domingo, 30 de dezembro de 2018

Brasil após Fukushima

Anos depois do desastre no Japão, o jogo da energia atômica ficou mais difícil. O Brasil terá de rever planos e gastar mais para continuar nele.
Operação de resfriamento dos reatores da central atômica de Fukushima.
Depois de um passeio de três anos pelo Oceano Pacífico, chega à Costa Oeste dos Estados Unidos, até abril, a primeira leva de detritos radioativos arrastados da usina de Fukushima, no Japão. Os detritos, conduzidos pela correnteza, foram para o mar em 2011, depois de a usina ser danificada por um terremoto seguido de uma onda gigante. O nível de radiação que chega ao litoral americano não oferece perigo, mas serve de lembrete incômodo – as consequências de acidentes nucleares duram muito e chegam longe. O problema original nem ao menos foi contido. Em Fukushima, vazamentos de água radioativa da usina para o mar ocorrem até hoje. O pior dos últimos seis meses aconteceu em fevereiro, quando 100 toneladas de água contaminada foram para o oceano. Tudo por causa de um desastre natural que parecia muito improvável.
Na era pós-Fukushima, o jogo da energia nuclear passou a ter regras mais duras. “A primeira fase de resposta a Fukushima foi pensar nas questões óbvias, com base no que aconteceu lá – temos de garantir que salas de controle e geradores não sejam inundados”, diz o britânico Steve Thomas, professor de política energética na Universidade de Greenwich e ex-consultor da Eletronuclear. “A segunda fase é mais lenta. Exige que você considere possibilidades que antes eram impensáveis.” O Brasil, com suas duas usinas nucleares, terá aprendido a lição?
A central nuclear de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, onde ficam as duas usinas brasileiras, pertence à estatal Eletronuclear. A companhia aplica, desde o fim de 2011, um Plano de Resposta a Fukushima. Entre as medidas estão o reforço de estruturas de contenção para o caso de deslizamentos (maior risco na região, chuvosa e de relevo acidentado) e simulações de desastres naturais mais pessimistas. Está nos planos a instalação de um reservatório de água, bombas e compressores para resfriar o reator nuclear em caso de acidente grave (o desastre de Fukushima piorou quando a onda gigante interrompeu o sistema de resfriamento). O investimento da Eletronuclear no aumento de segurança passa dos R$ 50 milhões, e o plano não tem prazo para conclusão. Até o momento, ele não tratou de algumas questões fundamentais.
Uma delas é o pequeno alcance do plano de emergência. Ele prevê remover a população num raio de 5 quilômetros da central nuclear para abrigos perigo somente próximos, a 15 quilômetros do local. Isso atende ao mínimo recomendado pela Agência Internacional de Energia Nuclear. Mas a maioria dos países com geração nuclear de energia adotou procedimentos de emergência mais abrangentes. “Uma pesquisa de 2012 com todas as usinas da Europa, o FlexRisk, concluiu que um acidente severo exige medidas numa distância de 300 quilômetros. Se ocorrer um acidente desses em Angra, o plano de emergência falha”, diz o engenheiro nuclear Jailton Ferreira, funcionário da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen). Ferreira lembra que a usina Angra 2 adota como referência a usina “gêmea” de Grafenrheinfeld, na Alemanha. “Não há por que não fazer logo, para Angra 2, um estudo equivalente ao que foi feito para a usina alemã. Temos no Brasil os dados, o software e o computador necessários”, afirma.
Um alerta semelhante é feito pelo engenheiro Célio Bermann, professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP). Ele considera a região de Angra dos Reis inadequada para abrigar usinas nucleares, por razões variadas – há poucas vias de escape, as chuvas volta e meia bloqueiam as estradas, e o trânsito de turistas é intenso. Por isso, Bermann considera má ideia construir a usina Angra 3, com previsão de conclusão em 2018. Para piorar, o projeto da usina é antigo, dos anos 1970. Isso deveria ser compensado com mais investimento e planejamento para emergências.
Por sua natureza peculiar, o setor de energia nuclear tem de trabalhar com cenários catastróficos, obras complexas e planejamento com prazos muito longos. As falhas no acidente da usina de Three Mile Island, nos EUA, em 1979, um dos piores da história, só foram compreendidas cinco anos depois. Só hoje há usinas em construção que embutem o aprendizado com o desastre de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986. Por isso, toda lição importa muito. A usina Angra 1 também tem uma “gêmea”, a usina americana de Kewaunee, no Wisconsin. Ela foi desligada no ano passado, mas contava com procedimentos de emergência mais impressionantes que sua irmã brasileira (leia no quadro a comparação dos planos de emergência das usinas brasileiras e estrangeiras).
Nos Estados Unidos, a área de evacuação foi estendida de 5 quilômetros ao redor da usina para 16 quilômetros. Os planos de emergência também incluem medidas para um raio de 80 quilômetros, a fim de evitar que a população consuma alimentos e água contaminados. As instruções para os habitantes da área ao redor da usina de Kewaunee, disponíveis na internet, incluíam detalhes como nomes das escolas a evacuar e orientação para que os pais não tentassem buscar as crianças, a fim de evitar congestionamentos. O poder público se encarregaria de levá-las, de ônibus, a pontos de encontro predeterminados. As instruções nos EUA e na Alemanha chegam a minúcias. Explicam como seria a distribuição de pílulas de iodo, para evitar o envenenamento radioativo, e o que fazer com animais domésticos, já que eles não são aceitos em abrigos coletivos de emergência.
A população ao redor das usinas de Angra também tem material instrutivo, mas com orientações mais vagas e em tom infantilizado (em parte do material, em forma de história em quadrinhos, um personagem chamado Zé Elétrico dá explicações a crianças). Além das instruções claras e do plano de evacuação mais abrangente, os EUA avaliam a tecnologia e os procedimentos em suas 100 usinas nucleares. Destinaram US$ 2 bilhões a melhorias de segurança naquelas em que isso for necessário. A presidente da Comissão Reguladora de Energia Nuclear dos EUA, Allisson Macfarlane, resume bem a situação: “Fukushima foi um grito de alerta não somente para os EUA, para o setor e para esta Comissão Reguladora. Foi um grito de alerta para o mundo”. A França elevou as exigências de segurança, e seu cumprimento, nas 58 usinas do país, deverá custar € 10 bilhões – uma quantia nem tão exagerada, dado que a França exporta € 3 bilhões em energia elétrica todo ano. O governo alemão reagiu de forma mais extrema e decidiu desligar suas 17 usinas nucleares até 2022.
O vazamento de água radioativa de fevereiro e a chegada dos detritos contaminados ao litoral dos EUA tornam o assunto difícil no Japão. O primeiro-ministro, Shinzo Abe, mesmo neste momento ruim, apresentou o rascunho da nova política energética do país. Provocou polêmica. Ele quer religar os 58 reatores nucleares japoneses (todos foram desligados após o desastre de Fukushima) e apenas diminuir o papel da energia nuclear na matriz de energia japonesa. Segundo a proposta, as usinas nucleares mantêm um papel importante no futuro de um país pobre em opções energéticas.
No mundo todo, incluindo o Brasil, o aumento de custo com as novas medidas de segurança é inevitável. “A energia gerada em Angra chega a ser 50% mais custosa que a média no país. Com a tecnologia de segurança mais moderna, os reatores ficam mais caros, e o custo vai para o consumidor”, diz o físico José Goldemberg, especialista em energia e ex-reitor da Universidade de São Paulo.
O Brasil já sofreu duramente as consequências de se aventurar numa fronteira tecnológica sem aplicar a seriedade e o dinheiro necessários. Em 2003, uma falha num Veículo Lançador de Satélites provocou uma explosão no Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão. Morreram 21 pessoas na tragédia. Nem por isso o Brasil deveria abandonar seu programa espacial. Da mesma forma que deveria manter seu programa nuclear pacífico, seguindo os passos de Estados Unidos, França, Japão e outras nações desenvolvidas. Essa forma de geração não chega a ser crucial para o Brasil, atualmente. Corresponde a 3% da capacidade nacional. Sabe-se que o país tem muito a produzir a partir de outras fontes, como ventos, sol, marés e resíduos orgânicos. Nada disso significa que o Brasil deva dispensar a energia nuclear. Trata-se de uma fonte com imenso potencial de expansão e comparativamente limpa. Ela gera resíduos em volume pequeno e administrável. Trata-se também de uma frente de desenvolvimento tecnológico com outras aplicações, além da energética. O país deveria continuar no jogo – mas ciente de que ele se tornou mais sério.
(globo)

