Em pouco mais de uma década,
não haverá mais carros a combustão sendo vendidos, por nenhuma montadora. A
revolução não está começando: ela já está na reta final.
Em conversas sobre o futuro
da indústria, o presidente da GE no Brasil, Rafael Santana, costuma apresentar
duas fotos a seus interlocutores – e assim o fez com a reportagem da DINHEIRO.
A primeira, mostra uma Nova York de 1900, com suas ruas repletas de carroças. A
segunda, 14 anos depois, retrata a mesma Big Apple. Mas as carroças já deram
lugar aos carros a combustão. Uma década e pouco foi tempo suficiente para
substituir toda uma indústria. Lá pelos anos de 1901 e 1902, provavelmente,
havia quem duvidasse do automóvel. Poderia parecer estranho, na época, ter de
abastecer o veículo a cada centena de quilômetros.
A manutenção era complicada e não havia tanta
potência. Cavalos pareciam mais confiáveis. Mas o carro avançou, ganhou as
ruas, uma cadeia de abastecimento e fornecimento de peças, sustentou a criação
de uma nova classe média, viabilizou os subúrbios e reinou absoluto. Até hoje.
A verdade é que o carro, como o conhecemos, está com os dias contados. Quem
olha hoje para o tráfego na Quinta Avenida, com seus táxis amarelos e SUVs
possantes, já está diante do passado. Em pouco mais de uma década, não haverá
mais carros a combustão sendo vendidos, por nenhuma montadora (esse tempo deve
ser mais curto, mas vamos manter o padrão de 14 anos estipulado por Santana).
Os sinais estão mais do que
claros. Inglaterra, Alemanha, Índia e China são apenas alguns dos países que já
se comprometeram a banir os carros a gasolina de suas ruas. A Volvo vai parar
de fabricar automóveis puramente a combustão em pouco mais de dois anos. Tesla,
GM, Nissan e Toyota acabaram de lançar modelos elétricos populares. A revolução
não está começando: ela já está na reta final. É o momento em que os
fabricantes de carroças devem dizer adeus aos seus clientes. Ainda não se sabe,
é verdade, exatamente qual será o modelo de motor que irá substituir o
propulsor a combustão. É consenso que o carro será elétrico. Como ele será
abastecido é a questão.
Pode ser na tomada de casa,
em postos munidos de painéis solares em seus telhados, ou por meio de células
de combustível, a hidrogênio ou, até mesmo, a etanol. Mas o fato é que não
haverá fumaça, nem escapamento. Há quem busque dar uma sobrevida a esse modelo.
A Mazda, montadora japonesa, acaba de anunciar o desenvolvimento de uma antiga
ideia da indústria: um motor que não precisa das chamadas “velas”, que produzem
uma faísca para iniciar a combustão interna. No caso, a máquina funciona a
compressão. Com isso, é possível ser 30% mais eficiente no consumo de
combustível. De fato é uma boa ideia.
Só que o máximo que isso
vai resultar é no fim do uso do diesel, que perderá totalmente a
competitividade em relação à gasolina. Talvez por isso a própria Mazda esteja
imbuída em construir uma fábrica de carros elétricos nos Estados Unidos, em parceria
com a Toyota, com investimentos de US$ 1,6 bilhão. Essa mudança é inevitável. E
não será suave. Toda uma cadeia de negócios irá sofrer, dos fabricantes de
autopeças às redes de oficinas. Milhares de pessoas perderão seus empregos. Com
o desenvolvimento do veículo autônomo – algo que não está tão perto, mas também
já se vislumbra no horizonte –, modos de vida serão alterados.
Talvez os subúrbios se
revitalizem. Haverá mais segurança também. Mortes no trânsito serão raras. As
cidades ganharão outra dinâmica, sem a necessidade de vagas de estacionamento,
o que pode abrir novos espaços para o desenvolvimento imobiliário ou de
infraestruturas. O preço do petróleo vai cair. É possível que o lítio chileno
seja mais valioso do que o petróleo venezuelano. No Brasil, temos o nióbio, que
é usado em eletrônicos, o pré-sal e o Projeto de Lei 1.013/2011, que tenta
liberar o uso do diesel para carros de passeio. Dessas três coisas, duas são
carroças. (istoedinheiro)
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