O futuro do Brasil está na abundância de fontes
renováveis e não nos combustíveis fósseis.
Com abundância de fontes renováveis no país, governo brasileiro insiste
em investir em energias do passado, ofertando blocos para exploração de
petróleo e gás, que financiam a crise climática, fomentam a corrupção e
enfraquecem as economias mundo afora
Fato já constatado até por especialistas do setor, a era do “ouro negro”
está definitivamente ficando no passado. O mundo tem experimentado um processo
de renovação energética sem precedentes, onde as energias renováveis estão
desempenhando um papel crucial e essencial, já que as reservas fósseis estão se
esgotando. Ambientalmente sustentáveis, socialmente justas e economicamente
viáveis, fontes como solar, eólica e de biomassa têm se tornado cada vez mais
baratas e populares. Com o planeta em alerta vermelho por conta de
eventos cada vez mais severos causados pelas mudanças climáticas, projetos
ligados a combustíveis fósseis como carvão, petróleo e gás se tornaram
investimentos de alto risco.
Por serem
os principais emissores dos gases que causam o efeito estufa, os combustíveis
fósseis estão diretamente relacionados ao financiamento da crise climática
global. A fim de evitar essa associação e cumprir com o compromisso assumido em
Paris em 2015, países no mundo todo têm investido seriamente na transição de
suas matrizes energéticas. Ainda assim, governos como o do Brasil, cuja
abundância em recursos naturais encontra poucos paralelos, contraditoriamente
insistem em priorizar fontes fósseis em detrimento das renováveis. No próximo
dia 27, a Agência Nacional do Petróleo e Gás (ANP) vai contra os apelos globais
por um novo modelo de desenvolvimento econômico-energético e intensifica a
agenda de leilões de blocos para exploração de petróleo e gás no país.
“A cada
dia, as pessoas estão cada vez mais ligando os pontos entre empresas que
investem em fósseis e o caos climático e as injustiças socioambientais . Mas
não é só isso. Essa indústria também está associada a casos de corrupção junto
aos governos nacionais em vários países”, alerta Nicole Figueiredo de Oliveira,
diretora da 350.org Brasil e América Latina e coordenadora nacional da COESUS –
Coalizão Não Fracking Brasil pelo Clima, Água e Vida.
“No Brasil,
a Operação Lava Jato revelou os esquemas de propina mostrando que essas
empresas fazem de tudo para controlar o mercado no qual pretendem investir,
agindo sem transparência e com truculência. Chega de fertilizar o subsolo
brasileiro com corrupção”, enfatiza Nicole.
Corrupção
e caos climático
Desde 2013 a Coalizão Não
Fracking Brasil esteve presente diversos em leilões e mandou um claro recado
para os investidores: Desenvolvimento só com renováveis.
A 14ª
Rodada de Licitações irá ofertar 287 blocos em 11 bacias sedimentares marítimas e
terrestres. Das 36 empresas que foram aprovadas para participar do certame, mais 60% são
estrangeiras e pelo menos cinco delas estão envolvidas em casos de corrupção.
Empresas como a Shell e ExxonMobil, por exemplo, compartilham casos de esquemas ilícitos
envolvendo o governo nigeriano. A esta última ainda se soma o histórico agravante
de ter omitido conhecimento sobre as mudanças climáticas há mais de meio
século.
Já a
empresa Petronas, da Malásia, teve um de seus executivos preso por suspeita de
superfaturar uma operação de exploração de petróleo. A Rosneft, empresa de
petróleo comandada pelo governo russo, está sob investigação em um caso que levou o ministro do desenvolvimento
econômico a ser preso. Outras empresas, como a indiana Cairn Energy, são acusadas de espionagem por obter informações
privilegiadas do governo sobre negociações com empresas estrangeiras
interessadas em investir na Índia.
Casos
recentes, como os esquemas de propina da Petrobras e da Queiroz Galvão, no
Brasil, demonstram como a corrupção da indústria fóssil está em várias parte do
mundo. São empresas dispostas a tudo para conseguir controlar o mercado, em
aliança com governos corruptos que agem sem qualquer transparência, consulta e diálogo para com as suas
populações, e menos ainda com as comunidades diretamente impactadas por esses
empreendimentos.
Para o
engenheiro Juliano Bueno de Araújo, coordenador de campanhas climáticas da
350.org e fundador da COESUS, “a ANP age de forma irresponsável, sorrateira e
criminosa ao não explicitar no edital da 14ª Rodada a autorização para gás não
convencional, colocando em risco a vida, a segurança alimentar e hídrica de
milhões de brasileiros. Dessa forma eles estão enganando o povo brasileiro, e
isso nós não vamos aceitar.”
Energias
responsáveis
Além
da falta de transparência, a indústria fóssil também usa e abusa da falsa e
ilusória promessa de progresso e desenvolvimento, com geração de renda e
empregos, para limpar a sua imagem junto à sociedade. Mas o Rio de Janeiro,
sede do leilão e o maior produtor de petróleo e gás do país, é uma prova viva
do contrário. Vivenciando uma das mais graves crises econômicas de sua História
recente, o estado que mais depende do dinheiro sujo dos fósseis amarga as
piores taxas de crescimento econômico do Brasil.
“O Rio de
Janeiro é o exemplo cabal de falência de uma indústria que está com os dias
contatos em todo o mundo, aliada à corrupção e reprodutora de um modelo
ultrapassado de geração de energia. Isso sem falar que a cidade está vulnerável
aos impactos das mudanças climáticas, como aumento do nível do mar,
deslizamentos, doenças epidêmicas, entre outras ocorrências que atingem toda a
população“, atesta Juliano.
Em oposição
a essa realidade, um novo horizonte se amplia com o crescimento exponencial das energias limpas. Hoje, o setor de
renováveis emprega mais de oito milhões de pessoas, sendo a China a campeã, com
3,5 milhões de empregos, e o Brasil vem em segundo lugar, com quase um milhão
de trabalhadores no ramo.
Com grande
potencial, o Brasil deve estimular e atrair investimentos para a produção de
equipamentos para a geração de energia renováveis – solar, eólica e de biomassa.
“Já há estudos que comprovam que a indústria de baixo carbono gera 18 vezes
mais empregos que a fóssil e, depois de instalada, proporciona a geração de
energia 40% mais barata”, completa o engenheiro.
“Neste
momento, o mundo passa por um difícil teste de eventos climáticos
catastróficos. As pessoas precisam saber que o presente e o futuro do planeta
dependem de uma única decisão: deixar os fósseis no chão de uma vez e olhar
para o céu priorizando a energia livre, responsável, com justiça ambiental e climática”,
finaliza Juliano. (ecodebate)
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