Quem paga a conta de Angra 3?

A opção por uma nova usina nuclear pode até ser mais limpa que a por termelétricas, só que é mais cara.
Era Atômica - Vista das usinas Angra 1 e 2.
O Brasil decidiu apostar novamente na aventura nuclear sem divulgar exatamente quanto isso vai custar. Na semana passada, o governo autorizou a retomada das obras da usina nuclear de Angra 3, no litoral do Rio de Janeiro. O empreendimento foi aprovado na segunda-feira pelo Conselho Nacional de Políticas Energéticas (CNPE). Segundo o governo, Angra 3 custará R$ 7,2 bilhões. Técnicos do governo vêm afirmando que o plano federal inclui a construção de oito novas usinas a serem inauguradas até 2030. A empreitada esconde vários subsídios. Eles podem multiplicar o investimento para valores que a sociedade ainda desconhece. Os valores envolvidos e as incertezas despertam dúvidas sobre as razões da decisão. A aprovação de Angra 3 levanta uma questão: será a via nuclear realmente uma escolha energética apropriada para o Brasil?
Após o acidente de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986, os países desenvolvidos cancelaram seus planos para a construção de novas usinas. A indústria nuclear passou duas décadas no ostracismo. A opção nuclear voltou à cena nos últimos anos como uma alternativa energética para enfrentar as mudanças climáticas. A vantagem dos reatores é que não emitem gás carbônico, o principal causador do aquecimento global. No Brasil, porém, não está claro se essa é uma opção eficaz. Se a ideia é reduzir as emissões de gás carbônico, pesquisadores afirmam que o caminho poderia ser outro. “A prioridade é reduzir o desmatamento da Amazônia, nossa principal fonte de emissão de gases de efeito estufa”, diz José Goldemberg, do Instituto de Energia da Universidade de São Paulo. Seu argumento é que as usinas nucleares podem ter outros impactos, ainda maiores, para o meio ambiente.
A primeira preocupação em torno da energia nuclear é sua segurança. Países desenvolvidos, como os Estados Unidos, a França, o Japão e a Alemanha, produzem há décadas energia de algumas dúzias de usinas nucleares, sem grandes incidentes com vítimas. Mas há indícios de que o cenário nuclear brasileiro não segue os critérios ideais. Um estudo realizado no ano passado pela Câmara Federal em parceria com especialistas constatou que o país não tem a estrutura adequada nem para fiscalizar o setor nuclear nem para garantir a segurança da população. Para começar, há um problema estrutural: o conflito de atribuições do Conselho Nacional de Energia Nuclear (Cnen). Ele é responsável tanto pela promoção quanto pela fiscalização do setor nuclear no país. Mas a Convenção Internacional de Segurança Nuclear, da qual o Brasil é signatário, proíbe que as duas atividades sejam exercidas pelo mesmo órgão.
O resultado disso pode ser verificado na forma como foi executado o plano de emergência de Angra. A região tem cerca de 119 mil habitantes. Suas belas praias atraem até 1 milhão de turistas por ano. Poucos moradores já foram informados sobre o que fazer no caso de um acidente nuclear. Edson Jorge, chefe do serviço de emergência nuclear da Defesa Civil Municipal, afirma que já foi feita uma campanha de esclarecimento, com a distribuição de panfletos e calendários com instruções de fuga. Mas diz que não se lembra quando. Sobre os turistas, Jorge informa que não há orientação. “Não há esse direcionamento de informar ao turista. Não diretamente”, diz Jorge. E se houver uma emergência? “Na hora a gente indica o caminho que eles têm de seguir.” Analistas de segurança temem que a única estrada pavimentada, normalmente congestionada nos fins de semana de sol, não dê vazão para a população em fuga.
95% é quanto a energia nuclear custa a mais que a gerada por termelétricas a gás, segundo o MIT.
Além da segurança, outra questão não resolvida em relação à energia nuclear é sua viabilidade econômica. De acordo com os cálculos da Agência Internacional de Energia, referência mundial no tema, construir usinas nucleares é mais caro que optar por usinas hidrelétricas e termelétricas a carvão ou gás. Outro levantamento, do Departamento de Energia e Comércio, da Inglaterra, também aponta a energia nuclear como mais cara que as outras. Há ainda uma comparação feita pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos EUA: a eletricidade dos reatores é 95% mais cara que a das termelétricas a gás.
Um dos raros estudos que colocam a energia nuclear como mais competitiva foi feito justamente pelo Ministério de Minas e Energia brasileiro. Segundo o levantamento, divulgado em maio deste ano, a eletricidade nuclear só perderia para a gerada pelas hidrelétricas. “O custo divulgado é de um otimismo notável”, afirma Goldemberg. “É um exercício de economista para mostrar que ela é competitiva, quando na realidade não é.” Para Francisco de Carvalho, mestre em Energia Nuclear e ex-diretor da Nuclen (atual Eletronuclear), “o valor só é baixo porque é subsidiado pelo governo”.
