É na cidade de Enerhodar, a
440 km da capital Kiev, e cerca de 200 km da Crimeia (região anexada pelos
russos em 2014); na beira de uma represa do rio Dnieper que está localizado
Zaporizhzhia, o maior complexo da Europa, com 6 reatores construídos entre 1984
e 1995. Cada reator tem uma potência instalada de 950 MegaWatts. No total são
5,7 GigaWatts (em termos comparativos a usina hidrelétrica de Itaipu tem 14
GigaWatts).
Em 04/03/22 segundo fontes
ucranianas, um prédio administrativo desta central, usado para treinamento de
pessoal, foi atingido por um ataque das tropas russas provocando um grande
incêndio, que logo foi debelado. Fontes russas afirmam o contrário, que
sabotadores ucranianos é que provocaram o incêndio. Por pouco, muito pouco, não
tivemos uma catástrofe (mais uma) provocada pela liberação de material
radioativo para a atmosfera. De acordo com um relatório do Greenpeace, até 2017
havia no local 2.204 toneladas de elementos radioativos armazenados, 855
toneladas em piscinas e 1.349 toneladas a seco.
A tecnologia utilizada pelos reatores de Zaporizhzhia é a mesma utilizada nos reatores de Angra 1 e Angra 2. Os chamados reatores de água pressurizada, também referido pela sigla em inglês, PWR, que operam com combustível à base de isótopo de urânio, o U235 enriquecido, e refrigerados com água. É o tipo de tecnologia que constitui a grande maioria dos reatores nucleares do ocidente.
Em 24/02/22 que antecedeu o ataque a central de Zaporizhzhia, houve o anúncio do aumento do nível de radioatividade na zona de exclusão (região proibida) de Chernobyl, perto da cidade de Pripyat, no norte da Ucrânia, próximo da fronteira com a Bielorrússia. Em 1986, uma das maiores tragédias da história nuclear ocorreu neste local, quando um dos reatores deste complexo (tecnologia diferente dos PWR), liberou grande quantidade de material radioativo. Todavia, a alteração dos níveis de radioatividade detectada na região, foi explicada pela movimentação das tropas russas neste local, pelo revolvimento do terreno, e dispersão da poeira radioativa.
Com relação ao ataque de
Zaporizhzhia, houve uma especial atenção de todo o planeta, inclusive da mídia
brasileira, devido ao alto grau de periculosidade, e pelas consequências
nefastas à vida, que representa material radioativo produzido por centrais
nucleares liberado para o meio ambiente.
Entrevistados sobre este
episódio, especialistas brasileiros da área nuclear tiveram a grande
preocupação de minimizar os riscos de vazamento do material radioativo, o que
seria a mais grave ocorrência na escala internacional de acidentes nucleares.
Para uns, os mais inflamados defensores desta tecnologia de produzir energia elétrica em nosso país, os prédios de contenção (onde está localizado o reator) são suficientemente reforçados para impedir que um ataque pudesse provocar algum tipo de ruptura, rachadura no prédio, e assim liberar material radioativo. Verdadeiro disparate, leviandade e mesmo irresponsabilidade. Não levam em conta a atual tecnologia avançada dos mísseis.
Os nucleopatas, felizmente, são minorias radicais, viciados em mentir na defesa de uma tecnologia insustentável sobre todos os aspectos. Mas, infelizmente, estão hoje alojados nos órgãos decisórios do atual desgoverno federal, que decidem a política energética. Também, não se pode esquecer dos interesses em prol desta tecnologia da morte, exercida pelos “teleguiados”, lobistas, representantes das grandes empresas (players) que vendem os equipamentos, das grandes construtoras, dos militares ávidos pela construção da bomba atômica tupiniquim, por políticos oportunistas, e por setores da academia, que vivem à margem da realidade brasileira, e que defendem somente seus interesses individuais.
A situação na Ucrânia não tem
precedentes. É a primeira vez (sem certeza de que será a última) que um
conflito militar está acontecendo junto às instalações nucleares, que neste
caso inclui também o país, onde já ocorreu um dos mais trágicos acidentes, na
central nuclear de Chernobyl, que atingiu praticamente toda a Europa.
No caso de alguma das
centrais nucleares ucraniana for atingida, poderia ocorrer um acidente
semelhante ao de Chernobyl, com a liberação de uma nuvem de radioatividade, que
atingiria não somente a Ucrânia, mas também outros países, sobretudo a Norte,
como Belarus, a Suécia, a Finlândia e a Noruega e, eventualmente, a Alemanha e
a Áustria.
Além da preocupação com os
danos causados nas centrais nucleares da Ucrânia, existe ainda a dificuldade de
garantir a operação segura dos complexos nucleares, pois, no caso do atual
conflito, muitos funcionários, operadores das centrais, não estão indo
trabalhar, ou por medo, ou por estarem lutando.
O que estamos acompanhando
sobre este conflito, em relação a um país que conta com usinas nucleares em seu
território, é uma lição, algo que o Brasil deve evitar, pois não precisamos
desta tecnologia para suprir as necessidades de energia elétrica. Atualmente é
insignificante a participação da produção de Angra I e Angra II na matriz
elétrica, e assim deveria permanecer, até o mais breve desligamento destes dois
reatores.
A gravidade da ameaça nuclear pesa sobre toda a humanidade, e não somente devido às armas nucleares, mas também ao fato das usinas nucleares produzirem elementos radioativos altamente prejudiciais à vida no planeta, sem que saibamos como lidar com segurança em situação de guerra, e nem com os resíduos produzidos no dia a dia.
O Brasil não precisa de usinas nucleares. Xô Nuclear. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário