quarta-feira, 28 de julho de 2010

Ônibus a hidrogênio chegam a SP e RJ

Popularização de veículos com combustível que não emite poluentes, porém, deve ocorrer só nas próximas décadas, dizem especialistas.
Ônibus movidos a hidrogênio, que têm como principal vantagem ambiental emitir somente água do escapamento, já chegaram a São Paulo e ao Rio. A expectativa é que o País utilize esses veículos na Copa do Mundo, em 2014, e na Olimpíada, em 2016. Entretanto, segundo especialistas, a popularização de carros que usam esse tipo de combustível e evitam a poluição do ar nas cidades e danos à saúde da população só deve ocorrer nas próximas décadas.
No Rio, a previsão é de que o ônibus desenvolvido pela Coppe (pós-graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro) circule neste mês na Cidade Universitária e atenda professores, alunos e funcionários. Depois, ele deve operar em uma linha da zona sul.
Em São Paulo, o ônibus está em testes com peso (3 toneladas de areia) em várias linhas do corredor ABD (São Mateus/Jabaquara). A intenção é que em três meses comece a andar com passageiros.
"Não existem diferenças significativas de desempenho operacional entre esse ônibus e os convencionais. A diferença se dá no aspecto da poluição ambiental, pois o ônibus movido a hidrogênio não apresenta nenhuma emissão de material particulado (mistura de poeira e fumaça) ou gases de efeito estufa", diz Ivan Carlos Regina, da gerência de planejamento da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU).
Segundo ele, serão adquiridos mais três ônibus, que devem entrar em operação em 2011. Além do Brasil, quatro países fizeram uso desses ônibus: EUA, China, Alemanha e Canadá. Nos Jogos de Inverno de Vancouver, ocorridos em fevereiro, ônibus a hidrogênio fizeram o trajeto entre o aeroporto da cidade e a estação de esqui Whistler.
Mas o avanço tem sido lento. Ennio Peres da Silva, chefe do laboratório de hidrogênio da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), lembra que o projeto em São Paulo foi feito há dez anos e só agora está sendo concluído. "Acho que o aumento da frota vai demorar muitos anos."
As montadoras, porém, estão atentas à tecnologia. Todos os grandes fabricantes já têm seus modelos tecnicamente prontos para comercialização e tentam reduzir os custos. "Isso deverá ocorrer principalmente com uma grande escala de fabricação."
Michael Fowler, da Universidade de Waterloo, no Canadá, reforça que a tecnologia para a economia do hidrogênio está pronta. "Naturalmente, a construção da infraestrutura de produção de hidrogênio e de distribuição será necessária, e isso vai ser feito ao longo de um período de várias décadas", afirma.
Apesar de acreditar que os veículos a hidrogênio se tornarão comuns no futuro, ele aponta o petróleo como o principal atrasador do processo. "O petróleo continua a ter um custo competitivo para uso como combustível no transporte. No entanto, traz um grande custo ambiental."
Para ele, agora a transição é uma decisão política. "Quanto tempo a sociedade está disposta a viver com má qualidade do ar urbano, com os danos ambientais da exploração de combustíveis fósseis e com os riscos das mudanças climáticas?"
Verde ou negro. O hidrogênio pode ser produzido a partir de diversas fontes. Essa versatilidade, porém, nem sempre é positiva ao ambiente. O Ministério do Meio Ambiente demonstra preocupação com a questão no Brasil, é comum produzir hidrogênio a partir do gás natural, que é um combustível fóssil. Nesse caso, a pasta não vê vantagem no uso como combustível. Mas é possível gerar hidrogênio por meio de fontes mais limpas, como hidrelétrica, eólica, solar, biomassa e etanol. "Costumamos dizer que existe o hidrogênio "verde", produzido de fontes renováveis e mais limpas, e o hidrogênio "negro", de fontes fósseis (petróleo, carvão, gás natural), com grandes impactos ambientais", explica o professor da Unicamp. O gás também pode ser criado a partir da energia nuclear. "Nesse caso, seus problemas são os riscos de acidentes e o que fazer com o lixo radioativo", diz Silva.
Para evitar a emissão de poluentes e gases-estufa do hidrogênio que vêm de fontes fósseis seria preciso fazer o sequestro do carbono e enterrá-lo sob a terra ou no fundo dos oceanos. Existem métodos para isso, entretanto, um dos grandes desafios é garantir que os gases armazenados não escapem para a atmosfera. (OESP)

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