“O futuro será das energias renováveis. Ou não haverá futuro”
A edição do relatório “Renewables
Global Status Report (GSR)”, de 2017, da Renewable Energy Policy Network for
the 21st Century (REN21) revela que o mundo está passando por uma transição
energética e que deve se acelerar nos próximos anos. Esta transição é
fundamental para superar a Era dos combustíveis fósseis e para dissociação das
atividades econômicas e as emissões de dióxido de carbono, sendo que houve
estabilização das emissões relacionadas à energia pelo terceiro ano
consecutivo.
A figura acima mostra que, para 2015,
os combustíveis fósseis ainda dominavam a matriz energética mundial e
representavam mais de três quartos do consumo global. A energia nuclear
representava 2,3% do total, ficando as renováveis com 19,3% (fontes modernas
com 10,2% e fontes tradicionais com 9,1%). Entre as energias modernas, a eólica
e a solar somam menos de 1,6%.
Assim, apesar das tendências
positivas, o ritmo da transição não está no bom no sentido de cumprir o caminho
para alcançar os objetivos estabelecidos no Acordo de Paris, visando manter o
aumento da temperatura global bem abaixo de 2°C. Sem dúvida, é preciso acelerar
a transição energética, com aumento das energias renováveis que aproveitam as
grandes reservas de vento e sol.
A capacidade de geração de energia
renovável teve a sua maior elevação anual em 2016, com aumento de 161 gigawatts
(GW). A capacidade global total aumentou quase 9% em comparação com 2015,
alcançando quase 2.017 GW no final do ano.
A
energia solar fotovoltaica (PV) contabilizou um acréscimo superior a qualquer
outra tecnologia de geração de energia e representou cerca de 47% da capacidade
de energia renovável instalada em 2016. A figura abaixo mostra que a capacidade
global de energia solar PV chegou a 303 GW, sendo que o ano de 2016 bateu todos
os recordes com 75 GW de capacidade instalada no ano. De 2006 a 2016 o aumento
da capacidade acumulada foi de 50 vezes, algo realmente bastante significativo,
embora tenha partido de uma base muito baixa e este ritmo de crescimento deve
se reduzir nos próximos anos. A China foi o país que mais contribuiu com o
aumento da energia solar. Assim, se a capacidade instalada dobrar a cada 5
anos, o mundo pode ter 100% de energia renovável antes de 2050.
A figura abaixo mostra que a
capacidade instalada total de energia eólica alcançou 487 GW em 2016, bem acima
da capacidade de energia solar. Mas o acréscimo anual foi menor, de 55 GW. A
capacidade total de energia eólica está dobrando a cada seis anos, o que é
pouco para um futuro 100% em meados do atual século.
Sem dúvida o avanço da energia
renovável substituindo os combustíveis fósseis é uma necessidade urgente para a
estabilização da economia e do clima (Alves, 2014 e 2015). Contudo, todo este
otimismo não é compartilhado por outros analistas.
Kurt Cobb considera que a revolução
energética, se acontecer na escala necessária, não deve ocorrer de maneira tão
rápida e nem com tantos resultados positivos sobre o clima. Ele diz: “Mesmo com
todos os esforços a transição energética atual, embora cada vez mais urgente,
ainda levaria um longo tempo. E não está clara a dimensão dos resultados
positivos no que diz respeito às alterações climáticas”.
Gail
Tverberg (2014), no artigo: “Ten Reasons Intermittent Renewables (Wind and
Solar PV) are a Problem”, relaciona dez problemas que dificultam a superação
dos combustíveis fósseis e a mudança da matriz energética mundial para fontes
renováveis.
Richard Heinberg, analisando o crescimento
da energia renovável no artigo “Renewable Energy Will Not Support Economic
Growth” (2015), chega à seguinte conclusão: “Em suma, há muito mais desafios
associados à transição da energia renovável do que oportunidades. Há possíveis
soluções para todos os problemas que identificamos. Mas a maioria dessas
soluções envolvem custos mais elevados ou a funcionalidade do sistema
reduzida”.
Não restam dúvidas de que a economia
internacional precisa reduzir significativamente os subsídios e a dependência
dos combustíveis fósseis e aumentar o peso das energias renováveis no conjunto
da produção energética, a despeito das dificuldades que precisam ser superadas.
Para tanto é preciso que as diversas nações criem políticas públicas para
incentivar a utilização das energias renováveis e que haja incentivo para que o
mercado, as famílias e as comunidades invistam na mudança da matriz energética.
Também é preciso construir redes de transmissão inteligentes para controlar a
sazonalidade da produção de energia eólica e solar, aumentar a eficiência
energética e adaptar a produção à demanda.
Portanto,
os investimentos em energia eólica e solar devem vir acompanhados de uma
mudança no modelo de produção e consumo que degrada a natureza e aumenta a
pegada ecológica. O mundo precisa se livrar dos combustíveis fósseis, mas
também precisa caminhar rumo ao decrescimento das atividades antrópicas,
renovando o estilo de desenvolvimento consumista que tem colocado tantas
pressões sobre o meio ambiente e a biodiversidade. A transição energética é um
primeiro passo. Mas a construção de uma civilização ecológica e biocêntrica é
um sonho ainda muito distante e que vai requerer esforços muitos mais vultosos.
(ecodebate)
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