O
mundo precisa superar a era dos combustíveis fósseis e avançar na revolução da
energia renovável. O ambientalista Lester Brown e seus colegas do Instituto de
Políticas da Terra (EPI ) estão otimistas com o que eles chamam de transição da
energia fóssil e nuclear para as “energias limpas”, a partir do fortalecimento
da produção de energia solar, eólica e outras fontes renováveis. O livro: “The
Great Transition Shifting from Fossil Fuels to Solar and Wind Energy”, sem
dúvida, é uma contribuição para a análise da mudança da matriz energética.
Segundo
Lester Brown, a transição mundial dos combustíveis fósseis para as fontes
renováveis de energia está em curso: “Uma nova economia energética mundial
está emergindo com base na emergência da energia solar e eólica, em função da
redução da disponibilidade de combustíveis fósseis e da piora da poluição do
ar”. No capítulo 1 do livro, Lester Brown apresenta algumas tendências
otimistas:
“O
preço dos painéis solares fotovoltaicos (PV) declinaram 99% nos últimos quatro
décadas, a partir de US$ 74 por watt em 1972 para menos de US$ 0.70 por watt em
2014”. Entre 2009 e 2014, os preços de painéis solares caíram por ¾, ajudando
as instalações globais de PV crescerem 50% ao ano.
Ao
longo da última década, a capacidade mundial de energia eólica cresceu mais de
20% ao ano, devido ao aumento impulsionado por características atraentes, pelas
políticas públicas de apoio à sua expansão e por custos decrescentes. Até o
final de 2014, a capacidade mundial de geração eólica totalizou 369 mil
megawatts, o suficiente para abastecer mais de 90 milhões de lares.
Políticas
nacionais e subnacionais em todo o mundo estão mudando para apoiar as energias
renováveis e colocar um preço sobre o carbono. Estes incluem 70 países com
tarifas feed-in; duas dezenas de países com padrões de portfólios renováveis
(RPS); 37 países com apoio fiscal ao investimento em energias renováveis; 40
países implementando ou planejando precificação do carbono.
O
uso do carvão dos EUA está caindo – caiu 21% entre 2007 e 2014 – e mais de um
terço das centrais a carvão do país já fechando ou anunciaram planos para
fechamento futuro. Enquanto isso, o Índice Global de Carvão Stowe – um índice
composto de empresas de todo o mundo, cujo principal negócio envolve carvão –
caiu 70% entre abril de 2011 e setembro de 2014.
Para
o mundo como um todo, a geração de energia nuclear atingiu o pico em 2006 e
caiu em quase 14% em 2014. Nos EUA, o país com o maior número de reatores, a
geração nuclear atingiu o pico em 2010 e está agora também em declínio.
“Na
China, a produção de eletricidade a partir de centrais eólicas já ultrapassa
aquelas a partir de usinas nucleares, enquanto o uso de carvão chegou ao pico”.
Segundo
Lester Brown e colegas: “Inicialmente, esta transição energética foi
impulsionado por incentivos do governo, mas agora ela também está sendo
impulsionada pelo mercado. Com os preços de hoje favorecendo tanto a energia
solar, quanto eólica, em muitos locais, a transição está em aceleração,
movendo-se muito mais rápido do que o previsto anteriormente”. O gráfico abaixo
mostra a distribuição e o avanço da energia solar fotovoltaica até 2014.
O
banco de investimento UBS também tem uma expectativa otimista da evolução da
energia solar:
1) mais de 10% da energia do mundo poderia ser gerada a partir
do sol dentro de uma década;
2) a energia solar poderá ser a “tecnologia padrão
do futuro”, substituindo definitivamente o carvão e a energia nuclear. (Walton,
2015).
Sem
dúvida o avanço da energia renovável substituindo os combustíveis fósseis é uma
necessidade urgente para a estabilização da economia e do clima (Alves, 2014 e
2015). Contudo, todo este otimismo não é compartilhado por outros analistas.
Kurt
Cobb considera que a revolução energética, se acontecer na escala necessária,
não deve ocorrer de maneira tão rápida e nem com tantos resultados positivos
sobre o clima. Ele diz: “Mesmo com todos os esforços a transição energética
atual, embora cada vez mais urgente, ainda levaria um longo tempo. E não está
claro a dimensão dos resultados positivos no que diz respeito às alterações
climáticas”.
Gail
Tverberg (2014), no artigo: “Ten Reasons Intermittent Renewables (Wind and
Solar PV) are a Problem”, relaciona dez problemas que dificultam a superação
dos combustíveis fósseis e a mudança da matriz energética mundial para fontes
renováveis.
Richard
Heinberg, analisando o crescimento da energia renovável no artigo “Renewable
Energy Will Not Support Economic Growth” (2015), chega à seguinte conclusão:
“Em suma, há muito mais desafios associados à transição da energia renovável do
que oportunidades. Há possíveis soluções para todos os problemas que
identificamos. Mas a maioria dessas soluções envolvem custos mais elevados ou a
funcionalidade do sistema reduzida”.
Não
resta dúvidas de que a economia internacional precisa reduzir
significativamente os subsídios e a dependência dos combustíveis fósseis e
aumentar o peso das energias renováveis no conjunto da produção energética, a
despeito das dificuldades que precisam ser superadas. Para tanto é preciso que
as diversas nações criem políticas públicas para incentivar a utilização das
energias renováveis e que haja incentivo para que o mercado, as famílias e as
comunidades invistam na mudança da matriz energética. Também é preciso
construir redes de transmissão inteligentes para controlar a sazonalidade da
produção de energia eólica e solar, aumentar a eficiência energética e adaptar
a produção à demanda.
Portanto,
os investimentos em energia eólica e solar devem vir acompanhados de uma
mudança no modelo de produção e consumo que degrada a natureza e aumenta a
pegada ecológica. O mundo precisa se livrar dos combustíveis fósseis, mas
também precisa caminhar rumo ao decrescimento das atividades antrópicas,
renovando o estilo de desenvolvimento consumista que tem colocado tantas
pressões sobre o meio ambiente e a biodiversidade. Como colocado em artigo
recente (Alves, 2014): “Somos a primeira geração a sentir o impacto da mudança
climática e a última geração que pode fazer alguma coisa para evitar um
desastre ecológico global”. A mudança da matriz energética é um primeiro passo.
Mas a construção de uma civilização ecológica é um sonho ainda muito distante e
que vai requerer muitos esforços. (ecodebate)
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