Cresce o risco de acidentes nucleares na Europa, alerta o
Greenpeace
Em média, usinas nucleares na Europa estão em operação há 29 anos. Um
estudo do Greenpeace alerta para os riscos do envelhecimento das centrais, que
também operam com normas de segurança menos rigorosas.
O risco de um acidente nuclear na Europa é crescente. Atualmente, 151
usinas atômicas estão em funcionamento na União Europeia, Suíça e Ucrânia.
Desse total, 66 reatores operam há mais de 30 anos, e 25 têm mais de 35 anos.
“Se observarmos que a maioria dos reatores tem uma vida útil de somente 30
anos, esses já passaram do tempo”, alerta Tobias Riedel, especialista em
energia nuclear do Greenpeace.
O alerta foi dado depois da publicação de um estudo do Greenpeace.
Segundo as 146 páginas do relatório, os motivos que elevam o risco de acidente
são diversos: no futuro, em muitos países, as usinas nucleares deverão operar
por mais tempo que o planejado, além de produzirem uma carga maior de energia.
O aumento na produção sobrecarrega a usina e, com o seu envelhecimento,
crescem as potenciais ameaças para a segurança. Segundo os especialistas,
centrais antigas são críticas devido ao envelhecimento dos componentes, dos
sistemas e do edifício, além da estrutura técnica e conceitual. Outro fator são
os requisitos de segurança ultrapassados, já que os padrões atuais são mais
rigorosos.
As centrais nucleares antigas estão menos equipadas contra enchentes,
terremotos ou queda de aviões, aponta Simone Mohr, especialista em energia
nuclear do Instituto Ecológico de Darmstadt e uma das autoras do estudo. “Todos
os aspectos citados levam a uma redução progressiva do nível de segurança dos
antigos reatores na Europa.”
Ativistas do Greenpeace invadem usina nuclear em Beznau na Suíça, a mais
antiga do mundo em atividade.
Vai faltar gente especializada
Para Mycle Schneider, editor do anual “Relatório Mundial da Situação da
Indústria Nuclear”, outro fator de risco seria uma lacuna de competência. A
francesa EDF, maior produtora de energia nuclear do mundo, vai “precisar
substituir dentro de cinco anos cerca de metade de seus funcionários
operacionais”. Ou seja, uma importante competência técnica será perdida. Para
Schneider, essa mudança seria especialmente problemática em situações de crise.
Apesar da crescente ameaça, empresas, governos e agências nucleares não
estariam reagindo à crise, opina o Greenpeace. A organização aponta também a
responsabilidade limitada das empresas de energia nuclear em caso de acidentes.
Os especialistas pedem que usinas nucleares e distribuidoras de energia
assumam totalmente essa responsabilidade, e que o Estado e a população não
arquem mais com os riscos. Desta maneira, a vantagem competitiva artificial das
centrais atômicas seria reduzida. Além disso, empresas que diminuíssem os
riscos receberiam incentivos econômicos.
“Uma cobrança maior de responsabilidade beneficiaria não somente as
vítimas de um acidente, mas teria um importante efeito preventivo”, afirma o
relatório.
Cobrar das empresas
Os autores sugerem a criação de um sistema de responsabilidade coletiva
das empresas nucleares para diminuir as lacunas na segurança. “A unificação da
responsabilidade ilimitada na Europa inteira motivaria as empresas a se
controlarem mutuamente.”
Diante dos riscos, o Greenpeace exige urgentemente medidas que incluam a
mudança rápida da matriz energética para fontes renováveis e o desligamento
imediato de reatores nucleares cuja vida útil estipulada já expirou. Além
disso, o relatório pede “a total transparência e a participação da esfera
pública em processos decisivos”.
A Federação para Meio Ambiente e Proteção da Natureza da Alemanha (Bund)
também publicou um estudo abordando aspectos semelhantes. Segundo um cálculo da
Universidade Técnica de Viena e da Fundação de Direitos Ambientais Energéticos
de Würzburg, a Europa poderia até 2030 encerrar toda sua produção de energia
nuclear e, ao mesmo tempo, combinar esse desligamento a objetivos climáticos
ambiciosos. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário