A nova revolução chinesa: fim dos carros com motor de
combustão interna
O mundo produziu 95 milhões de automóveis em 2016. A China liderou a
produção global com 28 milhões de unidades produzidas. Os Estados Unidos
ficaram em segundo lugar com 12 milhões de unidades. O Brasil ficou em 10º
lugar e produziu 2,2 milhões de automóveis, em 2016.
Noventa e nove por cento dessa produção foi de carros com motor de
combustão interna, seguindo o padrão hegemônico em mais de 100 anos da
indústria automobilística. Contudo, existe uma revolução em curso no mundo e a
era da combustão interna e uso de combustíveis fósseis está ficando para trás.
A Europa e os Estados Unidos lideraram a implantação da primeira fase da
indústria automobilística e suas multinacionais estabeleceram um padrão internacional
de modelos adaptados ao gosto dos consumidores. Os automóveis trouxeram muita
riqueza para o Ocidente e viabilizou o crescimento de uma grande classe média e
a mobilidade social e espacial. Mas também gerou muita poluição do ar e
aumentou a concentração de CO2 na atmosfera, gerando o aquecimento
global que já provoca diversos danos à civilização.
A China é o país mais poluidor do mundo e sofre bastante com a qualidade
do ar. Por conta da necessidade de melhorar suas condições ambientais, mas
também liderar uma indústria que vai se transformar totalmente no século XXI,
planeja abandonar a produção de carros com motores combustíveis alimentados por
combustíveis fósseis.
O vice-ministro da Indústria e Tecnologia da Informação, Xin Guobin, em
um evento da indústria automotiva na cidade costeira do norte de Tianjin,
anunciou um plano para a China produzir somente carros elétricos. A data ainda
não foi marcada, mas provavelmente será algo antes do Reino Unido e da França,
que anunciaram que vão proibir novos carros a gasolina e diesel a partir de
2040.
Somente nos primeiros sete meses de 2017, a China produziu 227 mil
veículos elétricos e prevê chegar a 6 milhões de carros ao ano até 2025. O
anúncio da proibição, em algum ponto no futuro próximo, poderia impulsionar a
produção da nova indústria não fóssil. Na verdade, o governo de Pequim está
desesperado para assumir a liderança na corrida global para desenvolver carros
elétricos, tanto para limpar suas cidades fortemente congestionadas quanto com
poluição atmosférica e garantir um lugar de liderança na indústria
automobilística do futuro.
Um total de 55 mil novos carros elétricos de passageiros foram
registrados no mês de agosto na China, com o mercado crescendo 68% em relação
ao mesmo mês do ano passado e puxando a contagem acumulada até o ano (nos 8
primeiros meses) para mais de 282 mil carros elétricos, um aumento de 45% no
ano, conforme mostra o gráfico abaixo.
A China anunciou que as montadoras estrangeiras que querem fabricar
carros alimentados com combustível fóssil primeiro devem produzir carros de
baixas emissões ou de emissão zero para atingir uma nova pontuação estatal. A
nova regra aplica-se às empresas que fazem ou importam anualmente mais de
30.000 carros de combustíveis fósseis. Isso significa que até 2019, os
fabricantes de automóveis devem estar produzindo uma frota com um total de 10%
ou mais veículos elétricos e 12% ou mais até 2020.
A fabricante Volvo disse em julho que, a partir de 2019, todos os carros
novos de sua ampla gama de veículos virão com uma opção elétrica, inclusive
nas suas fábricas na China. Isto se reforça com a política do governo chinês de
fornecer incentivos às empresas automotivas para desenvolver tecnologia de
carro elétrico, ofertas que atraíram uma série de fabricantes de automóveis
internacionais.
A China já é a primeira economia do mundo, quando se mede pelo poder de
paridade de compra (ppp), ou a segunda economia, quando se mede por dólares
correntes. Mas o gigante asiático tem a pretensão de ser a nação-líder do
mundo. No dia 18 de outubro de 2017, começa o congresso quinquenal do Partido
Comunista Chinês (PCC), com a expectativa de que o presidente Xi Jinping volte
a ser eleito para um segundo mandato à frente do partido e do país.
A nova direção eleita no 19º congresso do PCC vai comemorar os 70 anos
da Revolução Comunista de 1949 e as festividades dos 100 anos de fundação do
PCC, que ocorreu em 1921. Ao contrário do colapso da União Soviética e da
Revolução Bolchevique (que completa 100 anos neste outubro de 2017), o comitê
permanente do Escritório Político, o órgão de sete membros no qual reside o
poder na China, planeja lançar um programa para transformar a China em uma
potência econômica e política sem rivais. A China comunista é o capitalismo de estado
que “deu certo”.
O gigante asiático é o antípoda do Brasil e dos EUA, pois possui altas
taxas de poupança e de investimento é líder do comércio mundial, além de contar
com um montante de trilhões de dólares em reservas internacionais. Para dar
continuidade ao seu modelo produtivista e superar os impasses da globalização
neoliberal, a direção do partido comunista, por meio do “centralismo
democrático”, na figura presidencial de Xi Jinping, lançou a iniciativa “Um
Cinturão, Uma Rota” (Belt and Road Initiative – B&RI). Trata-se de um
conjunto espetacular de investimentos, na casa de US$ 1 trilhão em dez anos,
visando promover uma rede de infraestrutura, comércio e cooperação econômica e
cultural ao redor do mundo, mas especialmente ao longo do espaço que liga a
Ásia e a Europa.
A
ideia é estabelecer uma “Nova Rota da Seda”, revivendo, no século XXI, as
antigas rotas milenares que conectavam o Ocidente e o Oriente. A iniciativa é
composta por um corredor terrestre (“Silk road belt”) e uma rota marítima (“Maritime
silk road”), buscando ligar a China – por meio de ferrovias, trens de alta
velocidade, rodovias, portos, aeroportos, ligações telefônicas, Internet,
telecomunicação e associações empresariais – aos países da Ásia, da Europa e da
África. A China pretende liderar a Revolução 4.0.
Prioritários também são os investimentos na área de energia. A China
pretende ser o país líder na produção de energias renováveis, na indústria de
carros elétricos e na construção de uma rede elétrica inteligente, cobrindo
longas distâncias, com base em conectores de corrente contínua de ultra-alta
tensão (UHVDC, na sigla em inglês). A mudança da matriz energética é a base
para uma nova estrutura produtiva global e uma forma de mitigar as emissões de
gases de efeito estufa e reduzir a poluição atmosférica, em consonância com as
recomendações climáticas do Acordo de Paris.
Portanto,
70 anos após a Revolução Chinesa e antes dos 100 anos do PCC, o país mais
populoso do mundo pretende fazer várias revoluções tecnológicas simultâneas. A
transformação da indústria automobilística e a transição da matriz energética
(dos combustíveis fósseis para as energias renováveis) estarão na ponta de uma
nova ampla renovação que pode colocar a China na liderança da Revolução 4.0 e no
topo do ranking da economia mundial. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário