Quanto tempo um carro elétrico
demora para "se pagar" em relação a um a combustão?
Por outro lado, os custos de
propriedade e manutenção são bem mais baixos em modelos elétricos. Afinal, não
há óleo para ser trocado ou velas, bobinas, bicos injetores e centenas de
outras peças móveis que se desgastam e quebram com o tempo. A Volvo, por
exemplo, não cobra pelas três primeiras revisões do XC40.
Na hora de abastecer, ter um
carro elétrico pode ser ainda mais vantajoso se o dono souber aproveitar a estrutura
(ainda escassa, mas gratuita) dos pontos de recarga no Brasil. Considerando uma
metrópole como São Paulo, é possível usar as estações instaladas em
supermercados, concessionárias e postos de combustível sem gastar um centavo.
Isso dito, quanto tempo é
necessário para que o investimento extra em um carro elétrico se pague?
Autoesporte fez quatro simulações comparando veículos elétricos com similares a
combustão ou híbridos.
Pelas nossas contas, e
considerando o melhor dos cenários, a resposta mais simples é de seis a sete
anos. Esses resultados foram obtidos nas duas extremidades: do carro elétrico
mais barato e também do mais caro.
Antes de detalhar os cálculos,
é preciso apresentar os veículos. O primeiro duelo envolve o JAC E-JS1, de R$
164.900. Por ser automático (como todo carro elétrico), e ter equipamentos como
faróis de LED e acesso por chave presencial e quadro de instrumentos digital,
ele foi comparado com o Chevrolet Onix topo de linha, de R$ 102.340.
“Confronto” seguinte foi entre
as versões a combustão e elétrica do Peugeot 208. Elas custam, respectivamente,
R$ 114.990 e R$ 269.990.
A terceira, entre o Volvo XC40
Recharge (R$ 409.950) e o Audi Q3 1.4 Black (R$ 288.990).
A última foi “caseira”, entre
os Porsche Panamera 4 Sport Turismo e Taycan 4 Cross Turismo. Esse confronto
levou em consideração versões equivalentes de veículos com carroceria
semelhante. No caso, o Panamera escolhido possui conjunto híbrido.
Critérios
• 5 mil km rodados por ano, sendo 10,5 mil km na cidade e 4,5
mil km na estrada;
• Consumo segundo o Inmetro nos respectivos ciclos para os
modelos a combustão e a média em kWh/100 km no caso dos elétricos;
• Nas revisões, todas as marcas foram consultadas. A Volvo
disse que ainda não tem os valores dos serviços daqui a três anos. Então, não
foram incluídos no cálculo;
• Os custos de combustível foram estabelecidos de acordo com a
média semanal da Agência Nacional do Petróleo para São Paulo – R$ 5,007 para o
etanol e R$ 6,637 para a gasolina;
• Já o custo da energia elétrica levou em conta mesma
localidade – R$ 0,623/kWh;
• Os custos do Imposto sobre Propriedade de Veículos
Automotores (IPVA) não foram considerados porque há diferenças de taxação de
acordo com o estado. Ceará, Maranhão, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro,
Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul, por exemplo, oferecem isenção na
cobrança do tributo para híbridos e elétricos;
• Por se tratar de um mercado ainda relativamente novo (e
pequeno) no Brasil, também não foi calculada a taxa de depreciação, que tende a
ser maior nos elétricos levando em conta a garantia das baterias, que é de oito
anos, em média.
Resultados
JAC E-JS1 x Chevrolet Onix Premier
JAC E-JS1 x Chevrolet Onix é o confronto entre o elétrico mais barato e um hatch compacto.
Diferença: R$ 62.560
• Tempo necessário para investimento ser compensado: sete anos.
Ficha técnica
|
Jac E-JS1 |
Chevrolet Onix
Premier |
Motor |
Elétrico, dianteiro |
1.0 turbo, 3 cilindros, flex |
Potência |
62 cv |
116 cv |
Torque |
15,3 kgfm |
16,8 kgfm |
Comprimento |
3,65 m |
4,16 m |
Entre
eixos |
2,39 m |
2,55 m |
Largura |
1,67 m |
1,73 m |
Porta-malas |
121 l |
275 l |
Bateria |
30,2 kWh |
N/D |
Autonomia |
300 km (NEDC) |
N/D |
Os carros mais baratos e os
mais caros desse comparativo são os que se pagam em menos tempo. No primeiro
cenário, o JAC E-JS1 é R$ 62.560 mais caro do que um Onix topo de linha. Essa
diferença começa a ser diluída com os custos de manutenção.
