Temperaturas extremas pressionam produção energética no
mundo
Brasil sente os
efeitos das altas temperaturas e de chuvas insuficientes
A tendência já
verificada por cientistas de que extremos climáticos se tornem mais comuns,
fazendo com que sejam registradas com frequência temperaturas muito mais altas
ou muito mais baixas do que a média, tem pressionado a produção de energia no
mundo.
Um relatório do
Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, ligado à ONU) havia
indicado, no semestre passado, que as mudanças nos padrões climáticos devem
levar não apenas a temperaturas mais altas, como também a mais seca e enchentes.
Estudos sugerem também que alterações em ventos de grande altitude, provocados
pelas mudanças climáticas, favoreçam ondas de frio extremo.
Em países como
Brasil, Argentina, Austrália, Estados Unidos e Canadá, operadoras de energia
têm identificado mudanças nos padrões de consumo, com novos picos, em grandes
partes causadas pela necessidade de resfriar ou aquecer ambientes.
Ainda que não haja
dados globais de consumo relacionados à temporada de forte calor e frio, a
Agência Internacional de Energia aponta a forte correlação entre as
temperaturas externas e o uso energético – e explica que o consumo extra muitas
vezes tem anulado “os efeitos de medidas tomadas para melhorar a eficiência
energética”.
No caso brasileiro, o
verão extremamente quente e seco provocou recordes históricos de demanda de
energia em dias de janeiro e fevereiro, segundo dados da ONS (Operadora
Nacional do Sistema Elétrico).
Em 12/03/14 a
operadora informou que o consumo de energia em fevereiro subiu 7,8% em relação
ao mesmo mês de 2013.
Foram batidos
consecutivos recordes de uso de energia, culminando com o pico histórico de
demanda de 85.708 megawatts às 15h41 de 5 de fevereiro. “A causa se deve à
continuidade das altas temperaturas e ao índice de desconforto térmico na hora
de maior insolação”, constata boletim da operadora.
Além disso, o calor e
a mudança nos padrões de consumo alterou os horários de pico brasileiros –
tradicionalmente eram por volta de 18h às 20h, mas passaram a ocorrer entre
14h30 às 15h30, puxados em boa parte pelo uso de ar-condicionado em
residências, escritórios e espaços comerciais.
“Um dos principais
fatores é que aumentou muito a posse de aparelhos de ar-condicionado, (puxada
pelo) aumento de renda e a nova classe média. Além disso, quando faz mais
calor, é preciso mais energia para conseguir resfriar o ambiente”, diz à BBC
Brasil Mauricio Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética,
vinculada ao Ministério de Minas de Energia.
“Antigamente, o
horário de ponta tinha o chuveiro elétrico como vilão. Agora, o ar tem ficado
ligado durante boa parte do dia.”
Estiagem
O problema maior
atual, no entanto, não é o aumento consumo de energia no Brasil, opina Nivalde
de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor de Energia Elétrica (Gesel)
da UFRJ.
“O problema é a seca,
num período (de verão) em que deveríamos ter tido chuvas”, diz Castro à BBC
Brasil, em referência à falta de chuvas no Sudeste brasileiro entre janeiro e
fevereiro. “Como nossa matriz energética é 90% de hidrelétricas (ou seja,
dependente da água da chuva), estamos perdendo reservatórios com as altas
temperaturas e a falta de chuvas.”
Ele cita medições
indicando que, nos primeiros 15 dias de fevereiro, choveu apenas um terço da
média esperada para essa época do ano. No mês, as chuvas no
Sudeste/Centro-Oeste tiveram o segundo pior volume do histórico de dados, desde
que passaram a ser registrados.
Castro e Tolmasquim
explicam que uma mudança importante é que o país não tem mais construído
hidrelétricas com reservatórios de água (por motivos ambientais e porque o
potencial dessas represas se esgotou). Na ausência de uma reserva, a chuva é
ainda mais essencial para manter elevados os índices das hidrelétricas. E, na
ausência de chuvas, o país tem tido que recorrer com mais frequência às usinas
térmicas, que são mais poluentes.
Problema global
Os inconvenientes
pelas altas temperaturas se repetiram na Austrália no início do ano, onde a
alta demanda por energia elétrica provocou apagões pontuais em algumas regiões;
e na Argentina, onde o jornal La Nación informou, em 1º de fevereiro,
que o calor também provocou dias de recorde de consumo energético.
Já na América do
Norte, o problema recente foi o frio extremo do início do ano, causado pelo
fenômeno do vórtice polar (massas de ar do ártico na forma de ciclones) e por
persistentes ondas frias.
“As temperaturas ao
leste das Montanhas Rochosas estão significativamente mais frias neste inverno
em comparação com o ano passado e a média anterior de dez anos, colocando
pressão crescente sobre o consumo e sobre o preço de combustível para aquecer
ambientes”, diz relatório de fevereiro da Administração de Informações
Energéticas dos EUA.
Efeito semelhante foi
sentido no leste do Canadá.
Relatório de
fevereiro da Organização Meteorológica Internacional, ligada à ONU, lista “uma
série de condições climáticas extremas nas primeiras semanas de 2014, dando
continuidade a um padrão visto em dezembro de 2013”. (ecodebate)
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