Quem são os inimigos do
biodiesel no Brasil hoje? Quais são os grupos e pessoas que, de algum modo,
estão freando o desenvolvimento deste biocombustível no país?
Excluindo os nomes óbvios,
vamos encontrar um grupo que até pouco tempo não dava a menor importância para o
biodiesel: o setor de etanol. O segmento sequer entendia ou procurava entender
como este mercado funcionava, mas, agora, trabalha por meio de uma intricada
rede de pessoas para fazer com que o aumento da mistura chegue o mais tarde
possível.
O grupo em questão começou a
se preocupar com o biodiesel porque ele irá competir em um produto que vai ser
lançado no próximo ano, os créditos de descarbonização (CBios). Assim, parte do
setor de etanol não quer que o biodiesel avance.
Por causa da forma como o
RenovaBio foi estruturado, quanto maior for o uso de biodiesel, menor será
demanda por CBios vindos do etanol hidratado. Por esse motivo, houve até mesmo
uma comemoração de pessoas ligadas ao setor de etanol quando a Associação
Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA) não recomendou o
aumento da mistura de biodiesel ao diesel.
A princípio, o RenovaBio
deveria estimular uma competição saudável entre as usinas, mas ele está
desencadeando uma guerra entre setores – em resumo, a política pública está
induzindo uma parte do mercado de etanol a trabalhar para limitar o crescimento
do biodiesel. Ou seja, a preocupação deixou de ser a redução das emissões de
carbono e passou a ser fazer o dinheiro dos CBios fluir mais para um setor do
que para outro.
De certa forma, esse
importante grupo de pessoas que seguem este raciocínio estão repetindo o erro
que cometem ao tratar o carro elétrico como um inimigo. Elas parecem não
entender quem são seus aliados e seus opositores. A guerra a ser travada é a
dos produtos com baixa emissão de carbono contra os produtos de grande emissão
de carbono – o setor e o meio ambiente apenas perdem com batalhas como estas.
Falta a percepção de que o etanol, o biodiesel e o carro elétrico estão do
mesmo lado.
Ficar tentando passar
rasteira em um setor que está contribuindo para diminuir a poluição nas cidades
e no planeta para poder vender mais CBios é um completo despropósito.
Oficialmente, nada disso
acontece. Mas quem está dentro do mercado, conhece as pessoas e sabe como o
jogo é jogado já percebeu o que está sendo feito há algum tempo. Inclusive, a
possibilidade de disputa entre os dois setores foi levantada por BiodieselBR.com/novaCana um ano atrás, quando o
RenovaBio estava em processo de definição de metas. Na época, o alerta já era
voltado para os riscos dessa visão estreita.
Os setores de biodiesel e
etanol precisam se unir contra o diesel e a gasolina. Sozinhos, eles têm menos
atuação e possibilidades na luta contra a força secular do petróleo. O etanol
tem 46% do mercado de ciclo Otto do Brasil, enquanto o biodiesel tem 10% do
mercado de ciclo diesel. O carro elétrico dificilmente terá 10% do mercado
nacional nos próximos 10 anos. Em contrapartida, o poluente petróleo tem 74% do
mercado de combustíveis do Brasil.
O etanol e o biodiesel,
juntos, podem fazer uma transformação no curto prazo muito maior que o carro
elétrico. Basta eles se unirem e entenderem que o objetivo é partir para cima
da gasolina e do diesel no mercado nacional.
Aumentar o uso de biodiesel e
de etanol no mercado de combustíveis do Brasil é a luta justa, é a guerra onde
todos veem claramente de que lado devem estar. É a guerra contra as emissões de
carbono. (biodieselbr)
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