A Chevrolet pede R$ 4.664 para
realizar as revisões até os 70 mil km, cobrindo exatos sete anos de uso. Já os
serviços da JAC no mesmo período custam praticamente a metade – R$ 2.393.
Mas é na hora de abastecer que
os custos adicionais do carro elétrico são amortizados. Caso banque todas as
recargas, o dono de um E-JS1 vai gastar R$ 6.280 em energia elétrica nos sete
anos.
A soma é inferior aos custos de etanol de um Onix 1.0 turbo por um ano – R$ 8.440. Dessa forma, nos sete anos, o investimento com combustível fica em R$ 59.080.
JAC E-JS1: aceleramos o elétrico mais barato do Brasil
Assim, ao considerarmos os
gastos com manutenção e recarga/abastecimentos, em sete anos, o JAC E-JS1 é R$
47.175 mais econômico que um Chevrolet Onix. A diferença ainda não é suficiente
para compensar o investimento extra.
Porém, também é preciso levar
em conta que as recargas podem ser feitas de forma gratuita. Assim, simulamos
outros 2 cenários.
1º em que o proprietário
realiza metade dos abastecimentos em casa, a diferença entre os dois fica em
praticamente R$ 50 mil.
Caso consiga recarregar o
modelo elétrico de forma gratuita todas as vezes, em sete anos a economia será
de R$ 61.351, praticamente suficiente para bancar o investimento extra feito no
momento da compra.
Só é preciso considerar que o
E-JS1 é bem menor do que um Onix. São 3,65 metros de comprimento, 2,39 m de entre
eixos e apenas 121 litros no porta-malas. Já o Chevrolet tem, respectivamente,
4,16 m, 2,55 m e 275 l.
Peugeot e-208 x Peugeot 208 Griffe
Peugeot e-208 x Peugeot 208: confronto caseiro entre hatches compactos.
Diferença: R$ 155 mil
• Tempo necessário para investimento ser compensado: mais de
oito anos
Ficha técnica
|
Peugeot e-208 |
Peugeot 208 |
Motor |
elétrico, dianteiro |
1.6, aspirado, flex |
Potência |
136 cv |
118 cv |
Torque |
26,5 kgfm |
15,5 kgfm |
Comprimento |
4,05 m |
4,05 m |
Entre-eixos |
2,54 m |
2,54 m |
Largura |
1,74 m |
1,74 m |
Porta-malas |
311 l |
265 l |
Bateria |
50 kWh |
N/D |
Autonomia |
340 km (WLTP) |
N/D |
É preciso considerar que a opção a bateria chega ao Brasil importada da França, ao passo que o modelo flex vem da Argentina e, por isso, paga menos impostos. Também há diferenças de equipamentos. A versão elétrica tem acabamento mais refinado e itens como freio de estacionamento elétrico.
Peugeot e-208 é feito na França e tem as mesmas medidas do modelo argentino.
Ainda assim, os custos elevados
extrapolaram nossas simulações – limitadas a até oito anos. Com esse tempo de
uso e no cenário mais otimista, em que o proprietário consegue realizar todas
as recargas do modelo elétrico de forma gratuita, metade do investimento seria
recuperado.
Isso significa R$ 77.830 dos R$
155 mil pagos a mais pela versão elétrica. A soma é resultado de uma economia
de R$ 74 mil em combustível e quase R$ 4.000 a menos nas revisões. Caso tenha
de pagar por todas as recargas, a diferença após oito anos é de pouco mais de
R$ 65 mil.
Volvo XC40 Recharge x Audi Q3 1.4 Black
Volvo XC40 Recharge x Audi Q3 é um dos confrontos mais desequilibrados.
