O professor Jorge Alberto Vieira Costa é tão defensor da economia azul que faz parte de um seleto grupo no Brasil que já desenvolve pesquisas que estão dentro dessa ideia. Segundo ele, “a economia azul é uma economia voltada ao ambiente, ao social e requer poucos gastos”. Diferente da economia verde, a azul foi pensada por Gunter Pauli, fundador do Zero Emissions Research and Initiatives, que em seu mais recente artigo usou a pesquisa desenvolvida pelo professor Jorge Alberto como um exemplo real da sua teoria econômica. A ideia da pesquisa do professor gaúcho é reutilizar o dióxido de carbono residual de uma usina elétrica movida a carvão para alimentar a alga Spirulina, que por sua vez produz alimento rico em proteínas e é usada para fabricar biocombustíveis.
Na entrevista a seguir, realizada por telefone, Jorge Alberto explicou as funcionalidades e resultados da sua pesquisa com a spirulina. “Quando os espanhóis chegaram ao México, os astecas comiam a Spirulina, uma massa verde que até então não se sabia o que era, e viviam muito mais que outros povos”, relatou.
Jorge Alberto Vieira Costa é graduado em Engenharia de Alimentos pela Universidade Federal do Rio Grande. Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul fez especialização em Biotecnologia Moderna e é doutor em Engenharia de Alimentos pela Universidade Estadual de Campinas.
IHU On-Line – O que é a economia azul?
Jorge Alberto Vieira Costa – É uma visão diferenciada da economia. Esperamos que ela mude a forma como está sendo conduzida a questão do capital. A economia azul é uma economia voltada ao ambiente, ao social e requer poucos gastos.
IHU On-Line – O senhor pode nos explicar como funciona e para que serve a pesquisa que desenvolve com dióxido de carbono residual de uma usina elétrica movida a carvão?
Jorge Alberto Vieira Costa – Para produzir energia, utiliza-se a maneira biológica e sustentável ou combustíveis fósseis. Estes existirão durante algum período. Ao queimar combustível fóssil, gera-se CO2 que estava no subsolo durante milhões de anos e que vai para atmosfera. O que fazemos é tentar utilizar a biologia para trazer de volta esse CO2.
Então, queima-se o carvão e usamos microalgas para se alimentarem do CO2 através da fotossíntese. Assim, elas produzem energia e crescem. Crescendo, geram uma biomassa que terá várias utilidades, como a criação de novos biocombustíveis ou até alimentos. Como o carvão pode estar contaminado por metais pesados, só estamos produzindo biocombustíveis, como biodiesel, biometano e biohidrogêngio. Com isso, esse biocombustível vai para a caldeira, substituindo aquele que, inicialmente, era queimado em quantidade maior. Ou seja, há um ciclo completo. Vamos diminuindo cada vez mais a quantidade de combustível fóssil queimado e de CO2 jogado na atmosfera.
IHU On-Line – Que impactos os resultados dessa pesquisa pode ter sobre a economia local?
Jorge Alberto Vieira Costa – O Rio Grande do Sul tem 90% das reservas de carvão do país, que é um dos mais baratos do planeta. No futuro, se não for resolvida a questão do CO2, ele se tornará inviável. Hoje já existem tecnologias para diminuir outros gases que são produzidos durante a queima do carvão, como os responsáveis pela chuva ácida. Além disso, equipamentos resolvem o problema da grande quantidade de cinzas. Mas ainda não existe uma tecnologia disponibilizada comercialmente que resolva a questão do gás carbônico.
Há duas soluções por enquanto: injeção de CO2 em poços de petróleos e em minas de carvão desativados e a outra é a biofixação. Os poços de petróleo mais próximos do Rio Grande do Sul estão a milhares de quilômetros, por isso essa primeira hipótese está descartada. Além disso, as minas de carvão brasileiras são a céu aberto, diferentes de outros países. No Brasil não há muitas outras alternativas a não ser a fixação biológica.
IHU On-Line – É possível manter a ideia de crescimento que o Brasil e países em desenvolvimento têm a partir da economia azul?
Jorge Alberto Vieira Costa – Sim, é possível. Mas as autoridades responsáveis e os órgãos reguladores precisam começar a tomar atitudes. Não estou vendo isso, por exemplo, nas termoelétricas que estão sendo instaladas na Amazônia, por exemplo. Existe preocupação com o dióxido de enxofre, com o SOx [1], mas não há preocupação com o CO2.
Essa não é uma questão que deve ser tratada só pelo Ministério de Minas e Energia. Deve vir do Ministério do Meio Ambiente, que é o grande responsável por este tema. Fazer os empresários entenderem a economia azul me parece mais difícil do que fazer os organismos controladores entenderem e passarem a ideia para todos.
IHU On-Line – Qual a viabilidade técnica da utilização de microalgas para a redução da emissão de gás carbônico proveniente da geração termelétrica?