Boa parte do custo nuclear é paga pelo governo de forma obscura. Um exemplo é o custo de destinação dos rejeitos radioativos. Nenhum país do mundo encontrou uma solução definitiva para estocar esse material. Os EUA estão construindo um depósito nas montanhas de Nevada, ao custo de US$ 5 bilhões. No Brasil, isso não foi nem orçado. A Eletronuclear, empresa estatal responsável pelo setor, não divulga o valor gasto com o armazenamento de rejeitos nucleares de Angra 1 e 2, provisoriamente guardados no interior das próprias usinas, em piscinas de contenção. Dentro de alguns anos, os rejeitos terão de ser remanejados para um local mais seguro. O presidente da Eletronuclear, s Othon Pinheiro da Silva, não tem informações exatas sobre como isso será feito. “Os depósitos de longa duração estão sendo trabalhados. Só teremos de pensar nisso daqui a uns 20 anos”, afirma.
O país não tem um bom histórico na previsão de gastos nucleares. O governo diz que a conclusão de Angra 3 vai custar R$ 7,2 bilhões, equivalentes a US$ 3,6 bilhões. Em 2003, o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciava que a obra sairia por US$ 1,8 bilhão. As projeções do MIT sugerem que uma usina com a mesma potência de Angra 3 custa, no mercado internacional, 40% abaixo do que o governo diz que pretende gastar. Mudanças de previsão de gastos são comuns na história nuclear do país. A construção de Angra 2, orçada inicialmente em US$ 2 bilhões, terminou custando o quíntuplo.
Operários vistoriam os equipamentos já comprados para Angra 3. Será que vale a pena tirar o material das caixas?
Parte do subsídio oficial para a energia nuclear está embutida no seguro para acidentes. Isso é uma prática internacional. Nos EUA, o Congresso limita o valor segurado para o caso de acidentes a US$ 9 bilhões. “É uma fração do que custaria um acidente como o de Chernobyl”, diz o engenheiro Vijay Vaitheswaran, especialista em energia da revista inglesa The Economist. No Brasil, não é diferente. De acordo com a Eletronuclear, o pagamento do seguro em caso de acidente envolvendo Angra 1 e 2 é de US$ 500 milhões, para cada uma das usinas. Esse valor, porém, não paga nem uma parcela da construção das usinas nem indenizações a terceiros. O resto do prejuízo seria custeado pelo governo. Tal privilégio pode ajudar na competitividade aparente da energia nuclear. Outras indústrias, como a do petróleo, precisam embutir o preço dos possíveis acidentes em suas operações. Pergunte à Petrobras. Em 2001, a empresa perdeu sua maior plataforma, a P-36. O prejuízo de US$ 356 milhões foi plenamente pago pela seguradora responsável.
Na Inglaterra, durante a década de 1980, a então primeira-ministra, Margaret Thatcher, terceirizou todo o sistema público de geração de energia, menos a parte nuclear, exatamente porque o setor privado não vê vantagens no setor. Os empresários brasileiros também pensam assim. “Existem várias energias economicamente mais viáveis, especialmente no Brasil, com enorme potencial hidrelétrico”, diz Cláudio Sales, presidente do Instituto Acende, que representa os investidores da área energética no Brasil.
Em abril de 2005, a então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, declarou que “não é hora de fazer Angra 3, porque você tem outras alternativas renováveis mais baratas”. Essa era a posição do governo quanto à política energética naquele momento. Como então explicar, dois anos depois, uma mudança tão radical na opinião do Planalto? O motivo parece ser a disputa entre o Ministério de Minas e Energia e a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, que não autoriza a construção de novas usinas hidrelétricas. “Estou sentindo um certo escapismo com o problema. O governo precisa ter coragem de enfrentar a batalha das hidrelétricas”, diz o engenheiro Luiz Pinguelli Rosa, da Coordenadoria de Pós-Graduação em Engenharia da UFRJ (Coppe). Ou então o contribuinte poderá ter de pagar uma conta – não necessariamente em dinheiro.
A herança radioativa
O Brasil sofreu um dos três piores acidentes nucleares da História. O maior deles, em Chernobyl, interrompeu a construção de novas usinas no mundo.
Goiânia, Brasil
Em 1987, catadores de sucata pegaram cápsulas radioativas de césio de um equipamento médico descartado sem cuidados. Quatro pessoas morreram e 800 foram contaminadas.
Chernobyl, Ucrânia
Um reator explodiu em 1987 na então república soviética, espalhando uma nuvem radioativa pela Europa. Na ocasião, 56 pessoas morreram e até hoje milhares têm risco elevado de câncer.
Three Miles Island, EUA.
Em 1979, por falhas técnicas, o reator saiu de controle, com risco de explosão. Levou cinco dias para ser controlado. Uma explosão – que não ocorreu – teria contaminado uma área com milhões de habitantes. (globo)

