Crise elétrica não é só por causa da seca,
apontam especialistas
Para o diretor da Coppe, economizar energia é
a única medida possível no curto prazo.
A crise do setor elétrico não é apenas
responsabilidade de São Pedro. Pelo contrário, as dificuldades no suprimento de
energia se dão por explicações bem menos metafísicas: o setor está vulnerável
as variações de curto prazo, em parte, graças à redução da capacidade de
armazenamento das hidrelétricas. Os reservatórios foram projetados para suportar
até três anos de seca, porém, não é isso que vem acontecendo. O setor iniciou
ano de 2012 com o maior armazenamento da história (75%), porém chegou a
dezembro de 2014 no pior nível (22%).
O esvaziamento, segundo a consultoria PSR, não
ocorreu por causa de um excesso de demanda, tão pouco pela ausência do
acionamento do parque termelétrico, que desde outubro de 2012 está funcionando
a toda capacidade. Além disso, se considerado o triênio (2012, 2013 e 2014), a
hidrologia não foi das piores, de acordo com a consultoria. "O fato é que
a demanda foi medíocre, a hidrologia não foi ruim e as térmicas estavam
ligadas. A única coisa que não é fato é a afirmação do governo que tem sobra de
energia", disse Mauro Veiga, presidente da PSR, que participou do
seminário "A crise hídrica e a geração de energia", evento promovido
pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia
da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), realizado nesta
segunda-feira, 2 de janeiro.
Veiga explicou que o problema do suprimento de
energia no país não é responsabilidade apenas da falta de chuva. A explicação
se baseia em dados técnicos que apontam que os reservatórios estão esvaziando
muito mais rapidamente do que se pode imaginar. Para ele, a operação das
hidrelétricas está superdimensionada, o que acaba descolando da realidade o
real risco hidrológico do país.
O diretor da Coppe, Luiz Pinguelli Rosa,
reconheceu que a situação hidrológica é severa, mas não é inédita. Houve
situações no passado como as vividas neste momento. Para ele, os cálculos
usados para a previsão de geração de energia precisam ser corrigidos.
"Chegamos à situação crítica atual graças ao mau uso das UHEs", disse
o diretor do Coppe. Desde 2008, a capacidade de armazenamento dos reservatórios
está diminuindo e um dos motivos seria o assoreamento dos rios. Pinguelli disse
ainda que enviou na semana passada uma recomendação oficial ao ministro de
Minas e Energia, Eduardo Braga.
"O que foi dito ao ministro é que a
medida imediata necessária e possível é economia de energia. Não chamar isso de
racionamento é uma decisão política. Mas tecnicamente já passou da hora de uma
política de econômica de energia elétrica." Para o diretor do Instituto de
Desenvolvimento do Setor Energético (Ilumina), Roberto D'Araújo, o governo
precisa reconhecer que os modelos precisam ser corrigidos para que o setor seja
planejado com uma base em dados mais aderente à realidade. "É preciso
reconhecer que o termômetro está quebrado", criticou. (canalenergia)
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