Ônibus não poluentes: Em
poucos anos, mercado saberá separar o “joio do trigo”, diz vice-presidente da
ABVE.
Muitos investidores do transporte coletivo ainda
têm dúvidas em relação à viabilidade econômica das atuais tecnologias de ônibus
menos poluentes. Já a sociedade como um todo também discute se realmente estes
ônibus trazem todos os benefícios prometidos pelos fabricantes. São Paulo deve
lançar nos próximos dias definitivamente o edital de licitação dos transportes,
que vai definir metas de redução de poluição para os ônibus.
Não será determinada a tecnologia, ou seja, o tipo
de ônibus não poluente que o empresário deve escolher. Diante disso, o mercado
se agitou ainda mais e cada fabricante defende veementemente sua tecnologia
como a solução, entre trólebus, ônibus elétricos com bateria, ônibus híbridos,
ônibus a gás natural/biometano, ônibus com maior mistura de biocombustíveis ao
diesel, ônibus a etanol (que mais uma vez teve a reputação afetada com
problemas nas frotas atuais, em parte, por causa da manutenção realizada nas
garagens), entre outras atuais e, a promessa ainda, do ônibus a hidrogênio.
Isso sem contar que alguns empresários de ônibus também atuam como vendedores
de chassis de veículos a diesel, como o grupo Sambaíba, de Belarmino de
Ascenção Marta, representante da Mercedes-Benz.
O grupo do empresário José Ruas Vaz, que detém a
maior parte das linhas municipais do sistema estrutural de São Paulo, e é sócio
majoritário da Caio Induscar , fabricante de carrocerias. Entretanto, existem
modelos da Caio para trólebus, híbridos e está em fase de ajustes a carroceria
modelo Millennium para o chassi do ônibus da BYD, empresa chinesa que passou a
fabricar plataformas para coletivos 100% elétricos com baterias.
A Mercedes-Benz também forneceu chassis para
modelos de ônibus elétricos e trólebus da Eletra, “conterrânea” de São Bernardo
do Campo. O diesel de cana e a maior proporção de biocombustíveis estão também
na mira da marca alemã. A aposta da Scania é de ônibus a gás natural e
biometano (combustível proveniente do processo de decomposição do lixo).
A Volvo propaga seu ônibus elétrico híbrido,
fabricado desde 2012 em Curitiba. Mas afinal, dá para saber na prática qual é a
melhor tecnologia para a realidade de São Paulo, que pode ser vitrine para todo
o País? A vice-presidente de veículos pesados da ABVE – Associação Brasileira
do Veículo Elétrico e gerente da Eletra, que fabrica tecnologia para ônibus
menos poluentes e trólebus em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, Ieda Maria
Alves de Oliveira, conversou com Diário do Transporte e o Canal Mova-se no 21º
Congresso de Trânsito e Transportes promovido pela ANTP – Associação Nacional
de Transportes Públicos, na capital paulista.
Apesar de representar uma associação que reúne os fabricantes
de ônibus com propulsão elétrica, Ieda defende que haja diversidade nas
matrizes energéticas para depois o próprio mercado escolher as opções que
considerar melhor. A ABVE – Associação Brasileira de Veículos Elétricos propõe
como alternativa à Lei de Mudanças Climáticas um novo cronograma de
substituição.
No artigo 50, a lei de 2009 determinava troca anual
de 10% da frota de ônibus municipais até que em 2018 nenhum ônibus dependesse
somente de diesel. Pela proposta da entidade, que agora é um substitutivo de
projeto de lei na Câmara Municipal de São Paulo, em 2027, todos os novos ônibus
incluídos no sistema seriam menos poluentes (Relembre: https://diariodotransporte.com.br/2017/06/07/vereador-apresenta-proposta-que-altera-projeto-de-milton-leite-sobre-cronograma-de-onibus-nao-poluentes/). Para Ieda, com base neste cronograma proposto, em poucos anos, o
mercado já teria condições de escolher os tipos de ônibus não poluentes que
seriam mais adequados à realidade operacional.
