quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

A revolução da energia renovável e suas limitações


O mundo precisa superar a era dos combustíveis fósseis e avançar na revolução da energia renovável. O ambientalista Lester Brown e seus colegas do Instituto de Políticas da Terra (EPI ) estão otimistas com o que eles chamam de transição da energia fóssil e nuclear para as “energias limpas”, a partir do fortalecimento da produção de energia solar, eólica e outras fontes renováveis. O livro: “The Great Transition Shifting from Fossil Fuels to Solar and Wind Energy”, sem dúvida, é uma contribuição para a análise da mudança da matriz energética.

Segundo Lester Brown, a transição mundial dos combustíveis fósseis para as fontes renováveis ​​de energia está em curso: “Uma nova economia energética mundial está emergindo com base na emergência da energia solar e eólica, em função da redução da disponibilidade de combustíveis fósseis e da piora da poluição do ar”. No capítulo 1 do livro, Lester Brown apresenta algumas tendências otimistas:

“O preço dos painéis solares fotovoltaicos (PV) declinaram 99% nos últimos quatro décadas, a partir de US$ 74 por watt em 1972 para menos de US$ 0.70 por watt em 2014”. Entre 2009 e 2014, os preços de painéis solares caíram por ¾, ajudando as instalações globais de PV crescerem 50% ao ano.

Ao longo da última década, a capacidade mundial de energia eólica cresceu mais de 20% ao ano, devido ao aumento impulsionado por características atraentes, pelas políticas públicas de apoio à sua expansão e por custos decrescentes. Até o final de 2014, a capacidade mundial de geração eólica totalizou 369 mil megawatts, o suficiente para abastecer mais de 90 milhões de lares.

Políticas nacionais e subnacionais em todo o mundo estão mudando para apoiar as energias renováveis ​​e colocar um preço sobre o carbono. Estes incluem 70 países com tarifas feed-in; duas dezenas de países com padrões de portfólios renováveis ​​(RPS); 37 países com apoio fiscal ao investimento em energias renováveis; 40 países implementando ou planejando precificação do carbono.

O uso do carvão dos EUA está caindo – caiu 21% entre 2007 e 2014 – e mais de um terço das centrais a carvão do país já fechando ou anunciaram planos para fechamento futuro. Enquanto isso, o Índice Global de Carvão Stowe – um índice composto de empresas de todo o mundo, cujo principal negócio envolve carvão – caiu 70% entre abril de 2011 e setembro de 2014.

Para o mundo como um todo, a geração de energia nuclear atingiu o pico em 2006 e caiu em quase 14% em 2014. Nos EUA, o país com o maior número de reatores, a geração nuclear atingiu o pico em 2010 e está agora também em declínio.

“Na China, a produção de eletricidade a partir de centrais eólicas já ultrapassa aquelas a partir de usinas nucleares, enquanto o uso de carvão chegou ao pico”.

Segundo Lester Brown e colegas: “Inicialmente, esta transição energética foi impulsionado por incentivos do governo, mas agora ela também está sendo impulsionada pelo mercado. Com os preços de hoje favorecendo tanto a energia solar, quanto eólica, em muitos locais, a transição está em aceleração, movendo-se muito mais rápido do que o previsto anteriormente”. O gráfico abaixo mostra a distribuição e o avanço da energia solar fotovoltaica até 2014.


O banco de investimento UBS também tem uma expectativa otimista da evolução da energia solar:
1) mais de 10% da energia do mundo poderia ser gerada a partir do sol dentro de uma década;
2) a energia solar poderá ser a “tecnologia padrão do futuro”, substituindo definitivamente o carvão e a energia nuclear. (Walton, 2015).
Sem dúvida o avanço da energia renovável substituindo os combustíveis fósseis é uma necessidade urgente para a estabilização da economia e do clima (Alves, 2014 e 2015). Contudo, todo este otimismo não é compartilhado por outros analistas.
Kurt Cobb considera que a revolução energética, se acontecer na escala necessária, não deve ocorrer de maneira tão rápida e nem com tantos resultados positivos sobre o clima. Ele diz: “Mesmo com todos os esforços a transição energética atual, embora cada vez mais urgente, ainda levaria um longo tempo. E não está claro a dimensão dos resultados positivos no que diz respeito às alterações climáticas”.
Gail Tverberg (2014), no artigo: “Ten Reasons Intermittent Renewables (Wind and Solar PV) are a Problem”, relaciona dez problemas que dificultam a superação dos combustíveis fósseis e a mudança da matriz energética mundial para fontes renováveis.
Richard Heinberg, analisando o crescimento da energia renovável no artigo “Renewable Energy Will Not Support Economic Growth” (2015), chega à seguinte conclusão: “Em suma, há muito mais desafios associados à transição da energia renovável do que oportunidades. Há possíveis soluções para todos os problemas que identificamos. Mas a maioria dessas soluções envolvem custos mais elevados ou a funcionalidade do sistema reduzida”.


Não resta dúvidas de que a economia internacional precisa reduzir significativamente os subsídios e a dependência dos combustíveis fósseis e aumentar o peso das energias renováveis no conjunto da produção energética, a despeito das dificuldades que precisam ser superadas. Para tanto é preciso que as diversas nações criem políticas públicas para incentivar a utilização das energias renováveis e que haja incentivo para que o mercado, as famílias e as comunidades invistam na mudança da matriz energética. Também é preciso construir redes de transmissão inteligentes para controlar a sazonalidade da produção de energia eólica e solar, aumentar a eficiência energética e adaptar a produção à demanda.
Portanto, os investimentos em energia eólica e solar devem vir acompanhados de uma mudança no modelo de produção e consumo que degrada a natureza e aumenta a pegada ecológica. O mundo precisa se livrar dos combustíveis fósseis, mas também precisa caminhar rumo ao decrescimento das atividades antrópicas, renovando o estilo de desenvolvimento consumista que tem colocado tantas pressões sobre o meio ambiente e a biodiversidade. Como colocado em artigo recente (Alves, 2014): “Somos a primeira geração a sentir o impacto da mudança climática e a última geração que pode fazer alguma coisa para evitar um desastre ecológico global”. A mudança da matriz energética é um primeiro passo. Mas a construção de uma civilização ecológica é um sonho ainda muito distante e que vai requerer muitos esforços. (ecodebate)

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