O negacionismo do atual
desgoverno está presente em vários atos e atitudes de seus membros, em
particular do presidente da República. O termo negacionismo é o ato de negar
fatos, acontecimentos, e evidências científicas. Tal estratégia tem sido
utilizada para a formação de uma governamentalidade (definição dada pelo
filósofo francês Michel Foucault, como sendo o conjunto de táticas e
estratégias usadas para exercer o poder e conduzir as condutas dos governados),
e assim criar as próprias verdades. O que acaba dificultando e confundindo a
percepção do público em geral, do risco de determinados eventos de grandes
impactos e repercussão, como por exemplo, o que tem acontecido com a pandemia
do Corona vírus.
A criação de uma realidade
paralela caracteriza-se por negar a própria pandemia, propagandear o uso de
remédios ineficazes e questionar a eficácia da vacina. O que contribuiu nestes
dois últimos anos para ceifar uma quantidade elevada de vidas humanas. Segundo
cientistas, se cuidados básicos tivessem sido implementados pelo Ministério da
Saúde para enfrentar a pandemia, um grande número de óbitos seria evitado.
Outro tipo de negacionismo
praticado tem sido o negacionismo nuclear. Com uma campanha publicitária
lançada recentemente pela Eletrobras Eletronuclear, o desgoverno federal
escolheu exaltar mentiras, distorcer fatos, manipular e esconder dados sobre as
usinas nucleares, cujas instalações no país se tornaram uma prioridade.
O que tem sido constatado
após o último acidente nuclear, ocorrido em Fukushima (antes o de Chernobyl), é
que financiadores de “think tanks” (instituições que se dedicam a produzir
conhecimento, e cuja principal função é influenciar a tomada de decisão das
esferas pública e privada, como de formuladores de políticas) e lobistas
defensores da tecnologia nuclear é que as campanhas pró usinas nucleares, estão
muito ativas e atuantes, se valendo de desinformação. A falta de transparência
é a arma utilizada pelos interesses dos negócios nucleares.
Negar fatos e evidências
científicas, mesmo que elas estejam muito bem explicadas, documentadas é a
essência da prática que serve para explicar qualquer tipo de negacionismo,
incluindo o do uso de usinas nucleares, que nada mais são do que instalações
industriais, que empregam materiais radioativos para produzir calor, e a partir
deste calor gerar energia elétrica, como em uma termoelétrica. O que muda nas
termoelétricas é o combustível utilizado.
No caso do uso da energia
nuclear, também conhecida como energia atômica, algumas mentiras sobre esta
fonte energética são defendidas, disseminadas, replicadas, compartilhadas, e
assim, passam a construir verdades que acabam exercendo pressão, com o objetivo
de minimizar e dificultar a percepção da população sobre os reais riscos e
perigos que esta tecnologia representa, além de caras e sujas, e de ser
totalmente desnecessária para o país.
A política energética atual
tem-se caracterizado pela falta de apoio efetivo às fontes renováveis de
energia. Ao contrário, o ministro de Minas e Energia proclama como prioritário,
a nucleoeletricidade. Insiste em priorizar e promover fontes de energia
questionadas, e mesmo abandonadas pelo resto do mundo, caso do apoio ao carvão
mineral para termelétricas, e da própria energia nuclear.
No mundo em que vivemos cada
ação praticada, implica em riscos. Assim, precisamos decidir sobre quais são
aceitáveis, já que eliminá-los é impossível. Não existe risco zero.
A ocorrência de um acidente
severo em usinas nucleares é catastrófica aos seres vivos, ou seja, o vazamento
de material radioativo confinado no interior do reator para o meio ambiente. É
bom que se saiba, que inexiste qualquer outro tipo de acidente que se assemelha
a radioatividade lançada ao meio ambiente, e suas consequências e impactos,
presentes e futuros.
No caso de usinas nucleares,
onde reações nucleares com material físsil produz grande quantidade de calor
concentrada em um espaço pequeno, no núcleo do reator, maiores são as
consequências de qualquer anomalia acontecer, e se tornar uma catástrofe.
Quanto maior a complexidade do sistema, mais elementos interagem entre si, e
maiores são as chances de acidentes, mesmo com todos os cuidados preventivos.
Neste caso, existe a possibilidade concreta de se cumprir a Lei de Murphy,
segundo a qual “se uma coisa pode dar errado, ela dará, e na pior hora
possível”.
As usinas nucleares
existentes no país, e as novas propostas, utilizam como combustível o urânio
235 (isótopo do urânio encontrado na natureza). Este tipo de urânio, que se
presta a fissão nuclear, é encontrado na natureza na proporção, em média, de
0,7%. Todavia é necessária uma concentração superior a 3% para ser usado como
combustível, assim é necessário enriquecê-lo, aumentando o teor do elemento físsil.
Pode-se afirmar que haverá urânio 235, suficiente para mais 30-50 anos, a
custos razoáveis, para atender as usinas nucleares existentes.
