A história do biodiesel começa junto com a história do século 20. Embora os combustíveis de origem orgânica só tenham surgido como uma ideia viável bem mais tarde, principalmente após a explosão do preço do petróleo, na década de 1970, no início do funcionamento dos motores diesel já há relatos de uso de óleo vegetal para movê-los. E com sucesso.
O próprio Rudolf Diesel, inventor dos motores que levam seu nome, atestou o sucesso do uso de óleo de amendoim como combustível. O caso ocorreu na Exposição Mundial de Paris, em 1900. “A companhia francesa Otto demonstrou o funcionamento de um pequeno motor diesel com óleo de amendoim. Essa experiência foi tão bem sucedida que apenas alguns dos presentes perceberam as circunstâncias em que a experiência havia sido conduzida. O motor, que havia sido construído para consumir petróleo, operou com óleos vegetais sem qualquer modificação”, registra o histórico do combustível realizado pelos autores do Manual de Biodiesel.
Na verdade, o motor não apenas funcionou com o óleo orgânico como pôde-se perceber que o desempenho da máquina, em comparação com o uso do combustível fóssil, foi exatamente o mesmo. Mais tarde, Rudolf Diesel diria que seus motores também funcionaram bem, experimentalmente, com outros óleos orgânicos, como o óleo de mamona e gorduras animais.
O inventor se empolgou com a descoberta e previu que, embora nos anos seguintes isso provavelmente não significasse uma substituição do petróleo, no futuro os óleos orgânicos poderiam ser muito importantes. “De qualquer forma, eles (os experimentos) permitiram demonstrar que a energia dos motores poderá ser produzida com o calor do sol, que sempre estará disponível para fins agrícolas, mesmo quando todos os nossos estoques de combustíveis sólidos e líquidos estiverem exauridos”, afirmou Diesel em uma palestra ao Institution of Mechanical Engineers (Instituto dos Engenheiros Mecânicos da Grã-Bretanha).
Diesel estava certo também sobre a primazia que os
combustíveis de origem mineral teriam num primeiro momento. Os óleos vegetais,
logo se perceberia, deixavam depósitos de carbono no motor que exigiam
manutenção muito mais frequente e acabavam tornando a vida da máquina mais
curta.
Só houve avanços na perspectiva do uso de combustíveis
derivados de produtos orgânicos a partir do momento em que se percebeu que “a
remoção da glicerina da molécula original de óleo vegetal gerava um combustível
muito mais apropriado para os motores do tipo diesel”.
Isso ocorreu quando o belga George Chavanne, da
Universidade de Bruxelas, descobriu o processo de transesterificação, a reação
que permite a obtenção do biodiesel moderno. A descoberta de Chavanne foi
patenteada na Bélgica em 1937, e logo ganhou aplicação prática. No ano
seguinte, o biodiesel obtido com a reação foi usado para movimentar os ônibus
de uma linha entre as cidades de Bruxelas e Louvain.
Durante a Segunda Guerra Mundial, muitos países
usaram óleos de origem vegetal como fonte de combustível ou pesquisaram esse
uso. A necessidade de substituição do petróleo, que escasseava com as
restrições impostas pelo conflito, era a principal motivação para essas
tentativas.
O Brasil, por exemplo, proibiu a exportação de óleo
de algodão “porque este produto poderia ser usado para substituir as
importações de óleo diesel”. China, Argentina e Índia têm relatos semelhantes
de esforços para a substituição do diesel.
Com o final da Segunda Guerra em 1945, porém, a
produção e a distribuição do petróleo pelo mundo se normalizaram, e as
pesquisas para uso do biodiesel foram temporariamente abandonadas. Só seriam
retomadas quase 30 anos depois, novamente por motivos políticos e econômicos.
Foi a crise do petróleo, a partir de 1973, que
colocou cientistas e governos novamente atrás de uma alternativa viável para o
combustível fóssil. A política dos maiores produtores mundiais de petróleo,
agora unidos na Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), fez
reduzir a produção mundial e aumentou freneticamente os preços, fazendo com que
muitos países decidissem apostar em programas que até então tinham poucas
chances de sair do papel.
Para se ter uma ideia, a onda de pressão causada
pelos integrantes da Opep elevou o preço do barril de US$ 2,90 para US$ 11,65
em apenas três meses. As vendas para os EUA e a Europa também foram embargadas
nessa época, em represália ao apoio dado a Israel por esses países na Guerra do
Yom Kippur (Dia do Perdão). Com isso, as cotações chegaram a um valor
equivalente a US$ 40 nos dias de hoje (essa crise aumentou a dívida externa
brasileira em mais de 40%).
Aumentam nessa época e nos anos seguintes as
pesquisas sobre combustíveis alternativos. Curiosamente, é dos anos 1980,
justamente quando essa busca se intensificava, o primeiro uso na história da
palavra “biodiesel”. O termo teria aparecido num trabalho chinês de 1988, sendo
citado novamente em 1991 e a partir daí se disseminado pelo mundo.
É nesse contexto que o Brasil passa a investir em
combustíveis orgânicos. O primeiro grande produto dessa busca seria o etanol,
tema do Proálcool. O segundo, o biodiesel. (biodieselbr)
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