Torneira: gerente de consultoria afirmou que risco de haver
racionamento em 2015 está hoje em 19%
A consultoria PSR, especializada no
setor energético, acredita que os modelos oficiais adotados por órgãos ligados
ao governo federal podem estar considerando uma eficiência inexistente no
sistema elétrico brasileiro e que as usinas estariam utilizando 4% mais água
para gerar o mesmo volume de carga.
A diferença poderia levar o governo
federal a adotar decisões incorretas, por exemplo, em relação à necessidade ou
não de realização de um racionamento de energia, assim como a data de seu
início.
Além disso, exigiria a contratação
adicional de 1.500 MW médios de energia.
O estudo interno considerou, de
forma retroativa, as projeções adotadas pelo governo federal para o nível dos
reservatórios. E, considerando os
números oficiais de geração das usinas, vazão e nível dos reservatórios,
detectou um descasamento de informações.
O estudo mostrou que o nível dos
reservatórios no início de 2012 deveria estar em 65%, e não em 43% conforme
efetivamente realizado, caso fosse analisado de forma retroativa o modelo considerado
para projeções futuras.
Essa diferença de 22 pontos
porcentuais representaria uma carga de 5.000 MW médios acima do verificado.
A descasamento dos números, de acordo
com o gerente de Projetos da PSR, Bernardo Bezerra, viria de problemas de
fricção, considerados estruturais do sistema.
Eles possuem diferentes naturezas,
incluindo restrições elétricas existentes no sistema e não mapeados,
assoreamento de reservatórios e eficiência das hidrelétricas, entre outros
aspectos.
"Os modelos oficiais não
captam isso porque se acredita que a eficiência do sistema é maior do que
aquela que ocorre na realidade", afirmou Bezerra, que participou em
04/11/14 de evento organizado pelo Grupo CanalEnergia.
"Quando pegamos os dados
realizados e a vazão que chegou ao sistema, chegaríamos, dois anos depois, com
um nível de reservatório maior do que efetivamente chegamos",
complementou.
A análise explicaria o baixo nível
de armazenamento dos reservatórios brasileiros, a despeito de o volume de
chuvas no último período úmido não ser tão inferior a marcas atingidas em
períodos anteriores.
"O nível dos reservatórios
chegou a 20% no final de novembro, o pior dos últimos 18 anos (os dados consultados
vão até 1997). Mas, se olharmos 2012 e 2013, tivemos um 2013 apenas 3% abaixo
da média e, em 2012, apenas 13% quando olhamos o sistema interligado
nacional", afirmou Bezerra.
"Se olharmos o triênio 2012 a
2014, tivemos 88% da média histórica. Os números mostram que não passamos pela
pior seca da história", salientou.
Tais números levaram a PSR a
utilizar os modelos atuais para uma análise aprofundada em relação ao que
ocorreu entre 2012 e 2013. Identificou-se, então, uma incongruência entre os dados.
"O governo fala em um
excedente de 6.000 MW médios, quando na verdade haveria um déficit de 1.500 MW
médios", ressaltou Bezerra, em referência à declaração dada constantemente
por Maurício Tolmasquim.
O presidente da Empresa de Pesquisa
Energética (EPE) destaca que haveria uma sobra estrutural de energia na casa de
6.000 MW médios.
Durante o evento, um representante
da Aneel, não identificado, informou que os geradores terão de 12 a 24 meses
para verificar in loco a situação efetiva dos reservatórios.
O levantamento ajudaria a entender
qual tem sido a real utilização dos reservatórios pelas usinas, assim como
identificar se a eficiência dessas unidades é de fato tão elevada quanto
acredita o governo federal.
Racionamento
Bezerra também afirmou hoje que o
risco de haver racionamento em 2015 está hoje em 19%.
O número considera uma previsão de
afluência equivalente a 85% da média de longo termo (MLT) durante o período
úmido.
Se esse número fosse reduzido para
74% da MLT, o risco cresceria 53%. Por outro lado, se a chuva chegasse a 109%
da média histórica, o risco de racionamento seria zero. (exame)
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