Ambientalistas,
cientistas e a Organização das Nações Unidas (ONU) afirmam uníssono: as
mudanças climáticas são um grande risco para a manutenção da vida humana na
Terra e que a queima de combustíveis de origem fóssil é a maior de suas causas.
Em uma
conferência sobre a ação climática realizada em maio de 2018, o
secretário-geral da ONU, António Guterres, ressaltou que o aquecimento global é
a maior “ameaça existencial” para a humanidade. Não é à toa que a entidade
estabelece a energia como um de suas maiores áreas de ação. O Objetivo de
Desenvolvimento Sustentável número 7 (ODS 7), cujo objetivo é “assegurar o
acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para
todos”, serve de base para o fomento de alternativas energéticas sustentáveis
ambiental, social e economicamente.
De acordo
com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a queima de
combustíveis de origem fóssil é responsável por aproximadamente 80% das 40
bilhões de toneladas de dióxido de carbono que a ação humana emite para a
atmosfera anualmente. E além disso, relata a Organização Mundial da Saúde
(OMS), a poluição gerada afeta a saúde de mais de 80% dos habitantes das
regiões urbanas do planeta.
“Investimentos
em infraestrutura limpa e verde precisam ser feitos em escala maior em todo o
mundo”, afirmou Guterres. “Para tanto, precisamos de lideranças do ramo das
finanças e investimentos, e que governos locais, regionais e nacionais decidam
por grandes planos de infraestrutura nos próximos anos.”
E uma das
nações que lidera esse movimento é exatamente aquela que mais polui: a China.
China: de
vilã a ativista ambiental
Segundo
levantamento da McKinsey Global Institute, a demanda mundial por energia está
em lenta curva de queda. No entanto, na China, a necessidade de abastecer suas
indústrias que fornecem produtos para todo o mundo só faz este índice crescer.
Hoje, 23% de toda energia global é consumida pelos chineses – os Estados
Unidos, em segundo lugar, consomem 16%. Se a tendência atual se mantiver, em
2035, a China será responsável por 28% do consumo mundial de energia, ou seja,
mais de um quarto do total.
Com a matriz
energética baseada principalmente em queima de carvão mineral, a China é quem
mais sofre com as consequências da poluição. Um estudo produzido por
pesquisadores dos Estados Unidos, Canadá, China e Índia mostrou que, só em
2013, 5,5 milhões de pessoas morreram em todo o mundo em decorrência dos
problemas de saúde causados pela poluição – 1,6 milhões deles, chineses.
“Globalmente, a poluição do ar é o quarto maior fator de mortalidade mundial, e
é de longe a principal causa ambiental de doenças”, disse Michael Brauer,
professor da Universidade da Colúmbia Britânica, em conferência.
O país mais
populoso do mundo – hoje com 1,3 bilhão de habitantes – então iniciou uma
revolução verde em sua matriz energética. Em 2017, o governo federal chinês
anunciou o investimento de US$ 360 bilhões em energia renovável até 2020 e
desistiram de construir 85 novas usinas de carvão. Apenas no primeiro ano do programa,
o aporte financeiro foi de US$ 126,6 bilhões e a própria ONU reconheceu o
esforço chinês na produção de energia solar: dois anos antes do prazo, o país
já ultrapassou seu objetivo de gerar 105 gigawatts a partir de módulos
fotovoltaicos – suficiente para alimentar 30 milhões de residências.
Esse
conjunto de ações, além de oferecer contrapartida ambiental, aumenta o
interesse do mercado de energia no país. De acordo com a consultoria EY, o
mercado de energia chinês é o mais atrativo do mundo.
Energias
alternativas fazem crescer a economia e o mercado de trabalho
A ONU Meio
Ambiente afirma que hoje, 20% da energia consumida globalmente é proveniente de
fontes renováveis – e este índice cresce rapidamente. A entidade prevê que em
dez anos as matrizes energéticas limpas podem se apresentar já mais baratas do
que os combustíveis fósseis e que, até 2050, 100% da energia mundial seja
origem limpa.
O relatório
produzido pela entidade aponta que os interesses da indústria de energia
convencional, baseada em queima de combustível fóssil, é um dos principais
entraves para que as fontes renováveis alcancem os 100%, sobretudo nos EUA,
Japão e África. No entanto, o relatório indica também que, durante três anos
seguidos, a economia global cresceu 3%, mas as emissões de gases nocivos
relacionadas ao setor energético diminuíram.
De acordo
com o relatório, How technology is reshaping supply and demand for natural
resources, produzido pelo McKinsey Global Institute, essa é uma tendência para
o futuro. O uso menos intensivo da energia e o aumento da eficiência energética
podem ter um impacto de 40% a 70% na produtividade global durante os próximos
20 anos.
Energias
renováveis podem turbinar também o mercado de trabalho. Para a Organização
Internacional do Trabalho (OIT), ao menos 24 milhões de novos postos de
trabalho serão criados no mundo até 2030 se as políticas certas para promover
uma economia verde forem implementadas – sendo 2,5 milhões deles somente em
setores de geração de energia.
Segundo o relatório Perspectivas Sociais e de Emprego
no Mundo 2018: Greening with Jobs, produzido pela mesma entidade, atividades
sustentáveis já empregam 1,2 bilhão de trabalhadores. “A economia verde pode
permitir que milhões de pessoas superem a pobreza, além de proporcionar
condições de vida melhores para a atual geração e também para futuras. Esta é
uma mensagem de oportunidade muito positiva em um mundo de escolhas complexas”,
disse a diretora-geral adjunta da OIT, Deborah Greenfield, em comunicado.
Energias
alternativas no Brasil
O mesmo documento produzido pela OIT aponta que a
América Latina será uma das maiores beneficiárias das políticas voltadas à
energia verde. “Na América Latina e no Caribe, pelo menos 1 milhão de empregos
serão gerados como resultado do uso de energias renováveis, maior eficiência
energética em imóveis e maior demanda por carros elétricos, e outras
tecnologias de mudança no padrão de consumo para combater as mudanças
climáticas”, afirmou Guillermo Montt, da OIT, em comunicado. (abril)
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