Os planos para proibir carros
diesel e a gasolina na Europa são realistas?
Modelo 3 sedan da fabricante de automóveis
elétricos Tesla.
Mais governos têm a intenção de proibir a venda de
carros diesel ou a gasolina a partir de um determinado ano - 2040, 2030 ou até
mesmo 2025.
Mas até que ponto devemos levar esses prazos a
sério?
A questão de como descontinuar os motores
tradicionais e poluentes ganhou urgência por conta de escândalos e crises.
Primeiro a admissão da Volkswagen de que trapaceou nos testes de emissão de
poluentes por seus motores diesel, nos Estados Unidos, e mais recentemente as
propostas de diversas cidades, na Alemanha e outros países, de proibir o uso de
motores diesel a fim de tornar o ar menos poluído.
Porém, o desejo político de eliminar os motores
tradicionais enfrentará diversos obstáculos no mundo real.
Será necessário estabelecer mais estações de
recarga para veículos elétricos, em todo o mundo, e isso pode ter custo
elevado. E milhões de empregos dependem da produção de motores de combustão
interna, o que faz dessa decisão um problema político, em muitos lugares.
"Creio que haja uma maioria, especialmente de
cidades, que acredita que é preciso mudar", disse Dieter Janecek, membro
do Partido Verde da Alemanha que disputará a reeleição para sua cadeira
legislativa na eleição de 24 de setembro, sobre o apelo oficial de seu partido
pelo fim das vendas de veículos a gasolina e diesel novos a partir de 2030.
Ele está disputando a reeleição nada menos do que
na Baviera, o lar da gigante automobilística BMW.
Mas ainda assim acredita que descontinuar os
motores tradicionais é uma causa vencedora. Janecek, 41, diz que muita gente
"encara com ceticismo o motor de combustão interna, porque precisa viver
com suas consequências e emissões". Isso se aplica especialmente às
populações urbanas. Mais de metade dos moradores dos bairros do centro de
Munique não têm carros. E é nas cidades que a questão da poluição é mais
premente.
Mas
muita coisa teria de acontecer antes que uma mudança dessa ordem fosse adotada.
Recarga
Não existem estações públicas de recarga rápida em
número suficiente para permitir jornadas mais longas com veículos puramente
elétricos. Janecek ama o seu elétrico Renault Zoe, que permite que ele circule
fazendo campanha e volte para casa e recarregue as baterias de noite. Mas para
viagens mais longas, ele a mulher ainda usam um Toyota Yaris convencional, um
arranjo de compromisso que se tornou comum entre os pioneiros na compra de
veículos elétricos. Os especialistas dizem que pela metade da década de 2020 os
carros elétricos podem começar a superar os carros a gasolina e diesel, com a
melhora da infraestrutura e o avanço de seu alcance.
Janecek reconhece que "sim, é um objetivo
muito ambicioso. Por outro lado, existem países, como a Noruega, que querem
avançar ainda mais rápido. Estou convencido de que a mudança acontecerá".
E também é preciso considerar o impacto sobre
aqueles que produzem os motores a gasolina e diesel.
Proibir os motores de combustão interna a partir de
2030 afetaria mais de 600 mil empregos na Alemanha, direta ou indiretamente, de
acordo com um estudo encomendado pela Associação da Indústria Automobilística
da Alemanha.
Pode ser por isso que as datas propostas pelos
governos para encerrar as vendas de veículos com motores tradicionais parecem
mais metas flexíveis do que prazos rigorosos.
Metas
A Noruega vem promovendo agressivamente os carros
elétricos, mas mesmo lá a proposta de eliminar a venda de veículos com motores
convencionais a partir de 2025, exceto os motores a gasolina empregados em
híbridos, é uma meta e não um prazo firme.
França e Reino Unido pensam em proibir a venda de
motores convencionais a partir de 2040 -
um prazo tão longo que os políticos envolvidos na medida já não estarão
em atividade e a tecnologia terá mudado de maneiras que é difícil prever.
O gabinete holandês anterior propôs autorizar
apenas a venda de veículos puramente elétricos a partir de 2035, mas o novo
governo do país ainda não tomou uma decisão definitiva.
A montadora de automóveis Volvo anunciou em julho
que, a partir de 2019, todos os seus modelos terão motor elétrico. Mas muitos
deles serão híbridos equipados também com um motor a gasolina, o que representa
uma solução de compromisso no caminho para o transporte motorizado sem emissão
de poluentes.
Na Califórnia, o poderoso Conselho de Recursos do
Ar está pressionando os fabricantes de carros a incluir veículos com emissão
zero de poluentes em suas linhas, mas não propôs eliminar as vendas de carros
com motores convencionais dentro de um prazo específico.
A China está incentivando fortemente os veículos
elétricos.
Flexibilidade
Metas flexíveis podem ter impacto, ainda assim. A
Noruega atingiu sua meta de ter 50 mil carros elétricos em circulação em 2015,
três anos antes do planejado.
"É uma proposta fácil de fazer, especialmente
porque alguns desses políticos já não estarão ativos em 2040", disse Brett
Smith, diretor assistente do grupo de produção, engenharia e tecnologia no
Centro de Pesquisa Automotiva de Ann Arbor, Michigan. "Mas o lado prático
da questão é outra coisa."
O que aconteceria com os valores de revenda dos
veículos com motores convencionais, quando o prazo estivesse se esgotando? O
que aconteceria com os postos de gasolina e seus donos?
Tratam-se de "questões imensas que os
políticos não queriam realmente considerar ao estabelecer esses prazos",
disse Smith.
As datas "são mais uma orientação, e quando
nos aproximarmos delas, teremos de descobrir como chegar ao objetivo. Não é uma
abordagem insensata".
Tão importantes quanto as metas ou orientações são
os incentivos que governos oferecem à indústria e aos consumidores.
Na Noruega, os carros elétricos são isentos do
imposto sobre valor adicionado de 25%, e de outras taxas. Impostos mais altos
sobre carros que poluam mais ajudariam a compensar a arrecadação perdida.
Outro aspecto importante é que a maior parte da
eletricidade da Noruega vem de hidrelétricas, e não da queima de combustível
fóssil. Isso significa que a demanda aumentada de energia para os carros
elétricos não resultará em emissões maiores de poluentes por usinas de energia acionadas
por gás natural ou carvão.
Investimentos
A indústria automobilística, no entanto, continua
comprometida com os motores tradicionais e a diesel, no futuro próximo,
enquanto acelera seu investimento em novas tecnologias.
A Daimler investiu € 3 bilhões (US$ 3,5 bilhões) no
desenvolvimento de um novo motor diesel de baixas emissões que já equipa alguns
de seus modelos E. Ao mesmo tempo, está investindo € 10 bilhões em tecnologia
para veículos elétricos e autoguiados.
Os governos estão fazendo um favor à indústria ao
estabelecer prazos firmes, diz Ferdinand Dudenhöffer, diretor do Centro de
Pesquisa Automotiva da Universidade de Duisburg-Essen, na Alemanha.
"Datas claras, como por exemplo 2040,
significam que os fabricantes de automóveis podem desenvolver planos claros
sobre o que fazer no futuro".
Smith disse que o mercado ainda desempenharia papel
importante. "Se o modelo de negócios correto existir, as pessoas
encontrarão maneira de bancá-lo". (uol)
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