“A partir do quarto ano, quando haverá mais de mil
ônibus não poluentes com várias tecnologias, é que o mercado vai começar a se
consolidar e já será possível separar o joio do trigo, ou seja, o que do ponto
de vista ambiental e econômico é bom ou ruim. A vantagem é que o empresário vai
poder escolher o que achar mais vantajoso” – disse Ieda. A executiva também
garante que custo de aquisição e manutenção dos veículos não poluentes deixará
de ser um entrave para ampliação da frota com matrizes energéticas alternativas
ao diesel. “Inicialmente o custo do ônibus elétrico é maior, mas este custo
será reduzido com o tempo, pela demanda, quando aumentar a produção, e também
na operação. Por exemplo, ninguém fala que quando entrar o Euro 6 (novas
exigências para reduzir a poluição dos ônibus diesel), provavelmente em 2022,
também está previsto o aumento de custo [de aquisição]… nós temos um estudo
pela ABVE que mostra que quando se compara os custos de operação e aquisição,
se hoje toda a frota que São Paulo tem [cerca de 15 mil ônibus] fosse trocada
por ônibus elétricos, haveria um impacto no sistema de menos de 10% e isso nos
piores cenários, sem contar, por exemplo, que o preço das baterias já está
caindo com o passar do tempo” – explicou Ieda.
PLANO DE METAS PARA SÃO PAULO: Nesta semana a
gerente comercial, da Eletra, Ieda Alves, também comentou o Plano de Metas
apresentado pela equipe do prefeito João Doria à Câmara Municipal. Como
destacou o Diário do Transporte em primeira mão, o plano prevê na área de
mobilidade, até 2020, a construção ou requalificação de 72 km de corredores de
ônibus, a colocação de quatro mil ônibus zero quilômetro nas linhas municipais
e wi-fi e ar-condicionado em seis mil veículos.
O plano também estipula metas de redução da
poluição gerada pelos ônibus da capital paulista: com 15% menos de CO2,
o equivalente a 156.649 toneladas a menos na atmosfera, redução de 50% nas
emissões de materiais particulados e de 40% de NOx. Relembre: https://diariodotransporte.com.br/2017/07/11/novo-plano-de-metas-mobilidade-onibus/ Ieda acredita que com as previsões colocadas em lei, os empresários de
ônibus devem ser “estimulados” a aderirem às tecnologias menos poluentes, mas
cobra rigor na fiscalização do cumprimento dos índices: “A proposta é muito
boa, porém os critérios de medição que vão indicar o cumprimento das metas,
precisam ser transparentes e considerar ações efetivas, que só serão alcançadas
de fato pela introdução dos ônibus com tecnologias de baixa emissão” A
executiva defende o ônibus Dual Bus, que pode operar tanto como trólebus e
ônibus híbrido num mesmo veículo ou então na configuração ônibus híbrido e
ônibus à bateria 100% elétrico.
O modelo, de 23 metros de comprimento e capacidade
para 153 pessoas, circula como híbrido no Corredor Metropolitano ABD, entre
Diadema e Brooklin, na zona Sul da capital paulista, pela Metra, do mesmo grupo
da Eletra. O modelo tem também a configuração trólebus, mas neste trecho do
Corredor não há rede aérea eletrificada. “O Dual Bus não é apenas um híbrido ou
um elétrico puro, oferece as duas tecnologias no mesmo veículo”, diz Ieda Alves
Oliveira. Em nota, a Eletra destaca algumas das características do ônibus.
A grande novidade tecnológica do veículo é o seu
sistema padronizado de tração elétrica, que pode ser alimentado por várias
fontes de energia e circular em duas configurações diferentes: híbrido ou
trólebus e híbrido ou elétrico puro. O Dual Bus é tracionado apenas pelo motor
elétrico e a energia para mover esse motor pode vir do banco de baterias, de um
motor gerador ou da rede elétrica aérea Troleybus).
O modelo híbrido traz ainda a vantagem de reduzir
significativamente a emissão de poluentes e pode chegar a zero na operação com
o motor-gerador desligado. O consumo de combustível na versão hibrida tem redução
de 28%. E como elétrico puro ou trólebus, além de emissão ZERO, consome 33%
menos energia, pela eficiência na frenagem regenerativa.
O modelo Dual Bus de 23
metros de comprimentos, tem capacidade de transportar 153 passageiros e não
demanda investimentos em infraestrutura de recarga para as baterias, pois
quando está operando como híbrido ou elétrico, as baterias também são
recarregadas nas frenagens por meio de um sistema conhecido como Kers, sigla em
inglês para sistema de recuperação de energia cinética. Quando o freio é
acionado, o motor elétrico vira um gerador e a energia que seria desperdiçada
na frenagem é reaproveitada e armazenada no banco de baterias. (abve)
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