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Para onde vai a radiação de Fukushima

Vista aérea da usina nuclear de Fukushima, no Japão.
Desde julho, a usina nuclear de Fukushima, que foi fortemente danificada por um terremoto e um tsunami em 2011, lança água contaminada com radiação no mar. Estima-se que mais de 1.300 toneladas de água radiativa já foram parar no Oceano Pacífico. As autoridades japonesas fazem operações de descontaminação, mas é impossível retirar tudo: parte da radiação sempre termina no mar.
O pesquisador Michio Aoyama, do Instituto de Pesquisa Meteorológica do Japão, estuda o caminho que a radiação faz depois que ela entra em mar aberto. Para isso, ele analisou o movimento de radiação no passado. Antes de Fukushima, já havia a presença de radiação no oceano japonês – resultado de testes de armas nucleares feitos na década de 1970 no Oceano Pacífico. Aoyama rastreou o caminho que essa radiação fez no oceano, e comparou com a de Fukushima. Ele apresentou os dados durante o painel científico “The Blue Planet”, organizado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) em Viena, Áustria.
Segundo Aoyama, há duas rotas possíveis para a água contaminada. Em uma delas, a radiação volta ao Japão, levada pela Corrente Kuroshio. Na outra, ela pode seguir pela linha do Equador até Galápagos e depois voltar, chegando a regiões como Indonésia e Nova Zelândia, como mostra o mapa abaixo.
A pesquisa de Aoyama mostra que, mesmo com as operações de descontaminação, a radiação já entrou no oceano. “Nós podemos dizer que grande parte da radiação já começou a viajar pelo Oceano Pacífico. Essa radiação viaja a uma velocidade de sete quilômetros por dia".
A pesquisa, no entanto, procura tranquilizar os habitantes dos países que podem receber a água radiativa. A concentração de radiação começa a cair partir do momento que sai do Japão, e fica dentro dos níveis considerados seguros pela Organização Mundial da Saúde quando começa a viajar pelo Oceano Pacífico.
Terríveis efeitos da radiação, poucas horas depois do acidente.
“Cientistas encontraram vestígios da contaminação de Fukushima a cerca de 100 milhas a oeste de Eureka, Califórnia. A quantidade de radioatividade relatada nestes dados são 1.000 vezes menores do que os padrões de água potável da EPA”. (globo)

Usinas nucleares ainda são maior fonte de energia “limpa”

A Agência Internacional de Energia alerta que perda por desativação dos reatores existentes equivale a 20% da nova energia gerada por eólicas e solares.
Usinas nucleares na França
OK. Existe um grande debate se a energia nuclear pode ser considerada limpa. Afinal, além da poluição associada à mineração do urânio, há o problema ainda insolúvel dos rejeitos radioativos por milhares de anos. Sem falar no risco de acidentes, como lembrou a tragédia em Fukushima, no Japão.
Mesmo assim, as usinas nucleares não emitem gases de efeito estufa diretamente. É uma forma de gerar eletricidade sem aumentar as emissões responsáveis pelas mudanças climáticas. Países da Europa, os Estados Unidos e outros contam com a fissão nuclear para abastecer a rede elétrica nos níveis atuais de emissões.
Agora, um alto executivo da Agência Internacional de Energia lembrou que o descomissionamento das usinas nucleares da Europa e dos Estados Unidos a partir de 2020 ameaça o cumprimento das metas para redução nas emissões. A não ser que os países construam novas usinas (o que leva tempo e custa caro) ou expandam o uso de energia renovável (o que parece estar ocorrendo, mas não na velocidade desejada).
Sim. No caso americano, é verdade que o presidente disse que não ia honrar meta nenhuma de redução nas emissões e que estava abandonando o esforço do resto do planeta para equilibrar o clima. Mas muitos governos estaduais e grandes empresas do país afirmaram que vão manter os compromissos. E oficialmente não há como sair do Acordo de Paris.
Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), a eletricidade gerada pelas usinas nucleares na Europa e nos Estados Unidos é hoje equivalente a três vezes o que vem das usinas solares e eólicas. Acontece que a maioria dos reatores foi construída nos anos 1970 e 1980. Eles devem chegar ao fim da vida útil por volta de 2020.
Usina Nuclear de Energia.
Se uma usina nuclear funciona em média 8 mil horas por ano, contra as 1,5 a 2 mil horas de uma usina solar, os governos precisam expandir os investimentos para substituir as nucleares aposentadas e cumprir as metas de descarbonização, alertou Laszlo Varro, economista-chefe da IEA. Segundo ele, de tudo o que foi investido em energia renovável, 20% do potencial de geração foi absorvido pela perda das nucleares que desativadas no mesmo período.
A dependência na energia nuclear é um assunto delicado para o movimento ambiental. Alguns admitem que elas fazem parte do mix de soluções para escapar das tragédias climáticas. Outros acreditam que é necessário e possível reduzir as emissões poluentes sem elas. (globo)