Jorge Alberto Vieira Costa – Toda essa questão de não deixar o gás carbônico chegar à atmosfera ou retirá-lo de lá é feita pelas árvores e microalgas. Todo oxigênio que respiramos vem daí também. As microalgas são responsáveis por cerca de 70% do oxigênio que respiramos, mas todo mundo pensa que são as árvores. É fácil observar isso, é só pegar um mapa mundi e ver onde há área verde e onde há área azul, que corresponde a dois terços do planeta. Onde há área azul, há microalgas.
IHU On-Line – O que é a Spirulina?
Jorge Alberto Vieira Costa – Spirulina é uma microalga que se adapta muito bem ao consumo humano. Ela tem liberação em todos os órgãos internacionais relacionados à saúde humana e alimentação. Foi uma descoberta riquíssima. Quando os espanhóis chegaram ao México, os astecas comiam a Spirulina, uma massa verde que até então não se sabia o que era, e viviam muito mais que outros povos.
Ela é rica em aminoácidos essenciais e uma das principais fontes de proteínas existentes. Mais de 50% da biomassa dela é composta por proteína. Além disso, a Spirulina tem uma série de ácidos graxos essenciais, como o ômega-3 e o ômega-6, que são tão falados, e também tem uma quantidade de antioxidante muito grande. O antioxidante é a substância da moda, que diminui os problemas relacionados ao envelhecimento celular.
IHU On-Line – Como ela pode mudar nosso padrão de consumo alimentar?
Jorge Alberto Vieira Costa – Esse padrão tinha de ser modificado com uma reeducação alimentar. Isso passaria, entre outras coisas, pelo aumento do consumo de fontes ricas de aminoácidos, ácidos graxos e antioxidantes. A Spirulina caberia muito bem nesse sentido. O ser humano não precisaria, por exemplo, deixar de comer um bolo de chocolate, que é algo que todo mundo gosta. Nós já formulamos o bolo com a Spirulina, receita que até já saiu no Globo Repórter. As crianças adoram tomar leite com achocolatado, então formulamos o achocolatado com Spirulina. Tentamos adaptar na alimentação diária das pessoas a Spirulina sem mudar alguns padrões alimentares. Claro, não vai dar para fazer um churrasco com microalgas. Mas até não acho que o churrasco seja o maior problemas, mas sim os “fast-foods”.
IHU On-Line – De que forma a economia azul pode resolver os problemas atuais em relação ao meio ambiente?
Jorge Alberto Vieira Costa – Economia Azul passa a ser um passo além do desenvolvimento sustentável. Se já pensávamos no desenvolvimento sustentável como forma de corrigir as coisas erradas que fizemos no planeta nos últimos 150 anos, quando começamos a destruir o meio em que a gente vive, o que é uma burrice muito grande, a Economia Azul já passa a ser o passo seguinte. O meio ambiente irá agradecer.
Notas:[1] A principal perturbação humana no ciclo global do enxofre é a libertação de SOX (SO2 mais uma pequena quantidade de SO3) para a atmosfera como resultado da queima de carvão e óleo contendo enxofre. O gás SOX prejudica a respiração nos humanos em elevadas concentrações e é moderadamente tóxico para as plantas. (Ecodebate)
Na entrevista a seguir, realizada por telefone, Jorge Alberto explicou as funcionalidades e resultados da sua pesquisa com a spirulina. “Quando os espanhóis chegaram ao México, os astecas comiam a Spirulina, uma massa verde que até então não se sabia o que era, e viviam muito mais que outros povos”, relatou.
Jorge Alberto Vieira Costa é graduado em Engenharia de Alimentos pela Universidade Federal do Rio Grande. Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul fez especialização em Biotecnologia Moderna e é doutor em Engenharia de Alimentos pela Universidade Estadual de Campinas.
IHU On-Line – O que é a economia azul?
Jorge Alberto Vieira Costa – É uma visão diferenciada da economia. Esperamos que ela mude a forma como está sendo conduzida a questão do capital. A economia azul é uma economia voltada ao ambiente, ao social e requer poucos gastos.
IHU On-Line – O senhor pode nos explicar como funciona e para que serve a pesquisa que desenvolve com dióxido de carbono residual de uma usina elétrica movida a carvão?
Jorge Alberto Vieira Costa – Para produzir energia, utiliza-se a maneira biológica e sustentável ou combustíveis fósseis. Estes existirão durante algum período. Ao queimar combustível fóssil, gera-se CO2 que estava no subsolo durante milhões de anos e que vai para atmosfera. O que fazemos é tentar utilizar a biologia para trazer de volta esse CO2.
Então, queima-se o carvão e usamos microalgas para se alimentarem do CO2 através da fotossíntese. Assim, elas produzem energia e crescem. Crescendo, geram uma biomassa que terá várias utilidades, como a criação de novos biocombustíveis ou até alimentos. Como o carvão pode estar contaminado por metais pesados, só estamos produzindo biocombustíveis, como biodiesel, biometano e biohidrogêngio. Com isso, esse biocombustível vai para a caldeira, substituindo aquele que, inicialmente, era queimado em quantidade maior. Ou seja, há um ciclo completo. Vamos diminuindo cada vez mais a quantidade de combustível fóssil queimado e de CO2 jogado na atmosfera.
IHU On-Line – Que impactos os resultados dessa pesquisa pode ter sobre a economia local?
