quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Uso de biocombustíveis de países ricos

A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) elaborou um documento intitulado “Análise Econômica das Políticas Globais de Suporte aos Biocombustíveis”, que deve causar reviravolta nas políticas de produção e uso de biocombustíveis nos países ricos, em consequência no agronegócio global.
A produção e o uso de biocombustíveis, principalmente etanol de cereais e de cana-de-açúcar, e de biodiesel de óleos vegetais, têm crescido rapidamente ao longo dos últimos anos. Uma mera projeção linear, se nada for modificado, indica que estes números mais que duplicariam na próxima década. Os Estados Unidos e o Brasil são os maiores produtores de etanol com 48% e 31% da produção mundial de etanol combustível em 2007, respectivamente.
A União Europeia representa aproximadamente 60% da produção mundial de biodiesel.
Governos de outros países já implementaram ou estão considerando a promoção da produção e utilização dos biocombustíveis, porque, na maioria dos países, os biocombustíveis continuam altamente dependentes da política de apoio público.
O relatório da OCDE estima que os EUA, a UE e o Canadá aplicam US$ 11 bilhões por ano, no apoio aos biocombustíveis.
Os autores preveem que o valor aumente para 25 bilhões de dólares até 2017. As principais políticas públicas atualmente em uso são:
a) medidas financeiras querem como benefícios fiscais para produtores, revendedores ou consumidores de biocombustíveis, ou como transferências diretas aos produtores;
b) mandatos de mistura compulsória;
c) restrições comerciais, principalmente sob a forma de direitos de importação.

EFETIVIDADE AMBIENTAL
A crescente preocupação com as mudanças climáticas e a necessidade de redução dos gases de efeito estufa (GEE), além da poupança de energia fóssil, são os principais motivos para apoiar a produção e a utilização dos biocombustíveis.
O relatório aponta que o etanol de cana-de-açúcar reduz as emissões de GEE em, no mínimo, 80% ao longo de todo o ciclo de produção e utilização, comparado às emissões de combustíveis fósseis. As atuais políticas de apoio dos EUA, da UE e do Canadá estão voltadas para matérias-primas muito menos eficientes na redução de GEE que o etanol de cana. Os biocombustíveis produzidos a partir de trigo, açúcar de beterraba ou de óleos vegetais, reduzem as emissões de GEE entre 30% e 60%, enquanto o etanol de milho permite uma redução inferior a 30%. No total, menos de 1% do total das emissões provenientes dos transportes é reduzido nestes países.
EFETIVIDADE ECONÔMICA
O uso de combustíveis fósseis é reduzido em menos de 1% com biocombustíveis nos países ricos, e em 2%-3% especificamente para o diesel na União Europeia, sendo de 23% no Brasil (55% apenas para a gasolina). Isto indica um custo equivalente a US$ 960 - US$ 1.700/t de CO2-equivalente, ou cerca de US$ 0,80 a US$ 7,00 por litro de combustível fóssil não utilizado, nos países ricos.
As cadeias dos biocombustíveis dos países ricos têm custos por unidade de energia significativamente superiores aos dos combustíveis fósseis. Apesar do rápido e substancial aumento de preços do petróleo bruto, a desvantagem de custo dos biocombustíveis se acentuou nos últimos dois anos, porque os preços dos produtos agrícolas subiram e, assim, os custos da matéria-prima aumentaram em proporção igual ou superior. Logo, o relatório conclui, não foi demonstrada viabilidade econômica ou ambiental pelo uso de biocombustíveis nestes países.
ENERGIA X ALIMENTOS
No médio prazo, os impactos das atuais políticas de biocombustíveis sobre os preços dos produtos agrícolas são considerados importantes, mas o seu papel não deve ser superestimado. Os impactos nos preços dos alimentos, atribuíveis às políticas de apoio aos biocombustíveis, derivam da conjunção com o aumento da procura de cereais e óleos vegetais. Mantidas as atuais políticas, o relatório afirma que aproximadamente 12% da produção mundial de cereais e 14% da produção mundial de óleos vegetais seriam utilizados para produzir biocombustíveis, em médio prazo, acima dos 8% e 9% observados em 2007, respectivamente.
As atuais políticas públicas de suporte aos biocombustíveis poderiam ser responsáveis por aumento médio nos preços do trigo, milho e óleos vegetais de 5%, 7% e 19%, respectivamente, no médio prazo. O relatório estima que os preços do açúcar e dos farelos de oleaginosas seriam reduzidos por essas políticas.
No entanto, com a entrada em vigor da nova legislação de independência energética dos EUA e da diretiva de energia renovável da União Europeia, poderiam aumentar ainda mais os preços dos produtos agrícolas.

CONCLUSÃO
Como diz o matuto mineiro, cada macaco no seu galho. As conclusões do relatório da OCDE não trazem nada de novo ou original, ou seja, as vantagens competitivas para produção sustentável de alimentos ou energia, em grande escala, estão ao lado de países com vocação agrícola, como o Brasil. Ao menos até que a segunda geração de biocombustíveis ganhe escala comercial, na década de 20. (embrapa)

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