Itaipu chega perto dos
100 milhões de MWh apostando na eficiência.
Usina binacional desbanca a chinesa Três Gargantas,
a maior hidrelétrica do mundo em capacidade instalada. Marca histórica deve ser
batida esta semana.
A
hidrelétrica de Itaipu (14.000MW) já produziu 98,8 milhões de MWh, com a expectativa
de atingir a marca inédita de 100 milhões. A previsão da companhia é fechar
2016 com uma produção superior a 102 milhões de MWh. Para fins de comparação, a
chinesa Três Gargantas, a maior hidrelétrica do mundo em capacidade instalada
(22.500 MW), fechou novembro com a geração em torno de 83 milhões de MWh e
prevê uma produção total de 90 milhões de MWh em 2016. Confirmadas as
projeções, a vantagem final de Itaipu será de mais de 10 milhões de MWh, o
equivalente a mais de um mês de geração.
Para o
diretor técnico da companhia, Airton Dipp, o título de maior produtora de
energia hidrelétrica do mundo não representa apenas um status para Itaipu, mas
significa que a usina traz ainda mais benefícios ao Brasil e ao Paraguai. A
produção maior deste ano fez com que aumentasse a participação de Itaipu nos
mercados do setor elétrico brasileiro e paraguaio. “Hoje, Itaipu responde por
18% do consumo nacional, quatro pontos percentuais a mais do que o registrado
no ano passado, e por 82% da demanda do Paraguai, ante 76% em 2015”.
O aumento
da produção também se reflete em mais royalties (indenização pela exploração do
uso da água para a geração de energia elétrica), pagos ao Brasil e ao Paraguai.
Como o cálculo é feito com base na variação do dólar – e como a moeda americana
se valorizou frente ao real -, o repasse de royalties a partir da produção
deste ano será 15% maior. Desde o início do pagamento, em 1985, a soma dos
royalties pagos pela Itaipu para os dois países passa de US$ 10 bilhões.
Além da
disponibilidade de água, outros três fatores são determinantes para que uma
hidrelétrica produza energia: unidades geradoras em condições operacionais,
linhas de transmissão idem e consumo. “Água e consumo são variáveis que não
controlamos. Então, nosso papel é atuar no sentido de que as unidades geradoras
e os sistemas de transmissão não sejam fatores limitantes para a produção. Se
temos sucesso, para o consumidor, é como se esses fatores fossem infinitos”,
explica o superintendente de Operação da Itaipu, Celso Torino.
Para
maximizar a disponibilidade de suas unidades geradoras, a Itaipu aprimorou, a
partir de 2011, seu modelo de gestão operacional, que incorpora princípios da
Engenharia de Produção e que pressupõe um maior entrosamento entre as equipes
de Engenharia, Obras, Manutenção e Operação da usina. A ideia é aproveitar da
melhor forma possível toda água que chega ao reservatório. Os resultados desse
modelo de gestão ficam claros se observada a evolução da produção e dos índices
de produtividade da usina. Em 2008, por exemplo, ano em que a Itaipu
estabeleceu um recorde mundial com 94,6 milhões de MWh, a Itaipu registrou um
aproveitamento de 97,6% de seus recursos hídricos. Ou seja, de toda água do rio
Paraná que chegou à usina e poderia ser transformada em energia, 97,6% foram
realmente utilizados, um desempenho excepcional até então.
A partir
de 2012, esse índice tem sido sempre superior a 96%, tendo chegado a 99,3% em
2014. Para este ano, em que a usina está registrando novo recorde mundial com
mais de 100 milhões de MWh, o índice deverá novamente ultrapassar os 96%.
Alguns fatores externos contribuíram para esse número não ter sido ainda melhor
como, por exemplo, a retração da economia, que impacta sobre a demanda por
energia.
O modelo
de gestão operacional foi batizado internamente de “dança com as águas”, o que
já dá uma ideia de seu conceito. Tudo começa pela área de Hidrologia, que
mantém um acompanhamento ininterrupto do comportamento do reservatório, seus
afluentes e das chuvas na bacia hidrográfica do Paraná. Os dados fornecidos por
essa área são determinantes para as tomadas de decisão das demais áreas ligadas
à produção de energia, que dentro de determinados princípios e limites têm a
missão de providenciar o melhor uso da água.
Por
incorporar princípios de engenharia de produção, a água é tratada como um
recurso dentro de uma cadeia de suprimento. “Dentro dos fatores determinantes
para a produção, o consumidor é mais previsível. Se está fazendo calor, há mais
consumo. Aos domingos e durante as madrugadas, a demanda cai. Então, se
buscamos a eficiência na produção, nossas ações devem se pautar a partir do
comportamento da água”, completa Torino.
O
departamento de hidrologia emite boletins diários, com dados que abrangem desde
as próximas horas até previsões para 10 dias. “O cenário para os dias seguintes
é diariamente atualizado e aperfeiçoado. E a operação pode estimar se poderá
contar com a água que está chegando ou se terá que usar do estoque do
reservatório”, afirma Rafael de Souza Favoreto, gerente da Divisão de
Programação e Estatística. O cenário também é estimado com o conhecimento das
condições previstas e futuras dos sistemas elétricos do Brasil e do Paraguai
que podem impactar em Itaipu.
