Você
não pode mudar o vento, mas pode ajustar as velas do barco para chegar onde quer’
- Confúcio (551 a.C – 479 a.C)
O pico global do petróleo pode ser atingindo na
próxima década. A partir de 2030 a oferta global de combustíveis fósseis deve
diminuir, como mostra Dennis Coyne, no artigo The Energy Transition, publicado
no site Peak Oil Barrel.
Mas a demanda mundial de energia deve continuar
crescendo, pois, a população mundial deve aumentar até cerca de 11 bilhões de
habitantes em 2100 e, segundo as projeções atuais, o crescimento econômico per
capita, mesmo que em menor ritmo, deve se manter positivo no restante do século.
A grande questão então será: como atender o hiato
entre a demanda de energia mundial e a queda da oferta global de combustíveis
fósseis? Será que este hiato poderá ser preenchido pelas energias renováveis?
Evidentemente, é difícil prever o futuro. Mas segundo
dados da International Renewable Energy Agency (IRENA), a capacidade instalada
de energia eólica no mundo que era de 6,1 Gigawatts (GW) em 1996, atingiu 435
GW em 2015. Houve um crescimento de quase 71 vezes em 20 anos. Porém, a base de
comparação era muito pequena e dificilmente este ritmo espetacular das duas
últimas décadas não se repetirá no futuro.
A capacidade de geração de energia eólica mundial era
pouco maior do que uma usina de Belo Monte em 1996 e passou para o equivalente
a quase 100 usinas de Belo Monte no ano passado. Somente em 2015, foram
instalados aerogeradores eólicos com capacidade de 54 GW, o que equivale a 12
usinas de Belo Monte, em um único ano.
O relatório da ONU, Tendências globais em
investimento em energia renovável 2016, mostra que os investimentos em energias
renováveis bateram todos os recordes em 2015 e o montante investido em energia
solar superou o recurso aplicado em energia eólica. De fato, o crescimento da
capacidade instalada de energia fotovoltaica, no mundo, passou de 0,7 Gigawatts
(GW) em 1996, para 228 GW em 2015, um crescimento de 326 vezes em 20 anos. A
energia solar fotovoltaica é a fonte energética com a maior taxa de crescimento
global, superando inclusive o desempenho da energia eólica, que é outra fonte
muito promissora.
A China avança rapidamente na produção de energia
eólica e solar e também na produção de veículos elétricos, o que vai estimular
o avanço das energias renováveis. Artigo de Loveless, no USA Today, mostra que
em 2015 a indústria solar estabeleceu um recorde nos EUA para novas instalações
de 7,3 Gigawatts e espera-se para 2016 que esse número chegue quase o dobro,
isto é, 14 Gigawatts. Porém, o mesmo autor mostra que as energias renováveis
ainda têm um longo caminho pela frente para ter um peso significativo na matriz
elétrica total.
Pois, apesar de todo este crescimento fantástico das
energias eólica e solar, estas duas fontes respondem por menos de 1,4% do
consumo global de energia. Os combustíveis fósseis continuam dominando a matriz
energética mundial e não devem perder muito espaço até 2030.
Assim, o desafio está colocado. O mundo precisa
superar a Era dos combustíveis fósseis para contornar o Pico do Petróleo e para
descarbonizar a economia e evitar uma catástrofe ambiental decorrente do
aquecimento global. A alternativa mais viável é o crescimento das energias
eólica e solar. Seria necessário um grande plano nacional e internacional para
promover o crescimento das energias renováveis e de baixo carbono.
Mas como mostrou Jeremy Leggett (04/08/2016), a queda
dos investimentos em energias renováveis em 2016 está indicando que a transição
da matriz energética não deverá ocorrer na velocidade requerida e dificilmente
o Acordo de Paris (da COP-21) será alcançado em sua plenitude. Portanto, o
mundo corre um sério risco em manter o metabolismo entrópico que sustenta o
atual modelo marrom de desenvolvimento.
Para Jason Hickel (20/07/2016), a energia renovável
não é capaz de salvar o atual sistema de produção e consumo e não é uma
panaceia para todos os males contemporâneos. Somente uma mudança de sistema
pode salvar o Planeta. Artigo de Jason Deign (28/09/2016) mostra que as
tecnologias de baterias de Íons de Lítio e as células fotovoltaicas já estão
atingindo os limites máximos de eficiência e atingindo o ponto dos retornos
decrescentes.
Diante do crescimento das baterias elétricas já se
fala no Pico do Lítio. O artigo de Tam Hunt, considera que mesmo com o avanço
de possíveis substitutos do Lítio e a descoberta de novas reservas, não haverá
Lítio para sustentar a produção mundial de carros elétricos e outros
dispositivos. Ele conclui dizendo que temos de fazer o nosso melhor para ficar
longe de carros elétricos individuais de passageiros e investir mais no design
inteligente das cidades, nas caminhadas, no ciclismo, nos trens, nos ônibus
espaciais e no compartilhamento dos veículos.
Artigo de Gail Tverberg (31/08/2016) mostra que
muitas pessoas estão esperando que o vento e o sol possam transformar a matriz
energética de uma forma favorável. Mas ela questiona se é realmente viável as
energias renováveis intermitentes forneceram grande parte da eletricidade na
rede elétrica. Ela dá uma resposta negativa e considera que Os custos são muito
grandes, e o retorno sobre o investimento muito baixo. O mais difícil seria
substituir os combustíveis líquidos. Ela diz ainda: Se continuarmos a adicionar
grandes quantidades de eletricidade intermitente à rede elétrica sem prestar
atenção aos problemas gerados, corremos o risco de trazer todo o sistema para
baixo.
Acima de tudo, como alertou o ambientalista Ted
Trainer (2008), as energias renováveis não são suficientes para manter a
ambição das pessoas por um alto padrão de consumo conspícuo. O sol e o vento
são recursos naturais abundantes e renováveis, mas não podem fazer milagres e
nem evitar a continuidade do metabolismo entrópico. Trainer prega um mundo mais
frugal, com decrescimento demoeconômico, onde as pessoas adotem um estilo de
vida com base nos princípios da Simplicidade Voluntária. (ecodebate)
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