A energia nuclear é barata
É muito mais cara do que nos
fazem crer, sem contar com os custos de armazenagem do lixo radioativo, e o
desmantelamento e/ou descomissionamento no fim da vida útil da usina (custa
aproximadamente o mesmo valor que a de sua construção). Logo, o custo do kWh
produzido é próximo, e mesmo superior ao das termelétricas a combustíveis
fósseis. E sem dúvida, acontecerá o repasse de tais custos para o consumidor
final.
A taxa de mortalidade de um
desastre nuclear é baixa
O contato de seres vivos, em particular de humanos com a radiação liberada por uma usina nuclear, tem efeitos biológicos dramáticos, e vai depender de uma série de fatores. Entre os quais: o tipo de radiação, o tipo de tecido vivo atingido, o tempo de exposição e a intensidade da fonte radioativa. Conforme a dose recebida os danos às células podem levar um tempo. Podem ser, desde queimaduras até aumento da probabilidade de câncer em diferentes partes do organismo humano. Portanto, em casos de acidentes severos já ocorridos, o número de mortes logo após o contato com material radioativo não foi grande; mas as mortes posteriores foram expressivas, segundo organismos não governamentais. Nestes casos a dificuldade de contabilizar a verdadeira taxa de mortalidade é dificultada pela mobilidade das pessoas. Pessoas que moravam próximas ao local destas tragédias, e que foram contaminadas, se mudam, e a evolução da saúde individual, fica praticamente impossível de se acompanhar.
O nuclear é seguro
Embora o risco de acidente
nuclear seja pequeno, é preciso considerá-lo, haja vista que já aconteceu em
diferentes momentos da história, e possui consequências devastadoras. Um
acidente nuclear torna a área em que ocorreu inabitável. Rios, lagos, lençóis
freáticos e solos são contaminados. Esse tipo de acidente ainda ocasiona
alterações genéticas em seres vivos.
O uso da energia nuclear está
em pleno crescimento no mundo
Esta é uma falácia recorrente
dos que creditam a esta tecnologia um crescimento mundial. Vários países têm
criado dificuldades para a expansão de usinas, e mesmo abandonando a
nucleoeletricidade. Como exemplos temos a Alemanha, Áustria, Bélgica, Itália,
Portugal, …. E em outros países o movimento anti-usinas nucleares tem crescido
entre a população, como é o caso da França e Japão.
A energia nuclear é
necessária, é inevitável
No caso do Brasil, as 2 usinas existentes participam da matriz elétrica com menos de 2% da potência total instalada. E mesmo que as projeções governamentais apontem para mais 10.000 MW até 2050, assim mesmo, a contribuição da nucleoeletricidade será inferior aos 4%. A energia nuclear não é necessária no Brasil que detém uma biodiversidade extraordinária e fontes renováveis em abundância.
A energia nuclear é limpa
Por princípio não existe
energia limpa, e sim as sujas e as menos sujas. No caso da energia nuclear ela
é classificada de suja, pois é responsável por emissões de gases de efeito
estufa ao longo do ciclo do combustível nuclear (da mineração a produção das
pastilhas combustíveis), e produz o chamado lixo radioativo. O lixo é composto
por tudo o que teve contato com a radioatividade. Logo, entra nessa categoria:
resíduos do preparo das substâncias químicas radioativas, a mineração, o
encanamento através do qual passam, as vestimentas dos funcionários, as
ferramentas utilizadas, entre outros. Parte deste lixo, por ser extremamente
radioativo, precisando ser isolado do meio ambiente por centenas, e mesmo
milhares de anos. Não existe uma solução definitiva de como armazená-lo. Um
problema não solucionado que será herdado pelas gerações futuras.
O nuclear resolve nosso
problema energético, evitando os apagões e o desabastecimento
Contribui atualmente com 2%
da potência total instalada no país, podendo chegar a 4% em 2050, caso novas
usinas sejam instaladas. O peso das potências total instaladas, atual e futura,
na matriz elétrica é muito inferior ao potencial das alternativas renováveis
(por ex.: Sol e vento) disponíveis. Logo, a afirmativa de que a solução para
eventuais desabastecimentos de energia pode ser compensada pela energia nuclear
é uma mentira das grandes.
O que está ocorrendo no país, caso prossiga a atual política energética nefasta, no sentido econômico, social e ambiental, é um verdadeiro desastre que deve ser evitado.
Para saber mais sugiro a leitura dos livros “Por um Brasil livre das usinas nucleares”- Chico Whitaker, “Bomba atômica pra quê? – Tania Malheiros. E os artigos de opinião “Energia nuclear é suja, cara e perigosa”- Chico Whitaker, “O Brasil não precisa de mais usinas nucleares” – Ildo Sauer e Joaquim Francisco de Carvalho, “Porque o Brasil não precisa de usinas nucleares” – Heitor Scalambrini Costa e Zoraide Vilasboas; e o estudo sobre a “Insegurança na usina nuclear de Angra 3”- Célio Bermann e Francisco Corrêa. (ecodebate)
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