“This is the way the world ends not with a bang but
a whimper.” - T. S. Eliot
Os combustíveis fósseis impulsionaram a
economia mundial nos últimos 240 anos, desde que entrou em operação a máquina a
vapor, aperfeiçoada por James Watt, em 1776 e que utilizava o carvão mineral
como fonte primária de energia.
Foi com base na energia fóssil que a
população mundial cresceu cerca de dez vezes (de cerca de 800 milhões para 7,5
bilhões de habitantes) e a economia global cresceu 130 vezes. Um trabalhador
médio da atualidade ganha em um mês o que um trabalhador médio do final do século
XVIII ganhava em um ano (mais o 13º salário). Mas os benefícios gerados pelo
“ouro negro” deixaram um rastro de poluição e aumentaram as emissões de gases
de efeito estufa que provocaram o aquecimento global que está acelerando o
degelo e provocando a elevação do nível dos oceanos, processo que vai afetar a
qualidade de vida de bilhões de pessoas que vivem próximas das áreas costeiras.
Superar a Era dos combustíveis fósseis é uma
tarefa urgente diante dos desafios das mudanças climáticas e da acidificação do
solo, das fontes de água doce e dos oceanos. Portanto, ou o futuro será das
energias renováveis, ou não haverá futuro.
A transição energética já está em pleno
andamento. O custo das novas instalações de energia eólica e solar já está
rivalizando com os menores custos dos combustíveis fósseis. Quando as energias
renováveis tiverem uma margem significativa de ganhos não haverá forças capazes
de deter a transformação da matriz energética.
Relatório da Bloomberg New Energy Finance, de
junho de 2017, mostra que, no setor elétrico, a participação dos combustíveis
fósseis vai cair para menos de 40% até 2040 e as renováveis eólica e solar vão
atingir mais de um terço da matriz energética mundial, um grande salto diante
dos 5% atuais. Até 2040, o vento e a energia solar representarão quase metade
da capacidade de geração instalada do mundo, em relação a apenas 12%
atualmente.
Em lugares como a China e a Índia, que estão
instalando rapidamente plantas de carvão, a energia solar começará a fornecer
eletricidade mais barata, logo no início dos anos 2020. Esse ponto de inflexão
está acontecendo mais cedo do que se esperava. O carvão será a maior vítima de
transição energética. A capacidade instalada de carvão irá declinar mesmo nos
EUA, onde o presidente Donald Trump está buscando estimular os combustíveis
fósseis.
A BNEF espera que a capacidade de energia do
carvão da nação em 2040 seja cerca de metade do que é agora, depois que as
plantas mais antigas ficam offline e são substituídas por fontes mais baratas e
menos poluentes, como gás e renováveis. Na Europa, a capacidade cairá em 87% à
medida que as leis ambientais aumentam o custo da queima de combustíveis
fósseis. Espera-se que haja um “pico do carvão” de 2026, enquanto os governos
busquem reduzir as emissões em sintonia com as promessas previstas no Acordo de
Paris sobre mudanças climáticas.
Mesmo que o pico das emissões de GEE ocorrer
em 2026, embora seja uma boa notícia, seria insuficiente para ficar dentro do
Orçamento Carbono e limitar o aquecimento a menos de 2º C. Na verdade, pode ser
que a mudança da matriz energética fóssil para a energia renovável ocorra muito
tarde e seja insuficiente para deter a concentração de CO2 na
atmosfera e mitigar os piores efeitos do aquecimento global.
O ocaso da energia fóssil pode ser seguido
por uma aurora brilhante das energias solar e eólica. Mas existem outras fontes
de emissões de gases de efeito estufa, como o metano que é liberado na pecuária
e também no degelo do permafrost.
A grande petrolífera Royal Dutch Shell está
se planejando para o dia em que a demanda por petróleo vai começar a diminuir à
medida que as principais economias se afastam do petróleo e se dedicam cada vez
mais a carros elétricos, mostra artigo de Danica Kirka (27/07/2017). A Shell
reconhece que as recentes propostas para eliminar os veículos de passageiros
alimentados por combustíveis fósseis na Grã-Bretanha e na França, vão acelerar
o pico da demanda por combustíveis fósseis e está preparando para esse novo
cenário que deve acontecer entre 10 e 15 anos.
Neste mês de outubro de 2017, quarenta
instituições religiosas – que fazem parte do Global Catholic Climate Movement e
na defesa das proposições da encíclica Laudato Si’ – anunciaram o desinvestimento
em combustíveis fósseis. Com a medida, a coalizão concretiza o maior anúncio
conjunto de desinvestimento feito por organizações religiosas até o momento. As
instituições estão localizadas nos cinco continentes e representam diferentes
campos, desde locais sagrados até entidades financeiras da Igreja católica.
O Brasil investiu bilhões na produção do
pré-sal exatamente no momento em que o mundo está abandonando os combustíveis
fósseis. Os últimos governos disseram que o pré-sal era um bilhete premiado e
um passaporte para o futuro. Mas esqueceram de dizer que é “futuro do
pretérito”.
O fim da era do predomínio dos combustíveis
fósseis é positivo. Mas este processo tem que ser mais rápido do que o previsto
no gráfico acima e precisa ser acompanhado pela mudança do padrão consumista da
sociedade, pelo decrescimento demoeconômico global e por uma drástica redução
da Pegada Ecológica da Humanidade. (ecodebate)
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