a capacidade global de geração de solar dobre até 2016. Enquanto
isso, o potencial de geração eólica é superior a 300 mil MW, ou seja, mais do
que o dobro da atual capacidade instalada no país (115 mil MW) e maior do que o
potencial remanescente de energia hidrelétrica (260 mil MW).
A energia vinda dos
ventos cresceu 10 vezes no Brasil entre 2007 e 2013 e hoje já corresponde a 2%
da nossa matriz. A explosão da produção eólica no país criou um círculo
virtuoso, fazendo com que o preço caísse da faixa dos R$ 300/MWh para menos de
R$ 100/MWh em 2012, tornando-a altamente competitiva.
Ao contrário do que
alguns críticos colocam, as fontes renováveis são seguras e têm toda a
capacidade de complementar nosso sistema. Além disso, a possibilidade que as
renováveis oferecem de se gerar energia perto dos centros consumidores torna
mais segura sua distribuição, evitando apagões como os que atingiram as regiões
Norte e Nordeste em outubro do ano passado e outro em dezembro, quando mais de
3,5 milhões de pessoas no Brasil ficaram sem energia.
Não se justifica o
país voltar ao passado e seguir no caminho de retrocesso ambiental. Investir na
geração de energia térmica a carvão não é estratégico, nem garante a segurança
energética de que os brasileiros tanto precisam. Descentralizar a geração de
energia, investir em novas tecnologias e priorizar políticas de eficiência
energética é o norte que o Brasil deve seguir. O carvão é um mal desnecessário.
(EcoDebate)
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