O lado sombrio da energia solar: escassez de insumos, lixo
e poluição.
O
mundo está passando por uma transição da matriz energética, com declínio
relativo dos combustíveis fósseis e aumento das energias renováveis. O futuro
será das energias renováveis ou não haverá futuro, pois o carvão, o gás e o
petróleo são recursos finitos. A energia solar fotovoltaica tem sido o destaque
da nova matriz energética e deve ser a fonte com maior crescimento nas próximas
décadas.
Porém,
nem tudo são luzes e brilhos. A lei da entropia vale para todas as atividades e
para todos os tipos de energia. Há muitos insumos materiais na produção
fotovoltaica e a utilização de “terras raras”, que são minerais não renováveis,
caros e controlados por poucos países.
Mas
o maior problema é o Pico do Lítio, como mostrei em artigo do ano passado
(Alves, 21/12/2016). As estimativas de reservas de lítio no início de 2015,
estava em algo como 39,5 milhões de toneladas métricas. As maiores reservas
estão na Bolívia, no Chile e no Afeganistão. Para acompanhar o crescimento da
produção atual, as reservas conhecidas seriam suficientes para cerca de 365
anos de produção global, que está em cerca de 37 mil toneladas por ano.
Mas
se a produção de carros elétricos deslanchar, o fornecimento de lítio de 365
anos seria reduzido para 17 anos. Ou seja, se houver uma revolução na matriz
energética e as baterias de Íons de Lítio se generalizarem para os aparelhos
eletrônicos, as casas e os carros, então, teremos o Pico do Lítio e haverá uma
escassez deste metal raro. Isto mostra que não é tão fácil avançar na revolução
energética e na matriz 100% renovável. As baterias de sódio ainda não
decolaram.
Outro
problema é o lixo e a poluição gerados pelo descarte dos painéis solares.
Artigo de Mark Nelson (28/06/20017) mostra que este é problema sério. Por
exemplo: a quantidade de desperdício de painéis solares que o Japão produz
todos os anos aumentará de 10.000 para 800.000 toneladas em 2040 e o país não
tem nenhum plano para resolver este problema com segurança. Somente a Europa
exige que os fabricantes de painéis solares coletem e eliminem o lixo solar no
final de suas vidas úteis. Vejamos alguns números, segundo o autor:
· Os painéis solares criam 300
vezes mais resíduos tóxicos por unidade de energia do que as usinas de energia
nuclear.
· Se a energia solar e nuclear
produzirem a mesma quantidade de eletricidade nos próximos 25 anos que a
produção nuclear de 2016, os resíduos empilhados em campos de futebol, atingiriam
a altura da Torre de Pisa (52 metros), no caso nuclear, e o lixo solar
atingiria a altura de dois Montes do Everest (16 km).
· Em países como China, Índia e
Gana, as comunidades que vivem perto de despejos de resíduos eletrônicos muitas
vezes queimam os resíduos para salvar os valiosos fios de cobre para revenda.
Uma vez que este processo requer queima do plástico, o fumo resultante contém
fumos tóxicos que são cancerígenos e teratogênicos (causadores de defeitos
congênitos) quando inalados.
· Enquanto os resíduos nucleares
estão contidos em tambores pesados e monitorados regularmente, os resíduos
solares fora da Europa hoje terminam na maior transmissão global de resíduos
eletrônicos.
· Os painéis solares contêm
metais tóxicos como chumbo, que podem danificar o sistema nervoso, bem como o
crómio e o cádmio, carcinógenos conhecidos. Todos os três são conhecidos por
lixiviar os depósitos de resíduos eletrônicos existentes em fontes de água
potável.
Evidentemente,
estes problemas terão que ser resolvidos para que a energia solar se torne uma
fonte hegemônica de energia. É claro também que existem lobbys de outras fontes
de produção de energia que querem desqualificar as energias renováveis. Mas o
fato é que não existe “almoço grátis”, ou seja, vivemos em um mundo sob o
domínio do fluxo metabólico entrópico e não existe panaceia para viabilizar o
padrão de produção e consumo ilimitado da humanidade.
Artigo,
Jason Hickel (15/07/2016), da Rede de profissionais de desenvolvimento global,
no jornal The Guardian, mostra que a energia limpa “não nos salvará – apenas um
novo sistema econômico”. Se a humanidade fizer exatamente o que faz na era dos
combustíveis fósseis, pouco vai resolver os 100% de energia limpa. Apenas as
energias renováveis não evitarão os efeitos dramáticos das mudanças climáticas.
Artigo
recente de Gail Tverberg (22/07/2017) mostra que a EROEI da energia solar e
eólica é muito baixa, o que representa um obstáculo no processo das energias
renováveis substituírem os combustíveis fósseis com a mesma eficiência
econômica.
Assim
como não é possível ignorar a lei da gravidade, também não é possível ignorar a
lei da entropia. A revolução energética só vai funcionar se houver
decrescimento demoeconômico no mundo e se a pegada ecológica ficar menor do que
a biocapacidade do Planeta. (ecodebate)
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