terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Energia eólica muda realidade de agricultor no sertão paraibano

Além de estrada e infraestrutura elétrica, produção de aerogeradores garantem renda extra a famílias com terras em usinas, trazendo novas perspectivas e oportunidades para a região de Santa Luzia (PB) e arredores.
ENERGIA: Complexo Santa Luzia, na Paraíba, muda realidade no Sertão do Seridó.
“Diziam que essa terra aqui não prestava nem para criar cobra”. O agricultor Luiz Cardoso Filho (Seu Piúga), 73 anos, já tinha concordado com os moradores da zona rural de Santa Luzia, no Sertão do Seridó, Paraíba, quando recebeu a proposta de “vender vento”. Após anos de sofrimento dependendo da pouca chuva para sobreviver, em 2010 descobriu que suas terras estavam dentro da área do projeto de construção do maior complexo de energia eólica da América Latina, orçado em mais de R$ 2 bilhões.
Hoje já funcionam três parques que somam 45 aerogeradores . Até 2023 entrarão em operação mais 15 parques, chegando ao total de 189 turbinas eólicas que, juntas, terão uma capacidade instalada de 565 MW – quase nove vezes a capacidade eólica atual de todo o Estado da Paraíba. O empreendimento espalhado por 900 km² em Santa Luzia e arredores pertence à Neoenergia, controlada pelo grupo espanhol Iberdrola.
Três das turbinas que já estão em funcionamento foram instaladas nas terras de Seu Piúga, que recebe um aluguel mensal pelo “empréstimo” do espaço. Com a renda certa e farta para quem comia o que colhia durante a vida toda, hoje ele cria bode, gado e galinha só “para não adoecer parado” e usa o dinheiro para viver com a esposa, a dona de casa Arlinda Maria do Nascimento Cardoso, 69, e ajudar os quatro filhos, nove netos e dez bisnetos. Analfabeto, ele ajuda a custear os estudos em Nutrição de uma das netas em Natal (RN), que será a primeira da família a concluir o ensino superior.
Hoje o agricultor circula pelo município com o carro que comprou com o dinheiro do arrendamento e ensina aos engenheiros que cuidam da obra o valor do conhecimento empírico do homem do campo. “Já disse a eles que quando a pá vira de lado é sinal de chuva. Quando ela muda, pode contar, dá dois dias no máximo e a água cai”, garante.
Os benefícios dos investimentos no Complexo Santa Luzia também se estenderam aos outros mais de 15 mil habitantes da região, através dos arrendamentos; da melhoria dos acessos, como a pavimentação de 60 quilômetros de estrada ligando a zona rural ao centro da cidade; ou às contrapartidas socioambientais.
IMPACTOS
O projeto da Neoenergia na Paraíba reforça a vocação que a geração eólica encontrou de levar desenvolvimento social a regiões sem qualquer perspectiva do Nordeste brasileiro. Na cidade de Santa Luzia, por exemplo, apenas 10,8% da população está ocupada e 46,3% vive com até dois salários mínimos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O quadro é um resumo do que vive a região do Seridó paraibano.
Entre 2009, quando foi realizado o primeiro leilão de energia eólica pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), até o fim de 2017, o Nordeste recebeu cerca de R$ 80 bilhões em investimentos na geração a partir do vento, 80% do valor de todo o País, de acordo com a Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica).
Na manhã do dia 18 de novembro a fonte bateu um novo recorde na região, alcançando uma geração instantânea que ultrapassou em 4% a carga total do subsistema, o que tornou a região exportadora de energia naquele momento, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). “Essa é uma realidade totalmente oposta ao histórico do submercado que é, por natureza, importador de energia”, comentou a Abeeólica. Também em novembro, outro recorde: a produção de energia a partir do vento alcançou a capacidade instalada de 14 GW. (penoticias)

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