Depois da inundação, fica os impactos da hidrelétrica para população local
Documentário ‘Belo Monte – Depois da inundação’ mostra impactos da hidrelétrica para população local.
Indígenas reclamam dos
impactos posteriores à inundação da Usina Hidrelétrica Belo Monte.
O
documentário “Belo Monte – Depois da inundação”, do diretor Todd Southgate, que
percorreu a cidade de Altamira e parte do Rio Xingu para registrar como estão
indígenas e ribeirinhos após o enchimento do reservatório da Usina Hidrelétrica
(UHE) de Belo Monte, no início de 2016, teve sua pré-estreia na noite de
09/10/16, na capital paulista.
Após
a exibição, um debate contou com a presença dos indígenas Jailson Juruna,
afetado pela barragem de Belo Monte, e Edovaldo Datie Munduruku, que mora na região
que seria afetada pela construção da UHE São Luiz do Tapajós, no Rio Tapajós,
ambas no estado do Pará.
Todd
Southgate acompanhou o processo de construção de Belo Monte desde o começo e,
em entrevista à Agência Brasil, disse que foi um choque quando presenciou os
impactos após a inundação do reservatório. “Eu já estava filmando lá nos
últimos sete ou oito anos. A primeira que fiz um sobrevoo na barragem, com o
reservatório todo inundado. Foi um choque. Tudo o que você já viu, como estava
a floresta, os lugares que você conheceu os pescadores, está tudo embaixo
d’água. Foi mais pesado do que imaginava”.
Há
25 anos o diretor produz documentários que dão voz a pessoas que sofrem pelo
esquecimento ou por serem ignoradas. “Comecei a documentar Belo Monte para
levar esse problema para outras partes do mundo. Minha missão é contar as
histórias do meio ambiente, dos problemas sociais. Gosto de ajudar dando voz
para eles, que historicamente não têm essa voz”, disse Todd.
O
documentário mostra os impactos para a população que mora e depende do Rio
Xingu e para a cidade de Altamira, que fica próxima a Belo Monte e abrigou os
operários que trabalharam na construção da usina. A estrutura do município não
suportou a demanda populacional atraída pelos empregos na obra. O filme mostra
o aumento da violência no trânsito, dos homicídios e a maior evidência da falta
de saneamento básico, além do número de pessoas afetadas pela obra, que é maior
do que o considerado pelos estudos prévios.
Afetados
pela barragem
As
pessoas que não precisaram ser deslocadas, mas sofrem com a menor vazão do rio,
com a diminuição dos peixes e com a falta de estrutura pública na cidade não
são consideradas afetadas. Jailson Juruna, que mora na aldeia Muratu,
localizada abaixo da barragem, não foi considerado um afetado pela construção
de Belo Monte.
No
entanto, ele e sua aldeia sofrem com os impactos. “Hoje, é crítica a situação
do pessoal que mora para o lado de baixo da barragem, porque a vazão do rio
diminuiu muito. Essas pessoas estão sofrendo muito porque, com a diminuição do
rio, o peixe também diminuiu. Teve uma mortandade de peixe muito grande abaixo
do barramento”, acrescentou.
O
povo Juruna é conhecido pela sua relação com as águas e pelo conhecimento do
rio. O peixe do Rio Xingu serve para alimentação e é também fonte de renda para
os Jurunas. Segundo Jailson, atualmente a quantidade de peixe não dá nem para
sobrevivência na aldeia. Os índios são obrigados a comprar comida na cidade. E,
para ganhar dinheiro, muitos deixam a aldeia e tentam empregos na cidade.
“O
rio sempre foi nossa mãe. Ele sempre nos deu o alimento e o transporte. Agora,
não podemos mais beber água do rio. Então, afetou de uma maneira que estamos
deixando nossa cultura de lado para se adaptar em outras que não temos costume.
De
acordo com Tina Minami, da campanha de Amazônia do Greenpeace, “é importante
que a sociedade debata o assunto que impacta a vida de todo mundo,
especialmente dos povos que estão vivendo em áreas que podem ser construídas
hidrelétricas, como Belo Monte”.
“Cinco
anos depois [do início das obras], vimos como está a situação de Altamira. A
maioria das condicionantes não foi cumprida e a obra seguiu. Hoje temos Belo
Monte operando, com impactos na vida de todo mundo. É importante usar vários
canais de comunicação para que a sociedade debata essa questão. A sociedade
brasileira precisa participar dessas decisões”, afirmou Tina, referindo-se aos
modelos para geração de energia no país.
Rio
Tapajós
Para
o povo Munduruku, que mora na região do médio Tapajós, após muita luta contra a
construção de uma usina hidrelétrica em seu território, já houve uma conquista:
o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(IBAMA) arquivou, em agosto deste ano, o processo de licenciamento ambiental
para construção da Usina São Luiz do Tapajós.
Pouco
tempo depois, o governo federal anunciou que não levaria o projeto adiante,
pelo menos por enquanto. O ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho,
disse na ocasião que a ideia da construção da usina ficaria suspensa e os
estudos ambientais já realizados ficariam à disposição do país para outro
momento.
Apesar
disso, os Munduruku lutam pela demarcação do seu território, chamado de
Sawré-muybu, de modo que não sejam retirados de sua aldeia. Para Edovaldo, sem
a demarcação a realidade da construção da hidrelétrica se aproximou muito da
aldeia.
“Os não
índios dizem que a gente não tem nenhuma garantia, porque não temos nada
escrito. Mas repetimos para eles que somos antes de Pedro Álvares Cabral. Mesmo
que eles digam que não temos o papel, a gente estava ali há muito tempo. Tem
vestígios disso onde a gente mora”, concluiu. (ecodebate)
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