Após a série de desencontros
sobre os ônibus elétricos em São Paulo, com o prefeito Ricardo Nunes e ENEL se
contestando a respeito do valor que será cobrado para implantar a
infraestrutura de carregamento das baterias destes veículos, haverá uma
tentativa de acordo entre as partes.
Em agenda pública de
08/03/24, o prefeito voltou a criticar a Enel, afirmou que a empresa pode estar
jogando os valores dessa infraestrutura para o alto porque não teria condições
de entregar as adequações, mas disse que a SPTrans (São Paulo Transporte) vai
tentar um acordo até 15/03/24 antes de a prefeitura mover uma ação judicial
contra a distribuidora.
A meta anunciada pela
prefeitura em 2021 era de que 2,6 mil ônibus elétricos estariam em operação até
dezembro de 2024. Mas até agora, em março de 2024, são apenas 84 coletivos
deste tipo e o anúncio de 600 veículos em 2023 não se cumpriu. A eletrificação
da frota de ônibus não avança pela falta de infraestrutura nas garagens e redes
de distribuição, apesar de a prefeitura já ter aberto caminho para
financiamentos que somam R$ 5,75 bilhões para a compra dos ônibus.
Enquanto os elétricos não
avançam, desde outubro/2022, as empresas não podem mais comprar ônibus a diesel
e a frota está envelhecendo.
“Essa questão dos ônibus o
que acontece. Eles agora apresentaram uma conta de R$ 1,6 bilhão para fazer a
infraestrutura para o carregamento das baterias. Então o que eu acho, (…) tenho
a impressão de que eles não têm condições de atender, não têm compromisso com a
cidade para o atendimento, e jogam um preço exorbitante para poder justificar
seu não atendimento. Sem querer ser leviano. É uma impressão, não estou fazendo
uma afirmação. Estou colocando como um sentimento que tenho. A gente vai tentar
levar esse tema até o dia 15 de março, ver se existe alguma possibilidade de
acordo e, se não houver, vamos ter que partir para o judiciário, por eles
estarem colocando para a população um tema que vai acabar gerando prejuízo para
a cidade”, disse Nunes.
Como mostrou o Diário do
Transporte, a Enel contestou de forma oficial uma declaração do prefeito de São
Paulo, Ricardo Nunes, que disse que a distribuidora apresentou orçamento de R$
1,6 bilhão para implantar a infraestrutura necessária para o carregamento das
baterias e operação destes veículos.
Segundo a empresa, o valor de
R$ 1,6 bilhão não é absoluto e nem se refere a um orçamento final para
implantação das condições para estes ônibus, mas é uma soma de todas as
alternativas que ainda estão sendo escolhidas pelas empresas de transportes.
“Cabe destacar que o valor
mencionado de R$ 1,6 bilhão não está correto, pois soma os valores de todas as
alternativas até aqui analisadas e não apenas aquelas efetivamente escolhidas
pelo Operadores de ônibus (o que ainda está pendente de definição) ”. – Diz
trecho da resposta da Enel ao Diário do Transporte.
A empresa fez questão de
grifar esta parte na reposta que ainda explica que o processo de eletrificação
de frotas de ônibus requer a criação de dois tipos de infraestrutura: nas
garagens e fora das garagens na rede de distribuição.
Como também noticiou o Diário do Transporte, em 06 de março de 2024, Nunes disse que estuda processar a Enel por causa do valor de R$ 1,6 bilhão. A demora para deslanchar o processo também deve estar na ação judicial, se não houver acordo.
Não há infraestrutura para os ônibus elétricos na cidade de São Paulo.
O total de ônibus com
baterias é de 84, bem longe da meta de 2,6 mil prevista para o fim de 2024.
Na nota, ainda enviada ao
Diário do Transporte, a Enel diz que dialoga com as empresas de ônibus para que
escolham a infraestrutura. Veja na íntegra:
"O processo de
eletrificação de frotas de ônibus requer a criação de dois tipos de
infraestrutura:
A primeira refere-se aos
carregadores elétricos e os acessórios (subestações, quadros elétricos,
cabeamento, dispositivos de comando, proteção e controle, etc) que precisam ser
instalados nas garagens de cada um dos Operadores / Concessionários. A
quantidade de carregadores (e respectivas instalações acessórias) pode variar
em função do número de ônibus elétricos que serão incorporados a cada garagem
específica. A ENEL X é um dos provedores desse tipo de tecnologia, com larga
expertise mundial (Chile, Colômbia, Itália, etc), e está negociando
bilateralmente com alguns dos Operadores de Ônibus de São Paulo, provendo-lhes
informações técnicas e orçamentos, necessários à sua melhor escolha. Os valores
associados ao orçamento de cada garagem dependem do tipo de solução desejada por
cada Operador, assim como da quantidade de carregadores (e instalações
acessórias) necessários. Sempre importante destacar que esse tipo de solução
pode ser disponibilizado por vários outros fornecedores existentes no mercado,
além da Enel X. Ou seja, eventualmente fechar um pacote de infraestrutura
interna às garagens depende do interesse mútuo entre as partes (Operadores de
Ônibus e Enel X).