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

O governo não quer que você tenha painéis solares em casa

Fonte chamada de “fantasia” por Dilma Rousseff ficou barata, mas segue sem os incentivos dados ao carvão; novo ministro prometeu mudar esse quadro.
Trabalhador instala painel solar na Alemanha.
Pense num país quente, onde o sol brilha o ano inteiro e que, um belo dia, dá-se conta de que tem justamente nessa luminosidade uma fonte de energia limpa, inesgotável e cada vez mais barata. Mesmo possuindo grandes reservas de petróleo, esse país resolve apostar pesado na energia solar, que ignorou solenemente durante anos. Já adivinhou que país é esse? Isso mesmo: bem-vindo à Arábia Saudita.
Sim, a Arábia Saudita, o maior exportador mundial de petróleo, símbolo da resistência atávica a qualquer coisa que tenha relação com energias renováveis; sim, a Arábia Saudita, o vilão das conferências do clima da ONU; a petroditadura feudal e retrógrada. Pois essa mesma Arábia Saudita planeja instalar 6 gigawatts de energia solar fotovoltaica nos próximos cinco anos. É o equivalente à potência instalada das duas usinas do rio Madeira. Em 2032, os sauditas planejam ter em seu deserto e em suas casas o equivalente a mais de uma Itaipu em energia solar.
E o Brasil? Temos um território maior e muito mais horas de sol o ano inteiro do que a Arábia Saudita. Nosso potencial de radiação solar equivale a 20 vezes toda a atual capacidade instalada de produção de energia elétrica. No entanto, os planos do governo até agora para essa fonte são modestíssimos: 2 gigawatts instalados até 2023, ou um terço do que os árabes planejam instalar em cinco anos.
É difícil atribuir esse atraso brasileiro a quaisquer outros fatores que não sejam miopia dos planejadores energéticos e preconceito.
Este último fator vem de cima para baixo: a própria presidente Dilma Rousseff já se referiu à energia fotovoltaica como “fantasia”, dizendo em 2012 que não era possível iluminar um país somente com sol e vento. A China discorda: nos próximos 15 anos, o gigante terá elevado sua capacidade fotovoltaica para 100 gigawatts, o equivalente a quase dois terços de todo o parque gerador do Brasil.
Neste aspecto, a ex-guerrilheira Dilma tem um pensamento surpreendentemente próximo do dos eletrocratas formados na escola das grandes obras de energia da ditadura. Para essa turma, investir em uma nova tecnologia que custava caro era uma burrice, quando o país tinha tanto potencial hidrelétrico ainda a aproveitar na Amazônia (que grande parte desse potencial esteja em unidades de conservação, terras indígenas e outras áreas sensíveis nunca foi um impeditivo, como não era no tempo dos militares). O resultado disso está todo mês na nossa conta de energia: quando as chuvas faltaram para as hidrelétricas, o governo botou na matriz térmicas a gás, carvão e óleo combustível – mesmo tendo prometido recentemente que o carvão seria banido do Brasil.
O governo brasileiro não foi o único a desprezar a energia solar. Nos EUA, durante a administração de George W. Bush, o lobby fóssil impediu que incentivos fossem dados a energias renováveis para competir com as já estabelecidas e mimadas fontes fósseis. Como resultado, a principal fábrica americana de painéis solares, a First Solar, precisou se mudar para a Alemanha.

A partir de 2008, com a eleição de Barack Obama e um novo foco em fontes renováveis, o cenário começou a clarear para a energia fotovoltaica. A indústria respondeu rapidamente: a capacidade instalada subiu de quase zero em 2006 para 20 gigawatts em 2014 e hoje 36% das novas instalações elétricas nos EUA são dessa fonte; o preço de um painel fotovoltaico caiu 63% somente entre 2010 e 2014, e a indústria solar americana, que antes gerava empregos de qualidade na Alemanha, hoje emprega mais gente nos EUA que a mineração de carvão. Outros países, como a Espanha e a Grécia, também investiram nessa indústria como uma saída para a crise econômica.
No ensolarado Brasil, a primeira medida séria de incentivo à energia fotovoltaica só foi adotada em 2012: uma resolução da Aneel que permite a quem tiver painéis solares em sua casa trocar energia com a rede – e, assim, economizar até 80% da conta de luz por mês, ao produzir a própria eletricidade durante o dia. A resolução, porém, não veio acompanhada de nenhuma outra medida, como uma campanha ou incentivos tributários (dados à indústria automobilística e aos combustíveis fósseis). O resultado é que, quase três anos depois, apenas 409 residências instalaram painéis solares em todo o país. Nos EUA, são 400 mil. A cada três minutos uma nova instalação solar é feita.

Quando enfim a energia solar elétrica foi agraciada com o direito de competir em leilões de energia, em 2014, o governo viu o tamanho da oferta reprimida: foi o leilão mais competitivo da história, com o megawatt vendido a R$ 214. Parece caro? Pois o carvão mineral, que fez seu retorno triunfal à matriz energética brasileira também em 2014, foi leiloado a R$ 206. E isso à custa de um pacote de bondades que incluiu aumento no preço mínimo e isenção de tributos.
Sem o argumento do preço, sobra aos eletrocratas o tigre de papel da intermitência: a energia solar jamais poderá estar na “base” porque não produz à noite. O chamado fator de capacidade da fonte é de cerca de 25%. Pode até ser verdade. Mas esses mesmos planejadores não hesitam em gastar R$ 28 bilhões numa usina hidrelétrica como Belo Monte, que tem fator de capacidade de 42% e que pode chegar ao fim de sua vida útil com metade disso devido ao impacto das mudanças climáticas. Se ganhasse o direito de entrar na matriz em escala americana (ou pelo menos saudita), a energia solar poderia compor com a eólica para poupar os reservatórios das hidrelétricas do Centro-Sul, que formam a nossa “energia firme”. A opção do Palácio do Planalto, porém, parece ser até aqui a de deixar o país sem energia e poluindo mais ao mesmo tempo.
Isso pode estar mudando com a entrada em cena de um ator novo na política energética: o ministro Eduardo Braga (PMDB). Engenheiro eletricista, Braga aparentemente aprendeu alguma matemática na universidade e concluiu que o Brasil não perde nada se aproveitar seu potencial solar. Prometeu tirar PIS e Cofins dos painéis solares, como o governo fez com o carvão, e aprovar uma redução de ICMS. Já marcou dois leilões de energia fotovoltaica para este ano e andou falando em instalar painéis solares nos reservatórios das hidrelétricas. Nos próximos meses, com a estação seca chegando, Braga terá a oportunidade de mostrar se fala sério sobre o assunto. Quem sabe ele convence sua chefe a tomar um pouco de sol para clarear as ideias. (globo)

