segunda-feira, 4 de setembro de 2017

A transição energética: da energia fóssil às renováveis

“O futuro será das energias renováveis. Ou não haverá futuro
A edição do relatório “Renewables Global Status Report (GSR)”, de 2017, da Renewable Energy Policy Network for the 21st Century (REN21) revela que o mundo está passando por uma transição energética e que deve se acelerar nos próximos anos. Esta transição é fundamental para superar a Era dos combustíveis fósseis e para dissociação das atividades econômicas e as emissões de dióxido de carbono, sendo que houve estabilização das emissões relacionadas à energia pelo terceiro ano consecutivo.
A figura acima mostra que, para 2015, os combustíveis fósseis ainda dominavam a matriz energética mundial e representavam mais de três quartos do consumo global. A energia nuclear representava 2,3% do total, ficando as renováveis com 19,3% (fontes modernas com 10,2% e fontes tradicionais com 9,1%). Entre as energias modernas, a eólica e a solar somam menos de 1,6%.
Assim, apesar das tendências positivas, o ritmo da transição não está no bom no sentido de cumprir o caminho para alcançar os objetivos estabelecidos no Acordo de Paris, visando manter o aumento da temperatura global bem abaixo de 2°C. Sem dúvida, é preciso acelerar a transição energética, com aumento das energias renováveis que aproveitam as grandes reservas de vento e sol.
A capacidade de geração de energia renovável teve a sua maior elevação anual em 2016, com aumento de 161 gigawatts (GW). A capacidade global total aumentou quase 9% em comparação com 2015, alcançando quase 2.017 GW no final do ano.
A energia solar fotovoltaica (PV) contabilizou um acréscimo superior a qualquer outra tecnologia de geração de energia e representou cerca de 47% da capacidade de energia renovável instalada em 2016. A figura abaixo mostra que a capacidade global de energia solar PV chegou a 303 GW, sendo que o ano de 2016 bateu todos os recordes com 75 GW de capacidade instalada no ano. De 2006 a 2016 o aumento da capacidade acumulada foi de 50 vezes, algo realmente bastante significativo, embora tenha partido de uma base muito baixa e este ritmo de crescimento deve se reduzir nos próximos anos. A China foi o país que mais contribuiu com o aumento da energia solar. Assim, se a capacidade instalada dobrar a cada 5 anos, o mundo pode ter 100% de energia renovável antes de 2050.
A figura abaixo mostra que a capacidade instalada total de energia eólica alcançou 487 GW em 2016, bem acima da capacidade de energia solar. Mas o acréscimo anual foi menor, de 55 GW. A capacidade total de energia eólica está dobrando a cada seis anos, o que é pouco para um futuro 100% em meados do atual século.
Sem dúvida o avanço da energia renovável substituindo os combustíveis fósseis é uma necessidade urgente para a estabilização da economia e do clima (Alves, 2014 e 2015). Contudo, todo este otimismo não é compartilhado por outros analistas.
Kurt Cobb considera que a revolução energética, se acontecer na escala necessária, não deve ocorrer de maneira tão rápida e nem com tantos resultados positivos sobre o clima. Ele diz: “Mesmo com todos os esforços a transição energética atual, embora cada vez mais urgente, ainda levaria um longo tempo. E não está clara a dimensão dos resultados positivos no que diz respeito às alterações climáticas”.
Gail Tverberg (2014), no artigo: “Ten Reasons Intermittent Renewables (Wind and Solar PV) are a Problem”, relaciona dez problemas que dificultam a superação dos combustíveis fósseis e a mudança da matriz energética mundial para fontes renováveis.
Richard Heinberg, analisando o crescimento da energia renovável no artigo “Renewable Energy Will Not Support Economic Growth” (2015), chega à seguinte conclusão: “Em suma, há muito mais desafios associados à transição da energia renovável do que oportunidades. Há possíveis soluções para todos os problemas que identificamos. Mas a maioria dessas soluções envolvem custos mais elevados ou a funcionalidade do sistema reduzida”.
Não restam dúvidas de que a economia internacional precisa reduzir significativamente os subsídios e a dependência dos combustíveis fósseis e aumentar o peso das energias renováveis no conjunto da produção energética, a despeito das dificuldades que precisam ser superadas. Para tanto é preciso que as diversas nações criem políticas públicas para incentivar a utilização das energias renováveis e que haja incentivo para que o mercado, as famílias e as comunidades invistam na mudança da matriz energética. Também é preciso construir redes de transmissão inteligentes para controlar a sazonalidade da produção de energia eólica e solar, aumentar a eficiência energética e adaptar a produção à demanda.
Portanto, os investimentos em energia eólica e solar devem vir acompanhados de uma mudança no modelo de produção e consumo que degrada a natureza e aumenta a pegada ecológica. O mundo precisa se livrar dos combustíveis fósseis, mas também precisa caminhar rumo ao decrescimento das atividades antrópicas, renovando o estilo de desenvolvimento consumista que tem colocado tantas pressões sobre o meio ambiente e a biodiversidade. A transição energética é um primeiro passo. Mas a construção de uma civilização ecológica e biocêntrica é um sonho ainda muito distante e que vai requerer esforços muitos mais vultosos. (ecodebate)

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