Jorge Alberto Vieira Costa – O Rio Grande do Sul tem 90% das reservas de carvão do país, que é um dos mais baratos do planeta. No futuro, se não for resolvida a questão do CO2, ele se tornará inviável. Hoje já existem tecnologias para diminuir outros gases que são produzidos durante a queima do carvão, como os responsáveis pela chuva ácida. Além disso, equipamentos resolvem o problema da grande quantidade de cinzas. Mas ainda não existe uma tecnologia disponibilizada comercialmente que resolva a questão do gás carbônico.
Há duas soluções por enquanto: injeção de CO2 em poços de petróleos e em minas de carvão desativados e a outra é a biofixação. Os poços de petróleo mais próximos do Rio Grande do Sul estão a milhares de quilômetros, por isso essa primeira hipótese está descartada. Além disso, as minas de carvão brasileiras são a céu aberto, diferentes de outros países. No Brasil não há muitas outras alternativas a não ser a fixação biológica.
IHU On-Line – É possível manter a ideia de crescimento que o Brasil e países em desenvolvimento têm a partir da economia azul?
Jorge Alberto Vieira Costa – Sim, é possível. Mas as autoridades responsáveis e os órgãos reguladores precisam começar a tomar atitudes. Não estou vendo isso, por exemplo, nas termoelétricas que estão sendo instaladas na Amazônia, por exemplo. Existe preocupação com o dióxido de enxofre, com o SOx [1], mas não há preocupação com o CO2.
Essa não é uma questão que deve ser tratada só pelo Ministério de Minas e Energia. Deve vir do Ministério do Meio Ambiente, que é o grande responsável por este tema. Fazer os empresários entenderem a economia azul me parece mais difícil do que fazer os organismos controladores entenderem e passarem a ideia para todos.
IHU On-Line – Qual a viabilidade técnica da utilização de microalgas para a redução da emissão de gás carbônico proveniente da geração termelétrica?
Jorge Alberto Vieira Costa – Toda essa questão de não deixar o gás carbônico chegar à atmosfera ou retirá-lo de lá é feita pelas árvores e microalgas. Todo oxigênio que respiramos vem daí também. As microalgas são responsáveis por cerca de 70% do oxigênio que respiramos, mas todo mundo pensa que são as árvores. É fácil observar isso, é só pegar um mapa mundi e ver onde há área verde e onde há área azul, que corresponde a dois terços do planeta. Onde há área azul, há microalgas.
IHU On-Line – O que é a Spirulina?
Jorge Alberto Vieira Costa – Spirulina é uma microalga que se adapta muito bem ao consumo humano. Ela tem liberação em todos os órgãos internacionais relacionados à saúde humana e alimentação. Foi uma descoberta riquíssima. Quando os espanhóis chegaram ao México, os astecas comiam a Spirulina, uma massa verde que até então não se sabia o que era, e viviam muito mais que outros povos.
Ela é rica em aminoácidos essenciais e uma das principais fontes de proteínas existentes. Mais de 50% da biomassa dela é composta por proteína. Além disso, a Spirulina tem uma série de ácidos graxos essenciais, como o ômega-3 e o ômega-6, que são tão falados, e também tem uma quantidade de antioxidante muito grande. O antioxidante é a substância da moda, que diminui os problemas relacionados ao envelhecimento celular.
IHU On-Line – Como ela pode mudar nosso padrão de consumo alimentar?
Jorge Alberto Vieira Costa – Esse padrão tinha de ser modificado com uma reeducação alimentar. Isso passaria, entre outras coisas, pelo aumento do consumo de fontes ricas de aminoácidos, ácidos graxos e antioxidantes. A Spirulina caberia muito bem nesse sentido. O ser humano não precisaria, por exemplo, deixar de comer um bolo de chocolate, que é algo que todo mundo gosta. Nós já formulamos o bolo com a Spirulina, receita que até já saiu no Globo Repórter. As crianças adoram tomar leite com achocolatado, então formulamos o achocolatado com Spirulina. Tentamos adaptar na alimentação diária das pessoas a Spirulina sem mudar alguns padrões alimentares. Claro, não vai dar para fazer um churrasco com microalgas. Mas até não acho que o churrasco seja o maior problemas, mas sim os “fast-foods”.
IHU On-Line – De que forma a economia azul pode resolver os problemas atuais em relação ao meio ambiente?
Jorge Alberto Vieira Costa – Economia Azul passa a ser um passo além do desenvolvimento sustentável. Se já pensávamos no desenvolvimento sustentável como forma de corrigir as coisas erradas que fizemos no planeta nos últimos 150 anos, quando começamos a destruir o meio em que a gente vive, o que é uma burrice muito grande, a Economia Azul já passa a ser o passo seguinte. O meio ambiente irá agradecer.
Notas:[1] A principal perturbação humana no ciclo global do enxofre é a libertação de SOX (SO2 mais uma pequena quantidade de SO3) para a atmosfera como resultado da queima de carvão e óleo contendo enxofre. O gás SOX prejudica a respiração nos humanos em elevadas concentrações e é moderadamente tóxico para as plantas. (Ecodebate)
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