A aposta da Alemanha em energia solar

Os alemães estão em meio a uma transição energética para abandonar o carvão e as usinas nucleares. A estratégia colocou o país na liderança da energia solar, mas ainda há desafios a serem superados.
Em um pequeno vilarejo no leste da Alemanha, o líder comunitário Karl-Heinz Handreck explica a um grupo de jornalistas internacionais que estamos com sorte. Como o vento está soprando em outra direção, não escutamos os barulhos da operação da gigantesca mina de carvão a céu aberto nas redondezas. Mas sorte é uma palavra que está longe de descrever a comunidade, formada por quase 150 pessoas, a maioria já em idade de aposentadoria. Há planos para expandir as operações de carvão por todos os lados, deixando a pequena Taubendorf cercada. “Em cinco anos, a mina estará a menos de 100 metros de nossas casas”, diz Handreck.
Estamos no leste da Alemanha, praticamente na fronteira com a Polônia. Aqui estão depositadas as maiores reservas de carvão existente no país. Essas reservas deixaram sua marca na cultura local. O time de futebol da cidade mais próxima, Cottbus, não por acaso se chama Energie FC. Quando o país estava dividido em dois, antes de 1989, era daqui que saía toda a energia que abastecia a comunista Alemanha Oriental.
Nos últimos anos, no entanto, todo esse legado energético vem sendo colocado em xeque. Pelo menos duas áreas previstas para exploração de carvão na região foram canceladas recentemente. A termelétrica de Jaenschwalde, abastecida pelas minas que cercam Taubendorf, pode não ter vida útil para além de 2025. E a pressão da sociedade alemã – e de ativistas como Handreck – para gradativamente abandonar o carvão como fonte de energia só aumenta.
Um fenômeno semelhante acontece com a fonte de energia que iluminou as casas “no outro lado do muro” quando o país estava dividido. Historicamente, o lado ocidental da Alemanha apostou no átomo como principal fonte de eletricidade. Hoje, um terço de toda a energia elétrica gerada no país vem de usinas nucleares. Mas elas também estão com os dias contados.
Passado um quarto de século desde que o Muro de Berlim caiu e a Alemanha se unificou, o país olha para trás e decide abandonar as suas duas principais fontes de energia. Mas como manter uma das economias mais fortes do planeta – o quarto maior PIB do mundo – funcionando dia e noite sem as usinas nucleares e a carvão? O país aposta numa grande revolução. Ou, como eles dizem em alemão, numa Wende.
A mina de carvão de Jaenschwalde, na região de Brandenburgo, leste da Alemanha. No fundo, a usina termelétrica de mesmo nome. A operação de mineração ameaça um vilarejo próximo.
Karl-Heinz Handreck, líder do vilarejo de Taubendorf, aponta para o local onde a mina de carvão deve se expandir. O verde dos campos do local deverá dar lugar ao cinza das escavações.
A transição
A palavra alemã Wende significa transição. Politicamente, é usada como uma mudança sistemática, radical, benigna e não violenta. A palavra foi popular nos anos 1990, usada para se referir à maior transição pacífica que o país já viveu – a queda do muro. Nos últimos anos, ela passou a ser usada ao lado de outra palavra: Energie. Com a política batizada de Energiewende, a Alemanha promete fazer uma transição profunda em suas fontes de energia, abandonando fontes fósseis e colocando todas as forças nas energias renováveis.
O principal alvo da Energiewende é a energia nuclear. Há um sentimento antinuclear muito forte na sociedade alemã, espalhado pela sociedade civil e encampado por partidos políticos. O acidente no reator nuclear de Fukushima, no Japão, em 2011, foi o estopim da nova política. Em menos de seis meses, o governo da chanceler alemã Angela Merkel conseguiu colocar em lei a Energiewende com uma estratégia extensa e compreensiva para encerrar a operação das nucleares, substituindo-as por energia renovável.
A Energiewende prevê desligar reatores nucleares que, juntos, geram 22 mil megawatts de energia. Para fazer uma comparação, é como se o Brasil tivesse um plano para desligar suas duas maiores hidrelétricas, Itaipu e Tucuruí. O plano começa fechando as usinas mais antigas e com vida útil menor. Há previsão de compensação para empresas. Em alguns casos, as empresas simplesmente fecharam, em outros, buscaram se reinventar no mercado investindo em fontes diferentes de energia. Também há empresas que buscaram reparação na Justiça.
Apesar de amplo apoio interno, o abandono da nuclear foi vista com ceticismo pela comunidade internacional. Afinal, ela não emite gases de efeito estufa e é vista como uma forma economicamente viável de produzir eletricidade. Esses argumentos não sensibilizaram o governo alemão. “Nós não acreditamos que a energia nuclear é uma boa alternativa”, diz Thomas Meister, chefe da divisão de Clima do Ministério de Relações Exteriores do governo da Alemanha. “Essa crença foi reforçada por Fukushima, mas há outros bons motivos. Os custos são altos, e não há uma solução para o problema do depósito de lixo radiativo.” O governo alemão segue à risca seu cronograma para acabar com a nuclear no país. Após Fukushima, sete usinas foram desligadas. Uma oitava foi desligada em 2015, e restam outras oito usinas que estarão desativadas até dezembro de 2022.
A usina nuclear de Philippsburg, na Alemanha. O reator Philippsburg 1 foi desativado em agosto de 2011. O país pretende desligar o reator 2 em dezembro de 2019, como parte da política Energiewende.
Solar decola num país de pouco sol
Desativar usinas, seja da fonte que for, impõe um risco para qualquer país: como evitar um apagão? Por isso a Energiewende prevê também investimentos em energias renováveis como solar e eólica. A meta é atingir 80% de renováveis – o que significa se livrar não só das nucleares, como também do carvão e petróleo. Atualmente, a Alemanha já está perto dos 30% de renováveis. Como ela chegou a esse patamar?
Para começar, o país precisou adotar uma tarifa subsidiada para energia limpa – uma estratégia para fazer com que as renováveis pudessem competir com tecnologias já estabelecidas. Essa tarifa é paga não pelo contribuinte, mas pelo consumidor, com uma sobretaxa determinada na conta de luz. Outra medida adotada foi a desregulamentação do setor, permindo que qualquer empresa que queira comercializar energia possa ter acesso à rede para vender eletricidade. Isso abriu as portas do mercado para pequenas e médias empresas, além de cooperativas de famílias e agricultores. Por fim, a Energiewende determinou que a preferência para entrar na rede é das energias renováveis. Isso significa que o governo só começa a consumir energia gerada nas usinas fósseis após ter consumido, primeiro, a produzida pelo sol e vento.
