72 prédios da prefeitura
municipal de Entre Rios do Oeste, no Oeste do Paraná são abastecidos com
energia elétrica gerada pelos dejetos de 40 mil suínos de criadores da região.
Desde 26/7/19 72 prédios da prefeitura municipal de Entre Rios do Oeste, no Oeste do
Paraná, são abastecidos com energia elétrica gerada pelos dejetos de 40 mil
suínos de criadores da região. A iniciativa partiu de uma parceria do poder
público com o Parque Tecnológico Itaipu (PTI) e o Centro Internacional de
Energias Renováveis (CIBiogás), que viram uma oportunidade para diminuir a
poluição ambiental na região. Apesar de pequena, Entre Rios do Oeste conta com
uma criação de mais de 150 mil suínos.
Com o projeto de geração de
energia, cerca de 215 toneladas por dia de dejetos de 18 propriedades rurais
passaram a ser tratados, servindo de matéria-prima para a para a produção do
biogás, usado na geração elétrica. O esquema é razoavelmente simples: os dejetos
são recolhidos e acondicionados em biodigestores. Lá dentro ocorre a
decomposição desse material por bactérias, gerando o biometano. O gás é
transportado por gasodutos até o local da geração de energia. A queima do
material aciona um gerador que produz eletricidade.
Economia e solução ambiental
A iniciativa não é nova, uma
vez que produtores rurais já fazem o uso de dejetos para a produção de energia,
utilizada para consumo próprio. A diferença para o projeto paranaense é que a
energia produzida é “vendida” para a prefeitura, gerando recursos para os
produtores. Segundo o presidente do CIBiogás, Rodrigo Régis Galvão, a
Minicentral Termoelétrica (MCT) de Entre Rios do Oeste movida a biogás vai
resultar em economia para a população, além de resolver o problema ambiental
que os dejetos geram.
“A gente está em uma região
em que o agronegócio se desenvolveu com muita velocidade e a demanda por
energia cresceu muito rápido. Com esse projeto a gente está fazendo o
tratamento de 215 toneladas de dejetos de animais por dia, esse resíduo acaba
poluindo o solo, os lençóis freáticos e inclusive os rios que acabam
desembocando no reservatório de Itaipu. Com isso, o projeto busca transformar
um problema ambiental em um ativo econômico”, disse Galvão à Agência Brasil.
Com 480 kW de potência
instalada, a energia produzida na usina é vendida para a Companhia
Paranaense de Energia (Copel), financiadora da iniciativa e que desconta o
total produzido do valor das contas de luz do município. Já à prefeitura cabe o
pagamento a cada produtor pela energia gerada. A estimativa é que os produtores
envolvidos recebam de R$ 900 a R$ 5 mil, a depender da quantidade de biogás
produzida por cada um.
O procedimento utilizado é o
da micro e minigeração distribuída, regulamentado pela Agência Nacional de
Energia Elétrica (Aneel). Por esse modelo, o consumidor pode produzir a própria
energia, a exemplo do uso de painéis solares e do uso de biogás, e depois
injetar na rede de distribuição. Essa energia pode ser utilizada para abater
até a totalidade da conta de luz de uma ou mais unidades do mesmo titular.
A diferença é que no modelo
de Entre Rios do Oeste, a prefeitura remunera os produtores pela produção do
biogás. Medidores nas propriedades mostram a quantidade de biogás de cada ao
longo do mês. Ao mesmo tempo, um medidor especial, mostra a quantidade de
energia produzida pela usina e injetada na rede. Uma conta simples mostra
quanto cada m3 de biogás gera em termos de energia elétrica, o que
possibilita cada produtor saber quanto vai receber por sua produção.
“Cada produtor produz o seu
biogás e vende o seu biogás. Todo esse gás é coletado por uma rede de gasodutos
que passa para a minicentral e lá se produz energia elétrica. A energia gerada
vai abater cerca de R$ 80 a R$ 100 mil por mês das contas do município”,
estima Galvão. “Quanto mais o produtor produzir biogás é melhor ainda para a
prefeitura porque gera crédito [junto à distribuidora de energia] e se ela [a
Prefeitura] não usar, pode deixar o crédito para o mês seguinte”, acrescentou.
Pré-sal caipira
A iniciativa, de produzir
energia elétrica a partir de biogás gerado por dejetos de suínos, começou em
2016. No total, foram investidos R$ 17 milhões na construção de 22 km de
gasodutos e da usina. Os custos com a instalação dos biodigestores foram
arcados pelos produtores rurais.
Além de dejetos de suínos,
também é possível produzir biogás com dejetos de outros animais e com
matéria-prima vegetal, como a cana de açúcar. Galvão aponta que a região Oeste
do estado tem grande potencial para produzir energia a partir desse tipo de
matéria prima, uma vez que o Paraná é um dos estados brasileiros com as maiores
criações de suínos e também de aves. A previsão é que o projeto seja instalado
em outras cidades do estado.
“Especialmente agora que o
governo federal está discutindo a flexibilidade do gás no Brasil, a gente
mostra que tem um grande potencial de gás. O país ainda não tem rede coletora,
infraestrutura para levar o gás produzido no litoral para o interior. Mas a
gente tem um grande potencial de gás a partir de outras fontes, então o Brasil
tem que usar esse potencial que tem”, disse Galvão. “Se já existe o pré-sal, a
gente chama esse nosso potencial de pré-sal caipira”, acrescentou.
215 t de dejetos suínos são
transformados em biogás para cidade de 4 mil habitantes. (moneytimes)
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