O segundo tipo de infraestrutura refere-se à rede elétrica externa às garagens (em média ou alta tensão), que pertencem à distribuidora de energia (no município de São Paulo, a Enel Distribuição) e que precisam ser analisadas (circuito a circuito), para atenderem à nova carga demandada pela instalação de carregadores elétricos nas garagens, verificando sua viabilidade e propondo eventuais adequações necessárias (estudo de viabilidade técnica).Também nesse caso há vários tipos de soluções que podem ser implementadas (média ou alta tensão, garagens isoladas ou agrupadas, etc) e as soluções finais dependem da escolha dos Operadores de Ônibus (com anuência do Município / SPTrans), levando-se em consideração aspectos técnicos, econômicos, logísticos e conceituais.
Desde 2023, a Enel Distribuição São Paulo vem trabalhando junto com os operadores de ônibus, analisando cada uma das possíveis soluções de rede em função das suas necessidades específicas, seja para a conexão elétrica individual de cada uma das garagens ou mesmo para possíveis hubs compartilhados de carregamento (alternativa que os operadores têm demandado mais recentemente e que pode otimizar a logística de abastecimento da frota elétrica). Todo esse trabalho vem sendo acompanhado de perto pela SPTrans, que tem inclusive participado das reuniões quinzenais entre a Enel Distribuição e os Operadores. Dezenas de alternativas foram analisadas pela Enel Distribuição a pedido dos Operadores para que escolham o tipo de solução de rede pretendem adotar, visando a posterior assinatura dos contratos, elaboração dos projetos executivos e a implantação da solução.
Assim, o valor total de um projeto de infraestrutura da rede elétrica externa às garagens para viabilizar o transporte público elétrico (ônibus) varia de acordo com o tipo de solução a ser escolhida pelo Operador de ônibus (com anuência da SPTrans), podendo ser desenvolvida em média ou alta tensão, de forma individualizada (para cada garagem) ou por hubs de abastecimento (solução em alta tensão que parece ser mais atrativa sob os aspectos técnico, econômico e logístico). Para cada garagem / Operador foram apresentados diversos tipos de soluções (tanto soluções de rede elétrica externa, provida pela Enel Distribuidora, quanto soluções para os carregadores e acessórios internos às garagens, pela Enel X).
Cabe destacar que o valor mencionado de R$ 1,6 bilhão não está correto, pois soma os valores de todas as alternativas até aqui analisadas e não apenas aquelas efetivamente escolhidas pelo Operadores de ônibus (o que ainda está pendente de definição).
Tanto a Enel X quanto a Enel
Distribuição têm trabalhado de forma próxima e colaborativa com os Operadores
de Ônibus e SPTrans /município, analisando todas as alternativas demandadas por
eles, para que possam fazer a melhor escolha sob todos os aspectos (técnico,
econômico, logístico, etc). Toda a negociação se dá de forma direta e bilateral
entre os Operadores e a Enel X (carregadores e acessórios) ou a Enel
Distribuição São Paulo (rede elétrica externa às garagens) e tão logo os
Operadores e a SPTrans definam a solução a ser adotada, a Enel seguirá à disposição
para formalizar os futuros contratos e dar sequência à implantação das soluções
escolhidas.
Mais uma vez, a escolha final é sempre dos Operadores / Concessionários de Ônibus, de acordo com as regras estabelecidas pelo município / SPTrans, sendo que que no mercado existem outras empresas provedoras de soluções de mobilidade (carregadores e acessórios), além da ENEL X. O cronograma de implantação também dependerá da solução escolhida pelos Operadores e será definido por ocasião da assinatura do contrato entre as partes. Há soluções de curtíssimo prazo e soluções de médio prazo, todas devidamente compatibilizadas com o avanço do aumento da frota elétrica que o município e os Operadores de ônibus queiram implantar".
De onde vem o dinheiro
Na prática, as empresas de
ônibus não vão desembolsar nada para a eletrificação da frota na cidade de São
Paulo nesta primeira fase.
Isso porque, a meta de 2,6
mil ônibus elétricos até o fim de 2024 deve custar em torno de R$ 8 bilhões.
A prefeitura obteve R$ 5,75
bilhões em financiamentos de diversas fontes, vai injetar R$ 165 milhões dos
cofres públicos como contrapartida.
Financiamento de R$ 5,75
bilhões sendo
– R$ 2,5 bilhões do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
– R$ 2,5 bilhões do Banco
Interamericano de Desenvolvimento e do Banco Mundial
– R$ 250 milhões do Banco do
Brasil
– R$ 500 milhões da Caixa
Econômica Federal
– R$ 165 milhões em
contrapartidas da Prefeitura;
Ainda seriam necessários outros R$ 2 bilhões para fechar a conta, mas as viações vão receber subsídios maiores pelos ônibus elétricos.
A SPTrans, que gerencia o sistema de transportes na cidade de São Paulo, em 13/09/2023, informou ao Diário do Transporte que as empresas pelos ônibus elétricos vão contar com subsídios 15% maiores. A informação foi confirmada pelo prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, em entrega das 50 primeiras unidades de ônibus elétricos no dia 18 de setembro de 2023. (biodieselbr)
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