Essas regras tiveram o efeito colateral de aumentar a conta de luz em cerca de € 2 por quilowatt/hora. Mas esse aumento não parece ter provocado grandes impactos no orçamento familiar da população – a Alemanha tem a menor taxa de inadimplência no pagamento de eletricidade da União Europeia. Além disso, essa sobretaxa tem data de validade. A legislação determina que ela seja progressivamente reduzida de acordo com o preço das energias renováveis – e os preços estão em queda. Nos últimos dez anos, o preço da energia solar caiu 74%.
Hoje, a Alemanha é o país que mais gera energia solar per capita e o segundo maior produtor de solar do mundo em números absolutos, atrás apenas da China. Em dias úteis, a solar chega a atender a um terço da demanda de energia do país. Os resultados impressionam, ainda mais se considerarmos que a Alemanha é um país de baixa incidência solar. Regiões brasileiras que menos recebem sol, por exemplo, têm mais luz solar do que a média alemã.
Menos verde do que gostaria
O governo alemão se vangloria de ser verde. A chanceler alemã, Angela Merkel, já foi ministra do Meio Ambiente e se apresenta como líder de um país pró-natureza. Seu governo apresentou metas mais ambiciosas que seus vizinhos europeus no Acordo de Paris – o tratado assinado na capital francesa e ratificado por mais de 140 países com metas para reduzir poluição emitida por fábricas, veículos e desmatamento e, desta forma, limitar o aumento da temperatura do planeta. Merkel se comprometeu a reduzir 40% de suas emissões de gases de efeito estufa até 2020, e chegar a uma redução de 95% em 2050.
Os números de 2016, no entanto, ligaram o sinal de alerta nas credenciais verdes do governo alemão. Em um ano, as emissões do país aumentaram em 0,9%. É pouco, mas qualquer pequena variação pode comprometer uma meta apertada como a alemã, já que há pouco espaço de manobra até 2020. O aumento das emissões no ano passado foi creditado a um inverno mais rigoroso, que fez com que os alemães utilizassem mais gás natural, e a um aumento no uso de combustível no setor de transporte. Mas o debate público a respeito das metas acabou expondo uma contradição da Energiewende: a benevolência com o carvão. Enquanto os planos da transição energética contam com um cronograma rígido de desligamento de usinas nucleares, não há o mesmo empenho em fechar as usinas a carvão.
“As emissões alemãs não estão caindo por causa do carvão. Podemos atuar com eficiência energética, reduzir emissões na agricultura, mas não há jeito. Se não pararmos de queimar carvão, não cumpriremos a meta”, diz Lutz Weischer, ativista da ONG Germanwatch. Segundo ele, o país precisa encontrar uma forma politicamente aceitável e economicamente viável para o desligamento progressivo das usinas a carvão, como faz com a energia nuclear. Mas abandonar o carvão é mais complicado do que parece. O crescimento gigantesco das renováveis está suprindo, por enquanto, a energia que as usinas nucleares deixaram de gerar. Mas não chegou ainda a substituir as energias fósseis. O carvão ainda representa 40% da matriz energética alemã, com forte participação nos sistemas de aquecimento das casas. Além disso, há a questão social – é difícil realocar no mercado de trabalho pessoas que passaram a vida toda trabalhando nas minas e indústrias de carvão.
O dilema interno do carvão embute o risco de sujar a construção da diplomacia climática de Angela Merkel. A Alemanha vem se esforçando a assumir um papel diplomático mais forte no mundo em relação às negociações de mudanças climáticas. O governo de Merkel tentou de várias formas manter os Estados Unidos no Acordo de Paris, por exemplo, e quando não conseguiu se colocou como uma das principais vozes em defesa do tratado internacional sobre mudanças climáticas, ao lado de França, China e Canadá. Se não conseguir liderar pelo exemplo, a Alemanha pode ter problemas para preencher o buraco deixado pelo presidente americano Donald Trump.
Um acerto de contas com a história
No sul de Berlim, um grande cilindro cercado por uma estrutura de metal chama a atenção na paisagem. Trata-se de um gasômetro há muito desativado. Estamos num campus chamado Euref, um lugar que mistura uma universidade, empresas já estabelecidades e startups. “Aqui costumava ser uma importante unidade de armazenamento de gás para iluminação. Era uma construção do século XIX, que foi abandonada na década de 1990”, diz Mauricio Rojas, engenheiro da Schneider Electric. Hoje, o local é um grande laboratório de tecnologias de mobilidade urbana e energia.
Em um passeio pelo campus, Rojas mostra algumas das invenções e inovações do local. No topo dos prédios, é possível ver aerogeradores que usam o vento para produzir energia. No estacionamento, os carros elétricos são reabastecidos com energia gerada por painéis fotovoltaicos instalados nos telhados. Um protótipo de um carro autônomo, que se move sem a necessidade de um motorista, circula pelo campus, exibindo um design construído, em parte, usando impressoras 3D.
Carros elétricos são recarregados no campus Euref, em Berlim, Alemanha. Ao fundo, a antiga estrutura de um gasômetro, hoje desativada.
O próprio trabalho de Rojas tem o potencial de ser tão disruptivo quanto essas tecnologias. Ele pesquisa a criação e viabilidade de smart grids, as redes de energia inteligentes. Atualmente, um dos grandes problemas das energias renováveis é que elas não podem ser ligadas a qualquer hora do dia. Elas dependem de vento ou luz solar para poder funcionar. Enquanto isso, carvão e gás podem queimar faça chuva ou faça sol. As redes inteligentes, em tese, podem resolver isso. Um computador (ou vários) com um potente algoritmo, ligado em rede com as usinas e alimentado por dados com a previsão do tempo, pode definir, com velocidade e qualidade muito maior do que um operador humano, quando ligar ou desligar usinas e para onde transmitir eletricidade, dependendo da oferta e demanda de cada região. Aliada ao desenvolvimento de baterias elétricas mais potentes, essa tecnologia pode maximizar de tal forma a distribuição de eletricidade que não haveria mais necessidade de usar fósseis como energia de backup.
Se esse tipo de tecnologia vingar, a Alemanha pode dar o passo que falta para abandonar de vez o carvão e abraçar 100% de energias renováveis. É curioso que ela esteja sendo desenvolvida justamente num lugar que foi o símbolo da energia do passado. É como se o país procurasse, com a sua transição energética, acertar as conta deixadas pelas fontes mais poluentes para poder criar um sistema que ilumine casas e indústrias sem sujar o planeta. “Estamos usando a herança energética do país para desenvolver as tecnologias do futuro”, diz Rojas. (globo)