Diferença: R$ 120.960
• Tempo necessário para investimento ser compensado: mais de
oito anos
Ficha técnica
|
Volvo XC40 Recharge |
Audi Q3 |
Motor |
2 elétricos, um em cada
eixo |
1.4, turbo, gasolina |
Potência |
413 cv |
150 cv |
Torque |
67,3 kgfm |
25,5 kgfm |
Comprimento |
4,42 m |
4,48 m |
Entre-eixos |
2,70 m |
2,68 m |
Largura |
1,86 m |
1,85 m |
Porta-malas |
414 l |
530 l |
Bateria |
78 kWh |
N/D |
Autonomia |
418 km (WLTP) |
N/D |
Dessa forma, consideramos apenas os custos das recargas do Volvo e de manutenção e abastecimento do Audi Q3 1.4 mais completo – Black. Nem assim o XC40 compensou os mais de R$ 120 mil a mais na hora da compra.
Volvo XC40 elétrico é caminho sem volta para futuro sem motores a combustão.
É
preciso considerar que o XC40 tem números de potência, torque e desempenho
muito melhore que os do Audi.
Após o oitavo ano de uso, o Q3 vai ter exigido de seu dono R$ 96.840 em manutenção e combustível. Considerando apenas a gasolina, os gastos estimados são de R$ 80.808. Em contrapartida, caso o dono do XC40 decida carregar o veículo em postos pagos, deverá desembolsar R$ 8.048 – um décimo dos custos do Audi.
Audi Q3 1.4 foi lançado em 2020 no Brasil.
No
fim das contas, a diferença com os gastos após 8 anos entre Q3 1.4 e XC40
elétrico fica, no cenário mais otimista, em R$ 96.840, podendo ser de R$
88.792, caso as recargas sejam pagas – ainda distantes dos R$ 120 mil de
diferença entre os modelos.
Precisa
relembrar que não foram considerados gastos de manutenção do XC40. A disputa
pode ficar mais parelha quando os números de consumo e os custos de revisão do
Audi Q3 2.0 Performance Black forem divulgados. Nesse caso, a diferença de
preço entre ele e o Volvo é de menos de R$ 90 mil – fator que certamente vai
baixar o número de anos necessários para o modelo elétrico valer a pena.
Porsche Taycan 4 Cross Turismo x Porsche Panamera 4 Sport Turismo
Porsche Taycan compensa o investimento extra em relação ao Panamera depois de 6 anos.
• Diferença: R$ 40 mil
• Tempo necessário para
investimento ser compensado: menos de 6 anos
Ficha
técnica
|
Porsche Taycan 4
Cross Turismo |
Porsche Panamera 4
Sport Turismo |
Motor |
2 elétricos, um em cada eixo |
V6, gasolina + 1 elétrico |
Potência |
380 cv (476 cv no modo arrancada) |
462 cv (combinada) |
Torque |
51 kgfm |
71,4 kgfm (combinado) |
Comprimento |
4,97 m |
5,05 m |
Entre-eixos |
2,90 m |
2,95 m |
Largura |
1,97 m |
1,94 m |
Porta-malas |
446 l |
418 l |
Bateria |
83,7 kWh |
N/D |
Autonomia |
456 km (WLTP) |
54 km |
Esse
é outro confronto “caseiro”. É também aquele com a menor diferença de preços
entre os dois carros. E o único com um modelo híbrido – combinando um motor
elétrico e outro a combustão.
As versões selecionadas não são as mais vendidas, mas sim as que têm especificações mais próximas. É preciso lembrar que, em algumas configurações, o Taycan é até mais barato que o Panamera.
Porsche Taycan Cross Turismo só é oferecido na versão 4.
Não
é o caso da versão 4. Aqui, a diferença é de R$ 40 mil, sem considerar
opcionais. Nesse cenário, apesar de os preços serem mais próximos, o baixo
consumo de combustível do Panamera e a menor eficiência energética do Taycan
tenderiam a deixar as contas mais complexas.
Na
prática, a primeira simulação, com 6 anos de uso e todas as recargas do Taycan
bancadas pelo proprietário já foram suficientes para que ele valha a pena em
relação ao Panamera – pelo menos do ponto de vista financeiro.
Isso
porque há um abismo entre os custos de manutenção dos dois modelos. Nos seis
primeiros anos de uso, o Taycan exige R$ 6.408 em serviços, contra R$ 31.061 do
Panamera.
Incluindo
os R$ 30.192 necessários para abastecer o Panamera e os R$ 13.734 em energia
elétrica do Taycan, a diferença de custos de propriedade dos dois fica em R$
41.111 a favor do modelo elétrico. (globo)
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