As novas instalações globais de energia solar deram um grande salto em
2023, aumentando 58% em relação ao ano anterior, adicionando 413 gigawatts (GW)
na capacidade de produção. O crescimento ocorreu em todas as regiões, mas em
grande parte foi impulsionada pela contribuição da China de 240 GW, que é um
valor 6 vezes maior do que toda a capacidade instalada de energia solar do
Brasil que é de 40 GW no total.
Ou seja, a China sozinha adicionou mais capacidade do que o resto do mundo, segundo o gráfico abaixo, com dados da BloombergNEF. Nota-se que o crescimento das instalações de energia solar cresceu de forma exponencial desde 2010, com um salto significativo em 2023 e com perspectiva de superar 700 GW em 2030.
https://about.bnef.com/blog/3q-2023-global-pv-market-outlook/
A China revelou todo a força de sua indústria de energia solar no último
ano, segundo o jornal New York Times. O país asiático instalou mais painéis
solares do que os Estados Unidos em toda a sua história e reduziu o preço dos
painéis que vende no atacado em quase a metade do valor. As exportações de
painéis solares montados aumentaram 38%, enquanto as exportações de
componentes-chave quase dobraram. Enquanto os Estados Unidos e a Europa tentam
reviver a produção de energia renovável e ajudar as empresas a evitarem a
falência, a China corre muito à frente.
Além do grande crescimento da capacidade instalada de energia renovável,
o ano de 2023 foi também crucial para a indústria de veículos elétricos (VE). Um
estudo da empresa Rystad Energy revela que a China está na vanguarda da
produção dos VEs, representando 69% de todas as vendas de novos veículos em
dezembro. De acordo com as projeções da empresa, as vendas globais de veículos
elétricos deverão atingir os 17,5 milhões em 2024, assumindo um aumento anual
de 18,5%. Como resultado, a percentagem de vendas de automóveis novos elétricos
a bateria (BEV) ou elétricos híbridos plug-in (PHEV) aumentará de 19,2% em 2023
para cerca de 21,8% no final de 2024.
O estudo revela também que a China, com o seu considerável crescimento
na produção interna, desempenhará um papel de liderança na expansão contínua do
mercado de veículos elétricos. Prevê-se que cerca de 11,5 milhões de novos
veículos elétricos sejam vendidos no país este ano, representando 44% de todas
as vendas de automóveis novos.
Ainda segundo a Rystad, a liderança da China no setor é inegável, com um crescimento anual de 37% nas vendas de veículos elétricos no último ano, atingindo 9 milhões de unidades vendidas e uma quota de mercado de 34%. Além disso, a China ultrapassou as suas próprias metas ao apontar para uma quota de mercado de 45% até 2027, acima da meta inicial de 40% até 2030.
Agora em março de 2024, os líderes chineses afirmam que a nova trinca de setores na indústria —painéis solares, carros elétricos e baterias de lítio— deve substituir o trio antigo de roupas, móveis e eletrodomésticos. O objetivo seria ajudar a compensar a forte queda no setor de construção de moradias da China. A China espera aproveitar indústrias emergentes como a energia solar, que Xi Jinping gosta de descrever como “novas forças produtivas” (uma espécie de reindustrialização), para revigorar uma economia que desacelerou por mais de uma década.
Neste contexto, a China consolida a sua posição como líder global em
energia solar, em veículos elétricos e em transição energética. A transição
verde virou um grande negócio para as empresas chinesas. E, além do mais, ajuda
a mitigar as grandes emissões de carbono da China.
Porém, é sempre bom considerar que o sol e o vento são recursos naturais abundantes e renováveis, mas não podem fazer milagres e nem evitar o imperativo do metabolismo entrópico, como ensina a escola da economia ecológica. A humanidade já ultrapassou a capacidade de carga do Planeta. Como alertou o ambientalista Ted Trainer (2007), as energias renováveis não são suficientes para manter a expectativa das pessoas por um alto padrão de consumo conspícuo.
Ted Trainer prega um mundo mais frugal, com decrescimento da Pegada Ecológica. A China é um país de renda média e já apresenta decrescimento demográfico. No futuro poderá apresentar também decrescimento econômico com redução da pegada ecológica e aumento da renda per capita, como mostrei no artigo “Decrescimento da população da China com crescimento da renda per capita” (Alves, 13/03/2024). A China e o mundo podem ganhar, em termos sociais e ambientais, com o decrescimento demoeconômico. (ecodebate)
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