O
que vai mover o transporte público por ônibus no futuro? Essa questão está
vindo à tona quase que diariamente diante da necessidade de melhorar a mobilidade
urbana de forma sustentável, com a redução de emissões de gás carbônico (CO2), Óxidos de Nitrogênio (NOx) e materiais
particulados, principalmente nas grandes metrópoles. O uso de combustíveis
alternativos e motores elétricos em substituição ao diesel de origem fóssil
para o transporte de passageiros já é uma realidade em todo o mundo, mas muitas
incertezas ainda rondam esse universo que precisa chegar à melhor resposta para
a difícil equação de reduzir a emissão de poluentes nas cidades com o menor
custo operacional para as empresas.
Com
o tema “O que move o setor: diesel x híbrido/elétrico”, empresários do segmento
de ônibus reuniram-se no último dia do Seminário Nacional
NTU para debater as opções mais viáveis entre as novas
tecnologias limpas que estão disponíveis no país para o transporte urbano de
passageiros. Na avaliação de Francisco Christovam, presidente do Sindicato das
Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo (SPUrbanuss),
que foi mediador nesse painel, ainda é difícil afirmar qual será o melhor
caminho para cumprir as metas de redução de emissões dentro da nova Lei de
Mudanças Climáticas. “O elétrico é importante, tenho certeza que boa parte da
frota que será introduzida passo a passo será movida a tração elétrica nas suas
várias modalidades: híbrido, elétrico a bateria, trólebus”, diz. (Ver matéria sobre os elétricos)
“Mas
estamos apreensivos porque as tecnologias estão sendo apresentadas, mas até
agora nenhuma delas nos atende”, afirma Christovam. Ele conta que um ônibus
elétrico a bateria, de uma montadora chinesa, foi testado em São Paulo e não
aguentou, o chassi rompeu na operação em linhas normais. “Nem era uma linha com
operação muito severa, mas o veículo não aguentou”, relata o executivo.
Uma
opção seria o híbrido fabricado pela empresa nacional Eletra, mas Christovam teme
pela capacidade de produção, já que apenas São Paulo tem uma frota de quase 15
mil veículos que terão que ser substituídos por carros de baixa emissão em
etapas, até a renovação total em 20 anos. “O híbrido da Eletra tem uma
tecnologia já testada, porém suportar o fornecimento de 100 ou 200 ônibus é uma
coisa, mas ficar dependendo de uma única tecnologia para 15 mil ônibus é muito
ruim”. A Volvo vem
desde 2012 desenvolvendo sua tecnologia de ônibus elétricos no país e hoje já
conta com 35 híbridos em operações regulares nas cidades de Curitiba (PR), São
Paulo, Santos (SP) e Foz do Iguaçu (PR).
Outra
grande preocupação dos empresários do setor de ônibus em relação ao veículo
elétrico a bateria é o custo das estações de recarga. “Quem vai pagar esse
custo? Nós não vimos até agora nenhuma manifestação do poder público com
relação a isso, dizendo que não tem capacidade de financiar essa tecnologia, de
pagar o custo operacional. Tem tecnologia que, mantido o atual nível do
subsídio pago em São Paulo, em torno de R$ 3 bilhões por ano, faz a tarifa que
hoje é R$ 4 passar para R$ 7. Alguém vai ter condição de bancar isso?”, indaga
o presidente do SPUrbanuss. Há também a questão do fornecimento da energia, a
concessionária precisaria fazer uma avaliação da demanda porque carregar uma frota
completa de uma grande operadora, sem o devido planejamento, poderia derrubar a
energia elétrica de um bairro inteiro. E outra preocupação é com o tempo de
recarga. “Hoje estamos com tempo de recarga de três horas, não temos esse tempo
disponível, a frota não fica parada na garagem por três horas”, ressalta.
O trólebus é uma tecnologia dominada, mas o problema é o custo da infraestrutura, da rede, das estações, diz Christovam.
O trólebus é uma tecnologia dominada, mas o problema é o custo da infraestrutura, da rede, das estações, diz Christovam.