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

INMETRO divulga lista com os carros mais econômicos do Brasil

Com o preço dos combustíveis cada vez maior, é importante prestar atenção no consumo do veículo antes de adquiri-lo. Um levantamento realizado pelo Inmetro pode ajudar nessa tarefa. A lista traz os carros mais econômicos do país e suas emissões de gás carbônico.
Confira abaixo:
10. Ford Ka SE
Consumo do carro: 1,49 MJ/km
Motor 1.0 12V flex: 13,5/15,7 km/litro com gasolina e 9,2/10,8 km/litro com etanol na estrada/cidade
Emissões de CO2 com gasolina: 86 g/km
9. Peugeot 208 1.2 Puretech
Consumo energético: 1,46 MJ/km
Motor 1.2 flex: 13,9/15,5 km/litro com gasolina e 9,6/10,7 km/litro com etanol na estrada/cidade
Emissões de CO2 com gasolina: 84 g/km
8. Fiat Mobi Drive GSR
Consumo energético: 1,43 MJ/km
Motor 1.0 12V flex: 14/15,9 km/litro com gasolina e 9,8/11,1 km/litro com etanol na estrada/cidade
Emissões de CO2 com gasolina: 89 g/km
7. Lexus CT 200h
Consumo energético: 1,41 MJ/km
Motor 1.8 VVT-i gasolina: 15,7/14,2 km/litro com gasolina e etanol na estrada/cidade
Emissões de CO2 com gasolina: 87 g/km
6. Volkswagen Move Up TSI
Consumo energético: 1,40 MJ/km
Motor 1.0 12V TSI turboflex: 14,3/16,3 km/litro com gasolina e 10/11,5 km/litro com etanol na estrada/cidade
Emissões de CO2 com gasolina: 86 g/km
5. Renault Kwid
Consumo energético: 1,39 MJ/km
Motor 1.0 12V flex: 14,9/15,6 km/litro com gasolina e 10,3/10,8 km/litro com etanol na estrada/cidade
Emissões de CO2 com gasolina: 86 g/km
4. Ford Fusion Hybrid
Consumo energético: 1,31 MJ/km
Motor 2.0 gasolina: 15,1/16,8 km/litro com gasolina e etanol na estrada/cidade
Emissões de CO2 com gasolina: 81 g/km
3. Volvo XC90 T8
Consumo energético: 1,20 MJ/km
Motor 2.0 T8 turbo gasolina: 16,4/18,9 km/litro com gasolina e etanol na estrada/cidade
Emissões de CO2 com gasolina: 150 g/km
2. Toyota Prius
Consumo energético: 1,15 MJ/km
Motor 1.8 VVT-i gasolina: 17/18,9 km/litro com gasolina e etanol na estrada/cidade
Emissões de CO2 com gasolina: 71 g/km
1. Renault Zoe
Consumo energético: 0,65 MJ/km
Motor elétrico: 32,2/26,7 km/litro com gasolina e etanol na estrada/cidade
Emissões de CO2 com gasolina: 0 g/km
(yahoo)

Aneel define cotas das usinas nucleares para 2019

Montante de 1.572 MW médios serão rateados entre as distribuidoras.
A energia das usinas nucleares a ser rateada entre as distribuidoras cotistas em 2019 resultou em 467,619 MW médios para Angra 1 e 1.105,080 MW médios para Angra 2. Os valores são definidos anualmente pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), com base nas garantias físicas dos dois empreendimentos, e divididos proporcionalmente entre as empresas de distribuição. No cálculo, foram considerados os valores faturados dos consumidores cativos das empresas entre setembro de 2017 e agosto de 2018.
A Aneel também estabeleceu as cotas-partes das usinas de Angra para os anos de 2024, 2025 e 2026. As cotas-partes representam o percentual da energia proveniente das centrais de geração Angra 1 e Angra 2, a ser alocado a cada distribuidora do Sistema Interligado Nacional (SIN), calculado pela razão entre o seu mercado faturado e a soma dos mercados faturados de todas as distribuidoras do SIN.
Reator de uma usina Nuclear.
O assunto foi deliberado em reunião ordinária da diretoria agência reguladora de 18/12/18 em Brasília. (canalenergia)

sábado, 22 de dezembro de 2018

Aneel libera projetos eólicos e solar para operação

Serão 41 MW de capacidade em operação comercial e mais 8,1 MW em testes a partir de 18/12/2018.
A Agência Nacional de Energia Elétrica publicou na edição de 18/12/2018, do Diário Oficial da União, a liberação para início da operação comercial unidades de geração de projetos solar e eólico na região Nordeste. Sob o despacho de no. 3071 foram autorizadas 14 UGs da Central Fotovoltaica Juazeiro Solar II SPE com 1 MW cada, localizado no município de Juazeiro (BA). No despacho no. 3072 são mais 27 MW da EOL Aura Lagoa do Barro 06 divididos entre a UG 1 a UG 9 de 3 MW cada, empreendimento localizado na cidade de Lagoa do Barro do Piauí (PI).
Nessa mesma edição, o despacho no. 3070 liberou três UGs para início da operação em teste da EOL Delta 6 I que somam 8,1 MW de capacidade instalada no município de Paulino Neves (MA). (canalenergia)