Os dados
são captados automaticamente por cerca de 40 estações do chamado Sistema de
Telemetria Hidrometeorológica (STH) e enviados a uma estação central. A usina
utiliza ainda dados de sistemas meteorológicos, como imagens de satélite,
imagens de radar e localização de descargas elétricas, por meio de convênios
com o Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar) e Dirección Nacional de
Aeronáutica Civil (Dinac), do Paraguai.
A
experiência de quase 33 anos de geração da Itaipu, soma-se um aperfeiçoamento
contínuo dos modelos que projetam o comportamento e a propagação da água na
bacia hidrográfica. “Quanto mais preciso é o boletim hidrometeorológico, melhor
é o planejamento da produção para os dias seguintes”, resume Alberto de Araújo
Bastos, gerente do Departamento de Operação do Sistema.
A
previsão vai para a área de planejamento da operação que, por sua vez, recebe
da Ande (no Paraguai), e da Eletrobras e do Operador Nacional do Sistema (no
Brasil) a previsão de demanda por energia nos dois países. A operação busca,
então, adequar o aproveitamento máximo da água aos horários de maior consumo.
Paralelamente, são também adequadas as ações de manutenção e obras que possam
envolver parada de máquinas. Estas costumam ocorrer em datas mais adequadas e
dentro de determinados limites, e podem ser adiantadas ou postergadas em função
do melhor aproveitamento da água.
Normalmente,
a Itaipu opera com a disponibilidade de 19 unidades geradoras e uma em
manutenção. Das 20 unidades, 10 estão no setor de 50 Hertz e 10 no de 60 Hertz.
A flexibilidade adotada pela usina também implica em utilizar mais água em um
ou outro setor, conforme o cenário. “Se a previsão de consumo da Ande não se
confirma, por exemplo, isso significa que há mais energia disponível para o
Brasil ou vice e versa, e os ajustes são feitos em tempo real, na Sala de
Despacho de Carga”, exemplifica Rodrigo Gonçalves Pimenta, da Divisão de
Operação do Sistema. Outras variáveis que influenciam na gestão da produção vêm
das equipes que supervisionam o funcionamento das máquinas e toda a usina na
Sala de Supervisão e Controle Central. As unidades geradoras dispõem de uma
série de sensores que podem disparar alarmes, sinalizando algum tipo de mau
funcionamento, como uma elevação anormal da temperatura.
As
equipes, então, têm de avaliar se se trata de uma anomalia que precisa ser
resolvida na hora, com desligamento da máquina, ou se pode ser consertada sem
interrupção da geração. Ou, ainda, se pode ser momentaneamente conviver com a
anomalia e programar a intervenção para um momento de baixo consumo. Porém,
antes de manter as máquinas em operação, há três pilares básicos que norteiam a
tomada de decisão: se implica em algum risco para os trabalhadores ou para o
meio ambiente; ou se há risco para os equipamentos ou ativos da usina; ou,
ainda, se a própria produção de energia pode ser colocada em risco.
É uma
análise de risco que podem envolver pessoas comprometidas e capacitadas de pelo
menos três áreas da técnica: operação do sistema, operação da usina e
manutenção. “Algumas ações de manutenção, obras ou montagens são feitas com as
máquinas operando. É como se consertássemos um avião em pleno voo”, compara o
Douglas Teixeira Barreto, da Divisão de Operação da Usina e Subestações.
“Uma decisão errada pode levar, no mínimo, a uma perda de eficiência na
produção”, completa Paulo Zanelli Júnior, da mesma área. A comparação com a
aeronáutica guarda outro paralelo em relação à solução de panes. Assim como
pilotos são treinados para uma série de procedimentos que são adotados em
situações críticas, a gestão da produção hidrelétrica também adota sequências
de comandos específicos para emergências.
Conforme
explica Rui Jovita Godinho Correa da Silva, gerente da Divisão de Estudos
Elétricos e Normas, a Itaipu promoveu ao longo dos anos uma série de estudos
que permite à operação saber o que deve ser feito quando surgem imprevistos,
como a queda de linhas de transmissão, por exemplo. “Hoje, a grande maioria das
ocorrências está prevista e os operadores sabem as medidas que precisam ser
adotadas”, garante.
A
evolução da gestão de crise também permitiu diminuir eventuais gargalos na
transmissão. Em eventos extremos, como, por exemplo, a realização da Copa do
Mundo, das Olimpíadas ou de uma visita papal, em que o setor elétrico precisa
operar dentro de uma faixa mais restritiva em prol da extrema segurança a
disponibilidade de carga da Itaipu para o Brasil costumava ser reduzida dos habituais
7 mil MW para 3 mil MW.
Com a
evolução dos procedimentos de operação da usina, essa carga hoje é restringida
em 4,9 mil MW, o que, além do ganho de potência, representa também maior
confiabilidade para o sistema. Da mesma forma, estudos e ações de médio e longo
prazo são adotados por todas as áreas da Diretoria Técnica da Itaipu, para que
as restrições de produção sejam sistematicamente evitadas ou eliminadas.
(canalenergia)
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