Já
entre os combustíveis alternativos aventados hoje para o mercado nacional,
Christovam acredita que o único que hoje teria condições técnicas e econômicas
viáveis é o HVO (hydrotreated vegetable oil), ou óleo vegetal
hidrotratado, mas o país ainda não tem produção em escala desse biodiesel. Ele
ressalta que o HVO tem que passar ainda por uma padronização. “Não podemos ter
vários fabricantes produzindo esse combustível sem uma regulamentação. Há até
uma hipótese de que a Petrobras venha a ser o órgão que vai cuidar
da regulamentação das especificações técnicas desse combustível para que os
motores todos possam ser ajustados”, diz. A Mercedes-Benz já
anunciou que todos os seus ônibus, assim como sua linha de caminhões, já têm
motores preparados para usar o HVO.
Sobre
a alternativa do gás, Christovam ressalta que a Scania tem
apostado nessa tecnologia no país, com ônibus movidos a biometano e GNV (gás
natural veicular), porém ele reforça que o mais acertado seria o uso do biogás
e não do GNV que é de origem fóssil e acaba gerando um volume de CO2
não aceitável. “O que mais nos preocupa é o CO2, porque na redução
de particulados e NOx não vemos grandes dificuldades. A diminuição de material
particulado é questão de sofisticar um pouco mais os filtros e para o NOx
também há sistemas de redução. O problema é o CO2, que não é fácil
de eliminar, não pode ser nada de origem fóssil”, alerta.
Comitê da
Lei de Mudanças Climáticas
No
início deste ano, o governo municipal de São Paulo sancionou a Lei 16.802, de
17 de janeiro de 2018, que modifica a Lei 14.933, de 2009, instituindo novo
cronograma a ser cumprido pelos operadores do transporte público de São Paulo
para reduzir a emissão de poluentes. Entre as determinações, a emissão de gás
carbônico (CO2) de origem fóssil tem que cair 50% em um prazo de dez
anos e, gradativamente, chegar a 100% de redução em 20 anos. Também no prazo de
dez anos deverá haver uma redução mínima de 90% na emissão de material
particulado (MP) e de 80% de Óxidos de Nitrogênio (NOx), em relação à medição
total da frota de 2016, até diminuir em 95% a emissão dos dois poluentes em 20
anos. As empresas operadoras do transporte público – e também as de coleta de
lixo – terão que apresentar anualmente um relatório de emissões das frotas
pelas quais são responsáveis
“Estamos
às vésperas da instalação do comitê criado pela própria Lei
16.802 e estou me preparando para pleitear ao presidente
do comitê, que deverá ser o secretário de Transportes, que me permita fazer uma
apresentação logo no início da reunião para contextualizar as pessoas que
estarão ali presentes para que conheçam a dura realidade que vamos enfrentar.
Para se ter uma ideia, a licitação (licitação do transporte público de São
Paulo, que está suspensa por determinação do Tribunal de Contas do
Município-TCM), estabelece metas ano a ano, a despeito da Lei 16.802, que
estabelece marcos para os primeiros dez anos de vigência e depois para 20 anos,
com limites de emissão tolerados, seja de CO2, NOx ou material
particulado. Ou seja, a pressão é muito forte no sentido de que não seja mais
uma lei que não traga os resultados esperados, como foi a anterior, que acabou
não produzindo efeito”, alerta Christovam.
O futuro será
elétrico, conectado e compartilhado
Os
participantes do painel “O que move o setor: diesel x híbrido/elétrico”, do
seminário promovido pela NTU (Associação
Nacional das Empresas de Transportes Urbanos), em São Paulo, apresentaram
diversos dados sobre os problemas com a emissão de poluentes em todo o mundo. O
Brasil é considerado o sétimo maior poluente de CO2 no mundo, sendo responsável por 3% da emissão
global.
No
entendimento geral, são necessárias políticas públicas de investimentos em
combustíveis renováveis e outras tecnologias, além de regulamentação para
garantir que hajam metas e fiscalização para cobrar os resultados.
O consenso é que o futuro será elétrico, conectado e compartilhado. (futuretransport)
O consenso é que o futuro será elétrico, conectado e compartilhado. (futuretransport)
Nenhum comentário:
Postar um comentário