quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Futuro do pretérito: o ocaso da energia fóssil

“This is the way the world ends not with a bang but a whimper.” - T. S. Eliot
Os combustíveis fósseis impulsionaram a economia mundial nos últimos 240 anos, desde que entrou em operação a máquina a vapor, aperfeiçoada por James Watt, em 1776 e que utilizava o carvão mineral como fonte primária de energia.
Foi com base na energia fóssil que a população mundial cresceu cerca de dez vezes (de cerca de 800 milhões para 7,5 bilhões de habitantes) e a economia global cresceu 130 vezes. Um trabalhador médio da atualidade ganha em um mês o que um trabalhador médio do final do século XVIII ganhava em um ano (mais o 13º salário). Mas os benefícios gerados pelo “ouro negro” deixaram um rastro de poluição e aumentaram as emissões de gases de efeito estufa que provocaram o aquecimento global que está acelerando o degelo e provocando a elevação do nível dos oceanos, processo que vai afetar a qualidade de vida de bilhões de pessoas que vivem próximas das áreas costeiras.
Superar a Era dos combustíveis fósseis é uma tarefa urgente diante dos desafios das mudanças climáticas e da acidificação do solo, das fontes de água doce e dos oceanos. Portanto, ou o futuro será das energias renováveis, ou não haverá futuro.
A transição energética já está em pleno andamento. O custo das novas instalações de energia eólica e solar já está rivalizando com os menores custos dos combustíveis fósseis. Quando as energias renováveis tiverem uma margem significativa de ganhos não haverá forças capazes de deter a transformação da matriz energética.
Relatório da Bloomberg New Energy Finance, de junho de 2017, mostra que, no setor elétrico, a participação dos combustíveis fósseis vai cair para menos de 40% até 2040 e as renováveis eólica e solar vão atingir mais de um terço da matriz energética mundial, um grande salto diante dos 5% atuais. Até 2040, o vento e a energia solar representarão quase metade da capacidade de geração instalada do mundo, em relação a apenas 12% atualmente.
Em lugares como a China e a Índia, que estão instalando rapidamente plantas de carvão, a energia solar começará a fornecer eletricidade mais barata, logo no início dos anos 2020. Esse ponto de inflexão está acontecendo mais cedo do que se esperava. O carvão será a maior vítima de transição energética. A capacidade instalada de carvão irá declinar mesmo nos EUA, onde o presidente Donald Trump está buscando estimular os combustíveis fósseis.
A BNEF espera que a capacidade de energia do carvão da nação em 2040 seja cerca de metade do que é agora, depois que as plantas mais antigas ficam offline e são substituídas por fontes mais baratas e menos poluentes, como gás e renováveis. Na Europa, a capacidade cairá em 87% à medida que as leis ambientais aumentam o custo da queima de combustíveis fósseis. Espera-se que haja um “pico do carvão” de 2026, enquanto os governos busquem reduzir as emissões em sintonia com as promessas previstas no Acordo de Paris sobre mudanças climáticas.
Mesmo que o pico das emissões de GEE ocorrer em 2026, embora seja uma boa notícia, seria insuficiente para ficar dentro do Orçamento Carbono e limitar o aquecimento a menos de 2º C. Na verdade, pode ser que a mudança da matriz energética fóssil para a energia renovável ocorra muito tarde e seja insuficiente para deter a concentração de CO2 na atmosfera e mitigar os piores efeitos do aquecimento global.
O ocaso da energia fóssil pode ser seguido por uma aurora brilhante das energias solar e eólica. Mas existem outras fontes de emissões de gases de efeito estufa, como o metano que é liberado na pecuária e também no degelo do permafrost.
A grande petrolífera Royal Dutch Shell está se planejando para o dia em que a demanda por petróleo vai começar a diminuir à medida que as principais economias se afastam do petróleo e se dedicam cada vez mais a carros elétricos, mostra artigo de Danica Kirka (27/07/2017). A Shell reconhece que as recentes propostas para eliminar os veículos de passageiros alimentados por combustíveis fósseis na Grã-Bretanha e na França, vão acelerar o pico da demanda por combustíveis fósseis e está preparando para esse novo cenário que deve acontecer entre 10 e 15 anos.
Neste mês de outubro de 2017, quarenta instituições religiosas – que fazem parte do Global Catholic Climate Movement e na defesa das proposições da encíclica Laudato Si’ – anunciaram o desinvestimento em combustíveis fósseis. Com a medida, a coalizão concretiza o maior anúncio conjunto de desinvestimento feito por organizações religiosas até o momento. As instituições estão localizadas nos cinco continentes e representam diferentes campos, desde locais sagrados até entidades financeiras da Igreja católica.
O Brasil investiu bilhões na produção do pré-sal exatamente no momento em que o mundo está abandonando os combustíveis fósseis. Os últimos governos disseram que o pré-sal era um bilhete premiado e um passaporte para o futuro. Mas esqueceram de dizer que é “futuro do pretérito”.

O fim da era do predomínio dos combustíveis fósseis é positivo. Mas este processo tem que ser mais rápido do que o previsto no gráfico acima e precisa ser acompanhado pela mudança do padrão consumista da sociedade, pelo decrescimento demoeconômico global e por uma drástica redução da Pegada Ecológica da Humanidade. (ecodebate)

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