Você abastece o seu carro com gasolina ou etanol?
'Meu carro é elétrico. Então eu carrego com energia, na tomada de casa.'
O gestor hospitalar Edgar Escobar desembolsou R$
160 mil pra comprar um carro elétrico há cerca de um ano. 'Gastava R$ 800 de combustível
por mês. Hoje, eu gasto R$ 40 de energia elétrica. Eu fiz as contas. Nessa
diferença, eu tenho uma economia de R$ 10 mil a R$ 15 mil por ano, só com essa
diferença na manutenção e combustível. ' E ele tem um dos 4.784 veículos
elétricos ou híbridos que circulam pelas ruas do Brasil hoje.
Essa quantidade ainda é considerada pequena por
especialistas. Mas o crescimento no número de unidades vendidas tem sido
expressivo e chegou a 162% no primeiro semestre de 2017.
São carros e ônibus que ajudam a preservar o meio
ambiente. E cerca de 300 deles são 100% elétricos. Ou seja, a emissão de gases
poluentes é zero.
Todo o funcionamento do carro é sustentado pela
bateria, que pode ser carregada numa tomada dentro de casa. Essa tomada é
diferenciada e pode custar até R$ 3 mil.
E quem dirige garante que a experiência é
totalmente nova. 'É bem melhor. Ele não tem combustão. Então, ele vai de 0 a 80
km/h com muita facilidade, é um carro silenciosíssimo. Porque o carro se
desloca como se fosse o metrô. Ele se desloca, mas você não ouve o barulho do
motor. Sem contar que não polui a cidade. ' Esse relato foi do Claudio Machado,
um motorista de táxi que participou de um projeto piloto da prefeitura do Rio
em parceria com a Nissan. Ele recebeu de graça um carro 100% elétrico pra
trabalhar por cerca de dois anos. Nesse período, o projeto evitou o lançamento
de mais de 200 toneladas de CO2 na atmosfera.
Hoje, não há produção nacional, e, como incentivo,
carros elétricos são isentos da taxa de importação. Algumas cidades, como São
Paulo e Rio, já reduzem o IPVA. E o foco do setor agora é justamente a capital
paulista. As empresas negociam com a prefeitura pra que pelo menos 20% dos
ônibus da cidade sejam híbridos-elétricos a partir da próxima licitação.
Enquanto isso, outra cidade bem próxima desponta como referência nacional.
Em Campinas, a concessionária de energia CPFL tem
distribuído pontos de recarga e incentivado empresas a trocar as frotas. E o
gerente de mobilidade elétrica da distribuidora, Danilo Leite, diz que a boa
notícia é que a rede de energia é capaz de atender essa demanda. 'Eu poderia
fazer uma comparação do tipo: se na minha área de concessão, 25% dos veículos
fossem elétricos, o que é um marketshare que não existe nem em países
desenvolvidos e com mercado avançado, eu não teria qualquer tipo de impacto.
O veículo elétrico não é
uma carga diferente de cargas normais que a gente tem dentro da nossa casa,
como um chuveiro elétrico e um micro-ondas. ' A autonomia da maioria das
baterias fica entre 150km e 400km. Mas e se a carga estiver acabando e você
estiver no congestionamento? Em tese, bastaria procurar um eletroposto, que é o
ponto de recarga e funciona como um posto de gasolina. Mas ainda não é tão
simples assim.
'As pessoas têm medo de sair de casa com seus
veículos elétricos e acabar a eletricidade na rua. Aí o jeito de voltar pra
casa é chamar o guincho. 'O presidente da Associação Brasileira do Veículo
Elétrico, Ricardo Guggisberg, afirma que o número de pontos de recarga ainda é
muito baixo. Na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, os pontos públicos não
chegam a cinco.
Não há um controle por parte do governo da
quantidade de eletropostos do país e os motoristas ficam reféns do Google ou de
aplicativos das próprias montadoras pra saber onde podem abastecer. A Aneel
ainda está regulamentando o serviço. 'Essa regulação está travando a expansão
dos eletropostos. Eles estão regulando de quem é essa responsabilidade. O que
nós sabemos? Que quem tem que vender energia é a distribuidora que é dona da
área. Você está em São Paulo? É a AES Eletropaulo.
Então nenhum atravessador vai poder vender energia
no lugar da AES Eletropaulo. O atravessador poderá vender o serviço de recarga,
mas nunca a energia. ' Essa regulamentação está em fase de consulta pública e
deve ser concluída nos próximos meses.
Enquanto isso, o especialista da Sociedade de
Engenharia da Mobilidade Ricardo Takahira lembra a questão ecológica e o
potencial do agronegócio. 'A gente tem uma solução muito interessante em termos
de sequestro de carbono, que é o etanol. O etanol pode ser um bom combustível,
não é tão poluente quanto a gasolina. De repente, um híbrido flex, que não
existe em lugar nenhum do mundo, pudesse ser uma política pública. ' Mas o
diretor do Departamento de Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e
Energia, Carlos Alexandre, ressalta que ainda deve demorar pra que esse mercado
seja realidade pra todos os brasileiros.
'No horizonte de 2026, ainda seria tímida a
penetração de veículos elétricos, tanto o puro plug-in, quanto os híbridos. A
estimativa no plano de 2026 dá conta de que no máximo 1% da nossa frota seria
de veículos elétricos.'
Em outros países, carros
híbridos e elétricos já são prioridades. O governo da França, por exemplo, usou
a palavra 'revolução' pra anunciar o fim da venda de carros a combustão até
2040, num esforço pra cumprir exigências do Acordo de Paris. Já a Alemanha vai
proibir a circulação dos veículos convencionais a partir de 2050. (abve)
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