Além de estrada e
infraestrutura elétrica, produção de aerogeradores garantem renda extra a
famílias com terras em usinas, trazendo novas perspectivas e oportunidades para
a região de Santa Luzia (PB) e arredores.
ENERGIA: Complexo Santa
Luzia, na Paraíba, muda realidade no Sertão do Seridó.
“Diziam que essa terra aqui
não prestava nem para criar cobra”. O agricultor Luiz Cardoso Filho (Seu
Piúga), 73 anos, já tinha concordado com os moradores da zona rural de Santa
Luzia, no Sertão do Seridó, Paraíba, quando recebeu a proposta de “vender
vento”. Após anos de sofrimento dependendo da pouca chuva para sobreviver, em
2010 descobriu que suas terras estavam dentro da área do projeto de construção
do maior complexo de energia eólica da América Latina, orçado em mais de R$ 2
bilhões.
Hoje já funcionam três
parques que somam 45 aerogeradores . Até 2023 entrarão em operação mais 15
parques, chegando ao total de 189 turbinas eólicas que, juntas, terão uma
capacidade instalada de 565 MW – quase nove vezes a capacidade eólica atual de
todo o Estado da Paraíba. O empreendimento espalhado por 900 km² em Santa Luzia
e arredores pertence à Neoenergia, controlada pelo grupo espanhol Iberdrola.
Três das turbinas que já
estão em funcionamento foram instaladas nas terras de Seu Piúga, que recebe um
aluguel mensal pelo “empréstimo” do espaço. Com a renda certa e farta para quem
comia o que colhia durante a vida toda, hoje ele cria bode, gado e galinha só
“para não adoecer parado” e usa o dinheiro para viver com a esposa, a dona de
casa Arlinda Maria do Nascimento Cardoso, 69, e ajudar os quatro filhos, nove
netos e dez bisnetos. Analfabeto, ele ajuda a custear os estudos em Nutrição de
uma das netas em Natal (RN), que será a primeira da família a concluir o ensino
superior.
Hoje o agricultor circula
pelo município com o carro que comprou com o dinheiro do arrendamento e ensina
aos engenheiros que cuidam da obra o valor do conhecimento empírico do homem do
campo. “Já disse a eles que quando a pá vira de lado é sinal de chuva. Quando
ela muda, pode contar, dá dois dias no máximo e a água cai”, garante.
Os benefícios dos
investimentos no Complexo Santa Luzia também se estenderam aos outros mais de
15 mil habitantes da região, através dos arrendamentos; da melhoria dos
acessos, como a pavimentação de 60 quilômetros de estrada ligando a zona rural
ao centro da cidade; ou às contrapartidas socioambientais.
IMPACTOS
O projeto da Neoenergia na
Paraíba reforça a vocação que a geração eólica encontrou de levar
desenvolvimento social a regiões sem qualquer perspectiva do Nordeste
brasileiro. Na cidade de Santa Luzia, por exemplo, apenas 10,8% da população
está ocupada e 46,3% vive com até dois salários mínimos, de acordo com o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O quadro é um resumo do
que vive a região do Seridó paraibano.
Entre 2009, quando foi
realizado o primeiro leilão de energia eólica pela Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel), até o fim de 2017, o Nordeste recebeu cerca de R$ 80 bilhões
em investimentos na geração a partir do vento, 80% do valor de todo o País, de
acordo com a Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica).
Na manhã do dia 18 de novembro a fonte bateu um novo recorde na região, alcançando uma geração instantânea que ultrapassou em 4% a carga total do subsistema, o que tornou a região exportadora de energia naquele momento, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). “Essa é uma realidade totalmente oposta ao histórico do submercado que é, por natureza, importador de energia”, comentou a Abeeólica. Também em novembro, outro recorde: a produção de energia a partir do vento alcançou a capacidade instalada de 14 GW. (penoticias)
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